Significado de Provérbios 6:20-25

Salomão retorna de seu desvio sobre a perspectiva de Deus em relação a maldade e retoma o ponto principal, incentivando sua jovem audiência a escolher o caminho da sabedoria. Ele começa com a saudação habitual, filho meu, que acompanha a maioria dos recomeços no Livro de Provérbios.

Como é típico em neste livro, os versículos funcionam em vários níveis. Salomão está falando sobre conselhos parentais, mas também está usando isso como uma metáfora (uma parábola) para nossa relação com Deus (o Pai celestial supremo).

Com uma linguagem quase exatamente igual à de Provérbios 1:8, Salomão diz: guarda os mandamentos de teu pai e não abandones a instrução de tua mãe (v.20).

A palavra para guarda é "natsar", que significa "manter". Não perca. Concentre seus olhos/atenção nele para não perdê-lo de vista e não deixar que ele se afaste de você. A palavra para abandones ("natash") também pode significar "perder". Portanto, Salomão está dizendo ao leitor para valorizar os mandamentos e o ensino (ou lei, "torá"). Reflita, lembre-se, pense neles constantemente. A ênfase está na importância de seguir conselhos sábios. É literalmente uma questão de vida e morte (Deuteronômio 30:15, 19).

A ilustração familiar de seguir a instrução de nossos pais serve a dois propósitos. Em primeiro lugar, alude à ideia de que a sabedoria é transmitida através das gerações e é o alicerce ao qual realmente pertencemos. Isso nos diz que se afastar do ensino de nossos pais (ou Pai celestial) requer uma perversão do que conhecemos e fomos criados para ser.

Em segundo lugar, a dinâmica pai/mãe ajuda o leitor a entender que essas não são "regras" arbitrárias. São ensinamentos de alguém que o conhece, se preocupa, e quer o melhor para você. É pessoal. Esses ensinamentos são limites para ajudar a guiá-lo para a sua melhor vida. (A presunção nesta parábola é que estamos falando de um pai ou mãe carinhosos e que cuidam, em vez de pais abusivos.)

Usando novamente uma linguagem que ele já usou antes (Provérbios 3:3), Salomão diz: ata-os (os ensinamentos/mandamentos) perpetuamente ao teu coração, pendura-os à roda do teu pescoço (v.21). Portanto, a ideia é fixá-los à sua própria identidade; sendo o coração o centro de uma pessoa na filosofia hebraica antiga. E amarrá-los ao redor do pescoço é colocá-los como um lembrete na sua frente. Uma marca externa e interna.

Essa linguagem é semelhante à de Deuteronômio 6, o trecho de onde é retirado o primeiro e maior mandamento, amar o Senhor com todo o nosso ser (Deuteronômio 6:4-9). Para amar a Deus com todo o nosso ser, precisamos continuamente conformar nossas mentes aos Seus ensinamentos e caminhos (Romanos 12:1-2).

Portanto, Salomão passa para os benefícios de conformar nossos pensamentos aos caminhos de Deus. Quando andares, ela te guiará (v.22). A sabedoria é uma empreitada prática, se não afeta o que você está fazendo, suas ações, não foi verdadeiramente internalizada. Como ela se torna parte de você? Você internaliza os ensinamentos, fundindo-os continuamente no seu ser, isso ajuda a guiar seu comportamento. Informa seus passos. Permite que você siga caminhos que levam à vida, ao benefício e à prosperidade. A alternativa leva a várias formas de autodestruição.

Além disso, quando te deitares, te guardará. A verdade permite que seu descanso seja tranquilo. Isso é uma alusão à paz. Em hebraico, "shalom", que é a ideia de todas as coisas funcionando juntas como deveriam; harmonia da alma. Ansiedade e inquietação são consequências naturais de lutar contra a realidade, resistir à ela. Alinhar-se com Deus permite que você descanse, que esteja em paz.

Quando acordares, ela (os mandamentos) falará contigo. Os mandamentos de Deus (transmitidos pelo pai e pela mãe) vão falar com você. Eles serão a pequena voz interior que fala em momentos de angústia e decisões desafiadoras - todos os momentos. Porque seu coração foi conformado aos caminhos de Deus, suas ações seguirão o caminho que leva ao seu maior bem.

Durante esses três momentos (andar, dormir e acordar), vemos resultados positivos ao seguir os mandamentos. Eles abrangem a totalidade da existência humana - enquanto você anda, enquanto você dorme, enquanto você está acordado. Proteção total. Este é o caminho para a nossa maior experiência de vida possível.

Também é interessante notar que os mandamentos recebem o pronome feminino. Geralmente, não é traduzido dessa forma, mas a redação literal diz "ela te guiará"... "ela te protegerá"... "ela falará contigo". Isso é importante porque estabelece uma conexão clara entre os ensinamentos/mandamentos que Salomão está mencionando aqui e a Senhora Sabedoria (ver notas em Provérbios 1:20-23).

Salomão explica que o mandamento é uma lâmpada, e a lei, uma luz (v.23). Os ensinamentos iluminam o caminho. Eles evitam que tropecemos na escuridão, permitindo-nos ver os perigos, obstáculos e o melhor lugar para dar os próximos passos.

Além disso, repreensões da instrução são o caminho da vida. A palavra hebraica para caminho aqui é "derek", que significa "jornada". Passo em falso, correção e progresso para seguir em frente são os caminhos da vida; os alicerces da nossa história e a realidade da jornada humana. A disciplina nos coloca de volta no caminho, na estrada, que conduz à vida. Ao florescimento, a nos tornar tudo aquilo que Deus nos projetou para ser.

Ignorar a correção interrompe a trajetória planejada da nossa jornada. Isso cria um curto-circuito na forma como deveríamos viver, no plano pelo qual prosperamos. Evitar ou rejeitar a disciplina ou repreensões do nosso Pai celestial é escolher um caminho que leva ao oposto da vida.

O caminho que conduz à vida é a jornada da sabedoria, a realidade para a qual fomos criados para nos alinharmos. Os ensinamentos e mandamentos aos quais Salomão se refere nos ajudam a fazer isso de maneira eficaz, tomando boas decisões diárias. Eles nos guardam da má mulher e das lisonjas da língua da estrangeira (v.24). Aqui, Salomão retorna a outra metáfora consistente de Provérbios, a "mulher estrangeira ou má" que representa a antítese da Senhora Sabedoria.

Uma adúltera é qualquer pessoa que o convida a se desviar do fundamento para o qual você foi criado e do caminho que é melhor para você. A tentação é se entregar ao prazer momentâneo em detrimento da responsabilidade e do compromisso com os outros. A adulteração destrói casamentos, famílias, relacionamentos. Tudo por causa do "prato de ensopado" que é um prazer passageiro, e que nos custa a recompensa da herança que é a maior prosperidade de nossas vidas (Hebreus 12:16).

Os mandamentos, reprovações e ensinamentos de Deus não são simples regras arbitrárias destinadas a impedir uma pessoa de desfrutar da vida. Eles não são exigências enfadonhas de um Deus irado. São exatamente o oposto. Eles existem para protegê-lo do mal, para evitar que você se desvie do caminho de seu melhor interesse e caia em algo que parece mais fácil, mas que leva à morte e destruição (Mateus 7:13). A língua (comunicação) da adúltera parece suave, suas tentações doces. Mas são mentiras e causam muito mais dor do que evitam (Hebreus 12:17).

Salomão encerra esta passagem com um apelo à sua jovem audiência em relação a essa adúltera - Não cobices no teu coração a sua formosura (v.25). Em outras palavras, não queira seguir os atalhos que ela promete. Eles não são verdadeiros, não são bons nem reais. Em contraste com o seu comando no versículo 21 para amarrar (esses ensinamentos) continuamente no seu coração, se você internalizar a miragem sedutora que ela promete, está comprometendo sua existência com as mentiras dela.

Salomão não finge que a adúltera não tem atrativos. Ele admite que ela tem beleza, mas ele pede aos seus alunos que falem com seu próprio coração e reconheçam a realidade onde sucumbir à beleza dela vai levar: à morte e destruição. Neste caso, a adúltera poderia representar qualquer coisa que leve à luxúria dos olhos, à luxúria da carne ou ao orgulho ostensivo da vida; todas as coisas que são do mundo (1 João 2:15-16). As coisas do mundo levam à destruição, enquanto as coisas de Deus levam à vida e ao florescimento (Gálatas 6:8). Fazemos essa escolha diariamente e continuamente. Por isso é tão importante sempre manter a sabedoria em nossas mentes.

Não te deixes render pelas suas pálpebras. Quando duas pessoas trocam olhares, estão concentradas uma na outra. Frequentemente usamos a expressão "cativado pelo amor" quando vemos dois amantes olhando nos olhos um do outro. Neste caso, Salomão está avisando que o olhar dela pode prender o seu - o seu foco, atenção e desejo estarão nela.

Nós vamos para onde estamos olhando. A visão determina a motivação e impulsiona o comportamento. O mal não pode nos levar a menos que o entreguemos. Este é um apelo para não deixá-la ter o seu foco. Se você não atender a esse aviso, pode se tornar cativo de suas promessas doces, sedutoras e vazias. Precisamos manter nossos olhos, nossa atenção, naquilo que traz vida e bondade. Para fazer isso, devemos desviar nosso olhar das pálpebras da adúltera. Isso representaria qualquer tentação que o mundo apresenta como isca para nos levar pelo caminho da maldade (1 João 2:15-16).