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Significado de 2 Coríntios 2:5-9

Paulo lida com o tema relacionado ao tratamento de uma pessoa que havia causado problemas na igreja em Corinto. O encrenqueiro havia sido punido e agora deveria ser perdoado e ajudado. Caso contrário, seu estado perpétuo de arrependimento o prejudicaria. O objetivo da correção a outros crentes é o de trazê-los de volta à verdade, não de envergonhá-los permanentemente e ostracizá-los.

Paulo estava claramente interessado no bem-estar dos coríntios do que em si mesmo. Apesar disso, ele ainda era um ser humano. O incidente havia trazido grande tristeza e "muitas lágrimas" ao apóstolo (2 Coríntios 2:4), levando-o a escrever o que aparentemente era uma carta de disciplina e correção. Paulo estava ciente de que suas palavras arriscavam produzir sua rejeição a ele. No entanto, o amor que ele tinha por eles fez com que o interesse deles fosse colocado em primeiro lugar. Assim, o apóstolo escreve a carta, porque eles precisavam ouvir a verdade.

Paulo desejava que os crentes em Corinto soubessem a profundidade de seu amor por eles e que a carta havia sido motivada por esse amor e para a realização da vontade de Deus naquela situação. Ainda que isso pudesse gerar "tristeza", Paulo coloca o interesse dos irmãos acima de seu próprio conforto. Ele os ajuda a ver que escrever a carta era tão difícil quanto lê-la.

Paulo se refere ao assunto principal da carta anterior: “Mas, se alguém tem causado tristeza, tem causado tristeza não a mim, porém em parte (para não ser severo demais) a todos vós(v. 5). Alguém na igreja em Corinto, talvez alguém que chegou após a saída de Paulo, conforme descrito em Atos 18, estava liderando a oposição a seu apostolado e liderança.

Alguns relacionam esse episódio ao de 1 Coríntios 5, onde Paulo pede à igreja que expulse um membro que havia caído em imoralidade sexual. Se este for o caso, a referência do versículo 6 à disciplina imposta ao infrator se referiria ao fato de os irmãos terem colocado essa pessoa para fora da igreja (1 Coríntios 5:13; 2 Coríntios 2:6).

No entanto, embora isso seja possível, parece haver uma explicação melhor; este não parece ser o mesmo incidente. A acusação feita contra Paulo parece ter sido pessoal e não uma violação moral. Além disso, o conteúdo implícito do ataque a Paulo é consistente com outros ataques, conforme evidenciado por suas cartas aos crentes em Roma e na Galácia, onde sua autoridade foi questionada e seus ensinamentos foram desafiados.

Por exemplo, em Roma, um grupo de "autoridades" judaicas havia difamado o Evangelho de Paulo, alegando que seu ensinamento da justificação pela graça significava o ensinou de que eles deveriam pecar mais ("fazer o mal") a fim de que a graça de Deus abundasse (Romanos 3:8). Sua intenção era diminuir a autoridade apostólica de Paulo e suplantar seu ensino da graça pelo "evangelho" que exigia a devoção às regras religiosas (Atos 15:5).

Um exemplo adicional das autoridades judaicas se opondo a Paulo fica evidente em sua carta aos Gálatas, onde ele repreende os irmãos por aceitarem a falsa crença de que eles precisavam ser justificados pelas obras após a justiticação pela fé (Gálatas 2:17; 3:3, 4).

Além disso, temos evidências na primeira carta de Paulo aos crentes em Corinto de que o mesmo ataque a Paulo estava em pleno movimento. O episódio mencionado nesta carta pode ter surgido dessa raiz de amargura. Paulo escreveu 1 Coríntios 9 e m grande parte para defender seu apostolado contra aqueles que o "examinavam" (1 Coríntios 9:3). Aparentemente, seus detratores alegavam que ele não era um verdadeiro apóstolo porque bancava a seu próprio ministério, em vez de ser apoiado financeiramente por outros (1 Coríntios 9:3-6).

Dado esse padrão, é razoável presumir que o ataque ao apostolado de Paulo em Corinto tenha se expandido e se tornado um confronto desagradável com uma ou mais pessoas a quem o apóstolo parece se referir aqui como alguém que causou grande tristeza. Esta tristeza pode ser uma referência às controvérsias contra Paulo.

O texto infere ter ocorrido um grande conflito e a maioria ficou ao lado de Paulo, infligindo uma punição desconhecida ao lado perdedor. Podemos inferir que os partidários de Paulo venceram por dois motivos: 1) a carta diz isso; e 2) as cartas de Paulo foram preservadas. Como costumamos dizer, os vencedores são os que registram a história.

A carta cheia de "lágrimas" de Paulo parece ter ajudado a igreja a enxergar a acusação contra ele. Paulo diz sobre o acusador:

Mas, se alguém tem causado tristeza, tem causado tristeza não a mim, porém em parte (para não ser severo demais) a todos vós (v. 5).

A gramática usada no v. 5 é singular, indicando que havia o detrator era uma única pessoa. O texto também indica que a declaração de Paulo se aplicava à pessoa envolvida na campanha contra ele. Paulo tem o cuidado de não dizer muita coisa, aparentemente não querendo repetir o que já havia sido decidido. O ataque era contra Paulo, o que lhe havia causado muita  tristeza. Porém, a tristeza maior fora infligida aos irmãos, os crentes em Corinto.

Paulo não elabora muito a esse respeito, mas é razoável supormos que os ataques à sua pessoa eram os mesmos ataques documentados no livro de Romanos e Gálatas. Supondo que seja este o caso, os grandes perdedores seriam aqueles que haviam sucumbido aos falsos ensinamentos de não serem livres em Cristo e ainda estarem sob a obrigação da lei (Gálatas 5:11-14).

Paulo desejava que os crentes em Corinto percebessem que a ofensa, fosse qual fosse, não era apenas contra Paulo, mas contra a integridade da igreja em Corinto. Ele queria que eles vissem que, embora a acusação teivesse sido dirigida principalmente a ele, ela era, em algum grau, uma acusação contra todo o ministério em Corinto. Ele não queria se esquivar desse argumento e esperava que eles conseguissem enxergar o quadro geral.

Quando enfrentamos oposição ou acusações, é difícil enxergar além da dor imediata, a "angústia" e a "aflição" (2 Coríntios 2:4). Paulo destaca o princípio de que, embora os ataques doam, devemos escolher não levá-los para o lado pessoal. Isso é consistente com o ensinamento de Jesus de "dar a outra face", em vez de reagirmos aos insultos (Mateus 5:39).

Podemos aplicar esse ensinamento de Jesus como o princípio de "não reação" ao encontrarmos hostilidades, conforme exemplificado por Paulo aqui. O apóstolo estava enxergando para além de si mesmo, buscando o bem-estar daqueles a quem servia. Ao fazer isso, ele aborda a polêmica em amor, pois estava buscando o bem-estar dos irmãos.

Paulo, a seguir, se refere ao(s) acusador(es) dizendo: “Basta a esse tal esta repreensão dada pelo maior número(v. 6).

Isso infere que, após a carta de Paulo em "lágrimas" e "tristeza" (2 Coríntios 2:3, 4), a igreja em Corinto empregou algum tipo de disciplina ou punição à pessoa ou pessoas responsáveis pelo ataque contra a autoridade de Paulo (e presumivelmente também sua mensagem do Evangelho). Se Paulo sugeriu a punição, não sabemos. Porém, parte do alívio de Paulo e da congregação foi o fato de a disciplina ter sido aplicada pela maioria.

Paulo reforça o princípio de que a igreja não era um show de um homem só. Todos são membros ativos, trabalhando em colaboração, como um corpo. Isso é consistente com seu ensinamento de que os crentes devem funcionar em equipe, como um corpo (1 Coríntios 12).

“Basta” era uma palavra muito importante tanto para Paulo quanto para a congregação. Paulo não desejava que eles punissem a pessoa mais do que já haviam punido. Além disso, ele não parou apenas na punição, por mais necessária que fosse. Ele desejava que eles fossem mais longe e chegassem ao ponto de reconciliação:

...de modo que pelo contrário deveis, antes, perdoar-lhe e confortá-lo, para que o tal não seja consumido pela demasiada tristeza (v. 7).

Essas podem não ter sido as palavras esperadas pela igreja em Corinto. Após recebermos uma disciplina ou punição, nosso sentimento imediato geralmente é de vingança. Assim, Paulo adverte que parar no “modo vingança” ou punição era perigoso tanto para o disciplinado quanto para os que haviam aplicado o castigo.

O que deveria vir no lugar da vingança? Perdão e conforto. Essa resposta surpreendente pode parecer não apenas contraditória, mas impossível. No entanto, o amor de Deus ao qual Paulo se referiu como motivação para sua carta, estava centrado em Deus, não nele mesmo. O apóstolo João escreve algo semelhante:

Por isto conhecemos o amor, porque Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos (1 João 3:16).

Paulo, agora, chama a atenção da igreja em Corinto buscando demonstrar o verdadeiro amor de Cristo e o melhor interesse do(s) ofensor(es), que aparentemente aprenderam a lição. Curiosamente, a preocupação de Paulo é com a pessoa castigada. Paulo se foca em certificar-se de que os coríntios a perdoassem, para que o tal não seja consumido pela demasiada tristeza”.

A preocupação expressa aqui pode ser a de que a pessoa poderia ficar exasperada e desistir da restauração. De qualquer forma, o desejo de Paulo parecia ser o de ver a saúde espiritual e a vitalidade da igreja e, ao memso tempo, a saúde espiritual e a vitalidade de cada pessoa na igreja. A igreja parecia ser sólida; agora, eles tinham a capacidade de receber de volta o ofensor, perdoando-o e consolando-o.

É provável que a maioria de nós, se estivéssemos na posição de Paulo, revisaríamos o motivo da punição com um aviso severo de como o infrator deveria agir no futuro. Paulo, no entanto, nos dá uma direção bem diferente: “Por isso, vos rogo que confirmeis a vossa caridade para com ele(v. 8).

Podemos inferir um princípio bíblico aqui: ao disciplinarmos alguém, é vital estabelecermos uma intenção benevolente. As pessoas tendem a não ouvir ou se beneficiar de uma correção vinda de alguém que expresse malícia ou desinteresse por elas. Paulo exorta os coríntios a iniciarem a restauração do ofensor reafirmando seu amor por ele.

Paulo havia escrito em sua primeira carta à igreja em Corinto: "E ainda um caminho sobremodo excelente vou mostrar-vos...porém a maior destas é a caridade" (1 Coríntios 12:31b; 13:13b). O apóstolo exorta a igreja em Corinto a viver de acordo com esse padrão e expressar o "caminho ainda mais excelente", o caminho do amor, mesmo para com alguém que os havia ofendido. “pois para esse fim também escrevi, para, por essa vossa prova, conhecer se em tudo sois obedientes(v. 9).

A frase “para esse fim” parece se referir à insistência de Paulo de que os coríntios reafirmassem seu amor pela pessoa que os havia ofendido, que aparentemente tinha criado uma confusão contra Paulo e seus ensinamentos. Paulo escreve para testá-los, buscando ver se eles estarian dispostos a ser “obedientes em tudo”.

Uma dessas coisas seria oferecer restauração ao ofensor. A pessoa havia criado "tristeza" a toda a igreja e também a Paulo. Porém, ele aparentemente havia se arrependido; assim, Paulo desejava que eles aplicassem seu ensinamento de 1 Coríntios 12 para agir como corpo, onde a diversidade de dons serviria em unidade, sob a liderança de Cristo.

Muitos de nós, ao lermos a expressão “obedientes em tudo”, pensamos em buscar a justiça (viver de acordo com os desígnios de Deus), seguir aos Dez Mandamentos ou a outras regras, regulamentos ou tradições. No entanto, as cartas de Paulo insistem consistentemente que a justiça não vem através da obediência a regras (Romanos 3:21, 28). Paulo insiste que a justiça vem através do andar em Espírito (Gálatas 5:16-17, 22-25).

Além disso, Paulo insiste que a Lei (regras) é cumprida quando os andamos no Espírito (Romanos 8:4; Gálatas 5:13, 14). Seu argumento era o de que a intenção da Lei visava uma mudança de coração, passando da busca de nós mesmos para a busca do melhor para os outros, ou seja, amá-los. Este é o contexto do desejo de Paulo para os crentes em Corinto: ele deveriam buscar ser obedientes em tudo.

Jesus também ensinou esta lição, dando a Seus discípulos um novo mandamento que encapsulava todos os outros:

Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros (João 13:34).

Este é um mandamento a ser obedecido e seguido. É um mandamento que se concentra no coração. É elevar os dois maiores mandamentos - amar a Deus e amar ao próximo (Mateus 22:37-39) - a um novo nível. Agora, em vez de meramente termos o padrão de amar ao próximo como amamos a nós mesmos, somos ordenados a amar ao próximo como Cristo nos amou.

Ao final desta carta, Paulo desafiará os crentes em Corinto a olhar para dentro e fazer um inventário espiritual, "testando-se" a si mesmos e verificando se estavam andando nessa fé, sendo obedientes em tudo (2 Coríntios 13:5).

A palavra traduzida como "exame" no capítulo 13 é uma palavra grega diferente da usada no versículo 9. Essa palavra no versículo 9, traduzida como “exame”, é frequentemente traduzida como "prova", enquanto a palavra em 2 Coríntios 13:5 é frequentemente traduzida como "tentação". O ponto aqui no versículo 9 parece ser o de que Paulo via isso como uma oportunidade para os crentes em Corinto provarem sua fé ao tomarem uma ação apropriada, uma ação de amor.

Quando chega ao capítulo 13, Paulo pede aos crentes que se examinem internamente e olhem com verdade se estavam ou não seguindo a Cristo pela fé. Ao fazer isso, o apóstolo é consistente com sua afirmação de não estar sujeito ao julgamento dos outros, pelo fato de examinar-se a si mesmo e ter uma boa consciência, sabendo que estaria diante de Cristo, Aquele que conhece tudo e julgará com retidão (1 Coríntios 4:3-5).

Tal como acontece com a palavra "alegria", ao olhamos para definição moderna de "amor" em nosso dicionário, vemos uma ênfase nas emoções: "atração, afeto forte baseado em admiração, benevolência ou interesses comuns". O amor "ágape" ordenado por Jesus é um amor repleto de ação, um amor que busca o melhor para os outros. Tal ação é uma expressão de poder espiritual que vem de Deus e retorna a Ele como uma oferta de louvor e glória ao Pai (Romanos 12:1; João 15:8).

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