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Significado de Miquéias 2:1-5
No capítulo 1, Miquéias convoca o povo da aliança do SENHOR (Judá) para ouvir o julgamento de Deus sobre eles (Miquéias 1). No capítulo 2, ele especifica as razões e as justificativas para um julgamento tão severo e devastador.
Seria tentador jogar todos os problemas de Judá no estado de coisas do Antigo Oriente Próximo. Nínive, a principal cidade dos assírios, estava expandindo seu império por toda a região, conquistando o reino do norte (Israel) em 722 a.C., destruindo suas cidades e matando/exilando sua população (2 Reis 17:5-6, 24). Agora, a Assíria estava no processo de fazer o mesmo com o reino do sul de Judá (2 Reis 18:13).
Porém, Miquéias coloca a culpa desse desastre diretamente sobre o povo de Judá. Especificamente, ele pronuncia desgraça para aqueles que planejam a iniquidade (v. 1). O termo “ai” (hebraico "hôy") foi usado por vários profetas do Antigo Testamento para proclamar a vinda do julgamento do SENHOR sobre Seu povo pecador (Isaías 3:9; Jeremias 13:27, Ezequiel 13:3; Amós 5:18 e t al.).
Este julgamento viria para aqueles que planejam a iniquidade. Planejar (hebraico "ḥōšəḇê") significava que alguém estava tecendo várias ideias sobre como realizar algo. Aqui, o material tecido era a iniquidade (hebraico "'āwen"), uma palavra forte que indicava algo muito mal e perverso. Não era algo inadvertido, era intencional.
As pessoas que faziam isso pareciam estar obcecadas em planejar o mal porque continuavam a perpetuar o mal em suas camas! Eles passavam a noite e o dia sonhando com novas formas de fazer coisas más aos outros, então quando a manhã chega, eles fazem isso. Observe que o único pensamento dessas pessoas era o de enriquecer. Eles absolutamente não prestavam atenção à instrução da Lei de Moisés de amar ao próximo como a si mesmos (Levítico 19:18). Em vez disso, eles haviam adotado a cultura pagã da exploração e só pensavam em como explorar ainda mais as pessoas.
Aparentemente, as pessoas aqui descritas estavam localizadas na classe alta da sociedade. Elas tinham poder e influência na sociedade porque, quando queriam algo, estava no poder de suas mãos obtê-lo, sem nenhuma consequência. Elas cometiam o mal que planejavam porque sabiam que poderiam se safar.
Anteriormente, Miquéias havia falado em termos genéricos, referindo-se à sua "rebelião" e "pecados" (1:5). Aqui, ele se concentra nos gananciosos proprietários de terras que queriam enriquecer, independentemente de quem estivesse em seu caminho. Miquéias proclama lhes a desgraça porque eles cobiçavam os campos e se apoderavam-se deles (v. 2). Em primeiro lugar, “cobiçar” (hebraico "ḥāmad") qualquer coisa pertencente a outra pessoa violava ao décimo mandamento (Êxodo 20:17; Deuteronômio 5:21). Israel havia quebrado seu voto de obedecer aos mandamentos de Deus (Êxodo 19:8). Eles não apenas cobiçavam, mas também roubavam, o que violava a disposição contratual de aliança de não tomarem as propriedades de seus vizinhos (Êxodo 20:15).
Aqui, eles cobiçavam os campos pertencentes a outras pessoas e depois os tomavam. Nessa época, os campos eram o sustento das pessoas; perdê-los forçava as pessoas à servidão. A palavra “tomar” (hebraico "gāzal") significa literalmente "arrancar" ou "tirar pela força", implicando que a apreensão era forçada e até violenta.
Os ricos não apenas arruinavam o sustento de outras pessoas tomando seus campos, mas também queriam suas casas; assim, conspiravam para tomá-las também. Em outras palavras, eles roubam um homem e sua casa. A palavra “roubar” (hebraico "'āshaq") significava literalmente "oprimir", mas também podia significar "fraudar", possivelmente com violência. A palavra “casa” era uma referência a tudo o que um homem possuía - sua terra, sua residência e sua família. Isso incluía sua herança, a capacidade de transmitir seus bens para que sua família não tivesse necessidades.
O que esses opressores faziam era uma violação direta do décimo mandamento que dizia que uma pessoa estava proibida de cobiçar "qualquer coisa que pertença ao seu próximo" (Deuteronômio 5:21). De fato, eles precisavam buscar o melhor para o próximo e "amar ao próximo como a si mesmos" (Levítico 19:18).
No Novo Testamento, Jesus repete esse mandamento, dizendo ao povo para "amar o próximo" (Mateus 5:43; 19:19). Ele diz a Seus seguidores que "amassem a seus inimigos" (Mateus 5:44). Paulo e Tiago aplicaram isso à Igreja (Romanos 13:9; Gálatas 5:14; Tiago 2:8). Paulo estende esse conceito dizendo: "Considerai-vos uns aos outros mais importantes do que a vós mesmos" (Filipenses 2:3). Este é o caminho para experimentarmos a maior realização da vida: amar e servir aos outros (Deuteronômio 30:11-16).
Tendo descrito como essas pessoas poderosas oprimiam aos outros, Miquéias fala sobre a reação do Senhor. A frase “Portanto, assim diz o Senhor” (v. 3) mostra que o que se seguiria não seriam palavras do profeta, mas do próprio Senhor (Javé).
O SENHOR responde aos pecados e injustiças generalizados descritos nos vv. 1-2 com Sua proclamação de julgamento. Ele enfatiza a seriedade do que estava prestes a dizer, começando com a expressão “eis” (hebraico "hinnêh", "Vejam!"). O SENHOR declara que estava planejando uma calamidade (ou "desastre") da qual não podereis tirar o pescoço (v. 3). A família (todos israelitas) receberia um julgamento inevitável.
Como resultado da calamidade, os malfeitores julgados (v. 1f) não andarão altivos. Isso infere que, antes da calamidade, os ricos de Judá operavam em orgulho. A Bíblia coloca o orgulho como o oposto da fé (Habacuque 2:4). Teremos fé em Deus e seguiremos a Seus caminhos ou teremos fé em nós mesmos porque achamos que sabemos o é melhor (orgulho). O orgulho está, portanto, enraizado em uma falsa realidade. A calamidade lida com a ilusão de que "estamos no controle". Judá sofria deste mal, aparentemente. Não haveria nada a comemorar ou se gabar, pois será um tempo mau, um tempo de sofrimento e grandes perdas.
O versículo 4 aparece na forma de um cântico de lamento: Neste dia eles tomarão contra vós uma provocação (v. 4). A frase “neste dia” refere-se à "calamidade" que o SENHOR havia designado para eles (ver v. 3). A calamidade referida poderia ser a conquista da maior parte de Judá pelos assírios (2 Reis 18:13). Também poderia se referir à futura conquista e cativeiro de Judá pela Babilônia em 586 a.C.
O “senhor” aqui se refere ao objeto da desgraça no v. 1 - os falsos profetas e os ricos gananciosos que estavam planejando o mal. A “provocação” conteria um lamento amargo, uma expressão intensa (literalmente "alguém lamentaria com grande pranto") referindo-se a uma canção cheia de lamentos, luto e tristeza avassaladora.
O motivo da provocação era que tudo seria tirado do povo, especialmente dos falsos profetas e dos ricos latifundiários. Eles gritariam: Estamos completamente destruídos! O “nós” aqui provavelmente se refira aos ricos proprietários de terras que haviam tirado as terras dos pobres (ver v. 2). Agora, todas as suas terras seriam levadas pelos invasores. Este resultado estava de acordo com o pacto/tratado que Israel havia firmado com seu Deus susserano/governante, Javé. De acordo com o tratado, se eles desobedecessem e explorassem ao próximo ao invés de amá-los, eles seriam entregues às nações estrangeiras para serem explorados (Deuteronômio 28:33, 49). Chegara, finalmente, o momento em que esta parte do tratado seria aplicada.
As pessoas más (falsos profetas e os gananciosos proprietários de terras) reclamariam: Ele troca nossa porção. Isso significava que o SENHOR mudaria a propriedade da porção (hebraico "ḥêleq", referindo-se a um lote de terra agrícola ou pastagem essencial para a vida) do Seu povo. Esse povo poderoso e pecador perderia sua terra para os invasores.
O princípio da reciprocidade perpassa todas as Escrituras. Pequenos atos de bondade são grandemente recompensados por Deus (Mateus 10:40-42). Também é o caso de que, quando nos recusamos a perdoar, não somos perdoados (Mateus 6:14). E quando pecamos deliberadamente, Deus nos entrega para sofrer as consequências negativas de nossas ações (Romanos 1:24, 26, 28). Aqui, aqueles que haviam usado sua influência e poder para explorar seriam entregues a alguém com poder ainda maior para serem explorados.
Eles gritariam seu espanto: Ele (o SENHOR) a remove de mim! A palavra “remover” (hebraico "yāmîš") é usada aqui em um sentido de aliança, como em Isaías 54:10. Isso provavelmente significava que, do ponto de vista dos falsos profetas, o SENHOR não estava sendo fiel à Sua própria aliança. Em outras palavras, em sua opinião, o SENHOR não era fiel à aliança ao tomar deles a terra (Judá) que anteriormente havia sido prometida como posse permanente (Deuteronômio 1:8).
No entanto, eles estavam escolhendo as partes do pacto/tratado. Estava claramente declarado no tratado que se eles explorassem em vez de amar a seus vizinhos (adotando a cultura pagã de exploração ao invés da cultura autônoma de amarem ao próximo), eles sofreriam uma série de maldições (Deuteronômio 28:15-68). Isso indica que Israel havia quebrado o primeiro e maior mandamento, bem como o segundo; eles não estavam ouvindo a Deus, nem O seguiam de todo o coração (Mateus 22:37-39). Estavam, em vez disso, buscando explorar a Deus para seus próprios fins.
A situação era ainda mais desanimadora para esses pecadoras: Ao apóstata Ele distribui nossos campos. A palavra “apóstata” (hebraico "ləšōwḇêḇ") significava "aquele que se afasta" ou "retrocesso". É provavelmente uma referência aos invasores assírios (722 a.C. - 701 a.C.) ou talvez aos babilônios que vieram depois (605 a.C. - 586 a.C.). A ironia aqui é que eles (os israelitas maus) eram os apóstatas (junto com os assírios), porque haviam se afastado da aliança do Senhor.
Em resposta ao lamento dos falsos profetas nos versículos anteriores, Miquéias proclama que, como resultado de sua apostasia, eles não terão ninguém esticando uma linha de medição na assembleia do Senhor (v. 5). “Esticar uma linha de medição” referia-se à definição das fronteiras da propriedade de uma pessoa. Por causa de seu desrespeito pela lei do Senhor, eles não teriam propriedade própria. Isso também infere que eles não teriam um governo próprio. Em vez disso, seriam vassalos de um Estado estrangeiro. Isso finalmente veio a ocorrer em Judá depois de serem invadidos e exilados pela Babilônia (2 Reis 25:1-4).