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Significado de Mateus 19:3-9

Os fariseus vêm a Jesus e O testam sobre o que Moisés havia dito sobre o divórcio. Eles estavam tentando prendê-Lo. Jesus começa Sua resposta concentrando-se no que Moisés disse sobre o casamento, antes de repreender sua dureza de coração e responder à sua pergunta.

O relato paralelo do Evangelho quanto a este evento é encontrado em Marcos 10:2-9.

Quando estava na região conhecida como Judéia além do Jordão, curando e sendo seguido por grandes multidões, alguns fariseus vieram testar a Jesus. Seu teste dizia respeito ao tema do divórcio e, portanto, ao tema do casamento. Jesus já havia ensinado sobre ambos os tópicos. Os fariseus provavelmente estavam, pelo menos parcialmente, cientes do que Ele havia dito anteriormente.

No Sermão da Montanha, Jesus havia ensinado que o único motivo aceitável para se divorciar da esposa era a infidelidade. E mesmo assim, um homem deveria dar-lhe um certificado de divórcio, para que ela pudesse se casar legalmente novamente, caso encontrasse um novo marido.

"Dizia-se: 'Quem mandar sua esposa embora, dê-lhe uma certidão de divórcio'; mas digo-vos que todo aquele que se divorciar da sua mulher, excepto por motivo de falta de castidade, a faz cometer adultério; e quem se casa com uma mulher divorciada comete adultério". (Mateus 5:31-32)

Em outra ocasião, Jesus levantou o tema do divórcio durante Sua repreensão aos fariseus. Ele possivelmente tenha feito isso porque alguns fariseus deveriam ter mandado suas esposas embora pelo fato de terem encontrado uma mulher mais desejável, ou por terem se cansado de suas esposas. Isso significaria que eles haviam encontrado uma brecha na Lei que os permitia viver com quantas mulheres quisessem e ignorar o verdadeiro significado do casamento. Isso é inferido na seguinte passagem do Evangelho de Lucas:

"Agora os fariseus, que eram amantes do dinheiro, estavam ouvindo todas essas coisas e zombando Dele. E disse-lhes: 'Vós sois os que vos justificais aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que é altamente estimado entre os homens é detestável aos olhos de Deus'. "Todo aquele que se divorcia de sua esposa e se casa com outra comete adultério, e aquele que se casa com alguém que é divorciado de um marido comete adultério." (Lucas 16:14-15, 18)

Dada a sequência de eventos nos relatos de Mateus, parece que isso ocorreu algum tempo depois do Sermão da Montanha e da repreensão de Jesus aos fariseus em Lucas 16. Mateus registra que alguns fariseus vieram a Ele com esse teste a respeito do divórcio. Eles perguntaram a Jesus: É lícito a um homem se divorciar de sua esposa por qualquer motivo? Sua pergunta surgiu  do ensinamento de Moisés em Deuteronômio a respeito do divórcio.

O mandamento de Moisés dizia que quando um homem descobrisse que sua esposa estava se comportando de maneira inaceitável para o casamento e ele não mais desejar estar casado com ela, ele deveria dar-lhe um certificado de divórcio, notificando-a, bem como à sociedade em geral, que ela não era mais uma mulher casada (Deuteronômio 24:1-2).

Na sociedade judaica, era importante para a mulher ter um certificado de divórcio antes de ser mandada embora, porque sem ele ela seria incapaz de se casar novamente. Em todo o mundo antigo, a família era muitas vezes a única maneira de uma mulher ser protegida e suprida. As mulheres tinham poucos direitos legais e não podiam possuir propriedades. Sem um certificado de divórcio que lhe permitisse casar-se novamente, uma mulher precisaria de um parente do sexo masculino disposto a levá-la para sua casa ou seria forçada a viver na rua.

Biblicamente, o único motivo aceitável para o divórcio era a infidelidade conjugal.

Os fariseus provavelmente sabiam que Jesus havia ensinado isso. O texto diz que alguns fariseus vieram a Ele testando-O e perguntando: "É lícito a um homem divorciar-se de sua esposa por qualquer motivo?  Não nos é dito a natureza do teste. Mas o objetivo dos vários testes apresentados a Jesus pelos líderes judeus era pegá-Lo de alguma forma. Neste caso, parece uma explicação plausível que o objetivo era alienar Jesus da seita de fariseus que mantinha uma visão liberal das leis matrimoniais, que lhes permitia "trocar" de esposa por um novo modelo baseado em seus próprios caprichos.

Vimos a sensibilidade de um líder quando criticado por João Batista por sua falta de moral conjugal. Quando João confrontou Herodes por tomar ilegalmente a esposa de seu irmão, isso lhe custou sua cabeça (Mateus 14:1-11). Talvez eles tivessem isso em mente, contando que Jesus fosse ofendê-los, esperando que isso os ajudasse a influenciar a multidão contra Jesus quando eles o acusassem perante o concílio (o Sinédrio). Ou melhor ainda, talvez eles estivessem provocando Jesus a dizer algo que denunciasse Herodes e deixasse Herodes cuidar Dele, como havia feito com João Batista. Se Herodes se livrasse de Jesus, tal ação tiraria os fariseus de um potencial conflito social por terem eliminado um rabino cada vez mais popular.

Jesus não mencionou Herodes e se recusou a aceitar a armadilha do divórcio apresentada pelos fariseus. Ao invés disso, Jesus os trouxe para o Seu campo de batalha e discutiu sobre a instituição divina do casamento. Era como se perguntasse aos fariseus: "Vocês querem cumprir o desígnio original de Deus para o casamento?" Se  eles dissessem que "não", isso os exporia. Se dissessem que "sim", eles estariam violando sua própria posição. Era, portanto, uma resposta devastadora e perspicaz.

Jesus começou Sua resposta à indagação dos fariseus com uma pitada de sarcasmo. Ele lhes perguntou: Vocês não leram o que Moisés ensinou?

Sua resposta cumpriu vários objetivos. Primeiro, fundamentou o que Ele estava prestes a dizer sobre Moisés. Isso O protegeria de acusações de que Ele estava ensinando contra o legislador de Israel. Em segundo lugar, envergonhou os fariseus, que se orgulhavam de serem especialistas da lei mosaica. Em terceiro lugar, deslocou e reorientou o argumento para longe da questão do divórcio e apontou para o casamento e para o padrão normativo do que era bom e verdadeiro. Em vez de aceitar a armadilha dos fariseus quanto ao divórcio, Jesus reformulou a conversa para se concentrar no casamento - o desígnio original e perfeito de Deus para um homem e sua esposa.

Jesus resumiu o que Deus havia dito por meio de Moisés sobre o casamento em Gênesis 2:21-25: Aquele que os criou desde o princípio os fez homem e mulher, e disse: 'Por esta razão, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua esposa, e os dois se tornarão uma só carne'.

Jesus continuou a explicar que um homem e sua esposa, em muitos aspectos importantes, não são mais considerados duas pessoas separadas, mas uma única criação unida por Deus. As duas pessoas são uma só carne.

Jesus então declarou a lição principal: O que, portanto, Deus uniu, nenhum homem separe. O divórcio nunca fez parte do desígnio de Deus. Sempre implicava dor e era um desvio da intenção original de Deus. O divórcio não deveria ser considerado um resultado desejável a ser buscado. A resposta de Jesus teve o efeito de questionar-lhes: "Por que vocês estão se fixando nos males do divórcio em vez de se concentrarem no bem do casamento?"

Os fariseus, então, responderam: "Por que, então, Moisés ordenou que lhe desse um certificado de divórcio e a mandasse embora?"  Sua resposta foi: "Bem, se Deus não pretendia que as pessoas se divorciassem, então por que Moisés instruiu os homens sobre a maneira correta de se divorciar de  suas esposas?" Eles estavam lutando com Jesus para tirar Jesus de Sua atenção original para se concentrar no divórcio. A linguagem de sua pergunta sugeria que o divórcio era um mandamento similar ao casamento. Parece que os fariseus estavam tão obcecados em se opor a Jesus que  começaram a argumentar pelo divórcio e não pelo casamento.

Jesus respondeu à pergunta deles: A razão pela qual Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas esposas foi por causa da dureza do seu coração. Deus e Moisés não ordenam o divórcio, como os fariseus haviam acabado de constatar. Mas, por causa da pecaminosidade humana e da morte que ela traz, eles o permitiam. As instruções de Moisés permitindo o divórcio eram uma maneira de infligir a menor quantidade de dor e miséria e ser o mais justo possível com as mulheres, dadas as terríveis circunstâncias nas quais elas estavam envolvidas.

Jesus deixou claro que o divórcio nunca fez parte do plano original de Deus para o casamento ou para a família. Ele disse: Mas, desde o início não foi assim.

Jesus, então, responde diretamente à pergunta original dos fariseus sobre se era ou não lícito a um homem se divorciar de sua esposa por qualquer motivo. Porém, Ele prefaciou Sua resposta com a frase: Eu vos digo. Isso foi um movimento ousado. Jesus não baseou ou qualificou Sua resposta no que outro rabino havia ensinado. Ele nem sequer apelou para a autoridade de Moisés. Ele apelou para Sua própria autoridade pessoal. Por ser o o Messias de Deus, Ele era a mais alta autoridade na Judéia e no cosmos. Ao prefaciar Sua resposta dessa maneira, Jesus também estava notificando os fariseus de que eles poderiam citá-Lo sobre o que Ele estava prestes a lhes dizer.

Quem se divorcia de sua esposa, exceto por imoralidade, e se casa com outra mulher, comete adultério.

Esta foi uma resposta clara à sua pergunta. Não era lícito a um homem se divorciar de sua esposa por qualquer motivo. A única razão permitida para o divórcio, de acordo com Jesus, era o adultério.

Marcos registra que depois dessas coisas, quando estavam em casa, os discípulos começaram a questioná-Lo sobre essas coisas novamente (Marcos 10:10). Jesus esclareceu Sua resposta, como mostrado nesta passagem do Evangelho de Marcos:

"E disse-lhes: Quem se divorciar da sua mulher e se casar com outra mulher comete adultério contra ela; e se ela mesma se divorciar de seu marido e se casar com outro homem, ela está cometendo adultério". (Marcos 10:11-12)

O esclarecimento de Jesus pode ser melhor compreendido se observarmos as palavras que os escritores sinóticos dos Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) usaram para o divórcio.

A palavra grega predominantemente usada para divórcio é "Apoluo". Significa mandar embora. A palavra grega para divórcio usada por Lucas na repreensão de Jesus, e que Mateus usou dentro da pergunta dos fariseus, foi este termo, "Apoluo", que significa "mandar embora".

Tecnicamente, o "divórcio” (apoluo) não era legalmente reconhecido. Outra palavra grega era usada para se referir ao divórcio legalmente reconhecido, e essa era a palavra "apostasion". Esta é a palavra usada para descrever a certidão de divórcio que Moisés disse que um homem deveria dar à sua esposa ao mandá-la embora.

Em Seu esclarecimento a Seus discípulos, Jesus parecia estar condenando a prática que os fariseus e outros homens na sociedade judaica estavam fazendo ao "apoluo” (divórcio) de suas esposas ao expulsá-las de suas casas sem um certificado de "apostasion” (divórcio). Jesus insinuou no relato do Evangelho de Lucas que a razão pela qual os fariseus dispensavam suas esposas ("apoluo-divórcio") sem um certificado de divórcio ("apoluo") foi porque eles queriam se justificar ao se casaram com uma nova esposa (Lucas 16:14-15, 18). Era uma brecha abusiva e hipócrita. Os fariseus podiam mandar suas esposas embora de um jeito ("apoluo") e, em seguida, tecnicamente (e hipocritamente) alegar que nunca haviam se divorciado ("apostasion"). Isso colocava suas esposas em uma encruzilhada, ao mesmo tempo em que lhes permitia ter todas as mulheres que desejassem.

Sempre que um homem se "apoluo-divorciava" de sua esposa e a mandava para fora de casa e não lhe dava um certificado de "apostasion-divórcio", ele a condenava a  dificuldades excessivas. Em todo o mundo antigo, as mulheres eram quase inteiramente dependentes dos homens. As mulheres tinham poucos direitos e não podiam possuir nenhuma propriedade. Pais e maridos eram seus principais provedores e protetores. Quando um marido se divorciava de sua esposa, ela tinha poucas opções. Ela poderia se casar novamente. Ela poderia procurar morar com o pai ou outro parente do sexo masculino. Mas se esses refúgios não estivessem disponíveis, ela seria forçada a viver na rua. E sem um certificado de "apostasion-divórcio", ela não poderia se casar novamente, porque ainda estava legalmente vinculada ao marido que a havia expulsado ("apoluo") de sua casa.

Essencialmente, Jesus disse aos discípulos em Marcos 10:11-12 que qualquer um que se casasse com uma mulher que tivesse sido "apoluo-divorciada" sem um certificado de "apostasion-divórcio" estava cometendo adultério. E qualquer mulher que estivesse nessa situação e se casasse com outro homem também cometia adultério.

O Evangelho de Mateus começou registrando a história de várias mulheres de fé como sendo parte da linhagem de Jesus (Mateus 1:1-17). Isso incluía mulheres com origem gentia (Tamar, Raabe e Rute), bem como mulheres com origem judaica (Maria). Os principais apoiadores financeiros de Jesus eram mulheres (Lucas 8:2-3). Maria Madalena, a primeira mencionada entre os apoiadores de Jesus, recebeu o privilégio de ser a primeira a vê-Lo após Sua ressurreição (Marcos 16:9). Esta passagem em que Jesus defende as mulheres é consistente com a elevação de Jesus daqueles que a quem a sociedade tendia a rebaixar, incluindo crianças, mulheres, pobres e enfermos. Isso é consistente com o ensino de Jesus de que a grandeza no Reino de Deus é medida de forma completamente diferente da grandeza no sistema mundial (veja nosso comentário sobre Mateus 18:1-5).

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