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Significado de Miquéias 1:2-7

Esta primeira seção do primeiro discurso de Miquéias (Miquéias 1:2-2:13) contém um chamado a que toda a criação do Senhor seja testemunha de Suas acusações contra Israel. Este chamado é seguido pelo anúncio do SENHOR quanto ao Seu julgamento sobre Samaria, o reino do norte.

Como se gritasse o mais alto possível, Miquéias inicia o primeiro oráculo proclamando: Ouvi, ó povos, todos vós (v. 2). Cada uma das três declarações que compõem o livro começam com o comando “ouvir”. A palavra “povos” provavelmente se refira a todas as pessoas na terra.

O profeta, então, clama: Escutai, ó terra e tudo o que ela contém. Era um apelo para que toda a terra, seu conteúdo e seus habitantes, prestassem atenção ao que estava prestes a ser dito. Miquéias afirma: Que o Senhor DEUS seja testemunha contra vós (v. 2). A linguagem usada aqui é a de um processo judicial movido pelo susserano/governante contra Seus vassalos, o povo de Israel e Judá.

Ele é chamado de Senhor Deus. A palavra “Senhor” aqui (hebraico "ăḏōnāy"), às vezes, é traduzida como "mestre" e é usada para comunicar a soberania de Deus sobre tudo. A palavra DEUS (hebraico "Javé") é Seu nome de aliança e significa "o existente" (Êxodo 6:4-7). Assim, a pessoa que falava era o "Senhor Javé".

O processo (testemunha contra vós) começaria quando o Senhor (mais uma vez "ăḏōnāy", "mestre") falasse de Seu templo santo (v. 2). A palavra “templo” (hebraico "hêkāl") é melhor traduzida como "palácio" aqui, porque era uma imagem do SENHOR soberano governando desde Sua residência real no céu.

Assim, a mensagem é direcionada a dois públicos: os povos do mundo que não tinham uma aliança com Deus e o povo da aliança do SENHOR que habitava na Terra Prometida.

As testemunhas deveriam estar atentas, porque “eis que o SENHOR sai de Seu lugar” (v. 3). O tempo do verbo “sair” (hebraico "yōṣê") implica que as ações do SENHOR viriam em um futuro muito próximo. “Seu lugar” refere-se ao Seu lugar santo no céu (ver v. 2). O resultado de Sua saída de Seu palácio celestial é que Ele desceria e pisaria nos lugares altos da terra (v. 3).

A expressão “lugares altos” (hebraico "bāmâ") refere-se a uma colina sobre a qual existia um santuário feito a um deus pagão e onde a adoração pagã era conduzida (1 Reis 11:7). “Pisar neles” significava que o SENHOR demonstraria Sua soberania e superioridade sobre qualquer divindade que os humanos tivessem concebido para si (Deuteronômio 33:29).

O resultado da descida do SENHOR sobre a terra era que os montes se derreterão sob Ele e os vales serão divididos (v. 4). A referência às montanhas aqui pode ser a mesma que os lugares altos pagãos mencionados anteriormente, ou pode se referir a uma montanha normal. De qualquer forma, era um quadro gráfico da soberania do SENHOR sobre a natureza (como as montanhas) algo que, aos nossos olhos, não pode ser movido ou alterado de forma alguma. O derretimento das montanhas era uma imagem gráfica de terremotos que causariam deslizamentos de terra.

Outro resultado da vinda do SENHOR é que os vales serão divididos. Esta é provavelmente uma imagem da terra se abrindo em enormes fissuras, destruindo os vales e tudo o que neles há. Isso parece mostrar uma reviravolta e uma remodelação da Terra. É semelhante à proclamação de Isaías de que "a terra será sacudida de seu lugar" pelo juízo do Senhor (Isaías 13:13).

Não apenas Judá, mas o mundo inteiro deveria tomar nota disso: Deus julgaria toda a terra com fogo e removeria toda a maldade (2 Pedro 3:7).

As palavras montanhas (lugares altos) e vales (lugares baixos) formam uma figura de linguagem chamada “merismo”, a comparação de opostos para se comunicar uma totalidade. Aqui, Miquéias apresenta uma imagem gráfica de que todas as partes da Terra seriam profundamente afetadas pelo julgamento vindouro de Deus.

Assim, como resultado de Sua presença ardente, a terra se derreteria como cera antes do fogo (v. 4), outro exemplo que descrevia o derretimento das montanhas, como água derramada em um lugar íngreme (v. 4), um segundo exemplo da destruição das montanhas. Nada, nem mesmo as montanhas, seriam capazes de se opor à vinda do Senhor. Nada seria capaz de oferecer qualquer resistência a Ele. Deus acabaria com a iniquidade e criaria uma nova terra na qual habita a justiça (2 Pedro 3:12-13).

A razão de toda essa destruição da natureza era que Israel havia sido infiel à aliança com o Senhor. Na verdade, tudo isso é por causa da rebelião de Jacó (v. 5). A rebelião (hebraico "pesha'", muitas vezes traduzida como "transgressão" [Salmo 25:7; 32:1]) era uma referência à quebra intencional da aliança com o SENHOR (Oséias 8:1). A palavra Jacó se refere ao reino do norte (Israel) e isso é confirmado em seu paralelo com a casa de Israel na linha seguinte.

A rebelião de Jacó é definida como os pecados da casa de Israel (v. 5). A palavra para pecados (hebraico "ḥaṭṭōwṯ") transmite a idéia da perda do alvo ou ficar aquém do padrão. Tomadas em conjunto, as palavras “rebelião” e “pecados” descrevem um povo que estava consciente e que deliberadamente desobedecia às leis da aliança do SENHOR. As palavras “rebelião” e “pecados” ocorrem juntas quatro vezes em Miquéias (1:5; 3:8; 6:7; 7:18).

O restante do versículo 5 descreve poeticamente o que essa rebelião e esses pecados implicavam. O quadro é apresentado sob a forma de perguntas. A primeira pergunta é: o que é a rebelião de Jacó? (v. 5).

A palavra “Jacó” refere-se ao reino do norte (Israel). O nome de Jacó havia sido mudado de Jacó ("enganador" ou "suplantador") para Israel ("Deus prevalece"). Aqui Israel é chamado de Jacó por causa de sua maldade, por ter falhado em cumprir seu papel adequado, designado por Deus. Deus havia atribuído a Israel o papel de sacerdote para todas as nações da terra (Êxodo 19:6). Porém, Israel não estava cumprindo o trabalho sacerdotal de mostrar uma maneira melhor de se viver para as outras nações. Isso parece inferir que, como Israel não estava fazendo seu trabalho, a Terra seria afetada.

A resposta de Miquéias à pergunta - O que é a rebelião de Jacó? - também é declarada na forma de uma pergunta: Não é Samaria? (v. 5).

A cidade de Samaria tornou-se a capital do reino do norte quando Omri, o rei (885 a.C. - 875 a.C.), comprou a colina de Samaria (1 Reis 16:24). Na época em que foi comprada por Omri, a colina não foi desenvolvida; no entanto, Omri e seu filho Acabe a transformaram em uma cidade e a transformaram no lugar de onde governariam. Assim, Samaria tornou-se o centro do governo e do culto pagão. Em flagrante desobediência ao SENHOR e à Sua aliança, Acabe promoveu a adoração a Baal e a outras divindades pagãs (1 Reis 16:30-34).

A segunda pergunta, semelhante à primeira, era: Qual é o lugar alto de Judá? (v. 5). O lugar alto era provavelmente uma referência à idolatria pagã. A resposta veio na forma de outra pergunta: Não é Jerusalém? (v. 5).

A resposta implícita é "Sim", porque, como no reino do norte, o culto pagão ocorria em Jerusalém, a capital do reino do sul. As cidades de Samaria e Jerusalém representam aos dois reinos. Isso era uma violação direta do acordo de aliança/tratado de Deus com Israel (Êxodo 20:2-6). Como resultado de sua violação do pacto/tratado, as medidas corretivas nele prescritas agora seriam aplicadas (Deuteronômio 28:15-68).

Como consequência da prática generalizada de idolatria entre o povo da aliança do SENHOR no reino do norte (1 Reis 14:22-24; Oséias 4:14), Ele fará de Samaria um amontoado de ruínas no campo aberto (v. 6). Esta era uma das muitas maldições prescritas na aliança de Deus com Israel caso eles desobedecessem às suas responsabilidades sob o tratado de amar a Deus e amar ao próximo (Deuteronômio 28:52). Israel havia escolhido seguir aos caminhos pagãos de exploração, em vez do modo de Deus de amar ao próximo (Oséias 4:2). Portanto, as disposições do tratado seriam promulgadas em breve.

Omri e Acabe haviam construído Samaria em uma bela cidade, mas por causa da rebelião pagã do povo no reino do norte, sua capital seria transformada em um campo vazio. O local tornar-se-ia lugar de plantação de uma vinha (v. 6). Não seria mais uma cidade; voltaria a tornar-se terra de cultivo, implicando que sua autoridade política e religiosa seria abolida.

Como Samaria representava a todo o reino do norte, isso inferia que todo o reino sofreria esse julgamento devastador. Este julgamento ocorreu em 722 a.C., quando a Assíria destruiu Samaria e exilou o povo de Israel (2 Reis 17:5-6).

Para garantir sua completa destruição, o SENHOR afirma: Ele derramará suas pedras no vale (v. 6). Essas pedras eram usadas na construção de muros e edifícios. Deus faria com que todas elas caíssem vale abaixo. Isso desnudaria suas bases  (v. 6) e, assim, a sociedade de Samaria (o reino do norte) desapareceria.

Junto com a perda de sua sociedade, Samaria perderia sua religião pagã e todos os seus ídolos seriam esmagados (v. 7). Isso provaria que os chamados "deuses" eram incapazes de proteger ou ajudar aos outros.

Na verdade, todos os seus ganhos serão queimados com fogo (v. 7). Seus ganhos (hebraico "'etnanneyha") aqui podem se referir aos salários ganhos pelas prostitutas cultuais que trabalhavam nos santuários pagãos em todo o país. Os adoradores traziam prata e ouro para o santuário pagão como oferendas que eram derretidas e transformadas em mais ídolos. Mais amplamente, pode se referir à economia, grande parte da qual aparentemente entrelaçada com a exploração pagã. Os meios de produção econômica e de comércio seriam destruídos. Na verdade, a população de Israel acabou foi exilada na Assíria e Samaria foi repovoada por outros povos (2 Reis 17:23-24).

O resultado do julgamento do SENHOR era claro: Todas as suas imagens Eu (o SENHOR) tornarei desoladas (literalmente "colocar uma devastação [sobre]"). Os ídolos que o povo do Senhor havia feito para adorar seriam derretidos pelos assírios e transformados em outras imagens a serem adoradas pelos invasores. Em outras palavras, o SENHOR acabaria com toda adoração pagã do meio de Seu povo.

Samaria, sendo tanto a capital quanto o centro do culto pagão no reino do norte, cobrava salários dos ganhos de meretrizes (v. 7), implicando que grande parte da riqueza da nação vinha da prostituição pagã. A prostituição pagã (ou cultual) era importante para os pagãos porque eles acreditavam que, se imitassem o comportamento de seus deuses, eles cairiam em sua graça. Assim, os homens, em um esforço para garantirem a bênção de um deus para boas colheitas, tinham relações sexuais com prostitutas nos templos, porque haviam sido ensinados que os deuses e deusas pagãs tinham relações sexuais uns com os outros. Era a personalização do ditado "a imitação é a mais alta forma de bajulação".

O julgamento do SENHOR era que aos ganhos da meretriz retornariam a elas. Em vez de o governo receber os salários (ofertas) das prostitutas do templo, o dinheiro permaneceria com as meretrizes. O comércio corrupto que sustentava a economia samaritana entraria em colapso. A capacidade das elites de coagir, extrair e explorar acabaria (Amós 4:1; Oséias 5:10, 6:9). Seu poder político fracassaria de vez.

O SENHOR era a fonte da prosperidade dos israelitas, não as divindades pagãs. A obediência de Israel a Deus e à Sua aliança eram os garantidores de Sua abundante provisão (Deuteronômio 28:1-14; 29:9). Porém, ao invés disso, os israelitas desobedeceram à aliança/tratado com o Deus Susserano/Governante, Javé. Portanto, agora, as disposições do tratado seriam implementadas, conforme previsto no pacto (Deuteronômio 28:15-68).

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