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Significado de Miquéias 1:8-16

Miquéias chora pelo julgamento do SENHOR sobre Seu povo.

Nesses versículos, Miquéias registra sua reação ao severo julgamento que o Senhor estava pronunciando sobre Seu povo. Era uma reação baseada no amor aos seus conterrâneos. Miquéias afirma: Por isso devo lamentar e chorar (v. 8). “Lamentar” (hebraico"'espəḏāh") significa chorar por um falecido. Miquéias entendeu que a destruição seria completa e só podia lamentar e chorar (hebraico "wə'êlîlāh", "clamar" em profunda tristeza).

Além de seu luto interior, Miquéias exibe sua aflição corporalmente ao andar descalço e nu (v. 8), ambos sinais de luto extremo (2 Samuel 15:30; Isaías 20:2; 22:12; Jeremias 25:34). Ele expressava sua angústia vocalmente ao fazer um lamento como os chacais e um luto como os avestruzes (v. 8). A palavra “chacais” provavelmente se refira aos animais catadores de refugos que vagavam pelas cidades abandonadas. Eles haviam se tornado um símbolo de julgamento e desolação (Ezequiel 32:2).

A palavra “avestruzes” (hebraico "ya'ănāh") é traduzida como "corujas" em outras versões. Refere-se a criaturas que, como os chacais, vagavam durante a noite e faziam sons semelhantes a lamentos. Juntos, formam a imagem de um profeta que, em sua profunda dor, começa a gritar e a uivar como as criaturas noturnas, por causa da devastação que viria sobre seu povo. Vale a pena notar que, embora o profeta não tenha gostado da mensagem que Deus lhe havia dado para falar ao povo, ele a pronuncia fielmente.

A razão do luto de Miquéias é que sua ferida é incurável (v. 9). O julgamento do Senhor seria tão severo que Samaria não mais se recuperaria. Judá, como nação, deixaria de existir.

Além disso, este sofrimento perpétuo chegou a Judá e à porta do meu povo, até Jerusalém (v. 9). Observe que Miquéias chama o povo de Jerusalém (e por extensão Judá) de meu povo (uma frase usada nove vezes no livro), indicando que ele se identificava com o povo sob o juízo do Senhor e estava profundamente entristecido. Esse foi outro motivo pelo qual Miquéias ficou profundamente triste com a situação. Seu país seria destruído.

Presumindo que Miquéias tenha ministrado entre 735 e 700 a.C., o reino do norte (Samaria/Israel) foi destruído durante o tempo de seu ministério. Os assírios conquistaram Samaria em 722 a.C. As tribos de Samaria/Israel foram dispersas por todo o Império Assírio e não mais retornaram. Mais tarde, Judá e Jerusalém foram ameaçados pela Assíria em 701 a.C., mas o Senhor interveio e eles foram libertados (2 Crônicas 32:1-22).

Judá existiria até o cativeiro babilônico, que durou de 605 a.C. a cerca de 535 a.C. Durante este tempo, Jerusalém foi completamente destruída pelos babilônicos em 586 a.C. Portanto, é provável que a profecia de Miquéias tenha se cumprido logo após o fim de seu ministério profético.

Nos versículos 10 a 16, Miquéias descreve a extensão do julgamento do Senhor através de um poema. Neste poema, ele usa um jogo de palavras, incluindo trocadilhos. Os trocadilhos envolviam os nomes de várias cidades e aldeias que estavam perto de sua cidade natal, Moresete-Gate (ver v. 1); Miquéias usa os nomes das cidades para descrever o caos resultante do julgamento do Senhor.

Os jogos de palavras/trocadilhos são os seguintes:

  • Não o diga em Gate, não chore de jeito nenhum (v. 10). Gate era uma cidade filistéia e, portanto, uma cidade inimiga. Miquéias não queria que as notícias dos problemas de Jerusalém chegassem a Gate porque isso encorajaria os inimigos de Israel. O trocadilho pode ser visto porque o nome Gate soava semelhante ao verbo hebraico que significava "contar" (hebraico "taggîḏū"), resultando na afirmação "Não conte em Gate" ou "Não ‘gate’ em ‘gate’."
  • Em Bete-le-Afra revolvo-me no pó. A cidade de Bete-le-Afra era uma cidade israelita cujo nome significava "casa do pó". Miquéias usa o trocadilho aqui para dizer aos cidadãos da "casa do pó" que rolassem no pó para expressar sua angústia e luto (Jeremias 25:34) por conta do julgamento que se aproximava. Isso resultaria na afirmação "rola-te no pó, ó casa do pó".
  • Passa, moradora de Sefir, em vergonhosa nudez (v. 11). O nome Sefir significava "belo" ou "agradável" e Miquéias pede aos habitantes que andem nus. Em outras palavras, o que era belo estava prestes a ser transformado em algo vergonhoso e desonroso.
  • A moradora de Zaanã não saiu para fora. O nome Zanaã (hebraico "ṣa'ănān") soava como a palavra hebraica traduzida como "sair" (hebraico "yāṣə'āh"). O ponto de Miquéias aqui é que os moradores de Zanaã não poderiam fugir (ou sair) da cidade para escapar de sua destruição, possivelmente porque ela estaria sitiada.
  • O lamento pranto de Bete-Ezel: "Tirará de você o seu apoio". A cidade de Bete-Ezel ("casa de remoção") precisava lamentar porque o SENHOR estava prestes a tirar deles Seu apoio, o que significava que o SENHOR removeria tudo o que a cidade dependia para sua subsistência.
  • A moradora de Marote espera ansiosamente pelo bem (v. 12). O nome Marote soava como a palavra hebraica para "amargura". A idéia aqui é que os cidadãos  de Marote ficariam amargurados quando, esperando pelo bem, uma calamidade (hebraico "ra'", "mal") descesse da parte do Senhor para as portas de Jerusalém.
    • Esta era, provavelmente, uma referência à invasão assíria de Judá, quando conquistaram dezenas de cidades da Judéia (possivelmente incluindo Marote) e sitiaram Jerusalém em 701 a.C. (2 Reis 18-19).
  • Põe ao carro o cavalo ligeiro, ó moradora de Laquis (v. 13). O trocadilho aparece com a palavra hebraica para um grupo de cavalos (hebraico "rekesh", literalmente, "corcel") e o nome Laquis (hebraico "lakish"). Laquis era uma cidade  conhecida por seus cavalos, sendo uma cidade fortaleza que defendia a fronteira ocidental de Judá. Com muito sarcasmo Miquéias implora ao povo de Laquis que pegasse os cavalos e suas carruagens e escapasse da cidade. Mas, eles foram destruídos pelos assírios.

Porém, havia um problema. Miquéias declara que Laquis) foi o início do pecado para a filha de Sião. A “filha de Sião” era uma referência a Jerusalém (Sofonias 3:13; Lamentações 2:13).

Não há registro bíblico quanto a este evento, mas uma das sugestões é que os cavalos mencionados aqui foram dados ao deus sol e, portanto, foram oferecidos aos ídolos (ver 2 Reis 23:11). Esta prática deve ter se espalhado para outros lugares em Judá, poluindo toda a terra com o culto pagão.

Laquis não escaparia do julgamento de Deus: Porque em vós foram encontrados os atos rebeldes de Israel. Talvez Laquis confiasse em seus cavalos e em sua força militar. No entanto, por causa de seus atos rebeldes contra seu susserano/governante Javé, violando seu pacto/tratado com Ele, eles seriam julgados, de acordo com os termos do tratado.

  • Portanto, dareis presentes de despedida (v. 14). O sujeito desta frase provavelmente seja Jerusalém. A expressão “presentes de despedida” está relacionada à palavra "dote", presentes dados aos recém-casados em seu casamento. Quando saíam da cerimônia, eles levavam os presentes consigo. Aqui, os presentes foram dados em nome de Moresete-Gate, a cidade natal de Miquéias.

Este provavelmente seja o significado: como Moresete lembra a palavra hebraica "noiva" (hebraico "me'orasa"), a imagem dada aqui pode ser a de que os líderes de Judá seriam forçados a pagar um "dote" (ou seja, um tributo) e uma noiva (a cidade de Moresete-Gate) aos conquistadores assírios.

  • As casas de Aczibe se tornarão um engano (v. 14). O nome Aczibe significava "engano", fazendo com que o trocadilho expressasse que "as casas do engano se tornariam um engano". As casas aqui podem se referir aos locais de negócios e comércio. Se isso for verdade, o engano pode ser o de que os reis de Israel esperavam participar da prosperidade dos negócios em Aczibe, porém não haveria mais prosperidade, pois as casas de Aczibe seriam destruídas pelo inimigo.
  • Ainda trarei sobre ti, ó moradora de Maressa, aquele que te possuirá (os conquistadores) (v. 15). A expressão “além disso” indica outras consequências do juízo do SENHOR trazido sobre os que tomassem posse (os conquistadores).
    • Possuir” implicava o resultado da ação de um conquistador. Aqui, ele é identificado como Senaqueribe, rei da Assíria. Ele tomou posse de todas as cidades de Judá antes de cercar Jerusalém por volta de 700 a.C. (2 Reis 18:13).
    • O jogo de palavras pode ser visto no nome de Maressa, que soa como a palavra hebraica para "conquistador". O que era uma "posse" (Maressa) se tornaria posse do conquistador.
  • A glória de Israel chegará até Adulão. A referência a Adulão (uma cidade cananéia) provavelmente aponte para um dos eventos na vida de Davi. Saul estava perseguindo a Davi e Davi foi forçado a se esconder em uma caverna em Adulão (1 Samuel 22:1). Isso ocorreu durante os dias mais sombrios da vida de Davi. Ele era um fugitivo tentando escapar da ira de Saul, ao invés de governar como legítimo rei de Israel.

Aqui, isso poderia significar que a glória de Israel (o rei) entraria em dias muito sombrios porque eles seriam perseguidos por seus inimigos e removidos do governo do povo do Senhor. Isso aconteceu para grande parte de Judá durante a invasão da Assíria (2 Reis 18:13). Por fim, aconteceu de uma vez quando Judá é exilado na Babilônia (1 Crônicas 9:1).

Miquéias pede ao povo de Judá que se fizesse calvo e cortasse seus cabelos (v. 16) como demonstração de sua dor. Eles deveriam fazer isso por causa dos filhos de seu deleite, referindo-se à sua amada descendência. Miquéias prevê que algo trágico estava prestes a acontecer com seus filhos.

Em paralelo à primeira frase, o profeta lhes diz para estender sua calvície como a águia careca. Estender (hebraico "harḥiḇî", ou seja, "multiplicar" ou "aumentar") poderia significar permanecer calvo por muito tempo, ou que a calvície se estenderia a toda a cabeça, incluindo a barba. De qualquer forma, raspar a cabeça era uma expressão de profundo luto (Jó 1:20; Isaías 15:2Ezequiel 27:31; Amós 8:10). Miquéias exorta Judá a chorar profundamente por causa da destruição devastadora que viria sobre o povo de Judá.

A razão desse luto era que o SENHOR estava prestes a fazer com que os filhos do seu deleite saíssem para o exílio (v. 16). Os assírios já haviam levado os filhos das tribos do norte para o exílio e agora haviam conquistado algumas cidades em Judá. Isso demonstrava a Judá que, por terem sido tão perversos quanto Israel, os conquistadores também levariam seus filhos. Isso diminuiria a população futura de Judá e colocaria em risco qualquer esperança de restauração da nação. Os assírios podem ou não ter levado as crianças das cidades de Judá, conquistadas antes de 701 a.C. Porém, sabemos que isso certamente ocorreu a partir de 605 a.C., quando os babilônicos exilaram a todo o povo de Judá na Babilônia (2 Reis 25:21; Daniel 1:3).

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