Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Atos 11:1-3

Críticos de Pedro. Os apóstolos e crentes da Judeia recebem a notícia de que os gentios em Cesaréia haviam recebido o Evangelho através de Pedro. Quando Pedro retorna a Jerusalém, alguns o confrontam por fazer algo errado, conforme sua análise. Eles criticam o apóstolo por ter-se associado a incircuncisos, especialmente por ter comido com eles.

O capítulo anterior registrou algo que mudou o mundo. O apóstolo Pedro pregou o Evangelho aos gentios e eles receberam o Espírito Santo. Um centurião do exército romano na Cesaréia chamado Cornélio, juntamente com seus amigos e parentes, tiveram a oportunidade de ouvir Pedro dizer-lhes que Jesus de Nazaré era o Filho de Deus. Eles ouviram que "por meio de seu nome, todo o que nele crê recebe remissão de pecados" (Atos 10:43).

Assim que Pedro apresentouo o Evangelho àqueles gentios, Cornélio e os outros romanos creram no nome de Jesus. Eles não precisaram gritar; algo aconteceu em seus corações: "Enquanto Pedro ainda falava essas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra" (Atos 10:44).

A razão pela qual este incidente mudou o mundo é o fato de Cornélio e seus amigos terem se transformado nos primeiros gentios a crerem em Jesus após Sua morte e ressurreição. Nos anos seguintes à ascenção de Jesus, Pedro e os outros apóstolos trabalharam exclusivamente pregando o Evangelho a judeus e semi-judeus (samaritanos). Porém, chegou a hora de o Evangelho se espalhar para além da Judéia, "até as extremidades da terra" (Atos 1:8).

Os apóstolos foram chamados por Jesus para "fazer discípulos de todas as nações" e “batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Em Atos 10, o capítulo anterior, os primeiros gentios se tornam crentes em Jesus e são batizados.

Aquele momento não aconteceu naturalmente, mas de forma sobrenatural. Pedro estava hospedado em Jope, uma cidade de Israel localizada na costa do Mediterrâneo, quando o Espírito Santo apareceu tanto a Cornélio quanto a Pedro, instruindo Pedro a viajar 45 quilômetros até a cidade portuária de Cesaréia, especificamente à casa de Cornélio, para pregar o Evangelho.

Antes disso, Pedro havia recebido uma visão, na qual Deus lhe ordenou que não visse mais os gentios como impuros ou separados do povo judeu. Jesus havia morrido por todo o mundo, não apenas pelos judeus (Colossenses 2:14). Pedro tomou um susto na visão, mas deu ouvidos às palavras do Senhor. Os crentes judeus que o acompanharam a Cesaréia ficaram perplexos quando o Espírito Santo desceu sobre os gentios (Atos 10:45-46). Os judeus não esperavam que Deus compartilhasse Sua graça com os gentios.

Esta foi uma tremenda mudança de paradigma para os judeus, ou seja, ver os gentios incluídos na graça de Deus. Não deveria ter sido algo tão surpreendente, já que Deus sempre chamou os gentios de volta a Ele em todo o Antigo Testamento, bem como durante o ministério de Jesus (Isaías 19:19-25; 56:6-8; Jonas 3:7-10; Daniel 4:34-35; Gênesis 15:16; 2 Reis 5:17; Mateus 8:10; 24:14; João 3:16; 12:32); assim, era algo ao qual os crentes judeus precisariam se adaptar. Inicialmente, eles tiveram que bater cabeça em relação ao que Deus estava fazendo. Eles estavam sendo desafiados por Deus a adotar uma nova perspectiva. Alguns conseguiram, outros não.

Aqui, em Atos 11, Pedro retorna a Jerusalém. Ele enfrentaria o mesmo preconceito interno contra os gentios ao qual ele e seus parceiros de ministério precisaram superar no capítulo anterior. Os crentes judeus em Jerusalém havia ouvido o que Pedro foi fazer em Cesaréia; eles ouviram sobre sua associação com os gentios "imundos". Na mente do povo judeu do século I, os gentios eram considerados como fora da aliança com Deus, profanos ou "imundos", da mesma forma que os alimentos proibidos eram vistos como impuros.

Pior ainda, para os crentes judeus, Cornélio era um centurião romano, um comandante de 100 soldados. Podemos especular que, do ponto de vista judaico, Cornélio não era apenas imundo, mas um perigoso representante do Império que estava massacrando ao povo escolhido de Deus, colocando os judeus sob pesado jugo.

A notícia da chegada dos gentios à fé em Jesus se espalhou pelo país: Os apóstolos e os irmãos que estavam na Judeia souberam que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus (v. 1). Não nos é dito como a rede de irmãos (crentes) soube que, agora, os gentios também haviam crido em Jesus.

É possível que o próprio Pedro tenha enviado mensagens a eles para celebrar essa nova inclusão. Ele provavelmente sabia que isso causaria um alvoroço entre os judeus; assim, ele poderia estar tentando se antecipar à controvérsia e preparar seus corações para o que estava por vir.

Pedro retorna a Jerusalém e é confrontado pelos judeus crentes pelo que havia feito: Quando Pedro subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão (v. 2).

As pessoas referidas aqui como “os que eram da circuncisão” eram crentes judeus, que, novos em sua fé em Cristo, ainda não tinham clareza sobre o quanto a graça de Deus havia mudado suas vidas. A circuncisão era um sinal físico da aliança entre Deus e Abraão, marcando a identidade judaica e sua separação dos não-judeus pela remoção do prepúcio dos homens (Gênesis 17:10-14). Porém, tal atitude não possuía, em si mesma, poder espiritual algum. De fato, em sua carta aos romanos, Paulo insiste que a circuncisão que realmente importava era a do coração (Romanos 2:29).

Aqui, em Atos 11, ainda havia uma vigorosa reverência à Lei de Moisés entre os da circuncisão. Eles criam em Jesus como seu Salvador e Messias enviado por Deus, mas também criam que seu serviço espiritual de adoração era obedecer à Lei Mosaica. Isso, claro, estava correto em certo sentido. Porém, Jesus havia vindo para cumprir a Lei (Mateus 5:17). Portanto, os judeus estavam sendo chamados a um padrão mais elevado de obediência, um padrão baseado na graça.

Os judeus ficaram surpresos porque esperavam que seu Messias fosse enviado apenas para eles, para sua libertação. A igreja (todos os crentes) era bastante jovem neste momento. Eventualmente, um Concílio seria estabelecido em Jerusalém, decidindo o que os crentes deveriam fazer em relação ao cumprimento da lei mosaica (Atos 15). Seria algo controverso, pois muitos pensavam que os crentes gentios deveriam ser obrigados a se circuncidar e obedecer à lei de Moisés (Atos 15:5).

A questão seria resolvida na declaração de que os crentes judeus poderiam continuar a manter os costumes religiosos judaicos, mas os crentes gentios, não. Aparentemente, nem todos os judeus concordaram com tal decisão. A partir daí, durante todo o ministério de Paulo, haveria um contingente de homens procurando fazer com que todos os crentes gentios se tornassem judeus de todas as maneiras imagináveis, fosse através da circuncisão ou aderindo às tradições religiosas judaicas. Algumas das epístolas de Paulo chegaram até nós, pelo menos em parte, porque ele lutou contra as autoridades judaicas que tentavam convencer aos gentios de que eles deveriam ser circuncidados (Romanos 4:9-10; Gálatas 5:1-21 Coríntios 7:18).

Durante todo o restante do Novo Testamento, esse grupo de crentes judeus que lutavam contra a mensagem da graça de Paulo aos gentios são referidos como os  “os da circuncisão” ou "o partido da circuncisão", em contraste com os gentios (Gálatas 2:12). Por causa deles, logo surgiria uma divisão entre esses grupos étnicos, na qual os crentes circuncidados fariam campanha para que os cristãos gentios fossem circuncidados e se convertessem ao judaísmo, dedicando-se à Lei Mosaica para se tornarem verdadeiramente "salvos" (Atos 15:1). Saulo (Paulo) lutaria contra esse falso Evangelho por toda a sua vida (1 Coríntios 7:18-19).

Paulo sempre apontava para a graça de Deus e para o Espírito Santo que habitava em todos os crentes como o meio pelo qual eles poderiam viver uma vida em harmonia com o (bom) desígnio de Deus. Paulo os chamaria a viver pelo desígnio de Deus de "justiça" e "paz", que refletia a noção judaica de "Shalom", onde todas as coisas operam em harmonia, conforme planejadas por Deus.

Paulo levaria os crentes a entender que estar em conformidade com a imagem de Cristo e alcançar a maior recompensa da vida vinha por meio de uma caminhada de fé, seguindo ao Espírito. Isso não deveria ser feito convertendo-se à tradição religiosa judaica. A fé nos rituais e regulamentos da Lei Mosaica era uma demonstração de fé em si mesmos. Paulo ensinaria aos crentes, em vez disso, a andarem em obediência ao Espírito de Deus, em uma relação pessoal e direta de fé em Cristo (Gálatas 3:25-26, Romanos 3:28,  Romanos 8)

No entanto, neste momento em Atos 11, os crentes circuncidados que confrontam a Pedro ainda não haviam mudado sua perspectiva. Eles estavam indignados simplesmente pelo fato de Pedro ter-se associado aos gentios; isso era uma violação da crença judaica de que eles deveriam permanecer separados do que é impuro. Eles não consideraram o fato de que Pedro havia pregado Jesus aos gentios. Os crentes judeus ficaram ofendidos por ele ter entrado na casa de Cornélio e comido com ele.

Sua maior contenda com Pedro era: "Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles" (v. 3). Na cultura judaica, compartilhar uma refeição era um ato íntimo de comunhão e unidade. Jesus usa o comer como um quadro de comunhão e unidade em Seu ensino aos crentes (Apocalipse 3:20). Portanto, sua atitude não era despropositada.

Os judeus consideram a refeição compartilhada por Pedro com os gentios como uma mistura com gente profana, pessoas comuns do mundo e de fora do povo escolhido de Deus. Tal crítica lembrava os fariseus julgando Jesus por comer com cobradores de impostos e pecadores (Mateus 9:10-13). Porém, Jesus respondeu comparando-se a um médico que viera dar remédio a pessoas doentes, não a pessoas "saudáveis", citando também o Antigo Testamento sobre as prioridades de Deus:

"Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar os justos, mas os pecadores" (Mateus 9:13).

Pedro estava simplesmente obedecendo à direção de Deus comendo com homens incircuncisos. Enquanto o povo judeu à época considerava os gentios como separados de Deus, isso era o oposto do que Jesus havia ensinado durante Seu ministério. Seu mandamento final, conhecido como a Grande Comissão, explicitamente orientava Seus seguidores a fazerem discípulos de "todas as nações" (Mateus 28:19-20). Nas Escrituras, “nações” é um termo referente aos gentios, ou seja, povos fora da tribo de Israel. Jesus veio para morrer por todos os homens, estendendo Sua salvação e justiça diante de Deus a todos os homens (João 1:29; 3:16-17; Colossenses 2:14).

A decisão de Pedro de obedecer à mensagem de Deus na visão e de pregar o Evangelho aos gentios abriu as portas para as viagens missionárias do apóstolo Paulo às nações gentias. Isso promoveu a comissão de Cristo para que as pessoas em todo o mundo se reconciliassem com seu Deus Criador (Mateus 28:19). Este é o início da trajetória da igreja - uma comunidade global de crentes em Jesus onde a unidade espiritual supera todas as distinções étnicas:

"Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).

Select Language
AaSelect font sizeDark ModeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.