O Reino dos Céus versus O Reino de Deus

Ao ler os diferentes relatos dos Evangelhos, você pode notar algumas frases comuns que Jesus utiliza ao falar e ensinar. Talvez a diferença mais memorável seja "O Reino dos Céus" e "o Reino de Deus". Essas frases são muito semelhantes, mas não exatamente iguais.

Qual é a diferença entre o "reino dos céus" e o "reino de Deus"?

São a mesma coisa? São únicos? Essa diferença é importante teologicamente?

Vamos nos aprofundar.

Primeiro, precisamos reconhecer quais autores dos Evangelhos usam qual expressão. O Evangelho de Mateus utiliza "reino dos céus", enquanto Marcos e Lucas usam "reino de Deus". A resposta está no contexto de suas respectivas audiências e nos propósitos pretendidos ao escrever cada Evangelho.

Mateus usa mais frequentemente a expressão "reino dos céus" para comunicá-la aos seus leitores judeus (Mateus 4:17), enquanto Marcos e Lucas usam o termo "reino de Deus" ao comunicar a mensagem de Jesus às suas audiências gregas e romanas (Marcos 1:15; Lucas 4:43).

Segue-se que esses termos são funcionalmente sinônimos. Ambas as expressões se referem à autoridade divina e messiânica de Jesus, como foi anunciado pelos profetas. O reino dos céus e o reino de Deus compartilham a promessa central de que o Senhor estabelecerá um governo físico e político na terra, com Ele mesmo e/ou Seu Messias como Rei. Este reino prosperará eternamente sob Sua administração de leis divinas.

Além disso, muitos dos ensinamentos e parábolas que Mateus registra como sendo ditos por Jesus sobre o reino dos céus são também ditos por Jesus sobre o reino de Deus nas narrativas de Marcos e Lucas. Mateus 4:17 e Marcos 1:15 são um exemplo desse fenômeno. Alguns outros exemplos em que “reino dos céus” são usados em Mateus, enquanto Marcos e Lucas usam "reino de Deus" são:

  • Os discípulos foram autorizados a entender os mistérios do reino (Mateus 13:11; Marcos 4:11 e Lucas 8:10)
  • Jesus explicou o reino na Parábola do Semeador (Mateus 13:24; Marcos 4:26)
  • Jesus explicou o reino na Parábola do Grão de Mostarda (Mateus 13:31; Marcos 4:30 e Lucas 13:18)
  • O reino pertence às crianças (Mateus 19:14; Marcos 10:15 e Lucas 18:17)
  • Entrando no reino como uma criança (Mateus 19:23; Marcos 10:25 e Lucas 18:24)

Mesmo que essas passagens descrevam funcionalmente a mesma realidade profética, tenham usos semelhantes e compartilhem o mesmo significado central, "o reino de Deus" tinha conotações culturais diferentes de "o reino dos céus". Essas diferentes conotações culturais são sutis, mas importantes. É provável que os termos respectivos tenham sido escolhidos e implementados com base na audiência pretendida pelo autor.

Mateus, cujos leitores principais eram judeus, escolheu o termo "reino dos céus" porque era mais apelativo para as sensibilidades judaicas. Marcos, Lucas (e até João) podem ter usado o termo "reino de Deus" porque era mais relacionável para os gentios, que eram seus leitores principais.

Há três maneiras de cada termo transmitir o mesmo significado central, mas de maneira mais eficaz para cada cultura.

A primeira razão para a diferença cultural está relacionada à forma como judeus e gentios falam sobre Deus. Os judeus reverenciam o nome de Deus e não têm inclinação para falar diretamente de Deus. O termo "reino dos céus" é menos direto do que "reino de Deus" e, portanto, é mais aceitável para as sensibilidades judaicas. Os gentios esperavam falar diretamente de Deus.

Outra razão pela qual "reino de Deus" pode ter sido mais atraente do que "reino dos céus" para a audiência romana de Marcos e a audiência grega de Lucas é porque, na mente grega e romana, o termo "Deus" era mais familiar e específico do que "céu". Os gentios tinham muitos deuses. A expressão "reino de Deus" (singular) refletia uma afirmação de que Deus é o Único Deus Verdadeiro e, portanto, está acima de todos os outros deuses. A expressão "reino dos céus" poderia ter sido entendida pelos gentios como incluindo os muitos deuses pagãos que habitavam o céu do panteão Greco-Romano.

Além disso, no panteão Greco-Romano, o céu era acessível aos humanos. Ao usar o termo "reino de Deus", a mensagem transmitida à audiência gentílica é que o ministério e a salvação de Jesus se estendem do céu para a terra. Isso vai além da nação judaica, alcançando a todos!

A terceira diferença cultural relacionada entre a expressão "reino dos céus" (Mateus) e "reino de Deus" (Marcos e Lucas) parece ser a perspectiva com a qual a dominação do reino é vista.

O "reino dos céus" concentra-se no domínio de Deus sobre a terra. Temos uma noção desse significado na oração de Jesus ao Seu Pai nos céus, que:

“Venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.”

(Mateus 6:10)

Essa expressão deixa claro que "céu" é um lugar onde a vontade de Deus é feita. É uma oração para que a autoridade de Deus se torne tão evidente na terra quanto é no céu.

Como uma breve observação, os Evangelhos foram escritos na língua grega. Jesus provavelmente falava com sua audiência judaica em alguma forma de aramaico, que era a língua comum na Judeia no primeiro século. Portanto, os escritores dos Evangelhos teriam traduzido as palavras de Jesus para o grego, sob a inspiração do Espírito Santo. No entanto, parece provável que o Evangelho de Mateus tenha sido originalmente escrito e distribuído em aramaico, e depois traduzido para o grego.

Para saber mais sobre o uso da linguagem em relação aos Evangelhos, veja: "As Quatro Línguas da Judeia de Jesus".

O Espírito inspirou Mateus a traduzir a expressão de Jesus como "reino dos céus" e Marcos e Lucas a traduzir a mesma expressão de Jesus como "reino de Deus" para suas respectivas audiências.

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