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Significado de Lucas 5:27-32
Os relatos paralelos do Evangelho para esse evento estão em Mateus 9:9-13 e Marcos 2:13-17.
Depois da curar do paralítico e perdão de seus pecados, Jesus saiu e encontrou um cobrador de impostos chamado Levi sentado na cabine de impostos. Ele lhe diz: "Segue-Me" (v. 27).
Depois da espetacular cura do paralítico e Seu confronto com os escribas e fariseus incrédulos (Lucas 5:17-26), Lucas nos diz que Jesus saiu e encontrou um cobrador de impostos chamado Levi.
Este é um bom momento para notarmos que Lucas se refere ao cobrador de impostos por seu nome em hebraico, Levi. Seu nome grego era "Mateus". Este é o mesmo Mateus que escreveu o Evangelho que leva seu nome. Esta decisão se harmoniza com a convenção de Lucas de se referir aos discípulos por seus nomes em hebraico, como o fez em Lucas 4:38 com Simão (Pedro). Lucas provavelmente faz isso por estar interessado em apresentar a vida de Jesus de maneira histórica a seu público gentio, de acordo com seu propósito original de "narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram" (Lucas 1:1). Lucas também pode estar destacando o contexto cultural judaico do ministério, morte e ressurreição de Jesus a seu público grego.
Os cobradores de impostos
A Judéia, como província romana, estava sob a proteção de Roma e desfrutava de privilégios, como comércio e passagem relativamente segura por todo o vasto império. A Judéia tinha acesso a luxos e bens romanos. Porém, os privilégios da "Pax Romana" (paz de Roma) tinham um preço. Os judeus tinham que suportar a humilhação de serem governados por gentios. Eles tinham que tolerar a seus cultos pagãs ofensivos e suas práticas que ameaçavam minar o modo de vida judaico. Os judeus também tinham que se submeter às leis e costumes romanos, incluindo o pagamento de impostos a Roma, uma prática particularmente impopular.
Roma contratava moradores locais para cobrar impostos para o orçamento imperial. Era um cargo lucrativo para quem o ocupava.
Havia dois tipos de cobradores de impostos no Império Romano. Roma tinha cobradores de imposto de renda - que mantinham registros dos fundos baseado em taxas fixas; e tinha o que chamava de cobradores de pedágio. Ambos os tipos de cobradores de impostos eram desprezados; porém, os cobradores de pedágio eram os mais odiados.
Os cobradores de pedágio, conhecidos como "publicanos", eram indivíduos ou grupos que recebiam o direito do governo romano de cobrar pedágios e impostos dos viajantes, comerciantes e mercadores que passavam por suas regiões. Esses cobradores de pedágio disputavam o privilégio de cobrar os pedágios e muitas vezes precisavam pagar uma taxa substancial adiantada ao governo por tal direito. Em troca, eles eram autorizados a manter parte dos fundos arrecadados.
Era de se esperar, portanto, que os cobradores de pedágio cobrassem a mais e retivessem uma comissão para servir como pagamento. Eles eram notórios por superfaturar além do justo. Eles tributavam a seus vizinhos a taxas inacreditavelmente altas, guardando o excedente para si. A história registrada em Lucas 19, onde Jesus conversa com o cobrador de impostos Zaqueu, infere todos esses elementos.
Zaqueu era "rico" pela arrecadação de impostos (Lucas 19:2). Zaqueu declara a Jesus que "pagaria quatro vezes mais" a quem tivesse fraudado. Por seus abusos, os cobradores de impostos eram desprezados em todo o império. Pporém, na Judéia, os cobradores de impostos eram ainda mais odiados por serem vistos como traidores de Deus, da nação e de seus compatriotas.
O trabalho de um cobrador de pedágio envolvia a instalação de postos de controle em locais estratégicos, como estradas, pontes ou travessias de rios. Eles montavam estações ou cabines para avaliar e cobrar pedágios dos viajantes, comerciantes e veículos que passassem por aquele pontos. As taxas de pedágio podiam variar dependendo de fatores como o tipo de mercadoria, a distância percorrida ou o modo de transporte. Os cobradores de pedágio precisavam assegurar-se de que registrariam e relataiam com precisão todos os valores arrecadados às autoridades romanas, pois eram responsáveis por remeter parte dos lucros ao governo.
Levi não apenas pertencia à família dos considerados pecadores e traidores por ser um cobrador de impostos, mas parece ter sido parte do grupo dos piores tipos de cobradores de impostos - os cobradores de pedágio - porque estava sentado numa cabine.
O Chamado de Levi
Quando Jesus viu a Levi sentado na cabine dos cobradores de impostos (um assento maligno aos olhos dos outros judeus), Jesus disse-lhe: "Segue-Me". Foi algo semelhante ao que Jesus havia dito aos pescadores André e Pedro quando os chamou para serem Seus discípulos (Mateus 4:19).
A resposta de Levi foi dramática:
Ele, deixando tudo, se levantou e o seguiu (v. 28).
A maneira como Lucas descreve a resposta de Levi é semelhante à forma como ele descreveu a resposta de André, Simão (Pedro), Tiago e João em Lucas 5:11. O autor descreve que Levi deixou tudo para trás, levantou-se e começou a segui-lo. Da mesma forma que ambos os grupos de irmãos deixaram o negócio da pesca, altamente lucrativo, na costa do Mar da Galiléia, Levi deixa sua cabine de impostos para nunca mais voltar.
Curiosamente, no relato autobiográfico de Mateus sobre este evento, ele descreve sua própria resposta de forma um pouco diferente. Como Lucas, Mateus diz que estava literalmente “sentado” na cabine de cobrança de impostos quando Jesus o viu e o convidou a segui-Lo (Mateus 9:9). Embora a resposta de Mateus tenha sido imediata, conforme registrado por Lucas, Mateus diz que ele se "levantou-se e o seguiu" (Mateus 9:9).
É importante ressaltar que o verbo grego traduzido aqui como "levantar-se" também é um verbo que descreve a ressurreição. É a palavra ἀνίστημι (G450 - pronuncia-se: "an-is'-táy-me"), que significa "levantar". Ao escolher "anistáymee", Mateus insinua que ele não apenas se levantou fisicamente da cabine, mas foi espiritualmente ressuscitado e passou da morte para a vida ao responder ao convite de Jesus. Esta é a história de sua conversão.
Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; e era grande o número de publicanos e outras pessoas que estavam com eles à mesa (v. 29).
Depois de ter sido chamado, Levi faz uma festa para celebrar sua nova carreira como seguidor de Cristo. Ele convida a seus amigos cobradores de impostos para a festa em sua casa. Como coletor de impostos para os romanos, Levi presumivelmente tinha uma má reputação entre os judeus. Os amigos de Levi, portanto, teriam sido, naturalmente, outros cobradores de impostos, bem como qualquer outra companhia de pecadores. Jesus estava na casa de Levi esses tipos de pessoas. As mesas de jantar nas casas ricas eram cercadas por almofadas, travesseiros e superfícies elevadas do chão. Isso permitia que os que se reuniam ao redor da mesa descansassem e se reclinassem enquanto desfrutavam de sua refeição e conversas.
Levi nos diz que muitos outros cobradores de impostos e pecadores estavam jantando com Jesus e Seus discípulos. Os cobradores de impostos eram classificados como pecadores pelo establishment religioso. Isso era algo escandaloso para os fariseus, líderes altamente respeitados, defensores da fé judaica e professores das sinagogas locais.
Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? (v. 30).
Os fariseus e escribas expressaram sua desaprovação aos discípulos. Levi não nos diz por que eles compartilharam sua indignação com os discípulos e não diretamente a Jesus. Talvez eles quisessem evitar um constrangimento semelhante ao que haviam tido recentemente.
Ou talvez eles achassem mais eficaz minar o ministério de Jesus semeando dúvida e vergonha entre Seus discípulos, em vez de confrontá-Lo diretamente. Os discípulos poderiam, então, repensar sobre o efeito de sua reputação ao permitirem que um coletor de impostos se juntasse às suas fileiras.
Os fariseus perguntaram aos discípulos: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” A implicação inequívoca era: "Se seu Mestre fosse santo e justo, Ele não estaria publicamente se associando a pessoas tão vis". Se ampliarmos um pouco mais essa implicação, os fariseus podem ter acrescentado: "Seu Mestre deveria se associar a nós".
Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os enfermos. 32Não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento (v. 31,32).
Quando Jesus ouviu o que os fariseus estavam dizendo a Seus discípulos a Seu respeito, Ele responde com uma pequena parábola: Os sãos não precisam de médico, disse ele, apenas os que estão doentes. Os médicos oferecem tratamentos físicos. Na maioria dos casos, apenas os doentes procuram a ajuda de médicos. Quem está saudável não precisa de médico ou remédio.
A parábola tem múltiplos níveis de interpretação e significado.
Em seu nível mais básico, Jesus é como um médico espiritual que cura a corações perversos, mentes corruptas e vidas devastadas pela doença do pecado. Os doentes eram os cobradores de impostos e pecadores. Seu pecado era evidente. Esses eram aqueles com quem Jesus se reclinava à mesa de Levi. Eles eram aqueles que claramente precisava e buscavam a ajuda espiritual de Jesus. Eles reconheciam em Jesus a fonte de sua cura espiritual.
Os fariseus acreditavam ser saudáveis. Portanto, o argumento de Jesus era bastante lógico: "Você reconhecem que essas pessoas precisam de cura espiritual. Eu sou um médico espiritual". Pode ser que os cobradores de impostos reconhecessem sua necessidade de cura, ou poderiam apenas estar desfrutando de uma refeição às custas de seu amigo Levi. Mas, Jesus estava comendo com eles porque tinha uma missão clara de curá-los espiritualmente.
No entanto, todos estavam doentes, inclusive os fariseus hipócritas. Os fariseus guardavam a lei externamente, mas internamente a violavam. Eles também eram pecadores. Eles também estgavam doentes. Só que a doença deles não era tão aparente. Jesus revelaria os pecados dos fariseus mais tarde em Mateus 23, quando Ele expusesse seus motivos publicamente:
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e de intemperança (Mateus 23:25).
A Bíblia coloca todos nós no mesmo barco: todos precisamos de cura espiritual. Um versículo de Romanos deixa isso claro:
"...porque todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Romanos 3:23).
O livro de Tiago mostra que mesmo uma vida quase perfeita ainda é insuficiente. Um único pecado nos torna culpados de todos os pecados:
Se vós, porém, cumpris a lei real segundo a Escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; mas, se vos deixais levar de respeitos humanos, cometeis um pecado, sendo condenados pela Lei como transgressores. Pois quem guardar a Lei toda, porém tropeçar em um só ponto tem-se tornado culpado de todos (Tiago 2:8-10).
Os fariseus acreditavam estar entre os saudáveis por serem mestres da Lei de Deus e guardiães das tradições que a cercavam. Eles acreditavam ser saudáveis por conhecerem a Lei e a seguirem externamente.
Na realidade, os fariseus mascaravam sua doença e bancavam os hipócritas. Jesus chamaria sua atenção para reconhecer e confessar sua enfermidade. Ele, como médico espiritual, os chamaria para receber a mesma cura espiritual concedida aos cobradores de impostos e outros pecadores.
Com esta breve parábola, Jesus deu uma leve repreensão aos fariseus que conheciam as Escrituras (Mateus 23:1-3). Dado o seu conhecimento bíblico, eles também deveriam ser médicos disponíveis para ajudar aos doentes espirituais. Eles deveriam ser os que tinham compaixão, em vez de condenação aos pecadores e necessitados.
Jesus termina Sua resposta ao desafio dos fariseus com uma conclusão: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento”. Jesus não veio para se socializar com os que se julgam justos. Jesus não procurava promover Seu status social terreno. Em vez disso, Ele desejava demonstrar compaixão e oferecer ajuda aos pecadores que precisavam de cura espiritual, incluindo os fariseus; mas eles eram incapazes de enxergar suas próprias necessidades.
O arrependimento requer uma mudança de coração. A palavra grega traduzida como “arrependimento” neste versículo é uma forma de μετάνοια (G3341 — pronuncia-se: "me-ta-noi-a"), uma palavra composta que consiste de "meta" (que significa "mudança" ou "transformação") e "noia" (que significa "mente" ou "perspectiva"). O arrependimento é a compreensão de que o antigo modo de viver não é um bom caminho a seguir e, portanto, um novo caminho deve ser seguido. Jesus chamava os pecadores, aqueles que sabiam terem feito muita coisa errada, para mudar suas mentes e comportamentos. Pelo fato de os fariseus acreditarem ser justos, eles não percebiam que precisavam de arrependimento.
Este episódio é consistente com a bem-aventurança de ser pobre de espírito: "Makarios [bem-aventurados] são os pobres de espírito [aqueles que se vêem corretamente], porque deles é o Reino dos Céus" (Mateus 5:3; ver também Lucas 6:20). Os fariseus era os líderes religiosos, mas estavam em trevas espirituais.
Esse diálogo continua na próxima seção das Escrituras (Lucas 5:33-35).