Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Salmos 51:16-17

Davi entende que Deus não se importava com sacrifícios de animais e com seu desempenho religioso sem o coração por trás deles. O deleite de Deus não podia ser comprado. Deus deseja que vivamos em humildade e obediência. Ele deseja que odiemos ao pecado, que O amemos e que O obedeçamos de coração.

A adoração ritual do povo de Deus, conforme vemos no Antigo Testamento, normalmente envolvia sacrifícios. As pessoas traziam algo de valor (como um animal ou produto) para o local de adoração como um sacrifício a Deus. O incenso, às vezes, era usado com um holocausto para produzir um aroma agradável a Deus, na esperança de que Ele recebesse o sacrifício e perdoasse os pecados do povo (ver Levítico 1, 4, 5).

Davi certamente participou de cultos de adoração como aqueles durante toda a sua vida; portanto, um hebreu poderia se assustar ao ler as palavras de Davi no versículo 16:

Pois tu não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos ofereceria. Não te deleitas em holocaustos (v. 16).

Davi também inclui essa idéia no Salmo 40:

Em sacrifícios e em ofertas de cereais, não te deleitas; abriste-me os ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado, não os exigiste (Salmos 40:6).

Este Salmo é citado em Hebreus 10 como parte da declaração feita por Jesus ao entrar no mundo como ser humano (Hebreus 10:5-7).

Samuel expressou esta mesma idéia a Saul após o rei ter desobedecido ao mandamento de Deus, dando a desculpa de que ele havia salvo parte do que havia sido ordenado a ser destruído para sacrificar a Deus:

"Tem o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua voz? Eis que obedecer é melhor do que sacrificar e dar ouvidos do que a gordura dos carneiros" (1 Samuel 15:22).

O Espírito Santo parece ter usado essas palavras de Davi para prenunciar as palavras de Jesus ao entrar nessa criação decaída, a fim de redimi-la.

Os crentes do Novo Testamento podem aplicar as palavras de Davi. Podemos ver o que Jesus nos diz em Mateus 5:8: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus".

Se Deus não deseja sacrifícios e não fiac satisfeito com holocaustos, o que Ele deseja de Seus adoradores?

O versículo seguinte responde à pergunta:

Os sacrifícios a Deus são o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito, ó Deus, tu não o desprezarás (v. 17).

Deus deseja que Seus adoradores tenham um coração que O obedeça, que procure seguir aos Seus caminhos. Pelo fato de os nossos corações pecarem, a única forma de termos um coração puro é permitirmos que ele seja humilhado e quebrantado, a ponto de confessar contritamente seu pecado.

Se fizermos isso, Deus é fiel e justo para perdoar os nossos pecados (1 João 1:9). Aqui, Davi expressa esse mesmo sentimento ao escrever: Ao coração quebrantado e contrito, ó Deus, tu não o desprezarás. Como dito anteriormente, Deus deseja que sigamos aos Seus caminhos, os caminhos que levam à vida. Porém, para conseguirmos isso, precisamos primeiro quebrar o hábito de seguir aos nossos próprios caminhos. Devemos, primeiro, ter um coração quebrantado quanto aos nossos pecados.

Isso reflete um tema perpassa toda a Escritura: a fé contrasta com o orgulho (Habacuque 2:4). Um espírito quebrantado é um espírito que desiste da idéia de que "eu sei o que é melhor para mim, não preciso ouvir a Deus". Este é um espírito com o qual todos nascemos, é um espírito manifestado por qualquer criança de três anos. O caminho para a fé (“Deus sabe o que é melhor para mim”) vem através de um coração quebrantado e contrito, um coração disposto a ver a realidade como ela é, um coração  que ouve a Deus (que tudo sabe), ao invés de exigir ser deus, o que é uma ilusão.

Davi tinha plena consciência de ser mais do que apenas um corpo existindo autonomamente no tempo. Seu coração e seu espírito —  seus compromissos relacionais, sua orientação espiritual, sua alma — definiam quem ele era. O salmista era um membro da raça humana, criada à imagem de Deus, com uma alma destinada à companhia eterna e amorosa do seu Criador (Eclesiastes 3:11). O fato de homens e mulheres terem a capacidade de agir como agentes livres dentro da ordem criada muitas vezes resulta na falsa impressão de que os indivíduos são responsáveis apenas por si mesmos. Este é um grave erro (Gálatas 6:3). Este foi o grande engano de Davi, um erro que o levou a um espírito obstinado de arrogância, ofensivo a Deus (Êxodo 33:3; Jeremias 17:23).

Jesus diz em Mateus 5:3: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus". O espírito quebrantado e o coração contrito reflete a idéia do "pobre de espírito". É alguém que reconhece a realidade das limitações da razão e da fragilidade humana que se volta a Deus em busca de direção e força.

Ser "pobre de espírito" significa ser humilde, procurando servir a Deus (e aos outros) em vez de servir-se a si mesmo. É o oposto do orgulho ou do interesse próprio. A palavra grega traduzida como "Bem-aventurado" é "Makarios" (G3107). "Makarios" descreve uma realização completa e total na vida. Não se refere a uma felicidade passageira ou boa sorte. É um estado ou condição duradoura inabalável.

A razão pela qual os pobres em espírito são "Makarios" (felizes) é porque eles abraçam a realidade de quem são e de quem Deus é. Eles procuram viver em harmonia com Deus, o que os leva à sua verdadeira realização. Os pobres em espírito reconhecem seu necessário quebrantamento (do pecado), como Davi fez neste salmo. Porém, os pobres em espírito também reconhecem sua fragilidade humana e que precisam depender de Deus em todas as coisas (João 15:4-5), como o descendente de Davi, Jesus, fez durante toda a Sua vida terrena - talvez mais claramente no Jardim do Getsêmani (Lucas 22:40-42). Na medida em que os pobres em espírito fazem isso, eles realmente se tornam tudo o que deveriam ser, o que os leva à alegria.

Ser "pobre de espírito" significa observar a ausência de qualquer orgulho diante de Deus quando confrontados com o pecado. Para Davi, o grito por um espírito "reto" e "voluntário" era o reconhecimento de que ele continuaria com um espírito quebrantado e um coração contrito. A adoração a Deus o ajudaria a manter a perspectiva correta, ou seja, a perspectiva de Deus, em tudo o que ele fizesse.

Quando pensamos em adoração, nossos pensamentos sempre se dirigem às canções que cantamos nos cultos de domingo na igreja. Para Davi, para Paulo e para os seguidores de Cristo, é muito mais do que isso. Adorar é viver uma vida que reconhece a realidade - mais particularmente a soberania de Deus sobre tudo.

Jesus aponta a adoração como sendo um conceito abrangente em sua conversa com a mulher de Samaria:

"Mas, vem a hora e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e verdade; por tais pessoas o Pai procura para ser Seus adoradores. Deus é espírito, e aqueles que O adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (João 4:23).

Também vemos as Escrituras falarem sobre a adoração desta maneira em Mateus:

"E um leproso aproximou-se dele, inclinou-se diante dele [adorou] e disse: Senhor, se queres, podes purificar-me" (Mateus 8:2).

Aqui, o leproso reconhece a Jesus como Deus, bem como Seu poder (verdade), submetendo-se a Ele e enxergando a realidade como ela era.

O apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, nos aponta na direção de um estilo de vida de adoração. Ele diz no capítulo 12:

"Rogos--vos, portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a apresentardes os vossos corpos sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto espiritual de adoração" (Romanos 12:1).

Paulo afirma a sensatez de nos sacrificarmos diante de Deus, vivendo nossas vidas para agradá-Lo. A expressão "portanto" refere-se aos argumentos dos capítulos anteriores, que afirmam que viver plenamente para agradar a Deus nos leva à vida, à realização e à imensas recompensas. Viver para nós mesmos, para a carne e para as recompensas do mundo é desperdiçar a vida, levando-nos à morte, à perda e à escravidão/vício. Ao melhor resposta à pergunta “preferimos a vida ou a morte?”, a resposta mais razoável é "a vida". Paulo argumenta que para ganharmos a vida é preciso viver como um sacrifício vivo — alguém cujas ações sejam agradáveis a Deus.

Nossa vida cotidiana - levantar da cama, ir ao trabalho, ir à escola, ir à academia, ir à loja, interagir com nossa família, etc - deve ser apresentada a Deus como um sacrifício vivo de adoração. Este é o caminho do nosso maior benefício na vida. Quando olharmos para nossa vida sob essa perspectiva, poderemos ver a união do coração novo e puro (Salmo 51:10) do qual Davi fala: um coração redentor e adorador.

Select Language
AaSelect font sizeDark ModeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.