Filho do Homem

Jesus frequentemente usava a expressão "Filho do Homem" para se referir a si mesmo. No total, os quatro evangelhos utilizam o termo "Filho do Homem" oitenta e quatro vezes. Todas, exceto duas dessas ocorrências, são encontradas nas próprias palavras de Jesus. Uma exceção é em Marcos 9:9, onde o escritor resume as diretrizes que Jesus deu a três de Seus discípulos. A outra está em João 12:34, onde a multidão repete a expressão que Jesus acabou de usar para se descrever. Portanto, cada ocorrência de "Filho do Homem" nos evangelhos é atribuída e aplicada direta ou indiretamente a Jesus. O que Ele quer dizer com essa expressão frequentemente repetida?

A expressão "Filho do Homem" tem origem nos livros poéticos e proféticos do Antigo Testamento. Fora dos profetas exilados Ezequiel e Daniel, a expressão é em grande parte um sinônimo de "homem" ou "humanidade" (Jó 25:6, Salmo 8:4, 146:3, Isaías 56:2, Jeremias 50:40). Esse significado genérico também era entendido como sendo utilizado na língua aramaica na época de Jesus, significando "o homem" ou "alguém".

A expressão "Filho do Homem" aparece no livro de Ezequiel noventa vezes. Nesse livro, ela se refere ao profeta Ezequiel. Pode enfatizar a fragilidade e humanidade de Ezequiel, ou talvez seja a maneira de Ezequiel se identificar com seu povo.

O livro de Daniel utiliza a expressão "Filho do Homem" com fortes conotações messiânicas no capítulo 7. A visão do profeta e a interpretação dessa visão neste capítulo são tanto apocalípticas quanto messiânicas. A própria frase ocorre no final da visão de Daniel sobre as quatro bestas e o Ancião de Dias. Está no versículo 13:

“Vi nas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como Filho do Homem, que se chegou até o Antigo de dias; foi apresentado diante dele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio sempiterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.”

(Daniel 7:13-14)

Daniel afirma que o Ancião de Dias (Deus Todo-Poderoso) concederá domínio eterno sobre todos os povos a "Aquele" que é "como um Filho do Homem". Parece que o profeta está lutando para encontrar palavras para descrever que esse ser impressionante que se aproxima do Ancião de Dias é de alguma forma também humano. A visão de Daniel é do Senhor vitorioso, glorificado e encarnado que veio para reivindicar o que é Seu. O uso de Filho do Homem por Daniel nesse contexto descreve a humanidade do Messias divino que conquista. Um anjo explica a Daniel o significado da visão:
“O reino, e o domínio, e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; esse reino é um reino sempiterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.”

(Daniel 7:27)

Essa interpretação se refere a "Aquele que é como um Filho do Homem" no versículo 13 como "o Altíssimo" no versículo 27. Sabemos disso porque ambas as descrições são usadas para descrever Aquele que recebe todo o domínio, serviço e um reino eterno que não será destruído. Ao usar o título "o Altíssimo", Daniel identifica o "Aquele como o Filho do Homem" como Deus. Esta é uma profecia de que o Messias será de alguma forma tanto Deus quanto humano, uma profecia que Jesus cumpriu. Além disso, como Messias, a mensagem do reino de Jesus no evangelho de Mateus (especialmente no Sermão da Montanha) é uma exposição da profecia de Daniel de que "a soberania, o domínio e a grandeza de todos os reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Daniel 7:27).

Ao longo do Antigo Testamento e nos dias de Jesus, a expressão "Filho do Homem" poderia significar uma de três coisas. Poderia se referir a um homem ou ser uma expressão para "alguém"; poderia ser uma expressão para enfatizar a humanidade e se identificar com a experiência de sua nação no exílio, como usado por Ezequiel; e poderia ser um termo messiânico associado a Deus, que um dia receberia todo o poder e autoridade como humano.

Ao se descrever com esse termo, Jesus provavelmente quis dizer os três significados. Como uma expressão comum, isso não necessariamente chamaria atenção indesejada quando Ele falava de Si mesmo assim. Jesus tinha o cuidado de não revelar completamente Sua identidade divina, o que permitia às pessoas a oportunidade de conhecê-Lo pela fé. Ao fazer isso, era uma expressão geral significando que Ele era humano, tentado como outros humanos (Hebreus 2:17-28), enquanto também significava que Ele era o Messias divino. Ao mesmo tempo, Jesus também a utilizava como Ezequiel, como uma forma de se identificar tanto com Sua frágil humanidade quanto com aqueles que Ele havia vindo salvar no sofrimento do exílio de seus pecados e na opressão política dos tiranos terrenos.

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