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Significado de Lucas 5:17-26

Jesus cura um paralítico publicamente. Antes de Jesus curar o homem, Jesus lhe diz que seus pecados estavam perdoados, o que faz com que alguns dos escribas e fariseus na multidão O acusassem silenciosamente de blasfêmia em seus corações. Jesus chama atenção da incredulidade blasfema deles e mostra ser quem Ele afirmava ser ao curar o paralítico, dizendo-lhe para se levantar e ir para sua casa. As multidões ficam maravilhadas e começam a glorificar a Deus.

Os relatos paralelos do Evangelho para este evento estão em Mateus 9:2-8 e Marcos 2:1-12.

Lucas continua seu relato sobre o ministério terreno de Jesus depois de um breve interlúdio, registrando que Ele se retira ao deserto para orar. Lucas retorna à narração do ministério e ensino de Jesus com a expressão “Um dia”. O relato evangélico de Marcos indica que Jesus estava em Cafarnaum, a base do Seu ministério na Galiléia (Marcos 2:1) nesse encontro milagroso:

Um dia em que ele estava ensinando, achavam-se assentados perto dele fariseus e doutores da lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém (v. 17).

Lucas destaca que alguns fariseus e mestres da lei estavam ali, provenientes de todas as aldeias da Galiléia, Judéia e Jerusalém. Lemos mais adiante que a expressão “mestres da lei” se referia aos escribas (v. 21). A essa altura, parece que as notícias dos milagres e ensinamentos de Jesus já haviam ido muito além das cidades da região da Galiléia (Lucas 5:15). Os fariseus e escribas tinham vindo até mesmo de Jerusalém, no sul, para ouvi-Lo falar, ou seja, cerca de 180 quilômetros de viagem, já que precisariam evitar passar por Samaria e viajar por Jericó (Ver Mapa).

Este é o primeiro relato no livro de Lucas (bem como Mateus e Marcos) sobre um confronto de Jesus com autoridades religiosas em Israel. Este evento ocorre imediatamente após o relato de Lucas sobre a cura do homem leproso (Lucas 5:12-15), quando Ele diz ao homem para "mostrar-se ao sacerdote" (Lucas 5:12). O homem parece ter obedecido à ordem de Jesus e agora a comunidade religiosa O tinha firmemente em seu radar. Talvez a razão pela qual eles estivessem presentes nessa ocasião era porque eles tinham vindo investigar o milagreiro pessoalmente.

As autoridades religiosas a confrontarem Jesus eram alguns fariseus.

Os fariseus eram os guardiães da cultura e da lei judaica. Eles eram vistos pelo povo como heróis por seu rigor moral e retidão. Eles eram descendentes políticos dos Macabeus, que haviam defendido o judaísmo da extinção perpetrada pelos gregos. Os fariseus seguiam a um rigoroso código moral e usavam sua influência para colocar pesados fardos morais sobre as pessoas, a fim de controlá-las e explorá-las para seu benefício. Alguns fariseus, não todos, também eram considerados escribas.

Os escribas eram especialistas na Lei Mosaica e na Mishná. Eles eram essencialmente advogados religiosos. A Lei de Moisés compreendia os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (Gênesis-Deuteronômio). A Mishná era a tradição oral que, se dizia, ter sido passada de Moisés a Josué e às gerações subsequentes. A Mishná era, em grande parte, uma interpretação da lei. Sua influência se expandiu com a ascensão dos fariseus durante o exílio babilônico.

A Mishná era uma tradição oral durante o tempo de Jesus (foi redigida e escrita por volta de 200 d.C.). Pporém, durante os dias de Jesus, a Mishná era apenas ouvida e não lida. É por isso que Jesus costumava dizer frases como: "Ouvistes o que foi dito..." (Mateus 5:27, 38, 43). Na época de Jesus, para reforçar sua autoridade/legitimidade, os rabinos muitas vezes fundamentavam seus ensinamentos no que rabinos influentes do passado haviam dito, transmitido na Mishná. Os rabinos faziam isso porque tal atitude, dava a seus ensinamentos mais autoridade e peso.

Jesus estava ensinando naquele dia em Cafarnaum. Lucas aponta que o poder do Senhor estava presente e Ele realizou curas. Lucas usa uma frase semelhante à resistrada no capítulo 4, versículo 1 ao descrever como Jesus iniciou Seu ministério terreno: "Jesus voltou à Galileia no poder do Espírito".

Todos os milagres de Jesus foram feitos no poder de Deus Pai e do Espírito Santo. Jesus disse: "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma" (João 5:30 — ver também João 8:28). Pode ser que a razão pela qual Lucas não reconheça o papel do Espírito Santo todas as vezes seja porque fazê-lo seria repetir algo óbvio e redundante.

Portanto, o fato de Lucas mencionar o poder do Senhor aqui neste milagre parece ter um significado especial. Lucas provavelmente estivesse preparando o cenário para enfatizar como os escribas e fariseus presentes testemunhariam a natureza divina de Jesus. Lucas prepara seu público para o que estava prestes a ocorrer, para que eles conhecessem a fonte do poder e da autoridade de Jesus que os líderes religiosos se recusavam a ver.

A declaração “o poder do Senhor estava com ele para curarestá notadamente ausente dos relatos paralelos do Evangelho de Mateus e Marcos. Lucas parece enfatizar a seu público gentio que aquele homem, Jesus, era um com Deus. Jesus realizava aquelas curas como homem por estar perfeitamente unido com o Espírito Santo de Deus, a terceira pessoa na Trindade. Isso fortaleceria a compreensão dos gentios sobre o que significa viver a melhor vida e ver o cumprimento disso em Jesus (1 Coríntios 1:22b). A vida ideal é a vida vivida no poder e na força do Senhor, em perfeita harmonia com Deus e Sua vontade. Lucas apresenta Jesus como esse Homem ideal a seu público grego.

Algo interrompe o ensinamento de Jesus: Vieram uns homens, trazendo um paralítico em um leito; e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Jesus. 19Não achando por onde introduzi-lo, por causa da multidão, subiram ao eirado e, por entre os ladrilhos, o desceram no colchão para o meio de todos, diante de Jesus (v. 18,19).

Lucas deixa de falar das grandes multidões que se reuniam em torno de Jesus (Lucas 5:15) para descrever um pequeno grupo de homens. Esses homens carregavam em uma cama um paralítico.

Assim como havia enfatizado a humanidade do "homem cheio de lepra" (Lucas 5:12) na passagem anterior, em vez de se concentrar em seu rótulo social - "leproso", como fizeram Mateus e Marcos (Mateus 8:2; Marcos 1:40), Lucas ressalta a humanidade do paralítico nesta passagem. Mateus e Marcos novamente se concentram no rótulo social e se referem ao homem como "o paralítico" (Mateus 9:2) e "um paralítico" (Marcos 2:3). Mais uma vez, a frase do médico Lucas reconhece a condição física que afligia aquele homem - ele era paralítico.

Os homens tentavam levá-lo a Jesus, porque seu amigo estava paralisado e era incapaz de se mover. Por causa da multidão reunida em torno de Jesus, eles subiram no telhado da casa e baixaram o homem através em sua maca, no meio da multidão, na frente de Jesus. Esses homens avaliaram a situação e perceberam que não seriam capazes de empurrar a multidão com uma maca para chegarem a Jesus. Em vez de esperar Jesus  sair ou desistir, eles improvisaram uma forma de colocar seu amigo aos pés de Cristo.

Vendo este a fé que eles tinham, disse: Homem, são perdoados os teus pecados (v. 20).

Lucas nos diz que Jesus viu a fé deles. Não está totalmente claro, neste contexto, a quem essa frase incluía. No mínimo, ela parece se referir aos homens que haviam trazido o paralítico até Ele, mas ela poderia incluir também o próprio paralítico. A que Jesus viu foi seu ato de amor e sua expressão de fé.

Sua fé era simples e notável. Sua fé foi simples, na medida em que eles creram que Jesus tinha poder para curar a seu amigo. Sua fé foi notável, na medida em que a circunstância exigia um grau de ponderação, esforço e engenhosidade muito grande para colocá-lo em uma cama e levá-lo a Jesus. Eles tiveram até mesmo que abrir um buraco no telhado da casa para chegarem a Jesus, porque a multidão que O cercava os impedia de se aproximar. Sua fé demonstrou esperança e amor. Eles colocaram essas características em ação.

Jesus se dirige ao paralítico com uma observação surpreendente: “Homem, são perdoados os teus pecados”. Isso foi surpreendente porque o homem fora levado a Jesus para ser curado de sua paralisia, não para ter perdoados seus pecados. A observação também foi surpreendente porque as únicas pessoas que podiam perdoar seus pecados seriam pessoas ofendidas pelo homem e o próprio Deus. O contexto indica que este era o primeiro encontro entre Jesus e aquele homem paralítico. Nesse caso, não havia ocorrido oportunidade alguma para o homem ter ofendido a Jesus e precisar de Seu perdão. Ao dizer ao homem que seus pecados estavam perdoados, Jesus age como se fosse a parte ofendida pelos pecados do homem. Em outras palavras, ao fazer essa afirmação, Jesus fala no lugar de Deus.

Os escribas e fariseus começam a raciocinar: " Quem é este que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?” (v. 21).

Esta declaração perturbou os escribas e fariseus presentes e eles se ofenderam com o comentário de Jesus. Eles pensaram consigo mesmos: “Quem é este que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?!” Eles haviam entendido corretamente quem Jesus presumia ser. Quando Jesus diz ao homem que seus pecados foram perdoados, os líderes religiosos perceberam corretamente que Jesus estava agindo como se fosse Deus. Mas, esses escribas e fariseus não acreditavam que Jesus realmente era Deus. A ironia é que seus maus pensamentos, ao acusarem Jesus de blasfêmia, levava a si mesmos a blasfemar.

Esta é a primeira vez na narrativa de Lucas que Jesus confronta diretamente os líderes religiosos. Embora fosse a primeira vez, não seria a última. Ao longo deste capítulo, Lucas apresenta essas autoridades religiosas como os principais oponentes terrenos da mensagem do Reino de Jesus. Nem todos os escribas e fariseus reagiriam assim, apenas alguns. Alguns desses líderes creriam em Jesus ao longo do caminho, incluindo Nicodemos e José de Arimatéia (João 3:1-2; Lucas 23:50-51).

Mas Jesus, percebendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Que discorreis nos vossos corações? (v. 22).

Apesar da incredulidade dos escribas e fariseus, Jesus era Deus. Jesus sempre foi e sempre será Deus. Jesus conhecia seus pensamentos. Ele via o mal dentro de seus corações que impulsionava sua incredulidade. Ele chama sua atenção para o mal da  incredulidade de seus corações. Sua pergunta aos escribas e fariseus incrédulos foi: “Que discorreis nos vossos corações?” A palavra usada por Lucas para "discorrer" é a palavra grega διαλογισμός (G1261 - pronuncia-se "dee-al-og-is-mos"), da qual derivamos o termo "diálogo". Em seu comentário retórico, Jesus acusa seus corações de executar silenciosamente um diálogo interior pensando mal Dele. Seu pensamento maligno pode ter sido mais ou menos o seguinte: "Se Jesus está dizendo isso, então Ele está afirmando ser Deus. Ele não pode ser Deus porque Ele não se encaixa em nossas noções preconcebidas sobre quem Deus é. Portanto, Ele está blasfemando."

Jesus, então, apresenta uma outra pergunta: "Qual é mais fácil? Dizer: Perdoados são os teus pecados; ou dizer: Levanta-te e anda?" (v. 23).

Eles provavelmente não ousaram respondê-lo em voz alta. Do ponto de vista terreno, era muito mais fácil dizer a alguém que seus pecados estavam perdoados do que dizer a um paralítico para se levantar e andar. Ninguém conseguiria saber se o perdão ocorreu ou não. A pessoa poderia até mesmo reivindicar isso, mas ninguém conseguiria provar se aconteceu ou não. Portanto, era mais fácil afirmar o perdão.

Por outro lado, se alguém dissesse a um paralítico: “Levante-se e ande”, todos veriam rapidamente se a cura havia ocorrido ou não, com base no fato da pessoa poder ou não andar. Se o paralítico fosse curado, isso provaria que a pessoa que lhe disse para se levantar e andar tinha poder e autoridade para fazê-lo.

Para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. Imediatamente, se levantou diante deles, tomou o leito em que jazia e partiu para sua casa, glorificando a Deus (v. 24,25).

Jesus deixa claro que a cura do paralítico tinha a intenção de ser um testemunho aos escribas e fariseus de que Ele realmente tinha autoridade na terra para perdoar pecados. Ele, então, volta-se ao homem e diz: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”. Jesus ofereceu uma evidência conclusiva de Seu poder. Ele deixa claro milagres como aquele produzia a responsabilidade de crerem Nele (Mateus 11:21-23).

Cristo demonstra ter autoridade para perdoar pecados. Ele era o Filho do Homem (um termo comum que significava tanto "uma pessoa qualquer" quanto um termo bíblico para "o Messias") e que Ele também era, de fato, Deus. Jesus demonstra isso curando o  homem. Ele, então, volta para casa com sua maca ou "cama" (Mateus 9:6).

Lucas nos diz sucintamente que o paralítico trazido por seus amigos imediatamente se levantou e foi para casa glorificando a Deus. Esse episódio deve ter alterado o pensamento maligno dos escribas e fariseus. Seu pensamento ou raciocínio deveria ter mudado para algo como: "Bem, esta foi, claramente, uma demonstração do poder de Deus. Assim, nossas noções preconcebidas devem estar erradas". Esta parece ser a reação da multidão. As multidões percebem o que os fariseus e escribas não perceberam — eles percebem o poder do Senhor descrito por Lucas no início da passagem:

Todos ficaram atônitos, glorificaram a Deus e encheram-se de temor, dizendo: Hoje, vimos coisas extraordinárias (v. 26).

Quando a multidão de espectadores viu isso acontecer, Lucas relata que eles ficaram espantados e cheios de temor. O temor do Senhor é uma ideia predominante nas Escrituras. Em Provérbios 1 e Salmo 111, ele é descrito como "o princípio da sabedoria". Em Provérbios 14, ele é descrito como "fonte de vida" (para mais exemplos, ver Deuteronômio 10:12; Eclesiastes 12:13; Lucas 1:50). A palavra “temor”, nesses contextos, significa uma preocupação saudável. A palavra também carrega a conotação de reverência. Quando tememos algo, reconhecemos seu poder superior. A multidão viu claramente como o poder do Senhor estava presente em Jesus como resultado do milagre ao qual haviam acabado de testemunhar, ainda que os líderes religiosos não vissem isso. As multidões também viram como Jesus havia confrontado as autoridades religiosas.

Não há dúvida de que eles ficaram maravilhados com o milagre da cura do homem que havia sido paralítico; porém, seu espanto provavelmente foi maior do que apenas com o milagre. Eles provavelmente tenham ficado surpresos com a forma como Jesus confrontou aos líderes religiosos incrédulos. Os escribas e fariseus eram autoridades que acusavam Jesus de ser um blasfemador. Jesus revelou o poder de cura de Deus, bem como o poder de perdoar pecados. Ele havia alcançado uma vitória inegável, enquanto os escribas e fariseus haviam sofrido uma derrota humilhante.

As multidões também ficaram maravilhadas com o poder Deus. Tendo visto o poder do Senhor nas obras de Jesus e a dos amigos do paralítico, eles glorificaram a Deus, seu Pai Celestial e maravilharam-se com o fato de Deus dar "autoridade aos homens" (Mateus 9:8). Pode ser que nem todos tivessem entendido que Jesus afirmava ser  Deus, como alguns dos líderes religiosos haviam feito; mas, eles reconheceram o óbvio: Deus trabalhava milagrosamente por meio de Jesus e havia dado àquele Homem poder e autoridade para curar aflições incuráveis e perdoar pecados.

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