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Significado de Lucas 15:25-32

Jesus conta três parábolas em resposta aos fariseus e escribas que reclamavam de como Ele se misturava aos pecadores. Esta terceira parábola é muitas vezes chamada de "A Parábola do Filho Pródigo". Esta é a Parte 2 desta parábola.

Trata-se de um pai de dois filhos que não entendem seu amor e graça. A segunda metade da parábola relata como o filho mais velho se amargurou e repreendeu a seu pai por celebrar o retorno humilde de seu irmão perdido. O pai graciosamente lembra ao filho mais velho de seu amor por ele e destaca o retorno de seu irmão. O pai o convida a escolher a alegria e o perdão e a juntar-se à celebração porque, como ele mesmo diz: "Este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado".

Não há paralelo aparente para essa parábola nos relatos dos outros Evangelhos.

A primeira metade da "Parábola do Filho Pródigo" termina como as duas parábolas anteriores, com uma celebração por ter-se achado algo perdido. Neste caso, o arrependimento e o retorno do filho mais novo.

Na primeira, "A Parábola das Ovelhas Perdidas" (Lucas 15:3-7), o pastor celebra o encontro da ovelha perdida. Na segunda, "A Parábola da Moeda Perdida" (Lucas 15:8-10), a mulher celebra o encontro de sua moeda perdida. Na primeira metade da parábola dos dois filhos (Lucas 15:11-24), o pai celebra o retorno de seu filho mais novo que retorna do país distante ("Choran Makran").

Jesus relata aos fariseus e escribas essas parábolas como resposta a sua reclamação por estar recebendo e comendo com cobradores de impostos e pecadores (Lucas 15:1-2). Todas as três parábolas revelam simbolicamente o coração de Deus para com os pecadores e Sua alegria quando eles se arrependem.

Jesus poderia ter terminado a parábola aqui. Porém, ele continuou com a segunda parte, concentrando-Se na resposta do filho mais velho ao retorno de seu irmão e à celebração de seu pai. O filho mais velho provavelmente representava os fariseus e os mestres da lei.

Na primeira metade da parábola, fomos informados sobre:

  • A mentalidade do filho mais novo que reduzia a tudo, inclusive a seu pai, à uma utilidade material imediata e egoísta;
  • Sua jornada para o abismo moral da vida devassa;
  • O efeito desumanizante do país distante ("Choran Makran") e seu vazio moral destruidor de almas;
  • A volta do filho mais novo aos seus sentidos e o planejamento de seu retorno para casa para pedir misericórdia a seu pai;
  • O amor e a graça infinitos do pai para com seu filho anteriormente perdido ao  afirmar seu pertencimento e restaurá-lo à comunhão da família;
  • A celebração de Seu retorno — o coração de Deus para com os pecadores arrependidos.

Em tudo isso, temos os seguintes vislumbres:

  • O coração de um pecador penitente;
  • O incrível amor de Deus pelos pecadores (já que o pai representa a Deus);
  • A profunda alegria de Deus quando os pecadores se voltam a Ele.

Assim como a primeira metade da "Parábola do Filho Pródigo" se concentra em Deus (representado pelo pai) e Sua graça para com pecadores devassos (representados pelo filho mais novo), bem como Sua alegria quando eles se arrependem, a segunda metade desta parábola se concentra em Deus e em Seu gracioso convite aos pecadores legalistas (representado pelo filho mais velho).

O pai é o personagem principal desta parábola sobre a família pródiga. Os filhos representam dois tipos diferentes de pecadores, ambos necessitados da graça.

O filho mais velho

Jesus inicia a segunda metade da parábola: Seu filho mais velho estava no campo.

A cena da história muda do abraço alegre do pai no filho mais novo, antes perdido e agora encontrado, para o filho mais velho, que até este momento havia sido mencionado apenas uma vez - no início da parábola (Lucas 15:11).  Enquanto o pai se reencontra com o filho mais novo e começa a celebrar seu retorno, o filho mais velho estava no campo. O fato de o filho mais velho estar no campo indica que ele estava se mantendo fiel a seus deveres. Ele estava fazendo o trabalho da família naquele dia, aparentemente como o fazia todos os dias. Embora fosse fiel a seus deveres, logo veremos que o filho mais velho estava sem a motivação adequada.

Cumprir com nossas obrigações para com Deus e com o próximo é geralmente uma boa atitude. Deus dá ordens a Seu povo e é sempre bom obedecê-Lo. Porém, a essência dos mandamentos de Deus é amá-Lo e amar às pessoas, buscando o melhor para elas (Marcos 12:29-31). Buscamos o nosso melhor quando confiamos em Deus e seguimos Seus caminhos. No entanto, o legalismo não significa obediência a Deus. Pelo contrário, significa obediência a regras. Os fariseus seguiam ao seu conjunto de regras. Eles não seguiam a Deus, muito menos O amavam. Jesus diz isso aos fariseus claramente:

"Vós invalidais a palavra de Deus por causa de vossa tradição. Hipócritas, Isaías profetizou justamente sobre vós: 'Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim', em vão me adoram, ensinando doutrinas e preceitos de homens.'" (Mateus 15:6b-9).

Pelo fato de os fariseus não amarem a Deus, eles também não amavam às pessoas (João 14:15). Os fariseus e escribas eram seguidores impiedosos das regras que mediam o valor das pessoas de acordo com seu desempenho moral; eles eram juízes bastante tendenciosos. Não havia lugar em seus corações para o amor ou a graça.

A este respeito, o irmão mais velho era como seu irmão mais novo no início da parábola. Ambos os irmãos mediam o valor de uma pessoa de acordo com os sistemas mundanos e materialistas. O irmão mais novo usou o materialismo como régua de medição externa; o irmão mais velho fez exatamente a mesma coisa. Nenhum dos dois considerava o valor intrínseco das pessoas. Consequentemente, nenhum deles compreendia o amor ou a graça do pai.

O filho mais velho representava os fariseus e escribas que legalistamente tentavam seguir à lei de Deus, estabelecendo regras (e brechas para essas regras) de forma a medirem sua própria justiça. O fato de o filho mais velho estar no campo era uma maneira de indicar que ele era obediente externamente - assim como eram os fariseus e escribas. E, também como os fariseus, logo veremos que o filho mais velho não era interiormente obediente. Sua obediência exterior funcionava de acordo com sua versão das relações transacionais.

O filho mais velho fica sabendo da história de seu irmão

E quando chegou e se aproximou da casa, ouviu música e dança.

Quando o filho mais velho saiu do campo onde trabalhava, aproximou-se da casa. Ao se aproximar, ouviu música e dança. Isso significa que a comemoração já estava acontecendo. Todos os outros, ao que parece, já estavam comemorando. Parece que o filho mais velho é o último a deixar o campo. Se este foi o caso, podemos enfatizar como ele era bastante obediente.

O filho mais velho, trabalhador, fica confuso ao ouvir a música e as danças vindo da casa. Em vez de se trocar e  se juntar à festa, ou entrar na casa e investigar o que estava acontecendo, ele chama a um dos criados e começa a perguntar sobre o que se tratava aquele barulho todo. A imagem que temos da resposta inicial do filho mais velho à alegria é o ceticismo frio e o distanciamento. Como os fariseus aos quais ele representava, parecia haver pouco lugar no coração do filho mais velho para o amor ou a alegria.

Um dos servos lhe responde: Seu irmão mais novo voltou para casa e seu pai matou o bezerro cevado porque o recebeu de volta são e salvo.

Esta foi a maneira pela qual o irmão mais velho soube do retorno do irmão.

A Raiva do Filho Mais Velho

O filho mais velho fica bravo que nem quis entrar na casa para celebrar o retorno do irmão. Ele entendia que seu irmão havia se autoexcluído deveria sofrer as consequências.

A reação inicial do filho mais velho à volta do irmão foi de raiva. Ele estava tão envenenado por sua amargura que teimosamente se recusava a até mesmo entrar na casa e participar da celebração. Sua reação revelava o quão desprovido de graça e amor seu coração era.

Em uma reviravolta irônica, assim como o filho mais novo havia se separado do amor do pai em um país distante - o literal vazio de graça - o filho mais velho estava se separando da graça e do amor de seu pai ao se recusar a entrar na casa e comemorar. Aqui aprendemos sobre a atitude do coração do filho mais velho. Embora ele estivesse morando perto de seu pai, seu coração estava longe dele (Isaías 29:13; Mateus 15:8Marcos 7:6).

Por meio de sua moral frouxa e legalismo, ambos os irmãos haviam se separado das bênçãos do amor e da graça de seu pai. O mais jovem o fez por meio da busca de si mesmo e sua vida de devassidão. Ele sentia-se no direito de seguir a seus próprios caminhos. O irmão mais velho, ao que parece, havia se separado da intimidade com o pai pela vida arrogante de quem acredita ter direitos baseados no desempenho.

A Graça do Pai

Então, Jesus diz uma frase muito interessante:

Seu pai saiu e começou a implorar a ele.

Esta expressão é uma indicação sutil, porém clara, de que o filho mais velho estava tão  perdido quanto o filho mais novo, só que de uma maneira diferente. Devemos nos lembrar de como o pastor deixou as noventa e nove ovelhas para procurar pela ovelha perdida (Lucas 15:4) e como a mulher varre sua casa procurando cuidadosamente, até encontrar sua moeda perdida (Lucas 15:8). Assim também o pai, nesta parábola, deixa a casa "em busca", por assim dizer, de seu filho mais velho.

Curiosamente, a parábola não relata que o pai foi à procura do filho mais novo. Isso parece espelhar o padrão bíblico de Deus que entrega as pessoas à sua própria carne quando elas são deliberadamente desobedientes (Romanos 1:24,, 2628). Porém, a parábola nos diz explicitamente que o pai saiu para falar com seu filho mais velho e implora a ele. Esta faceta interessante da parábola pode ser a maneira de Jesus indicar como Deus amava e iria em busca dos fariseus e escribas perdidos. E poderia ser um convite para que eles reinterpretassem as duas primeiras parábolas da ovelha e da moeda perdidas.

O pai amava ao filho mais velho. Ele implora que ele ceda à sua raiva. Ele o convida a entrar. Ele o encoraja a perdoar e amar a seu irmão. O pai o convida a celebrar e a partilhar de sua graça. Todos esses convites têm o melhor interesse do filho mais velho em vista. João Batista havia exortado aos líderes de Israel a se arrependerem. Jesus estava exortando aos líderes de Israel a se arrependerem. Pedro exortaria aos líderes de Israel a se arrependerem. Entretanto, uma geração mais tarde, sua rejeição os levaria a mais um exílio.

Também vale a pena ressaltar que, na medida em que contava esta parábola, Jesus implorava aos fariseus e escribas de maneira semelhante (e por razões semelhantes), da mesma forma que o pai implora a seu filho mais velho.

A abordagem do pai para a hipocrisia e desamor de seu filho mais velho era semelhante ao convite de Jesus para uma igreja morna e hipócrita (Apocalipse 3:16-17). Jesus lhes diz:

"Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, eu entrarei com ele e cearei com ele, e ele comigo" (Apocalipse 3:20).

Mas, o filho mais velho evitou o convite da graça do pai e persistiu em sua raiva.

As Justificativas do Filho Mais Velho

Ele diz ao pai: 'Olha! Há tantos anos que vos sirvo e nunca negligenciei uma ordem vossa; e, no entanto, nunca me deste um cordeiro jovem para que eu pudesse comemorar com meus amigos; mas quando este teu filho veio, que devorou a tua riqueza com prostitutas, mataste o bezerro cevado para ele'.

As palavras do filho mais velho ao pai foram tão erradas quanto a exigência do irmão mais novo por sua parte da herança. Ambos foram desrespeitosos. Ambos haviam violado ao quinto mandamento (Êxodo 20:12; Deuteronômio 5:16).

O cerne da amargura auto justificada do filho mais velho era também uma incompreensão da graça e do amor do pai. Essas foram as mesmas confusões que geraram as ações de seu irmão mais novo entendeu no início da parábola. O irmão mais novo vergonhosamente exigiu a “sua” herança. Agora, descobrimos que o irmão mais velho se ressentia de nunca ter "recebido" a parte de sua herança. Embora não tivesse pedido por ela, como havia feito seu irmão mais novo, ele aparentemente se sentia no direito de fazê-lo, assim como seu irmão.

Como o filho mais velho não entendia a natureza da graça, ele media o valor de uma pessoa com base em seu desempenho moral externo. O filho mais novo media o valor de uma pessoa com base em seus pertences materiais externos. Quando as medidas externas se tornam a lente primária através da qual medimos o valor de uma pessoa - sua substância/"estado" ("ousia") - torna-se fácil tratar as pessoas não como criatura feita à imagem de Deus, com valor intrínseco, mas como um objeto a ser manipulado, visando extrair dela o que desejamos. A partir desta cosmovisão externa, teremos uma capacidade consideravelmente menor de exercer misericórdia, graça ou amor.

De acordo com as medidas morais autoavaliadas do irmão mais velho, ele se considerava um filho perfeito. O filho mais velho assume que sua perfeição moral era clara diante de todos. E ele se irrita quando sua superioridade moral não é reconhecida. De forma condescendente, ele meio que ordena que seu pai tenha bom senso para ver o quão justo ele era e quão ridículo o pai estava sendo ao celebrar seu outro filho desprezível (obviamente, esta era sua perspectiva).

O filho mais velho começa a listar suas credenciais de retidão.

Primeiro, ele alega: Por tantos anos o servi (isso pode sugerir que o filho mais novo tenha saído de casa havia muitos anos.) De acordo com o filho mais velho, ele havia sido fiel ao pai. Ele mede sua fidelidade ao se comparar ao irmão mais novo. Aparentemente, ele cumpria com todas as suas tarefas diárias, cobrando os créditos para si mesmo e aumentando sua medida de direito. Ele aparentemente não desfrutava de uma relação íntima com seu pai, mas via ao pai como uma fonte de benefício para si próprio, assim como o filho mais novo. Ele também aplicava uma abordagem transacional e autossuficiente, apenas de uma forma diferente. Ele afirma ser moralmente superior.

Porém, Deus não nos mede de acordo com nossas ações externas. Deus não vê como o homem vê (Lucas 16:15). Deus olha para o coração (1 Samuel 16:7; Provérbios 21:2Jeremias 17:10). O coração do filho mais velho era corrupto e enganador (Jeremias 17:9). E porque seu coração era impuro, sua cegueira não permitia que ele enxergasse a realidade do amor e da graça de seu pai (Mateus 5:8; Lucas 6:39).

Em seguida, o filho mais velho afirma: Nunca negligenciei uma ordem tua. Mais uma vez, na mente do filho mais velho, ele era impecável, de acordo com seu próprio padrão moral. Porém, como observamos anteriormente, ele já havia violado um dos dez mandamentos na única ação moral descrita nesta parábola ao desonrar a seu pai, dispensando e recusando-se a ter comunhão com ele. Isso contradiz sua afirmação e mostra que seu padrão moral não era confiável.

Em seguida, o filho mais velho acusa ao pai de ser injusto. E, no entanto, tu nunca me deste um cordeiro jovem, para que eu pudesse comemorar com meus amigos. Apesar do autoimposto histórico de perfeição moral do filho mais velho, ele argumenta que seu pai nunca o havia reconhecido adequadamente, nunca lhe havia dado sequer um cordeiro jovem para celebrar suas conquistas morais, muito menos um bezerro cevado. Aparentemente, o filho mais velho via a seu pai como uma espécie de caixa eletrônico que era obrigada a fornecer certos benefícios caso o preço adequado fosse pago.

Isso também revela como o filho mais velho estava confuso sobre a natureza e o caráter de seu pai. Ele poderia ter desfrutado de uma estreita comunhão com seu pai. Obviamente, dado o tratamento do pai ao filho mais novo, o pai era uma pessoa graciosa. A aceitação do pai a seus dois filhos era incondicional. O fato de ambos pertencerem ao pai não deveria exigir nada em troca.

Ninguém pode receber como dádiva algo que já lhe pertence, ou receber como presente algo pelo qual a pessoa pagou algum preço. O filho mais novo demonstra uma atitude arrogante ao exigir que seu pai lhe desse sua parte da herança (Lucas 15:12). Por sua vez, o filho mais velho alega merecer tal direito e que deveria tê-lo recebido há muito tempo.

Notavelmente, mesmo diante do paciente convite a seu filho para participar de sua graça, o filho mais velho acusa ao pai, de forma amarga, de ser aquele que carecia de graça/favor, já que o pai não respondia adequadamente ao seu desempenho. Diante deste quadro, Jesus afirma um princípio que percorre todas as Escrituras: a aceitação de Deus é incondicionalmente oferecida como resultado do Seu amor e graça. Tudo o que a pessoa precisa fazer é abrir as mãos e receber. Aqui, Jesus descreve duas maneiras pelas quais os grandes benefícios da aceitação incondicional de Deus podem ser desperdiçados na prática: 1) por meio da vida de devassidão, onde se busca a aceitação do mundo; e 2) por meio do legalismo, onde a pessoa busca aceitação por meio de uma egoísta atitude de superioridade moral.

Por fim, o filho mais velho repreende a seu pai por celebrar o retorno do irmão mais novo: Mas, quando este teu filho veio, que devorou a tua riqueza com prostitutas, tu mataste o bezerro cevado para ele. Ele soltou tudo. Ele condenou duramente a seu pai, acusando-o de ser injusto. Ele poderia até mesmo estar inferindo que seu pai estivesse participando dos modos imorais e perdulários de seu irmão. O filho mais velho havia condenado ao irmão mais novo, assim como a seu pai. Aos seus olhos, só havia um justo nesta história: ele próprio. Isso parece descrever a mesma atitude dos fariseus e mestres da lei a quem Jesus estava relatando esta parábola.

Há mais três pontos a se fazer sobre a acusação do filho mais velho.

Primeiro, ele se distanciou do pai e do irmão. Ele se recusou a reconhecer seu irmão  como irmão. Em vez disso, ele se refere a seu irmão como “este teu filho”. Além disso, o filho mais velho não se dirige ao pai como "pai" nem mesmo uma única vez ao longo do diálogo. Até mesmo o filho mais novo o chamou de "pai" ao fazer sua exigência (Lucas 15:12). O filho mais velho dirige-se impessoalmente ao pai com um “tu” acusatório.

Em segundo lugar, o filho mais velho estava essencialmente dizendo e agindo como se  desejasse que seu irmão mais novo jamais tivesse voltado. Ele preferia que seu irmão  mais novo tivesse morrido do que vê-lo vivo e sendo celebrado por seu pai. Esse desamor também foi visto no filho mais novo para com seu pai ao prematuramente exigir sua herança. Novamente, apesar das aparentes diferenças na forma de seu pecado, ambos os irmãos eram culpados de cometer o mesmo pecado.

E, terceiro, o irmão mais velho acusa ao irmão mais novo de dormir com prostitutas. No resumo de Jesus sobre o filho mais novo, Ele apenas descreve que o filho havia desperdiçado "sua herança com uma vida devassa" (Lucas 15:13). Jesus não diz com clareza como isso ocorreu. Porém, o filho mais velho, de forma prepotente, coloca cor na ambiguidade, pecando mais do que seu irmão. Pode ser que tenha sido assim que os fariseus tenham interpretado o significado da parábola. Jesus pode ter intencionalmente deixado a devassidão moral do filho mais novo num ambiente ambíguo para, então, nomear Sua acusação e associá-la explicitamente aos fariseus.

A Resposta do Pai

O pai não responde com raiva. Ele manteve a calma e aborda diretamente às acusações raivosas contra seu filho mais velho com graça e verdade:

Filho, tu sempre estiveste comigo, tudo o que é meu é teu.

O pai começa chamando o filho mais velho de "filho." Isso chama a atenção de seu filho quanto à verdade. Ele afirma, ainda, seu amor pelo filho, lembrando que ele sempre esteve com ele, na proximidade da graça, e que tudo o que o pai possuía pertencia ao filho mais velho. Isso ressalta que ambos os rapazes eram filhos do pai. Eles jamais perderiam aquele status. Isso é algo incrivelmente encorajador. Uma vez que todos nós somos pecadores, a única maneira de nos reconciliarmos com Deus é através de Sua graça e amor (Romanos 3:23-24). Somos, então, Seus filhos, independentemente dos nossos comportamentos, devassos ou legalistas. No entanto, nossas escolhas têm imensas consequências e a Bíblia nos exorta de forma consistente a fazer escolhas sábias (Provérbios 3:5-6).

Como o filho mais velho tinha uma obsessão externa legalista, baseada na mera obediência à regras, ele havia deixado de se relacionar com o pai. Essa graciosa observação do pai - tu sempre estiveste comigo, tudo o que é meu é teu - era um convite para o filho mais velho se arrepender (mudar sua perspectiva defeituosa) e começar a desfrutar de sua família. Apesar do amargo ressentimento dos fariseus em relação a Jesus e Sua busca pelo arrependimento dos pecadores, o relato de Cristo nesta parábola trazia a lição para bem perto deles, exortando-os a se arrependerem.

Podemos inferir por meio dessa parábola que Jesus estava implorando aos fariseus que se arrependessem, viessem a Ele e desfrutassem da comunhão com Ele. Infelizmente, eles mais tarde entrariam em conluio com seus rivais e inimigos para assassinar a Jesus. Embora o resultado disso tenha sido terrível para eles, foi uma bênção para muitos na era do Novo Testamento (Romanos 11:12).

Um parêntese: uma possível razão adicional para o pai dizer ao filho mais velho que tudo o que tinha lhe pertencia também era porque o pai já havia dado ao filho mais novo sua parte da herança (Lucas 15:12). O filho mais velho ainda tinha sua herança intacta. Ele era o herdeiro. Porém, apesar de ter a herança, ele não a desfrutava. Ele estava tentando conquistar algo que já possuía. Da mesma forma, os crentes do Novo Testamento podem desperdiçar a paz e a alegria de andar em Espírito ao buscar no mundo algo já concedido por Cristo, algo que pode ser experimentado através de uma caminhada de fé.

Depois de essencialmente "dar a outra face" e lembrar a seu filho mais velho dessas coisas, o pai, sábia e graciosamente, ignora as alfinetadas e insultos dos discursos de seu filho mais velho e traz a discussão para a questão central:

Mas, temos que comemorar e nos alegrar, pois esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.

O cerne da questão era que um membro da família, há muito perdido, havia subitamente voltado para casa. Era correto que eles comemorassem e se alegrassem com seu retorno. A observação do pai é uma reprise da bela declaração ao rever seu filho mais novo, com uma diferença importante (Lucas 15:24). Inicialmente, o pai diz: "Este meu filho". Porém, aqui, ao falar com o filho mais velho, o pai refere-se ao filho mais novo como "este teu irmão". Isso era um lembrete de que a pessoa perdida e encontrada, morta mas trazida de volta à vida, era irmão do filho mais velho. Seria apropriado que o filho mais velho se alegrasse e comemorasse com a família.

As lições de Jesus na segunda parte da parábola

Há vários pontos que vale a pena notar sobre esta segunda metade da "Parábola do Filho Pródigo".

O primeiro é que é inteiramente apropriado celebrar o arrependimento dos pecadores e cobradores de impostos. Este ponto também é mencionado nas duas primeiras parábolas (e na primeira metade desta) e pode ser observado nas celebrações do pastor, da mulher e do pai ao reencontrarem, respectivamente, a ovelha, a moeda e o filho mais novo.

O segundo é que os fariseus e escribas eram irmãos dos publicanos e pecadores. Os fariseus e escribas são representados pelo filho mais velho e os publicanos e pecadores são representados pelo filho mais novo  (Lucas 15:1-2). Nenhum dos dois grupos inicialmente entendeu ou se apropriou da graça de Deus. Ambos precisavam da graça (assim como todos nós). O filho mais novo reconheceu a graça do pai mais tarde e passou a experimentá-la. O filho mais velho ainda não havia reconhecido a graça do pai. Ele ainda estava, portanto, preso em sua ilusão de autossuficiência e autojustificação.

Um terceiro ponto importante é o convite aos fariseus e escribas a se alegrar com Jesus em relação ao retorno de seus irmãos perdidos. O filho mais novo havia sido encontrado. O filho mais velho ainda estava perdido. Nesta perspectiva, o filho mais velho (os fariseus e escribas) eram a ovelha perdida da primeira parábola (Lucas 15:3-7) e a moeda perdida da segunda (Lucas 15:8-10). Deus estava ansioso e pronto para celebrar seu arrependimento no momento em que eles se deixassem encontrar.

Por fim, observe como Jesus termina a parábola. Ele não a conclui enfatizando a resposta do filho mais velho ao convite do pai. Jesus deixa a história em aberto. Ele faz isso talvez como forma de sugerir que o convite para celebrar e entrar na graça de Deus estava aberto aos fariseus e escribas.

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