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Significado de Miquéias 2:6-11

justificava a tomada da terra de outros povos pelos ricos da terra.

O oráculo começa com Miquéias citando os falsos profetas de sua época que lhe diziam para não falar (v. 6). Eles não queriam que Miquéias profetizasse sobre o julgamento vindouro do Senhor. A palavra “falar” neste versículo (hebraico nāṭap") significava literalmente "pingar", referindo-se às palavras que saem da boca. É usado para se referir a profetizar (Amós 7:16). Aqui, o verbo está no plural, implicando que aqueles falsos mestres (que também "pingavam") queriam que Miquéias e outros como ele parassem de profetizar porque, como verdadeiros profetas, eles se opunham às crenças e práticas dos falsos profetas.

O raciocínio dos falsos profetas era o de que, se eles (Miquéias e os outros) não falassem a respeito daquelas coisas (pecado e julgamento), então as reprovações seriam revertidas. Isso significava que Miquéias e os outros precisavam parar de profetizar contra os falsos profetas, porque a reprovação do Senhor (desonra, vergonha) não seria voltada contra eles (ou os "alcançaria"). A ideia era a de que os falsos profetas afirmavam que, caso seus atos não fossem expostos, eles poderiam se safar. A esse respeito, eles estavam tratando a Deus como se Ele fosse um ídolo, que não sabia de nada ou e não os ouvia falar.

Miquéias lembra ao povo as coisas que os falsos profetas estavam proclamando. Ele o faz na forma de uma pergunta: Está sendo dito, ó casa de Jacó (v. 7). A primeira pergunta que os falsos profetas fizeram foi: O Espírito do Senhor é impaciente? A resposta implícita era "não". Eles ensinavam que não era da natureza do Senhor punir o Seu povo; em vez disso, por causa de Sua natureza amorosa, Deus não seria impaciente com Seu povo da aliança. Isso, claro, era verdade; porém, o contexto era outro (Deuteronômio 7:7-8).

A segunda pergunta foi: São estes os Seus feitos? Novamente, a resposta implícita era "não". Os feitos aqui se referiam aos acórdãos descritos nos vv. 3-5. Os falsos mestres ensinavam que um Deus amoroso jamais traria sofrimento, calamidade e morte sobre Seu povo, independentemente de seu pecado.

Uma das marcas do falso ensino é pregar sobre o amor do SENHOR e nunca ensinar sobre Seu julgamento e ira. Isso resulta em pessoas que justificando atos pecaminosos com base no fato de nunca serem julgadas por causa do amor de Deus. Os verdadeiros mestres da palavra de Deus ensinam tanto Seu amor ilimitado quanto Sua disciplina (Hebreus 12:5; Apocalipse 3:19).

O SENHOR, por meio de Miquéias, responde com outra pergunta: Minhas palavras não fazem bem àquele que anda em retidão? (v. 7). A resposta implícita para essa pergunta era "sim". Suas palavras eram os preceitos da Lei de Moisés indicados nos livros de Êxodo (20-24) e Deuteronômio. Os que andam em retidão são os que obedecem à lei do SENHOR, resultando em bem (paz e prosperidade). Aqueles que andam em Seus caminhos fazem a escolha que leva a uma grande experiência de vida e prosperidade (Deuteronômio 30:19-20).

Em contraste com aqueles que fazem o bem, Miquéias descreve as ações imorais e desobedientes de algumas pessoas ricas, especialmente os falsos profetas, durante seu tempo. Ele os descreve como recentemente Meu povo surgiu como um inimigo  (v. 8), um inimigo da Lei do Senhor. Ser inimigo implicava não ser seguidor do SENHOR e Seus caminhos. Na verdade, eles se opunham ao SENHOR e a Seus caminhos.

A prova de que eram inimigos do Senhor era que eles tiravam o manto das vestes. O  “manto” (hebraico "'eḏer") representava o status de alguém na sociedade e era usado sobre as outras vestes (hebraico "śalmāh"). Suas vítimas eram transeuntes desavisados que pensavam estar seguros. Em vez de comemorar seu retorno, o inimigo atacava e roubava os que voltavam da guerra.

A idéia aqui é que seus vizinhos entravam em guerra para protegê-los e a seu país, mas quando voltavam para casa eram abusados e negligenciados. Isso ilustra uma atitude de arrogância e um espírito de exploração. Tal espírito é o oposto do "amor ao próximo como a si mesmo". Aqueles que vivem de acordo com esse espírito de exploração são inimigos do Senhor.

Não só essas pessoas más atacavam aos homens. O SENHOR faz referência às mulheres do Meu povo que vós expulsais (v. 9). A referência às mulheres aqui provavelmente diga respeito às viúvas sendo forçadas a deixar suas residências. Se uma pessoa poderosa quisesse uma casa específica, ela simplesmente expulsaria cada um de sua casa sem medo de ser confrontada. Eles eram inimigos da lei de Deus, porque Sua lei exigia que as viúvas e os pobres recebessem cuidados para subsistir durante tempos difíceis, visando dar-lhes a oportunidade de melhorar suas circunstâncias (Deuteronômio 15:7-9, 15:11-14, 24:12-15

O SENHOR também diz que suas ações afetariam também os seus filhos: De seus filhos tirais Meu esplendor para sempre. O “esplendor” (hebraico "hăḏārî") provavelmente se referisse às bênçãos do SENHOR sobre Israel. A retirada de seu esplendor provavelmente significava que as bênçãos de Deus iria embora de Israel quando o povo estivesse no exílio. Parece que Deus está dizendo aos ricos iníquos que eles faziam com que as bênçãos de Israel fossem tiradas, porque quebravam o tratado/aliança que haviam feito com seu Deus susserano/governante (Êxodo 19:8).

Por causa das ações pecaminosas dos líderes da sociedade israelita e dos falsos mestres, uma geração inteira do povo do SENHOR jamais experimentaria as bênçãos materiais do SENHOR na Terra Prometida.

Aqueles corruptos que forçavam seus companheiros israelitas a deixar suas casas receberam a ordem do Senhor, por meio de Miquéias, de levantar-se e ir, pois este não é lugar de descanso (v. 10).

Eles não partiram por vontade própria - foram forçados a um exílio de 70 anos pelos caldeus (babilônicos) a partir de 605 a.C. Seu lugar de descanso em Israel havia se tornado um lugar de pecado, crueldade e corrupção e não era um bom lugar para se viver. Por isso, foram despejados.

De fato, a terra de Israel/Judá havia sido corrompida por causa da impureza que provoca a destruição. Não apenas o exílio ocorreu, mas os caldeus destruíram grande parte de Judá, especialmente em 586 a.C., quando arrasaram Jerusalém. Seria, de fato, uma destruição dolorosa. Essa destruição havia sido diretamente prescrita na aliança/tratado que Israel havia firmado com Deus, seu susserano/governante (Deuteronômio 28:15-68).

Miquéias, então, torna-se sarcástico ao falar sobre até que ponto os israelitas respondiam a um homem andando atrás do vento e da falsidade (v. 11). Esse homem - uma referência aos falsos profetas - tinha um estilo de vida de buscar as coisas que careciam de substância (vento) ou credibilidade (falsidade). Era uma pessoa propensa a contar mentiras. Esse falso profeta havia dito: "Eu vos falarei a respeito do vinho e da bebida".

O vinho e o licor representavam um estilo de vida indulgente dos que tinham prosperidade e riqueza. O povo durante esse tempo tinha um desejo intenso de desfrutar de sua prosperidade de uma forma que satisfizesse a seus apetites carnais. Os falsos profetas encorajavam esse modo de pensar, ensinando ao povo que o principal objetivo da vida era tornar-se rico e satisfazer a seus prazeres. Diziam que os meios (explorar os outros) justificavam os fins (estilos de vida indulgentes). Isso estava em contraste direto com os ensinamentos da palavra de Deus. Deus ensinava que entregar-se aos apetites os tornaria escravos de seus desejos, algo totalmente autodestrutivo (Romanos 6:16).

Porém, o povo acreditava no que os falsos profetas diziam e os seguiam até ao ponto de transformá-los em seus porta-vozes (v. 11). A palavra para “porta-voz” (hebraico "maṭṭîp̄") é a mesma palavra usada no v. 6 e traduzida como "falar", significando, literalmente, "pingar". A ideia é que os falsos profetas estavam continuamente pingando o que seu público queria ouvir (2 Timóteo 4:3). Os falsos profetas ganhavam a vida fornecendo a falsa justificativa moral a seu público de que era honroso servir a si próprio e explorar aos outros. Isso era, na verdade, algo destrutivo e inútil, especialmente à luz de seu voto de manter o compromisso com a aliança do SENHOR (Êxodo 19:8).

Um verdadeiro profeta, como Miquéias, tinha uma mensagem muito diferente. Ele encorajava o povo a submeter-se à Lei de Moisés, obedecendo e amando ao SENHOR (Deuteronômio 6:1-5) e amando ao próximo (Levítico 19:18). Ele enfatizava que eles deveriam escolher entre a vida (amando o próximo) e a morte (explorando-os), conforme estabelecido em sua aliança/tratado com Deus (Deuteronômio 30:19). Como Miquéias faz aqui, um verdadeiro profeta elevaria a verdade de que as ações têm consequências e suas iniquidades estavam levando a nação a ser julgada, de acordo com os termos do acordo de aliança/tratado com Deus (Deuteronômio 28:15-68).

O princípio da escolha entre vida e morte, e suas respectivas consequências, é repetido no Novo Testamento (Mateus 7:14; Romanos 1:24, 26, 28; Gálatas 6:8). Como o povo de Deus em Judá, os crentes do Novo Testamento também serão julgados e recompensados de acordo com suas obras (2 Coríntios 5:10).

Portanto, os princípios estabelecidos no Antigo Testamento são relevantes para os crentes de hoje, porque todos nós colhemos o que plantamos, nossas ações têm consequências. Deus criou o princípio de causa-efeito tanto para o universo físico quanto para o universo moral. É por isso que Jesus repete tantos princípios do Antigo Testamento, porque Deus havia dado Sua aliança a Israel para seu próprio bem, para dizer-lhes como a vida deveria funcionar (Deuteronômio 10:13).

Seguir a esses preceitos é para o nosso bem. É por isso que o Novo Testamento enfatiza o ensinamento central da aliança de Deus com Israel de que as maiores bênçãos da vida são provenientes de amarmos a Deus e amarmos ao próximo (Lucas 10:27; Romanos 13:9Gálatas 5:14; Tiago 2:8). Amar aos próximo é o caminho para nossa própria realização (Lucas 9:23-24).

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