Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Salmos 19:12-14

Somos incapazes de compreender integralmente o quão falhos e caídos somos. Porém, podemos pedir perdão a Deus pelos erros que nem percebemos que cometemos. Além disso, devemos pedir a Deus que nos guarde dos pecados intencionais que nos escravizam. Deus é o único sustento verdadeiro. Ele é o Salvador da humanidade.

A natureza nos oferece evidências poderosas da existência e supremacia de Deus (versículos 1-6). Os textos sagrados, a revelação escrita de Deus, revelam detalhes íntimos da natureza eterna do Senhor, Seu amor inflexível, Sua justiça constante, fazendo um forte chamado à lealdade do coração humano (versículos 7-11).

Nesta seção final Davi, um homem único, apesar de suas imperfeições, mostra-se abençoado por Deus. O salmista responde ao conhecimento revelado do Senhor e de Seus caminhos com introspecção e humildade nos três versículos finais do salmo.

Quem pode discernir os seus erros? A pergunta que Davi coloca é retórica, sendo dirigida a todos os indivíduos que se dediquem a uma autorreflexão. A pergunta implica uma resposta negativa: "Ninguém". Nenhum ser humano precisa ser ensinado a se auto-proteger. Todos nascemos como especialistas nesse ofício sórdido. Davi cria um corolário aqui: aparentemente nenhum ser humano é capaz de reconhecer a todos os seus defeitos.

Discernir” (em hebraico, "bin") na frase significa reconhecer a realidade do erro, da falha ou do pecado - tanto o intencional quanto o não intencional - e compreender o impacto de tais erros nos indivíduos e naqueles com quem eles interagem. De fato, Davi implica que a propensão do ser humano a errar e a pecar em todas as dimensões da vida - conscientemente ou não - é tão pronunciada que é impossível a ele prestar um relato completo deles.

Sermos genuinamente autoconscientes requer reconhecermos o constante papel do pecado em nossa vida diária. O termo “erros” (no hebraico, "shagah") é um substantivo abrangente que descreve “falhas” e “faltas” cujos resultados são desvios das leis e mandamentos do Senhor. Assim, os erros, sendo violações dos mandatos de Deus, são pecados. São desvios dos caminhos estabelecidos por Deus que levam ao nosso bem.

A pecaminosidade é um traço compartilhado por todos os seres humanos (Romanos 3:23). Felizmente, Deus amou o mundo de tal forma que providenciou uma resposta a todo pecado, às Suas próprias custas (João 3:16; Colossenses 2:14).

Purifica-me de faltas secretas. Essas violações - erros - podem ser conscientes (cometidas propositalmente) ou inconscientes, ocultas (cometidas sem intenção). Davi, conhecendo as inclinações habituais do coração humana de se afastar do Senhor, primeiro busca remédio para suas faltas não intencionais  — o erro e o pecado — que ele sabia que cometia involuntariamente, atos secretos.

A questão em jogo não é se a imprudência, a falta de autoconsciência ou a ignorância estão na raiz da violação. O que importa são as exigências de Deus sendo violadas pelo pecado. Somente Deus, de quem nada pode ser escondido (Eclesiastes 12:14; Lucas 8:17), pode absolver — libertar, perdoar, redimir, anular — a culpa do pecador e redefinir sua vida após o dano ser feito. Davi confia na misericórdia de Deus e pede para ser absolvido até mesmo de pecados dos quais não tinha conhecimento.

Mas, o que dizer sobre os erros e pecados cometidos intencionalmente? Davi pede ajuda ao Senhor, porque sabia que lhe faltava a capacidade para se conter na busca ativa pelo pecado:

De pecados de presunção guarda o teu servo. Que eles não se assenhoreiem de mim.

Embora reconheça ser servo do Senhor, Davi se submete à Sua intervenção ativa em assuntos que, de outra forma, facilmente o levariam a escolhas e resultados pecaminosos. “Guarda o teu servo” não era uma exigência, era um pedido concreto de ajuda e contenção. A autoconsciência e a compreensão davam a Davi clareza para saber que seu coração era naturalmente inclinado para fins egoístas e para o pecado (Jeremias 17:9). Ele prontamente admite que o pecado tinha a capacidade de governar e dominar suas atenções, afetos e ações. Como o apóstolo Paulo declararia mais tarde no Novo Testamento:

"Pois o que faço não entendo: não pratico o que quero, mas faço o que aborreço" (Romanos 7:15).

Cada um de nós é chamado a fazer escolhas. Podemos nos colocar em uma posição que ceda a coisas obscuras; ou, em vez disso, podemos depender do Senhor para obter ajuda e escapar das tendências interesseiras e pecaminosas que temos. Aqueles que receberam a Cristo também receberam ao Espírito Santo; portanto, eles têm a capacidade de andar em Espírito e evitar as obras da carne (Gálatas 5:16). É vital reconhecermos a realidade de que não podemos nos livrar do pecado com nossas próprias forças. Assim, precisamos andar na dependência do Espírito. É importante reconhecer que nossa carne não pode ser transformada.

A derrotar do pecado e a redenção do pecador é a demonstração mais palpável da graça de Deus sobre a humanidade (Efésios 2:8-9).

Davi não estava se vangloriando ao afirmar que seria perfeito. Sua afirmação, precedida pelo advérbio “então” (hebraico "az"), refere-se à ajuda de Deus para impedi-lo de cometer pecados de presunção. Ele pede a ajuda de Deus para aqueles pecados não se assenhorassem dele.

Davi reconhece ser um agente livre, mas também reconhece sua incapacidade de escolher o caminho certo sem a ajuda de Deus. Ele reconhece que, com a ajuda de Deus, ele conseguiria escolher escapar das garras do erro e do pecado.

Ao fazer tal escolha, ao seguir a liderança de Deus quando confrontado pelo pecado e pelo erro, Davi realmente seria perfeito, sem culpa, livre de ser responsabilizado pessoalmente. Ele escaparia das consequências negativas do pecado (Gálatas 6:8).

O grande desafio e certeza de Davi - o mesmo desafio e certeza que toda pessoa enfrenta ao ser confrontada pelo pecado - era a crença de que seu pecado não era uma questão de “se”, mas de "quando". O Senhor é sempre fiel para nos fornecer uma via de fuga do erro e do pecado (Deuteronômio 7:9; 1 Coríntios 10:13). A questão a ser resolvida é: a quem serviremos: a nós mesmos ou ao Senhor? Esta é uma escolha vital e constante, com consequências diferentes para cada uma delas (Gálatas 6:8).

O versículo 13 conclui criando uma conexão inquebrável entre a menção inicial de “pecados de presunção” e a expressão “grande transgressão”. A primeira frase descreve o caráter deliberadamente desafiador do pecado, que é a consequência de desprezarmos a supremacia do Senhor. A vaidade, a insolência, o orgulho, a insubordinação, a rebeldia, o egoísmo: esses são alguns dos atributos que nos levam aos “pecados de presunção”. Davi ressalta a gravidade de tais pecados.

Porém, não apenas a transgressão e os pecados dolosos de presunção são grandes transgressões. O próprio fato de essas violações serem dolosas é tão terrivelmente consequente quanto as infrações em si. O pecado intencional nas Escrituras é acompanhado de advertências particularmente severas. Um exemplo está em Hebreus, um livro escrito para um público de judeus crentes:

"Porque, se continuarmos pecando deliberadamente depois de recebermos o conhecimento da verdade, não resta mais um sacrifício pelos pecados, mas uma terrível expectativa de julgamento e a fúria de um fogo que consumirá os adversários" (Hebreus 10:26-27).

O pecado intencional tem um resultado de fogo de julgamento. O fogo do julgamento de Deus "consumirá" Seus inimigos. Este mesmo fogo de julgamento refinará a Seu povo. Cada julgamento será justo e verdadeiro. Paulo fala das obras dos crentes sendo queimadas no fogo do juízo para se determinar o que é preciso e irá permanecer (1 Coríntios 3:11-17). Esta passagem de Hebreus deixa claro que o pecado intencional não pode ser encoberto pelas observâncias religiosas, como a realização de sacrifícios no templo (que era parte integrante da tradição judaica — ver comentário sobre Hebreus 10:26-31 para mais explicações).

O resultado mais grave da escolha do pecado ao invés da lei do Senhor é a grande transgressão contra Deus. Esta grande transgressão é uma forma ativa de idolatria que substitui a autoridade de Deus pela autoridade da própria pessoa. Davi ora para ser absolvido da culpa e ser considerado perfeito, ficando longe de circunstâncias cujos resultados inevitáveis trariam implicações profundamente adversas e eternas. Davi percebe que o pecado só pode ser perdoado por Deus em Sua misericórdia.

Em Sua oração modelo, Jesus ensinou Seus discípulos a orar para serem perdoados:

"E perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Mateus 6:12).

Jesus instrui Seus discípulos a pedir perdão a Deus a fim de manterem a comunhão com Ele. Curiosamente, entretanto, esta oração é o inverso da "Regra de Ouro", onde o peticionário pede a Deus que o trate como ele tratou ao próximo. O pedido da oração modelo é para que Deus nos perdoe como nós perdoamos. Entendemos, então, que essa oração deveria levar o que a faz a, primeiro, perdoar ao próximo antes de pedir perdão por seus próprios pecados. Isso invoca o princípio da misericórdia, ou seja: Deus mostra misericórdia para com aqueles que são misericordiosos. A petição de Davi deixa claro que ele estava se apoiando e dependendo totalmente da misericórdia de Deus para ser perdoado.

A frase final do Salmo 19, versículo 14, foi consagrada na literatura bíblica e tem sido amada em todas as línguas e culturas por mais de dois mil anos por causa de sua beleza, apelo e poder líricos. Davi, o servo fiel de Javé, faz uso de seu espírito poético para apresentar uma oração de súplica inigualável: Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face.

Davi era o agente das palavras (hebraico "emer"), porém ele entende que as palavras vinham do Senhor. Em essência, Davi pede usa a palavra para pedir que o Senhor moldasse, controlasse e desse significado às suas palavras. Sempre que falasse, fosse em conversas comuns do dia a dia ou em momentos importantes, Davi desejava honrar e glorificar a seu Senhor. As palavras dos servos do Senhor, seus discursos inspirados e governados pelo Senhor, resultam em aprovação diante de Deus.

A “meditação do meu coração” é uma expressão coletiva que reúne os muitos pensamentos, emoções, humores, insights, momentos de dúvida, gritos de sofrimento, suspiros de alívio e vozes de vitória que permeavam as experiências de vida do salmista. A segunda frase também está ligada à sua petição de que a aprovação de Deus moldasse o caráter de sua meditação. Davi desejava fazer apenas aquilo que agradava a Seu Senhor e Mestre.

O “coração” de Davi (em hebraico, "leb") servia, poeticamente, como a sede de suas deliberações mais íntimas, o lugar onde sua alma ruminava e respondia à totalidade dos eventos que acontecem em sua vida. Davi estava focado em alcançar seu objetivo por meio de uma postura de “meditação” (hebraico "higgayon"), esforçando-se em discernir a vontade e a lei do Senhor. Davi desejava que seus pensamentos, seus planos seus diálogos internos fossem agradáveis a Deus. Nisso, Davi novamente reconhece a onisciência de Deus. Deus conhecia seus pensamentos. Sua oração, portanto, era para que os pensamentos do seu coração/mente fossem agradáveis a Deus, que eles se alinhassem à lei de Deus e Sua vontade.

O impulso das energias espirituais e cognitivas de Davi direcionavam sua meditação para esse destino - o amor inflexível e a obediência fiel a Deus. O salmista estava confiante de que sua vida, em suas mais plenas expressões, significados e experiências, seria abençoada e próspera (Salmo 1:1-3).

Uma alegre declaração de adoração e gratidão conclui o salmo: Jeová, rocha minha e redentor meu. A quem se dirige a oração poética e o louvor do Salmo 19? A Jeová, o Senhor, Aquele que habita no infinito, porém decidiu ser íntimo de Seus servos.

Davi era testemunha em primeira mão do envolvimento do Senhor na vida das pessoas e nas circunstâncias em que elas se encontravam. O que ele vê o leva à conclusão de que o Senhor era a rocha sustentadora, estável e sólida sobre a qual encontrar abrigo nos turbilhões da vida. Jesus usou esta mesma metáfora ao ensinar sobre como respondermos às Suas palavras - que são equivalentes às palavras do próprio Deus, um fundamento único, confiável e sólido:

"Todo aquele, pois, que ouve essas minhas palavras e as observa será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela não caiu; pois estava edificada sobre a rocha" (Mateus 7:24-25).

Além de abrigo às tempestades da vida, o Senhor também é nosso Redentor. Ele leva Seu povo para além das crises em direção a um futuro pleno de propósito e esperança (Jeremias 29:11).

Nos dias de Israel, um redentor era muitas vezes um parente - talvez alguém com um interesse pessoal numa certa causa - que pagava as dívidas de uma pessoa, libertando-a da penúria da escravidão e da ruína. Boaz foi o parente redentor de Noemi e sua nora Rute (Rute 4:3-4).

Os redimidos tinham todos os motivos para transbordarem de alegria e gratidão e juravam lealdade e serviço a seu redentor. Jesus Cristo, o Filho de Deus e o Filho do Homem, recebeu o título de Redentor da igreja cristã. Ele é nosso parente e está pessoalmente interessado na humanidade. Por Sua morte e ressurreição, Jesus comprou nossa dívida de pecado, libertando-nos de sua pena duradoura - a morte (Colossenses 1:13-14).

Por Seu ato redentor, Jesus oferece à humanidade o dom da vida eterna, recebida pela fé (João 3:14-16). Como membro da família de Deus, Jesus também oferece aos crentes a oportunidade de alcançar a recompensa da vida eterna ao caminharem em comunhão com Deus (1 João 1:3-4). Em Jesus Cristo encontramos o cumprimento da redenção prometida pelo Senhor e a encarnação Daquele que Davi ansiava servir em fé e obediência: Jeová, rocha minha Redentor meu.

Select Language
AaSelect font sizeDark ModeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.