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Significado de Atos 10:9-16

Pedro tem uma visão de animais impuros. Enquanto os servos de Cornélio estavam se dirigindo a Jope, Pedro estava na cobertura da casa de seu anfitrião orando. Ele tem uma visão bizarra de animais impuros sendo baixados do céu em um lençol. A voz do Senhor lhe diz para comer os animais impuros, mas Pedro se recusa a comer qualquer coisa "profana". O Senhor diz a Pedro para não considerar o que o próprio Deus purificava como algo "profano".

Enquanto o apóstolo Pedro permanecia em Jope depois de ressuscitar uma crente chamada Tabita (através do poder de Cristo), um centurião chamado Cornélio recebe a visita de um anjo na cidade portuária de Cesaréia, cerca de 45 quilômetros ao norte de Jope (ver mapa). Cornélio era um romano que havia crido no Deus de Israel, temente ao Senhor, orando continuamente e ajudando aos judeus necessitados. Toda a sua casa também cria e temia ao único Deus verdadeiro. O anjo que havia visitado Cornélio lhe disse que seu serviço a Deus era bem recebido e que ele deveria enviar alguns homens para buscar a Simão Pedro em Jope e levá-lo a Cesaréia. Cornélio imediatamente envia dois servos de sua casa, juntamente com um soldado devoto, para esta tarefa.

Lucas, o autor de Atos, relata sobre os homens enviados por Cornélio por um momento, mas depois salta para o seu destino final: No dia seguinte, quando os dois servos e o soldado de Cornélio estavam a caminho e se aproximando da cidade de Jope, Pedro subiu no topo da casa por volta da sexta hora para orar (v. 9). Os mensageiros de Cornélio não estava longe de Jope. A cidade já poderia estar à vista deles, pois lemos que eles estavam a caminho e se aproximavam dela. Outro fato é que eles se encontraram com Pedro num tempo relativamente curto depois que sua visão terminou.

A hora sexta, no relógio romano, era equivalente ao meio-dia, ou seja doze horas, meio-dia do nosso relógio. Se os homens de Cornélio tivessem saído imediatamente no final da tarde do dia anterior e caminhado durante toda a noite sem descansar, eles poderiam razoavelmente ter chegado a Jope ao meio-dia do dia seguinte.

Pedro foi até a casa de Simão para orar. Porém, o autor registra que ele teve fome. É evidente que ele não estava jejuando enquanto orava naquele momento. Pedro teve fome e quis comer. Ele parece ter descido do eirado da casa pedindo almoço a seus anfitriões; mas, enquanto lhe aprontavam a comida, veio-lhe um êxtase (v. 10).

A palavra “êxtase” é o termo grego "ekstasis". Muitas vezes é traduzido como "espanto". Nesta passagem, significa ter o estado normal da mente temporariamente alterado, ser levado a uma realidade diferente. Muitas vezes, nas Escrituras, momentos em que homens ou mulheres vêem o sobrenatural são descritos como “visão”, ou como algo sobrenatural que se torna aparente aos olhos humanos, conforme vimos na seção anterior, quando Cornélio viu o anjo entrar em sua sala.

Aqui, Pedro perde totalmente o chão. Esta experiência também é chamada de "visão" no versículo 17, algo sobrenatural que Pedro vê. Porém, esse transe aparentemente não foi algo real, no sentido de enxergar anjos velados da visão terrena na maioria das vezes. O êxtase de Pedro era uma lição objetiva de Deus destinada a mostrar-lhe como Deus pensava e como Deus amava. Deus estava levando Pedro a alinhar sua mente e coração ao Seu plano e a abraçar ao princípio de que Deus amava e valorizava a todas as pessoas, não apenas aos judeus.

Esta lição objetiva afetaria Pedro e a propagação do Evangelho para sempre. Seu transe se destacaria como um dos momentos mais ilustrativos da revelação divina, na mesma linha das muitas visões proféticas encontradas no livro de Daniel (Daniel 4:10-12, 7:1-3, 8:5). Deus estava pronto a ensinar algo a Pedro por meio de um auxílio visual extraordinário, usando animais como ilustração. Os animais parecem ser um dos materiais favoritos de Deus nas visões, dada a frequência com que aparecem ao longo da Bíblia.

Pedro “viu o céu aberto e descer um objeto como se fora uma grande toalha, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, e nele havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu” (v. 11,12).

Enquanto Pedro estava no eirado de Simão, cuja casa ficava no Mar Mediterrâneo, ele estava com fome. A aparição de um grande lençol traz à mente moderna uma toalha gigante de piquenique. Ele é lentamente baixado ao chão. O conteúdo do lençol é revelado a Pedro. Ele vê emergir de dentro dele todos os tipos de animais.

Sabemos pela reação de Pedro no v. 14 que aqueles animais eram impuros de acordo com a lei alimentar judaica (Levítico 11; Deuteronômio 14). Lucas não especifica que animais eram, apenas descrevendo-os como animais quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. Os animais quadrúpedes poderiam incluir qualquer criatura que não tivesse cascos fendidos e não ruminante, sendo, portanto, impura (Levítico 11:3).

Vacas, ovelhas, veados e cabras eram "kosher" (em hebraico, "aptos, limpos, aceitáveis") de acordo com a lei judaica; porém, quase todo o resto dos animais não podia ser comido (desde porcos, que não ruminam, até qualquer coisa que não tivesse casco, como o leão, o macaco ou o rato).

As aves proibidas incluíam as águias, falcões, gaviões, corujas, garças e outras (Levítico 11:13-19).

A palavra grega traduzida como “répteis da terra” é "herpeton", mais frequentemente traduzida em outros lugares como "serpentes". O campo da herpetologia é o estudo de répteis e anfíbios. "Herpo" significa "rastejar". Por isso, pode incluir a todos os animais rastejantes. Da mesma forma, a lei levítica proibia o consumo de quaisquer "enxames" de animais, incluindo nesta categoria as toupeiras e os lagartos (Levítico 11:29, 30).

Pedro, nesse êxtase, faminto, vê um lençol ser baixado, revelando inúmeros animais proibidos para se comer.

Entretanto, de repente, ele recebe a ordem de fazer exatamente isso. Uma voz,  aparentemente a voz de Deus, veio até ele: "Levanta-te, Pedro, mata e come!" (v. 13)

Pedro, um judeu devoto, responde: "De modo algum, Senhor, porque nunca comi nada profano e imundo" (v. 14). Ele nunca havia quebrado a lei alimentar e não planejava fazê-lo agora. Era impensável para ele comer um porco, ou um urubu, ou um rato. Sabemos que Pedro era um homem de determinação e aqui ele ilustra seu compromisso em guardar a lei de Deus; ele esperava que Deus o aprovasse.

A Lei catalogava os diferentes animais que o povo judeu não podia comer porque eles deviam ser separados e santos. Eles deveriam ser um bom exemplo para outras nações, mostrando-lhes uma maneira melhor de viver (Êxodo 19:6). O significado da palavra "santo" é “separado” de uma maneira especial, algo incomum.

Os judeus havia sido chamados por Deus para ser um grupo santo, separado das pessoas das outras nações da terra. Em vez de seguirem às formas pagãs de exploração e violência, os judeus haviam sido chamados a amar ao próximo e buscar o interesse dos outros. As restrições alimentares eram uma das muitas maneiras pelas quais Deus lhes havia instruído a se distinguirem.

Muito antes de Deus dar a lei a Moisés, Ele autorizou Noé e seus filhos a consumir qualquer animal ou planta que quisessem comer:

"Tudo o que se move e vive vos servirá de mantimento; como a erva verde, tudo vos tenho dado a vós" (Gênesis 9:3).

Isso implica que, antes do dilúvio, os humanos só comiam plantas. Após a destruição da terra naquela época (2 Pedro 3:6), Deus expande a dieta humana para que os seres humanos pudessem adquirir nutrientes suficientes. A fim de proteger a população animal, Deus colocou neles o medo dos seres humanos (Gênesis 9:2).

Quando se tratava de Seu povo escolhido, Deus lhes deu uma ordenança estrita do que lhes era permitido comer e o que não deveriam comer. Nesse êxtase, Pedro luta entre o que Deus estava lhe dizendo naquele momento e o que Deus havia ordenado aos israelitas desde o início da aliança, mais de mil anos antes (Êxodo 19:8). O novo comando dentro desse transe violava a tudo o que Pedro havia aprendido sobre a alimentação dos judeus.

É possível que Pedro tenha pensado que estivesse sendo testado. Ele tinha exemplos do Antigo Testamento e do período intertestamental sobre o heroísmo dos judeus que haviam se recusado a comer alimentos imundos. Daniel (Daniel 1:8) se recusara a comer a comida do rei e Deus o abençoou como resultado disso. Durante o reinado de Antíoco Epifanes (o protótipo do anticristo/o desolador, Daniel 9:27), Antíoco tentou obrigar os judeus a comerem carne de porco, na tentativa de erradicar o judaísmo.

Isso, entre outras abominações, resultou na revolta judaica liderada pelo sacerdote Judas Macabeu, garantindo um século de independência judaica. Isso havia ocorrido pouco menos de 200 anos antes da vida de Pedro e era visto como um triunfo dos judeus fiéis à Lei. Judas Macabeu e seus seguidores preferiram morrer a comer carne de porco, entre outras impurezas, porque criam que era o que Deus lhes havia instruído a fazer.

Comer comida "kosher" era uma forma de mostrar devoção e amor a Deus. A hesitação de Pedro era compreensível. Como judeu devoto a vida toda, sua resposta ao mandamento de comer de todas aquelas criaturas foi: "Eu nunca fiz isso e nunca vou fazer".

A voz do Céu o pressiona. A voz veio uma segunda vez: "Ao que Deus purificou, não faças tu impuro". (v. 15) A voz, que vinha de Deus, tenta explicar o propósito da experiência. Pedro, como um judeu piedoso, via a todos os animais fora da permissão da Lei como profanos e impuros. Deus, que deu a Lei, estava dizendo a Pedro que Ele havia purificado àquelas criaturas e que Pedro não mais deveria considerá-las impuras.

Fica implícito que Pedro se recusa uma segunda vez. Este diálogo ocorreu três vezes. Deus ordena, Pedro recusa.

Após a terceira recusa, imediatamente o objeto (o lençol cheio de porcos, serpentes, águias, etc.) foi elevado ao céu (v. 16).

Pedro fica intrigado quanto ao significado do transe nos versículos seguintes. Ele percebe que a ilustração não dizia respeito especificamente aos animais. Pelo contrário, tratava-se de pessoas. Deus não se importava tanto com os animais, ou se ele devia ou não comê-los. Deus se preocupava com o coração dos homens. E, aqui, Deus estava dizendo a Pedro e a todos os outros judeus crentes que Sua salvação seria estendida ao mundo além de Israel, a todos os gentios que cressem.

Isso era consistente com as Escrituras. Desde o início, Deus havia prometido que, por meio de Abraão, todas as nações seriam abençoadas (Gênesis 12:3). Porém, agora, havia uma nova era amanhecendo. Pedro não deveria mais considerar os gentios como impuros, pois a vontade de Deus era a de que todas as pessoas fossem purificadas de seus pecados. Deus desejava preencher a lacuna e, através da fé em Jesus, acabar com a separação entre elas e Ele (Salmos 67:2; 1 Timóteo 2:4).

Apenas alguns capítulos a seguir, veremos Pedro testemunhando que foi por meio dele que Deus havia aberto o caminho, pela primeira vez, aos gentios (Atos 15:7). Ele também proclamaria a respeito dos gentios: "Mas cremos que pela graça do Senhor Jesus seremos salvos, assim como eles" (Atos 15:11).

Ao detalhar o fato de que foi por meio de Seu principal apóstolo, Pedro, que Jesus abriu o caminho aos gentios, Lucas documenta a base para a autoridade de seu colega de ministério Paulo como apóstolo aos gentios (Romanos 11:13). Ele também documenta que Pedro endossou o fato de que todos os povos seriam salvos da mesma maneira: pela graça de Deus.

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