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O Dia da Expiação destaca-se como uma das observâncias mais profundas e espiritualmente relevantes na fé judaica. Em hebraico, é chamado de "Yom Kippur". O Dia da Expiação é uma observância significativa e solene da fé judaica, ocorrendo no décimo dia do mês hebraico de Tisrei (Levítico 23:27a). Isso geralmente acontece em setembro ou outubro do calendário gregoriano. O Yom Kippur é considerado o dia mais sagrado no calendário judaico e possui grande importância espiritual e religiosa.
O foco principal do Yom Kippur é o arrependimento, o perdão e a reconciliação com Deus. É um dia de jejum, oração, reflexão e autoexame. O propósito central deste dia sagrado anual gira em torno da expiação pelos pecados, buscando a misericórdia e o perdão de Deus por meio do arrependimento e da oferta de sacrifícios (Levítico 23:27b-28).
Mesmo que o Yom Kippur ocorra aproximadamente seis meses após a Páscoa e a festa dos Pães Asmos (quando Jesus foi preso e crucificado - Mateus 26:18-19; Lucas 22:13-15; João 18:28), Mateus estabelece uma notável conexão para sua audiência judaica ao correlacionar a apresentação que Pilatos faz de Jesus e Barrabás com a cerimônia principal do Yom Kippur.
A cerimônia principal do Yom Kippur envolvia a seleção de dois bodes que simbolizavam a expiação e a remoção do pecado de Israel. Este ritual é descrito em Levítico 16.
O sumo sacerdote deveria "tomar da congregação...dois bodes para oferta pelo pecado e um carneiro para o holocausto." (Levítico 16:5). Após oferecer um touro como sacrifício por si mesmo (Levítico 16:6), o sumo sacerdote, então, "tomaria os dois bodes e os apresentaria perante o SENHOR, à entrada da tenda da revelação [e] lançaria sortes sobre os dois bodes, uma sorte para o SENHOR e a outra sorte para o bode emissário" (Levítico 16:7-8).
Em hebraico, os termos יְהֹוָה (H3068 - pronunciado: "Ye-hō-vâh") e עֲזָאזֵל (H5799 - pronunciado: "az-āw-zēl") eram usados para designar a cada bode. "Yehovah" é o nome próprio de Deus e é traduzido como "o SENHOR" neste versículo. "Az-āw-zēl" é o termo traduzido como "bode emissário" em Levítico 16. "Azāwzēl" é derivado de uma raiz que significa "mandar embora de uma vez". Significava remover ou separar totalmente. A ideia que Levítico 16 retrata com esses termos é a de que um dos bodes era de Yehovah (o SENHOR) e o outro era o bode de Azāwzēl.
O sacerdote deveria oferecer o bode do SENHOR como oferta sacrificial pelo pecado (Levítico 16:9). Essa oferta pelo pecado seria "pelo povo" (Levítico 16:15). O bode do SENHOR seria sacrificado "por causa das impurezas dos filhos de Israel e por causa das transgressões deles em relação a todos esses pecados" (Levítico 16:16).
Quanto ao bode de Azāwzēl (traduzido como "bode emissário"), o sumo sacerdote:
“Porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel e todas as suas transgressões, a saber, todos os seus pecados. Pô-los-á sobre a cabeça do bode e enviá-lo-á ao deserto por mão dum homem que está encarregado disso” (Levítico 16:21).
A imagem é a de que o bode de Azāwzēl viveria livre no deserto, carregando sobre si todas as iniquidades do povo a uma terra desolada (Levítico 16:22). Ao levar embora os pecados de Israel, o bode de Azāwzēl era uma representação física do Salmo 103:12, que diz: "Tão longe quanto o oriente está do ocidente, tão longe ele afasta de nós as nossas transgressões."
A pessoa que soltava o bode de Azāwzēl deveria "lavar suas roupas e banhar seu corpo com água" (Levítico 16:26).
De acordo com a tradição rabínica, esses dois bodes deveriam ser uma combinação perfeita, os mais parecidos possível.
No tecido desta data sagrada, o Evangelho de Mateus entrelaça as figuras de Jesus e Barrabás como símbolos de redenção. Mais que isso, na medida em que Mateus descreve a oferta de Pilatos e a escolha dos sacerdotes e do povo, ele parece sugerir que o Yom Kippur e sua cerimônia fossem os símbolos que anualmente prenunciavam este momento de redenção eterna.
Ao contrário dos relatos de Marcos e João, que descrevem a evolução da oferta de Pilatos de perdoar Jesus desde o início (Marcos 15:7-13; João 18:39-40), o relato do Evangelho de Mateus sobre esse evento é descrito de forma temática. Marcos e João revelam que, quando Pilatos inicialmente faz a oferta, ele se refere a Jesus como um possível prisioneiro a ser libertado. Barrabás não é mencionado em sua oferta (Marcos 15:9; João 18:39). Além disso, Pilatos parece surpreso quando a multidão exige que ele liberte a Barrabás (que não foi oferecido pelo governador) no lugar de Cristo (Marcos 15:10-11).
Mateus, de fato, não elabora mais sobre a oferta de Pilatos. Em vez disso, ele apresenta tematicamente a oferta final e consciente de Pilatos (Mateus 27:21), depois que o governador entende o espírito da multidão, quando ambos os prisioneiros são apresentados como opções (Mateus 27:21). Ele diz: "Qual dos dois quereis que eu solte - Barrabás ou Jesus?”
Mateus, ao que tudo indica, pode ter deixado de lado esses detalhes que descrevem a evolução da oferta de Pilatos visando estabelecer uma conexão clara e poderosa com o Yom Kippur e a escolha cerimonial entre os dois bodes.
Especificamente, Mateus conecta a escolha dos principais sacerdotes de libertar Barrabás e condenar Jesus com os rituais sacerdotais no Dia Anual da Expiação, onde escolhiam um bode para sacrificar e outro para libertar.
Neste paralelo temático, Mateus revela como Jesus foi o bode do SENHOR escolhido pelos sacerdotes para o sacrifício, enquanto Barrabás foi o bode de Azāwzēl que seria liberado.
Considere como Jesus cumpriu o papel do bode do SENHOR a ser sacrificado no Dia da Expiação pelos pecados de Israel:
Considere como Barrabás funciona como o "bode de Azāwzēl" ("bode emissário") no Dia da Expiação:
Além disso, segundo a tradição judaica, os dois bodes deveriam ser idênticos em semelhança e aparência. Considere, então, as semelhanças entre "Jesus, que é chamado de Cristo" (Mateus 27:17) e o "notório prisioneiro chamado Barrabás" (Mateus 27:16).
Não sabemos se Barrabás era o nome real deste prisioneiro, seu apelido, ou simplesmente a forma como os escritores dos Evangelhos o chamavam e se referiam a ele.
A palavra "Barrabás" tem origens aramaicas e significa "filho do pai" (Bar = "filho"; Abbas = "do pai"). Se o apelido "Barrabás" for interpretado de maneira negativa, pode significar "filho de ninguém" ou "filho sem pai".
Assim, esse notório prisioneiro era chamado Barrabás, o mesmo título dado a Jesus, "Filho do Pai", ocupando a mesma posição da humanidade pecadora, não redimida, órfã - "sem pai". Jesus era "Barrabás, o Filho do Pai". Como pecadores perdidos, separados de Deus, nós éramos "Barrabás, filhos de ninguém".
Interessantemente, a tradição da igreja sugere que Barrabás era apenas um título e que o nome dado a este prisioneiro notório era "Jesus". Líderes da igreja primitiva, como Orígenes, afirmaram que Barrabás tinha o nome "Jesus". Mais tarde, alguns manuscritos gregos sobre Mateus 27:16 e 27:17 registraram: Ἰησοῦν Βαραββᾶν ("Jesus, Barrabás").
Se esta tradição estiver correta, o prisioneiro Barrabás e o Messias tinham o mesmo nome e o mesmo título: "Jesus, filho do pai".
E se os dois prisioneiros de Pilatos (o notório insurrecionista e o Messias) compartilhavam do mesmo nome - "Jesus" - então faria sentido que Mateus, ao referir-se a Barrabás, registrasse: "O prisioneiro chamado Barrabás". Também faz sentido que Pilatos se referisse a Jesus, ao fazer sua oferta final ao povo, como "Jesus, chamado Cristo" (Mateus 27:17).
Em outras palavras, Pilatos pode ter perguntado ao povo: "Qual Jesus vocês querem que eu solte: Jesus, chamado Barrabás, ou Jesus, chamado Messias?"
Através de seus títulos semelhantes (Filho do Pai) e, de acordo com a tradição, seus nomes compartilhados, Jesus Cristo e Jesus Barrabás têm uma semelhança quase idêntica - assim como os dois bodes no Dia da Expiação também deveriam ter.
Ao estabelecer essas conexões entre Jesus e Barrabás e ligá-las à cerimônia principal do Yom Kippur, Mateus não tem o objetivo de demonstrar que Jesus e Barrabás eram símbolos metafóricos do Dia da Expiação. Ele estava indicando, na verdade, que o Dia da Expiação e todo o peso de seu significado eram um prenúncio do Messias e de como Ele foi escolhido pelos sacerdotes de Israel como "o cordeiro levado ao matadouro" (Isaías 53:7). Em outras palavras, a oferta de Pilatos em relação a Jesus e Barrabás não foi um eco reminiscente do Yom Kippur, mas foi, de muitas maneiras, o evento para o qual os rituais envolvendo os dois bodes do Yom Kippur apontavam.
Jesus veio para cumprir a lei (Mateus 5:17).
Mateus nos mostra como a oferta feita por Pilatos em relação a Jesus ou Barrabás foi uma das maneiras pelas quais o Filho de Deus cumpriu o Dia da Expiação.