A diferença entre reclamações bíblicas e não bíblicas
Existe uma maneira bíblica e uma não bíblica de reclamar. Por isso, é importante saber a diferença.
Quando ouvimos a palavra "reclamar", normalmente pensamos em algo negativo: choramingo, amargura ou negatividade que deprime os outros. É compreensível, porque a maioria das reclamações que encontramos — e com as quais frequentemente nos envolvemos — é apenas isso.
Mas a Bíblia, na verdade, faz uma distinção crucial entre um tipo de "queixa" que é elogiado e uma murmuração que é condenada. Existe uma maneira bíblica de reclamar — uma maneira que honra a Deus e aprofunda nossa fé. Mas também existe uma maneira pecaminosa de reclamar — chamada murmuração — que leva à destruição.
As Escrituras não proíbem a reclamação. Deus não nos ignora nem nos proíbe de apresentar nossos problemas a Ele. A Bíblia nos exorta a lançar “sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:7). Os Salmos estão repletos de muitas queixas justas dirigidas a Deus.
A Bíblia nos mostra um caminho para a reclamação construtiva. "Reclamação construtiva" não é reclamar para conseguir o que queremos. Reclamação construtiva é apresentar as coisas diante de Deus de uma maneira que nos coloque em harmonia com Deus e com os outros em meio às dificuldades e sofrimentos da vida.
Reclamar construtivamente é um lamento e uma súplica honestos que confiam no caráter de Deus e buscam Sua ajuda — e sempre deixam o resultado para Ele.
Em contraste, reclamar é destrutivo. É divisivo, manipulador e amargo. Reclamar não significa buscar a ajuda de Deus — significa acusá—Lo ou minar aqueles que detêm autoridade. Leva à sensação de direito (Deus me deve) e à vitimização (coitado de mim, não consigo fazer nada).
A murmuração é uma forma de incredulidade e uma expressão de ingratidão. Diz: "Não confiarei em Ti a menos que me dês o que eu quero". Tolamente, ela se opõe à vontade de Deus, como se O ameaçasse: "Se não me deres o que exijo, não crerei em Ti nem Te adorarei".
Um exemplo de murmuração está em Êxodo, quando Israel murmurou no deserto, lamentando—se contra Moisés e, por fim, contra Deus. Após ser libertado do Egito e levado por Deus ao deserto por meio de Sua incrível demonstração de poder, Israel estava sedento e murmurou contra Moisés. Duvidaram da fidelidade de Deus (Êxodo 17:1-4) e testaram o SENHOR, dizendo: "O SENHOR está no meio de nós, ou não?" (Êxodo 17:7).
A exigência de Israel não era apenas uma reclamação infiel e manipuladora. Era um teste: "Se Deus realmente está entre nós, então Ele fará o que queremos". A declaração deles era uma ameaça implícita — "faça algo por nós ou encontraremos outro deus". Desnecessário dizer que isso não foi bem recebido por Deus. Essa atitude é mencionada inúmeras vezes nas Escrituras como um exemplo do que "não fazer". Seguem alguns exemplos:
O Salmo 95:7-10 fala de Deus estar descontente com esse tipo de provação, em que o povo exigia que Deus agisse por eles.
1 Coríntios 10:1-14 descreve especificamente as reclamações infiéis dos israelitas como algo a ser evitado antes de ensinar que Deus sempre proverá uma maneira de escapar da tentação.
Hebreus 3:7-11 cita o Salmo 95:7-10, usando—o como uma ilustração para os crentes do Novo Testamento sobre o que não fazer.
A passagem de Hebreus 3:7-11 ressalta que os crentes do Novo Testamento devem ser fiéis para possuírem sua herança como "filhos". Jesus foi feito "Filho" como humano para reinar sobre a criação (Hebreus 1:5). Ele foi "coroado" ou recebeu autoridade com a "glória e honra" de reinar sobre a Terra, restaurando o projeto de Deus para os humanos. Ele recebeu essa honra por causa do "sofrimento da morte" (Hebreus 2:9).
Jesus deseja trazer “muitos filhos à glória” e fazer com que aqueles que vencerem como Ele venceu compartilhem do Seu reino de serviço (Apocalipse 3:21). Aqueles que vencerem e forem recompensados como filhos serão aqueles que forem fiéis em possuir sua herança. Hebreus 3:6-12 exorta os crentes do Novo Testamento a não serem como a geração infiel que pôs Deus à prova, que não creu e, portanto, não tomou posse de sua herança e não entrou na Terra Prometida.
Em vez disso, Hebreus exorta os crentes do Novo Testamento a confiar em Deus e seguir Seus caminhos, mesmo quando parecem difíceis. A segunda geração que saiu do Egito teve que confiar em Deus e confrontar os gigantes e as cidades muradas da terra para possuir a herança que lhes havia sido concedida. Deus lutou por eles e abriu o caminho. Mas eles tiveram que confiar em Deus, pois Ele estava com eles, independentemente das circunstâncias.
Aqueles que murmuraram no deserto estavam de olho nas circunstâncias e ameaçaram Deus com: "Não te seguiremos, a menos que faças algo por nós". Paulo alerta contra isso em 1 Coríntios 10:10, lembrando—nos que alguns foram destruídos por murmurarem, como um aviso para nós hoje.
Resmungar costuma ser motivo de brigas e semeia discórdia entre as pessoas. Em vez de recorrer à autoridade — alguém que pode legitimamente resolver o problema —, os resmungões reclamam da autoridade para outros que não conseguem resolver o problema. O objetivo desse tipo de comportamento é concentrar a atenção em si mesmo. Não é resolver o problema.
Por exemplo, se você tiver um problema no trabalho, é bíblico falar respeitosamente com seu supervisor. Ao conversar com ele e compartilhar fatos, vocês podem criar uma história compartilhada que leva a um plano compartilhado. Isso é servir à missão compartilhada. Este é o sistema de autogoverno recomendado por Deus em ação. É assumir a responsabilidade de servir aos outros. Um problema é reconhecido e abordado de uma maneira que sirva ao propósito compartilhado.
Uma das melhores maneiras de abordar sua reclamação de forma construtiva é iniciar um “momento da verdade”. Um momento da verdade ocorre quando alguém aborda uma expectativa não atendida.
Momento da Verdade: Passo Um — Estabelecer os Fatos
O primeiro passo para um momento de verdade é reconhecer a expectativa e o fato/evidência clara de que ela não foi atendida. Às vezes, uma expectativa não é atendida porque não foi clara ou compartilhada, e uma vez que se concorde que se trata de uma expectativa, as coisas podem se resolver rapidamente. Se a expectativa for clara e não for atendida, é importante concordar que ela não foi atendida antes de passar para a segunda etapa.
Momento da Verdade: Passo Dois — História
O segundo passo para um momento de verdade é ouvir a história, a explicação da pessoa para o motivo pelo qual a expectativa não foi atendida. Às vezes, a história da pessoa é válida para explicar por que algo não aconteceu como deveria. Às vezes, é um caso isolado e claro. Outras vezes, ajustes precisarão ser feitos para evitar que as expectativas continuem não sendo atendidas.
Momento da Verdade: Passo Três — Planejar
O terceiro passo para um momento de verdade é permitir que a pessoa que não atendeu às expectativas se desenvolva e ofereça um plano de como fará os ajustes necessários para evitar que as expectativas continuem a não corresponder às expectativas e para melhor atendê—las no futuro. Às vezes, é bom dar—lhe tempo para elaborar um plano. (Você pode me retornar com o seu plano amanhã ou daqui a uma semana, segunda—feira?). Assim que o plano estiver pronto e for aceitável, marque um horário para realizar a etapa quatro mais tarde.
Momento da Verdade: Passo Quatro — Feedback
O quarto e último passo de um momento da verdade é entrar em contato com a pessoa após um período razoável para informá—la sobre como o plano está funcionando. Se estiver indo bem, o problema está resolvido e as expectativas estão sendo atendidas. É importante que o relacionamento reconheça que melhorias foram feitas e que você reconhece como o indivíduo ou grupo fez os ajustes com responsabilidade. Se as coisas ainda não estiverem sendo atendidas, outro momento da verdade deve ocorrer.
O contraste com abordar respeitosamente suas preocupações com seu supervisor para trabalhar em prol de um propósito compartilhado é resmungar sussurrando para os colegas de trabalho. Isso concentra a atenção no "Eu", enquanto se recusa a assumir a responsabilidade de buscar soluções construtivas. Tal comportamento não visa uma solução — mas apenas manipular as pessoas para que tomem partido contra outra pessoa. Em vez de servir ao propósito compartilhado da organização, serve a si mesmo.
Absalão resmungou contra seu pai Davi, minando sutilmente sua autoridade e, ao mesmo tempo, demonstrando preocupação com o povo. Ele ficou à porta e disse: "Vejam, as suas reivindicações são boas e justas, mas ninguém da parte do rei as ouve" (2 Samuel 15:3), gerando descontentamento em vez de buscar uma solução justa. Em vez de se dirigir respeitosamente a Davi, Absalão manipulou as frustrações do povo para conquistar sua lealdade e roubar o coração de Israel (2 Samuel 15:6). Seu objetivo era "Eu". Ele buscava desbancar seu pai como rei. Era um plano de autopromoção.
A Bíblia condena veementemente a murmuração como algo maligno. Paulo diz:
“Façam todas as coisas sem murmurações nem contendas.” (Filipenses 2:14)
Isso não significa que ignoramos os problemas. Significa que levamos nossas preocupações ao lugar certo: a Deus com fé, às autoridades competentes com humildade, ou aos colegas de equipe e de trabalho para buscar soluções mutuamente benéficas.
Qual é a maneira bíblica de reclamar?
A chave para a reclamação bíblica reside na factualidade, na fé, na humildade e na gratidão. E é sempre respeitosa a Deus e aos outros.
O Livro de Tiago fornece uma estrutura de como devemos abordar Deus com nossas reclamações — transformando provações em oportunidades de crescimento espiritual por meio da fé e da humildade.
Tiago começa com uma exortação surpreendente:
“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança.” (Tiago 1:2-3)
O primeiro passo é reconhecer a realidade da situação. Podemos concordar e chamar uma circunstância de "provação". O próximo passo é escolher uma perspectiva sobre a circunstância. Tiago diz: "Escolhamos, portanto, a dificuldade como uma oportunidade para desenvolver a fé e, assim, ganhar a coroa da vida" (Tiago 1:2-3, 12).
Tiago não está nos pedindo para preferir a dor, mas para reformular nossa perspectiva de qualquer experiência difícil, para que possamos ver nossa dificuldade como um meio de aumentar a resistência, amadurecer na fé e, assim, vencer na vida.
“Reclamar” a Deus, quando feito corretamente, reconhece a dor (fatos) e, ao mesmo tempo, abraça a verdade de que Deus tem um propósito duradouro por trás dela (perspectiva). Nossa resposta ao sofrimento não deve ser amargura ou negação, mas sim honestidade e confiança, ao levarmos nossas lutas a Deus que opera por meio delas (Romanos 8:28).
James continua:
“E tenha a perseverança obra completa, para que sejais maduros e íntegros, sem vos faltar coisa alguma.” (Tiago 1:4)
Isso mostra que a reclamação bíblica deve vir acompanhada de uma disposição para perseverar e crescer. Não é uma demanda por alívio imediato, mas um pedido por sabedoria e perspectiva. É por isso que Tiago nos diz:
“Mas, se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça—a a Deus” (Tiago 1:5).
Em nossas reclamações, somos convidados a pedir compreensão — a dizer: “Senhor, não entendo isso; ajude—me a ver o que o Senhor está fazendo”. Esse tipo de pedido é um ato de fé, não de acusação.
Mas Tiago também faz um alerta sobre como fazemos essa pergunta a Deus:
“Mas peça—a com fé, sem duvidar… Pois não pense tal homem que receberá alguma coisa do Senhor.” (Tiago 1:6-7)
A fé está no centro da reclamação bíblica.
Há apenas três coisas que controlamos: em quem ou no que acreditamos, a perspectiva que escolhemos e as ações que tomamos. Em Tiago, somos convidados a:
acredite em Deus, que o crescimento da fé através das dificuldades é um grande benefício para nós a longo prazo, e vale mais do que a pena permanecer fiel,
escolher uma perspectiva de que as provações são um grande benefício, permitindo—nos a oportunidade de aumentar a nossa fé e, assim, vencer na vida, e
Viva pela fé, alinhando nossas ações com a palavra de Deus e deixando de lado perspectivas erradas (maldade) que nos levarão à morte (Tiago 1:21).
Quando levamos nossa dor a Deus com fé, confiamos que Ele nos ouve, que Ele é bom e que agirá em Seu tempo e maneira perfeitos. Isso é lançar sobre Ele nossas ansiedades, o que somos exortados a fazer (1 Pedro 5:7).
Duvidar, como Tiago o define, não é simplesmente lutar com perguntas — significa desconfiar do caráter de Deus. Reclamar sem fé acusa Deus ou O manipula. Reclamar com fé lança fardos sobre Ele, acreditando que Ele se importa.
Mas Tiago também descreve o perigo de ser “um homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos” (Tiago 1:8).
Uma pessoa de mente dobre deseja a ajuda de Deus sem confiar na sabedoria ou na bondade de Deus. Esta é a essência da murmuração — queixar—se sem se render e sem reverência. Mas a queixa bíblica, exemplificada por Tiago, está ancorada na perspectiva alegre, na perseverança persistente, nos pedidos humildes de sabedoria e na confiança.
Quando reclamamos dessa forma, Deus não apenas nos ouve, como também nos transforma. A reclamação bíblica não resiste à vontade de Deus — ela a aceita e a abraça (Tiago 1:2,Hebreus 12:1-2,1 Pedro 1:6-9). Não endurece o coração; abre nossos corações para Deus. Não semeia divisão; produz maturidade espiritual e busca harmonia com Deus e com os outros (Mateus 6:33).
Exemplos de Reclamações Bíblicas
O tipo de reclamação que leva ao discipulado, ao crescimento da nossa fé e à moldagem das nossas perspectivas para o que é verdadeiro é modelado por crentes fiéis como Jó, Davi, Jesus, Paulo e outros.
Jó é um exemplo poderoso de reclamações bíblicas.
Jó derramou sua tristeza, confusão e até frustração diante de Deus. Mas ele nunca amaldiçoou a Deus nem rejeitou Sua autoridade. Em vez disso, Jó disse: “Ainda que ele me mate, esperarei nele; contudo, argumentarei os meus caminhos diante dele” (Jó 13:15). A queixa de Jó era crua, mas cheia de reverência e ancorada na confiança.
Deus diz a respeito de Jó que ele apenas falou corretamente de Deus, e isso agradou muito a Deus (Jó 42:7). Jó reclamou que Deus precisava entender sua perspectiva. Em resposta a essa reclamação, Deus apareceu a Jó e deixou claro que Jó, na verdade, precisava mais da perspectiva de Deus. Após sua interação com Deus, Jó declarou: "Eu me arrependo" (Jó 42:6). Vemos aqui um exemplo em que as reclamações de Jó resultaram em Deus guiando Jó a ter uma perspectiva renovada, uma perspectiva que era verdadeira.
Como mencionado acima, os Salmos estão cheios de muitas queixas dirigidas a Deus.
Salmo 3 — “Ó SENHOR, como se multiplicaram os meus adversários!”
Salmo 6 — “Estou cansado de suspirar; todas as noites faço minha cama nadar…”
Salmo 12 — “Socorro, Senhor, pois o piedoso deixa de existir…”
Salmo 13 — “Até quando, Senhor? Esquecer—te—ás de mim para sempre?”
Salmo 22 — “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Salmo 31 — “Tem misericórdia de mim, SENHOR, porque estou angustiado…”
Salmo 38 — “Ó SENHOR, não me repreendas na tua ira…”
Salmo 42 — “Por que estás desesperada, ó minha alma?”
Salmo 44 — “Tu nos rejeitaste e nos trouxeste à desonra…”
Salmo 55 — “Dá ouvidos à minha oração, ó Deus, e não te escondas da minha súplica.”
Salmo 57 — “Tem misericórdia de mim, ó Deus… a minha alma se refugia em ti.”
Salmo 61 — “Ouve, ó Deus, o meu clamor; atende à minha oração.”
Salmo 69 — “Salva—me, ó Deus, pois as águas ameaçam a minha vida.”
Salmo 71 — “Em ti, Senhor, me refugio…”
Salmo 74 — “Ó Deus, por que nos rejeitaste para sempre?”
Salmo 77 — “A minha voz se eleva a Deus, e clamo em alta voz…”
Salmo 79 — “Ó Deus, as nações invadiram a tua herança…”
Salmo 83 — “Ó Deus, não fiques quieto…”
Salmo 86 — “Inclina, Senhor, os teus ouvidos e responde—me…”
Salmo 88 — “A minha alma já está farta de aflições…”
Por exemplo, o Salmo 31 é um rico exemplo de como reclamar com justiça ao SENHOR.
Davi inicia este salmo de queixa confessando humildemente sua confiança em Deus e pedindo Sua proteção urgente,
“Em ti, Senhor, me refugio; Que eu nunca tenha vergonha; Na tua justiça, livra—me. Inclina para mim o teu ouvido e livra—me depressa.” (Salmo 31:1-2a)
Davi expressa sua esperança em Deus e reconhece que o caráter de Deus tem mais em jogo no resultado de sua vida do que Davi (Salmo 31:4). Davi expressa confiança absoluta em Deus até a morte (Salmo 31:5).
Então Davi começa sua queixa:
“Tem misericórdia de mim, Senhor, porque estou angustiado Meus olhos estão consumidos pela tristeza, minha alma e meu corpo também.” (Salmo 31:9)
Ele então detalha sua dor, medo e inimigos (Salmo 31:9-13). Os problemas de Davi incluem lutas contra a depressão, abandono, traição, sentimento de impotência e futilidade, calúnia e uma conspiração para assassiná—lo.
Mas suas queixas nunca são infiéis. Ele as envolve em confiança e submissão,
“Mas eu confio em ti, Senhor, Eu digo: 'Tu és meu Deus'. Meus tempos estão em Tuas mãos;” (Salmo 31:14-15a)
Davi olhou para Deus com a confiança de que, não importando o resultado terreno, Deus seria bom para ele:
“Quão grande é a tua bondade, Que guardaste para aqueles que te temem, Que fizeste para aqueles que em ti se refugiam, Diante dos filhos dos homens!” (Salmo 31:19)
Paulo também reclamou com Deus e levou sua queixa sobre seu “espinho na carne” diretamente a Deus, implorando ao Senhor três vezes para que ele fosse removido (2 Coríntios 12:7-8).
Esta foi uma queixa sincera dirigida ao Único que poderia ajudar. Em vez de remover a aflição, Deus respondeu:
“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Coríntios 12:9a)
Paulo aceitou a resposta de Deus com humildade e confiança, declarando:
“De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” (2 Coríntios 12:9b)
O exemplo de Paulo mostra que reclamar na Bíblia não significa exigir o que queremos, mas sim levar nossos fardos a Deus e receber Sua vontade com fé.
Por fim, Jesus, no Getsêmani, derramou Sua angústia diante do Pai. Ao entrar no Jardim, Jesus disse:
“A minha alma está profundamente triste, até a morte… Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:38-39)
Isaías registra uma imagem profética do lamento do Messias:
“Mas eu disse: Em vão me esforcei, gastei as minhas forças em vão e em vaidade; contudo, a minha justiça está com o Senhor, e a minha recompensa está com o meu Deus.” (Isaías 49:4)
Esta era uma forma sagrada de queixa — transparente, respeitosa, cheia de confiança. E, no entanto, mesmo em Sua agonia, Jesus se submeteu plenamente à vontade de Deus. Este momento nos mostra que queixar—se fielmente não é falta de devoção, mas uma expressão vital de relacionamento com Deus. Quando seguimos o exemplo de Jesus, aprendemos que podemos ser completamente honestos com Deus e, ao mesmo tempo, confiar em Seus propósitos bons e soberanos.
Conclusão: Um coração que ora com confiança e é grato
O livro de Filipenses oferece uma imagem clara da reclamação em oração:
“Não andem ansiosos por coisa alguma; em vez disso, orem e peçam a Deus tudo o que vocês precisam, e sejam agradecidos.” (Filipenses 4:6)
Em outras palavras: diga a Deus o que está errado — mas faça—o com gratidão e fé. E o resultado?
“A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:7)
A reclamação bíblica é um ato de adoração. Confessa fraquezas e lança nossas preocupações sobre o Senhor (1 Pedro 5:7). É uma oração respeitosa. Convida Deus para a nossa angústia, em vez de atacar os outros ou nos aborrecermos com amargura.
Em contraste, a murmuração é destrutiva. A murmuração é infiel. É manipuladora, amarga e divisiva. Resiste à vontade de Deus e semeia discórdia. Alimenta o descontentamento e mina a unidade. Muitas vezes, se espalha horizontalmente — lamentando—se com amigos, colegas de trabalho ou estranhos em vez de ir para os responsáveis. A murmuração é o tipo de reclamação que Deus condena.
Reclamar segundo a Bíblia não significa fingir que as coisas estão bem. Trata—se de ser honesto diante de Deus e dos outros, mantendo—se cheio de confiança, humildade e gratidão. Jó, Davi, Paulo e Jesus, todos deram exemplos de reclamações fiéis que os aproximaram de Deus.
Lancemos nossas queixas ao SENHOR — não porque merecemos respostas, mas porque Ele nos convida a confiar nEle. Quando o fazemos, Ele nos dá paz, força e sabedoria. E, no processo, crescemos.
Então sim, a Bíblia nos ensina como reclamar construtivamente, mesmo quando condena a murmuração.
Existe uma maneira bíblica e uma não bíblica de reclamar. Por isso, é importante saber a diferença.
Quando ouvimos a palavra "reclamar", normalmente pensamos em algo negativo: choramingo, amargura ou negatividade que deprime os outros. É compreensível, porque a maioria das reclamações que encontramos — e com as quais frequentemente nos envolvemos — é apenas isso.
Mas a Bíblia, na verdade, faz uma distinção crucial entre um tipo de "queixa" que é elogiado e uma murmuração que é condenada. Existe uma maneira bíblica de reclamar — uma maneira que honra a Deus e aprofunda nossa fé. Mas também existe uma maneira pecaminosa de reclamar — chamada murmuração — que leva à destruição.
As Escrituras não proíbem a reclamação. Deus não nos ignora nem nos proíbe de apresentar nossos problemas a Ele. A Bíblia nos exorta a lançar “sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:7). Os Salmos estão repletos de muitas queixas justas dirigidas a Deus.
A Bíblia nos mostra um caminho para a reclamação construtiva. "Reclamação construtiva" não é reclamar para conseguir o que queremos. Reclamação construtiva é apresentar as coisas diante de Deus de uma maneira que nos coloque em harmonia com Deus e com os outros em meio às dificuldades e sofrimentos da vida.
Reclamar construtivamente é um lamento e uma súplica honestos que confiam no caráter de Deus e buscam Sua ajuda — e sempre deixam o resultado para Ele.
Em contraste, reclamar é destrutivo. É divisivo, manipulador e amargo. Reclamar não significa buscar a ajuda de Deus — significa acusá—Lo ou minar aqueles que detêm autoridade. Leva à sensação de direito (Deus me deve) e à vitimização (coitado de mim, não consigo fazer nada).
A murmuração é uma forma de incredulidade e uma expressão de ingratidão. Diz: "Não confiarei em Ti a menos que me dês o que eu quero". Tolamente, ela se opõe à vontade de Deus, como se O ameaçasse: "Se não me deres o que exijo, não crerei em Ti nem Te adorarei".
Um exemplo de murmuração está em Êxodo, quando Israel murmurou no deserto, lamentando—se contra Moisés e, por fim, contra Deus. Após ser libertado do Egito e levado por Deus ao deserto por meio de Sua incrível demonstração de poder, Israel estava sedento e murmurou contra Moisés. Duvidaram da fidelidade de Deus (Êxodo 17:1-4) e testaram o SENHOR, dizendo: "O SENHOR está no meio de nós, ou não?" (Êxodo 17:7).
A exigência de Israel não era apenas uma reclamação infiel e manipuladora. Era um teste: "Se Deus realmente está entre nós, então Ele fará o que queremos". A declaração deles era uma ameaça implícita — "faça algo por nós ou encontraremos outro deus". Desnecessário dizer que isso não foi bem recebido por Deus. Essa atitude é mencionada inúmeras vezes nas Escrituras como um exemplo do que "não fazer". Seguem alguns exemplos:
A passagem de Hebreus 3:7-11 ressalta que os crentes do Novo Testamento devem ser fiéis para possuírem sua herança como "filhos". Jesus foi feito "Filho" como humano para reinar sobre a criação (Hebreus 1:5). Ele foi "coroado" ou recebeu autoridade com a "glória e honra" de reinar sobre a Terra, restaurando o projeto de Deus para os humanos. Ele recebeu essa honra por causa do "sofrimento da morte" (Hebreus 2:9).
Jesus deseja trazer “muitos filhos à glória” e fazer com que aqueles que vencerem como Ele venceu compartilhem do Seu reino de serviço (Apocalipse 3:21). Aqueles que vencerem e forem recompensados como filhos serão aqueles que forem fiéis em possuir sua herança. Hebreus 3:6-12 exorta os crentes do Novo Testamento a não serem como a geração infiel que pôs Deus à prova, que não creu e, portanto, não tomou posse de sua herança e não entrou na Terra Prometida.
Em vez disso, Hebreus exorta os crentes do Novo Testamento a confiar em Deus e seguir Seus caminhos, mesmo quando parecem difíceis. A segunda geração que saiu do Egito teve que confiar em Deus e confrontar os gigantes e as cidades muradas da terra para possuir a herança que lhes havia sido concedida. Deus lutou por eles e abriu o caminho. Mas eles tiveram que confiar em Deus, pois Ele estava com eles, independentemente das circunstâncias.
Aqueles que murmuraram no deserto estavam de olho nas circunstâncias e ameaçaram Deus com: "Não te seguiremos, a menos que faças algo por nós". Paulo alerta contra isso em 1 Coríntios 10:10, lembrando—nos que alguns foram destruídos por murmurarem, como um aviso para nós hoje.
Resmungar costuma ser motivo de brigas e semeia discórdia entre as pessoas. Em vez de recorrer à autoridade — alguém que pode legitimamente resolver o problema —, os resmungões reclamam da autoridade para outros que não conseguem resolver o problema. O objetivo desse tipo de comportamento é concentrar a atenção em si mesmo. Não é resolver o problema.
Por exemplo, se você tiver um problema no trabalho, é bíblico falar respeitosamente com seu supervisor. Ao conversar com ele e compartilhar fatos, vocês podem criar uma história compartilhada que leva a um plano compartilhado. Isso é servir à missão compartilhada. Este é o sistema de autogoverno recomendado por Deus em ação. É assumir a responsabilidade de servir aos outros. Um problema é reconhecido e abordado de uma maneira que sirva ao propósito compartilhado.
Uma das melhores maneiras de abordar sua reclamação de forma construtiva é iniciar um “momento da verdade”. Um momento da verdade ocorre quando alguém aborda uma expectativa não atendida.
Momento da Verdade: Passo Um — Estabelecer os Fatos
O primeiro passo para um momento de verdade é reconhecer a expectativa e o fato/evidência clara de que ela não foi atendida. Às vezes, uma expectativa não é atendida porque não foi clara ou compartilhada, e uma vez que se concorde que se trata de uma expectativa, as coisas podem se resolver rapidamente. Se a expectativa for clara e não for atendida, é importante concordar que ela não foi atendida antes de passar para a segunda etapa.
Momento da Verdade: Passo Dois — História
O segundo passo para um momento de verdade é ouvir a história, a explicação da pessoa para o motivo pelo qual a expectativa não foi atendida. Às vezes, a história da pessoa é válida para explicar por que algo não aconteceu como deveria. Às vezes, é um caso isolado e claro. Outras vezes, ajustes precisarão ser feitos para evitar que as expectativas continuem não sendo atendidas.
Momento da Verdade: Passo Três — Planejar
O terceiro passo para um momento de verdade é permitir que a pessoa que não atendeu às expectativas se desenvolva e ofereça um plano de como fará os ajustes necessários para evitar que as expectativas continuem a não corresponder às expectativas e para melhor atendê—las no futuro. Às vezes, é bom dar—lhe tempo para elaborar um plano. (Você pode me retornar com o seu plano amanhã ou daqui a uma semana, segunda—feira?). Assim que o plano estiver pronto e for aceitável, marque um horário para realizar a etapa quatro mais tarde.
Momento da Verdade: Passo Quatro — Feedback
O quarto e último passo de um momento da verdade é entrar em contato com a pessoa após um período razoável para informá—la sobre como o plano está funcionando. Se estiver indo bem, o problema está resolvido e as expectativas estão sendo atendidas. É importante que o relacionamento reconheça que melhorias foram feitas e que você reconhece como o indivíduo ou grupo fez os ajustes com responsabilidade. Se as coisas ainda não estiverem sendo atendidas, outro momento da verdade deve ocorrer.
O contraste com abordar respeitosamente suas preocupações com seu supervisor para trabalhar em prol de um propósito compartilhado é resmungar sussurrando para os colegas de trabalho. Isso concentra a atenção no "Eu", enquanto se recusa a assumir a responsabilidade de buscar soluções construtivas. Tal comportamento não visa uma solução — mas apenas manipular as pessoas para que tomem partido contra outra pessoa. Em vez de servir ao propósito compartilhado da organização, serve a si mesmo.
Absalão resmungou contra seu pai Davi, minando sutilmente sua autoridade e, ao mesmo tempo, demonstrando preocupação com o povo. Ele ficou à porta e disse: "Vejam, as suas reivindicações são boas e justas, mas ninguém da parte do rei as ouve" (2 Samuel 15:3), gerando descontentamento em vez de buscar uma solução justa. Em vez de se dirigir respeitosamente a Davi, Absalão manipulou as frustrações do povo para conquistar sua lealdade e roubar o coração de Israel (2 Samuel 15:6). Seu objetivo era "Eu". Ele buscava desbancar seu pai como rei. Era um plano de autopromoção.
A Bíblia condena veementemente a murmuração como algo maligno. Paulo diz:
“Façam todas as coisas sem murmurações nem contendas.”
(Filipenses 2:14)
Isso não significa que ignoramos os problemas. Significa que levamos nossas preocupações ao lugar certo: a Deus com fé, às autoridades competentes com humildade, ou aos colegas de equipe e de trabalho para buscar soluções mutuamente benéficas.
Qual é a maneira bíblica de reclamar?
A chave para a reclamação bíblica reside na factualidade, na fé, na humildade e na gratidão. E é sempre respeitosa a Deus e aos outros.
O Livro de Tiago fornece uma estrutura de como devemos abordar Deus com nossas reclamações — transformando provações em oportunidades de crescimento espiritual por meio da fé e da humildade.
Tiago começa com uma exortação surpreendente:
“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança.”
(Tiago 1:2-3)
O primeiro passo é reconhecer a realidade da situação. Podemos concordar e chamar uma circunstância de "provação". O próximo passo é escolher uma perspectiva sobre a circunstância. Tiago diz: "Escolhamos, portanto, a dificuldade como uma oportunidade para desenvolver a fé e, assim, ganhar a coroa da vida" (Tiago 1:2-3, 12).
Tiago não está nos pedindo para preferir a dor, mas para reformular nossa perspectiva de qualquer experiência difícil, para que possamos ver nossa dificuldade como um meio de aumentar a resistência, amadurecer na fé e, assim, vencer na vida.
“Reclamar” a Deus, quando feito corretamente, reconhece a dor (fatos) e, ao mesmo tempo, abraça a verdade de que Deus tem um propósito duradouro por trás dela (perspectiva). Nossa resposta ao sofrimento não deve ser amargura ou negação, mas sim honestidade e confiança, ao levarmos nossas lutas a Deus que opera por meio delas (Romanos 8:28).
James continua:
“E tenha a perseverança obra completa, para que sejais maduros e íntegros, sem vos faltar coisa alguma.”
(Tiago 1:4)
Isso mostra que a reclamação bíblica deve vir acompanhada de uma disposição para perseverar e crescer. Não é uma demanda por alívio imediato, mas um pedido por sabedoria e perspectiva. É por isso que Tiago nos diz:
“Mas, se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça—a a Deus” (Tiago 1:5).
Em nossas reclamações, somos convidados a pedir compreensão — a dizer: “Senhor, não entendo isso; ajude—me a ver o que o Senhor está fazendo”. Esse tipo de pedido é um ato de fé, não de acusação.
Mas Tiago também faz um alerta sobre como fazemos essa pergunta a Deus:
“Mas peça—a com fé, sem duvidar… Pois não pense tal homem que receberá alguma coisa do Senhor.”
(Tiago 1:6-7)
A fé está no centro da reclamação bíblica.
Há apenas três coisas que controlamos: em quem ou no que acreditamos, a perspectiva que escolhemos e as ações que tomamos. Em Tiago, somos convidados a:
Quando levamos nossa dor a Deus com fé, confiamos que Ele nos ouve, que Ele é bom e que agirá em Seu tempo e maneira perfeitos. Isso é lançar sobre Ele nossas ansiedades, o que somos exortados a fazer (1 Pedro 5:7).
Duvidar, como Tiago o define, não é simplesmente lutar com perguntas — significa desconfiar do caráter de Deus. Reclamar sem fé acusa Deus ou O manipula. Reclamar com fé lança fardos sobre Ele, acreditando que Ele se importa.
Mas Tiago também descreve o perigo de ser “um homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos” (Tiago 1:8).
Uma pessoa de mente dobre deseja a ajuda de Deus sem confiar na sabedoria ou na bondade de Deus. Esta é a essência da murmuração — queixar—se sem se render e sem reverência. Mas a queixa bíblica, exemplificada por Tiago, está ancorada na perspectiva alegre, na perseverança persistente, nos pedidos humildes de sabedoria e na confiança.
Quando reclamamos dessa forma, Deus não apenas nos ouve, como também nos transforma. A reclamação bíblica não resiste à vontade de Deus — ela a aceita e a abraça (Tiago 1:2, Hebreus 12:1-2, 1 Pedro 1:6-9). Não endurece o coração; abre nossos corações para Deus. Não semeia divisão; produz maturidade espiritual e busca harmonia com Deus e com os outros (Mateus 6:33).
Exemplos de Reclamações Bíblicas
O tipo de reclamação que leva ao discipulado, ao crescimento da nossa fé e à moldagem das nossas perspectivas para o que é verdadeiro é modelado por crentes fiéis como Jó, Davi, Jesus, Paulo e outros.
Jó é um exemplo poderoso de reclamações bíblicas.
Jó derramou sua tristeza, confusão e até frustração diante de Deus. Mas ele nunca amaldiçoou a Deus nem rejeitou Sua autoridade. Em vez disso, Jó disse: “Ainda que ele me mate, esperarei nele; contudo, argumentarei os meus caminhos diante dele” (Jó 13:15). A queixa de Jó era crua, mas cheia de reverência e ancorada na confiança.
Deus diz a respeito de Jó que ele apenas falou corretamente de Deus, e isso agradou muito a Deus (Jó 42:7). Jó reclamou que Deus precisava entender sua perspectiva. Em resposta a essa reclamação, Deus apareceu a Jó e deixou claro que Jó, na verdade, precisava mais da perspectiva de Deus. Após sua interação com Deus, Jó declarou: "Eu me arrependo" (Jó 42:6). Vemos aqui um exemplo em que as reclamações de Jó resultaram em Deus guiando Jó a ter uma perspectiva renovada, uma perspectiva que era verdadeira.
Como mencionado acima, os Salmos estão cheios de muitas queixas dirigidas a Deus.
Por exemplo, o Salmo 31 é um rico exemplo de como reclamar com justiça ao SENHOR.
Davi inicia este salmo de queixa confessando humildemente sua confiança em Deus e pedindo Sua proteção urgente,
“Em ti, Senhor, me refugio;
Que eu nunca tenha vergonha;
Na tua justiça, livra—me.
Inclina para mim o teu ouvido e livra—me depressa.”
(Salmo 31:1-2a)
Davi expressa sua esperança em Deus e reconhece que o caráter de Deus tem mais em jogo no resultado de sua vida do que Davi (Salmo 31:4). Davi expressa confiança absoluta em Deus até a morte (Salmo 31:5).
Então Davi começa sua queixa:
“Tem misericórdia de mim, Senhor, porque estou angustiado
Meus olhos estão consumidos pela tristeza, minha alma e meu corpo também.”
(Salmo 31:9)
Ele então detalha sua dor, medo e inimigos (Salmo 31:9-13). Os problemas de Davi incluem lutas contra a depressão, abandono, traição, sentimento de impotência e futilidade, calúnia e uma conspiração para assassiná—lo.
Mas suas queixas nunca são infiéis. Ele as envolve em confiança e submissão,
“Mas eu confio em ti, Senhor,
Eu digo: 'Tu és meu Deus'.
Meus tempos estão em Tuas mãos;”
(Salmo 31:14-15a)
Davi olhou para Deus com a confiança de que, não importando o resultado terreno, Deus seria bom para ele:
“Quão grande é a tua bondade,
Que guardaste para aqueles que te temem,
Que fizeste para aqueles que em ti se refugiam,
Diante dos filhos dos homens!”
(Salmo 31:19)
Paulo também reclamou com Deus e levou sua queixa sobre seu “espinho na carne” diretamente a Deus, implorando ao Senhor três vezes para que ele fosse removido (2 Coríntios 12:7-8).
Esta foi uma queixa sincera dirigida ao Único que poderia ajudar. Em vez de remover a aflição, Deus respondeu:
“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
(2 Coríntios 12:9a)
Paulo aceitou a resposta de Deus com humildade e confiança, declarando:
“De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.”
(2 Coríntios 12:9b)
O exemplo de Paulo mostra que reclamar na Bíblia não significa exigir o que queremos, mas sim levar nossos fardos a Deus e receber Sua vontade com fé.
Por fim, Jesus, no Getsêmani, derramou Sua angústia diante do Pai. Ao entrar no Jardim, Jesus disse:
“A minha alma está profundamente triste, até a morte… Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres.”
(Mateus 26:38-39)
Isaías registra uma imagem profética do lamento do Messias:
“Mas eu disse: Em vão me esforcei, gastei as minhas forças em vão e em vaidade; contudo, a minha justiça está com o Senhor, e a minha recompensa está com o meu Deus.”
(Isaías 49:4)
Esta era uma forma sagrada de queixa — transparente, respeitosa, cheia de confiança. E, no entanto, mesmo em Sua agonia, Jesus se submeteu plenamente à vontade de Deus. Este momento nos mostra que queixar—se fielmente não é falta de devoção, mas uma expressão vital de relacionamento com Deus. Quando seguimos o exemplo de Jesus, aprendemos que podemos ser completamente honestos com Deus e, ao mesmo tempo, confiar em Seus propósitos bons e soberanos.
Conclusão: Um coração que ora com confiança e é grato
O livro de Filipenses oferece uma imagem clara da reclamação em oração:
“Não andem ansiosos por coisa alguma; em vez disso, orem e peçam a Deus tudo o que vocês precisam, e sejam agradecidos.”
(Filipenses 4:6)
Em outras palavras: diga a Deus o que está errado — mas faça—o com gratidão e fé. E o resultado?
“A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.”
(Filipenses 4:7)
A reclamação bíblica é um ato de adoração. Confessa fraquezas e lança nossas preocupações sobre o Senhor (1 Pedro 5:7). É uma oração respeitosa. Convida Deus para a nossa angústia, em vez de atacar os outros ou nos aborrecermos com amargura.
Em contraste, a murmuração é destrutiva. A murmuração é infiel. É manipuladora, amarga e divisiva. Resiste à vontade de Deus e semeia discórdia. Alimenta o descontentamento e mina a unidade. Muitas vezes, se espalha horizontalmente — lamentando—se com amigos, colegas de trabalho ou estranhos em vez de ir para os responsáveis. A murmuração é o tipo de reclamação que Deus condena.
Reclamar segundo a Bíblia não significa fingir que as coisas estão bem. Trata—se de ser honesto diante de Deus e dos outros, mantendo—se cheio de confiança, humildade e gratidão. Jó, Davi, Paulo e Jesus, todos deram exemplos de reclamações fiéis que os aproximaram de Deus.
Lancemos nossas queixas ao SENHOR — não porque merecemos respostas, mas porque Ele nos convida a confiar nEle. Quando o fazemos, Ele nos dá paz, força e sabedoria. E, no processo, crescemos.
Então sim, a Bíblia nos ensina como reclamar construtivamente, mesmo quando condena a murmuração.