AaSelect font sizeSet to dark mode
AaSelect font sizeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
Significado de Atos 8:14-25
As notícias sobre a propagação do Evangelho chegaram a Jerusalém: Ora, quando os apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria havia recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Os apóstolos eram os únicos crentes que haviam permanecido em Jerusalém, enquanto o resto da igreja havia se dispersado devido à perseguição de Saulo (v. 1). Alguns crentes devem ter retornado para informar aos apóstolos sobre o que estava acontecendo com a igreja dispersa. Quando os apóstolos souberam que o povo de Samaria havia recebido a palavra de Deus e passaram a crer em Jesus, eles enviaram dois apóstolos para visitar essa igreja nascente. Pedro e João foram lá por um motivo específico: pedir a Deus que desse o Espírito Santo aos samaritanos.
ACEITAÇÃO DOS SAMARITANOS
O fato de João ter sido um dos apóstolos enviados a Samaria é algo notável. Em Lucas 9, ele e seu irmão Tiago haviam perguntado a Jesus se deveriam pedir fogo do Céu para destruir uma aldeia samaritana por ter insultado a Jesus (e, possivelmente, devido ao seu preconceito anterior em relação aos samaritanos). Jesus responde que tinha um plano melhor para os samaritanos, dizendo: "O Filho do Homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los" (Lucas 9:56). Agora, vemos a mudança em João.
João não desejava mais ver a ira de Deus e a destruição dos incrédulos. Agora, ele deseja vê-los salvos, sendo cheios do Espírito e vendo Deus operando em suas vidas.
Diz-se sque Pedro e João descem para Samaria, embora Samaria estivesse ao norte de Jerusalém, porque Jerusalém era uma cidade sobre colinas e estava num lugar mais alto do que a maioria das localidades em Samaria, particularmente ao longo da costa.
João e Pedro chegam a Samaria e oram pelos novos crentes para que recebessem o Espírito Santo. Estes são os primeiros crentes em Cristo desde Sua ressurreição que não eram totalmente judeus. O Espírito Santo ainda não havia vindo sobre nenhum dos samaritanos; eles tinham simplesmente sido batizados em nome do Senhor Jesus.
Enquanto oravam pelos samaritanos, Pedro e João começaram a impor suas mãos sobre eles e eles recebem o Espírito Santo.
A imposição de mãos na Bíblia muitas vezes sinaliza uma transferência sacerdotal de algum tipo. Transfere culpa em Levítico 1:4, 3:2, 4:15, etc. Em 1 Timóteo 5:22 é uma transferência de responsabilidade. Jesus muitas vezes curava fisicamente as pessoas ao tocá-las (Mateus 8:3).
Atos 8 é um momento único em que os apóstolos impõem as mãos sobre as pessoas (samaritanos) para que recebessem o Espírito Santo. Isso não era algo que "normalmente" acontecia. Talvez isso tenha ocorrido para mostrar como, neste momento da história, os apóstolos eram aqueles a quem o Evangelho havia sido confiado. Essa ação e sua presença indicavam a autoridade dos apóstolos registrada em Mateus 28:18-20, demonstrando poderosamente que os samaritanos haviam de fato recebido legitimamente o Espírito Santo com a aprovação dos apóstolos para que ninguém pudesse negar ou descartar o que estava acontecendo entre os eles. Talvez a presença dos apóstolos afirmasse que os samaritanos haviam recebido o Espírito Santo e estavam tão "em Cristo" quanto os judeus. Não havia distinção entre esses grupos, como vinha sendo o caso há séculos (Gálatas 3:28).
À primeira vista, pode parecer estranho que o Espírito Santo ainda não tivesse vindo sobre nenhum desses novos crentes. As subseções de comentários a seguir tentam contextualizar o estado dessa geração do povo judeu. Como povo da aliança de Deus, havia várias distinções importantes no que Deus exigia deles para a reconciliação, em contraste com a recepção do Evangelho pelos gentios nos capítulos posteriores.
A GERAÇÃO AMALDIÇOADA
Nos primeiros nove capítulos de Atos, o Espírito Santo não veio sobre os crentes judeus até depois do seu arrependimento e batismo. Isso porque aquela geração de judeus estava sob uma maldição colocada sobre eles por Jesus. Jesus advertiu repetidamente àquela geração quanto a sua atitude impenitente (Mateus 12:41) e sua corrupção e falta de fé (Mateus 17:17). Antes do início do ministério de Jesus, João Batista havia começado a levar o povo judeu ao arrependimento por meio do batismo nas águas, visando conduzi-los a rejeitar a seus líderes corruptos (os fariseus e os saduceus) e se identificar com o Senhor Deus, preparando-se para o Messias que os batizaria com o Espírito Santo (Mateus 3:11).
Em Mateus 23, Jesus pronuncia desgraças e julgamento contra os líderes de Israel que O rejeitaram. Ele conclui colocando uma maldição sobre os judeus daquela geração que havia rejeitado ao Messias durante Seu ministério (e logo O rejeitariam totalmente, crucificando-O). A maldição de Jesus os torna culpados não apenas por rejeitá-Lo; aplica-se também a eles a culpa de todos os que eles haviam perseguido antes como mensageiros de Deus:
"Para que caia sobre vós a culpa de todo o sangue justo derramado na terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Berequias, que assassinaste entre o templo e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas virão sobre esta geração" (Mateus 23:35-36).
Esta maldição estava de acordo com a aliança feita entre Deus e o povo judeu. Ao estabelecer a aliança, Deus declara que abençoaria a obediência e amaldiçoaria a desobediência (Deuteronômio 28:1, 15). Uma das maldições prometidas para a desobediência era que Deus enviaria exércitos estrangeiros para atacar Israel e sitiar suas cidades (Deuteronômio 28:49, 52).
No capítulo seguinte, Jesus sugere qual seria o julgamento para aquela geração, enquanto Ele e Seus discípulos partiam do templo em Jerusalém:
"Não vedes todas essas coisas? Em verdade vos digo que não será deixada pedra sobre pedra que não seja derrubada" (Mateus 24:2)
A IRA QUE ESTÁ POR VIR
Uma geração, pelos cálculos bíblicos, é de quarenta anos, assim como os israelitas foram exilados no deserto por quarenta anos para que a geração antiga (todos com 20 anos ou mais) morresse, para que uma nova geração pudesse entrar na Terra Prometida (Números 14:28-29). Depois da maldição de Jesus, Deus deu ao povo judeu 40 anos para se arrependerem de sua corrupção e por terem matado ao Messias. Jesus começou Seu ministério em 30 d.C. Quarenta anos depois, o general romano Tito sitiaria Jerusalém em 70 d.C. e destruiria o templo. De acordo com o historiador Josefo, Tito matou 1.100.000 judeus durante o cerco e saque (Deuteronômio 28:49-50, 52).
Esta era a "ira vindoura" sobre a qual João Batista estava alertando o povo judeu (Mateus 3:7). Era uma ira temporal, um julgamento que seria sentido aqui e agora por uma determinada ofensa. A ira de Deus é derramada, em muitos casos, devido aos pecados particulares de determinadas gerações ou pessoas (para citar alguns exemplos: o Dilúvio - Gênesis 6:17-18, o Exílio do Deserto - Números 14:28-29, o Exílio Babilônico - Esdras 5:12, ou a rendição de indivíduos a seus desejos pecaminosos - Romanos 1:18,,, 242628).
ARREPENDIMENTO E BATISMO
Em relação ao batismo, se um gentio quisesse se tornar judeu, um dos requisitos era ser batizado nas águas. Se um judeu quisesse se desassociar do judaísmo corrupto, ele tinha que ser batizado nas águas. Ambos os atos eram exemplos de que aquele que estava sendo batizado estava se desassociando de sua antiga identidade (como pagão ou por seguir uma forma incorreta de judaísmo), identificando-se a partir de então com Deus. Era uma demonstração pública de alinhamento e submissão a Deus.
Os judeus da geração que havia rejeitado ao Messias não podiam receber o Espírito Santo até que fossem batizados nas águas. No Pentecostes, Pedro convence a vários milhares de judeus de sua culpa em rejeitar ao Messias e eles perguntam o que deveriam fazer para corrigir seu erro. Pedro lhes diz:
"Arrependei-vos, e cada um de vós será batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38)
Pedro pregou isso para que eles "fossem salvos desta geração perversa" (Atos 2:40) e a ira vindoura de Deus. O que eles precisavam fazer para corrigir seu percurso foi descrito nesta ordem: arrepender-se (rejeitar o pecado e voltar à comunhão com Deus), ser batizado em nome de Jesus Cristo (o que os identificaria como seguidores do Messias, que os perdoaria de seus pecados iniciais de rejeitá-Lo) e só então receberiam o dom do Espírito Santo.
Os samaritanos, sendo meio judeus, estavam sob a mesma maldição; assim, eles primeiro creram, se arrependeram e foram batizados, antes que o Espírito viesse até eles aqui em Atos 8. Há apenas quatro exemplos bíblicos de crentes que receberam o Espírito Santo após sua declaração de fé inicial em Jesus (Atos 2, 8, 9 e 19). Cada um desses casos diz respeito a crentes judeus ou semi-judeus. Como tal, os samaritanos haviam caído sob a maldição e precisavam de arrependimento e batismo nas águas (Atos 2:38-40).
OS GENTIOS E O ESPÍRITO SANTO
Este não era o caso dos crentes gentios. Até este ponto, Atos não fez menção alguma aos gentios que haviam crido em Jesus. O ministério do Evangelho veio primeiro para os judeus e agora para os samaritanos (Atos 1:8). Pedro esperava que, se toda a nação de Israel se arrependesse de sua rejeição ao Messias, Jesus voltaria e começaria Seu reinado terreno (Atos 3:19-21).
Em mais alguns capítulos, o Evangelho finalmente chegaria aos gentios. Um centurião romano, Cornélio, e seus amigos e parentes, crerão em Jesus. Cornélio é o protótipo da salvação dos gentios. Porém, o recebimento do Espírito Santo é diferente para os gentios em relação aos judeus. No modelo gentio, após a fé em Jesus, o Espírito Santo era derramado sobre os crentes. Somente depois os crentes eram batizados (Atos 10:43-48). Também não havia exigência de arrependimento. Por que os gentios recebiam ao Espírito Santo no momento em que criam? Porque nunca estiveram sob a maldição de Jesus (Mateus 23:35-36).
Os judeus e samaritanos eram chamados ao arrependimento e ao batismo para que fossem resgatados da geração perversa e da ira de Deus. Só então recebiam o Espírito Santo.
O ERRO DE SIMÃO, O MÁGICO
Aqui em Atos 8, o Espírito desce sobre os samaritanos crentes depois que Pedro e João oram por eles. Simão, o Mago, observa essa ocorrência. Ele havia sido um homem célebre em Samaria, mas agora era um crente em Jesus. Antes de Filipe, o evangelista, vir à cidade e pregar sobre Jesus, Simão era chamado de "o Grande Poder de Deus". Ele realizava atos que surpreendiam aos samaritanos, mas Filipe chegou e começou a curar paralíticos e a expulsar demônios. Simão ficou maravilhado com aqueles verdadeiros milagres. Depois de ser batizado, Simão seguiu a Filipe para observar os "sinais e grandes milagres que estavam acontecendo" (v. 13), quase como um aprendiz que desejava aprender com seu mestre.
Agora, quando Simão viu que o Espírito foi concedido através da imposição das mãos dos apóstolos, sua reação é a de tentar recuperar seu poder, um poder que ele não tinha anteriormente, mesmo quando era chamado de "o Grande Poder de Deus" em Samaria (v. 10). Ele aparentemente não buscou o poder do Espírito Santo, talvez porque viu que aquele poder estava sendo dado a todos os crentes. Em vez disso, ele queria o poder de dar o Espírito Santo às pessoas, que parecia ser um "poder" exclusivo que só os apóstolos tinham.
Ele pode ter visto isso como uma oportunidade de negócio. Ele podia retomar suas habilidades mágicas por dinheiro; assim, ele presume que seria o mesmo processo para essa nova fonte de poder. Este é o caminho do mundo. Em seu pensamento falho como mago, ele provavelmente via o Espírito Santo como um poder sobrenatural que podia ser controlado, comandado e explorado. Embora ele cresse em Jesus, ele ainda tinha o modelo mental de seu antigo estilo de vida de feitiçaria, desejando exercer poder sobre as pessoas. Sua mente ainda não estava renovada a esse respeito.
Havia evidências claramente tangíveis de que o Espírito descia sobre cada crente assim que os apóstolos oravam por eles, porque Simão, como um bom observador, podia ver que o que eles oravam realmente acontecia. Sabemos que o Espírito desceu sobre os discípulos com um vento forte e línguas de fogo visíveis sobre suas cabeças em Pentecostes (Atos 2:2-3). Algo semelhante pode ter acontecido aqui.
Simão, vendo o Espírito cair sobre todos os que recebiam a imposição de mãos dos apóstolos, aproxima-se deles e oferece-lhes dinheiro, dizendo: "Dai-me também esta autoridade, para que todos os sobre os quais imponho as minhas mãos recebam o Espírito Santo".
Era assim que ele entendia o poder sobrenatural, como algo a ser comprado. Pode ter sido assim que ele havia recebido seus poderes como mágico. Ele pode ter raciocinado que, uma vez que tivesse poder para distribuir o Espírito, poderia reiniciar sua carreira e cobrar de outras pessoas que quisessem receber o Espírito.
Seu pensamento era completamente errado. Pior, o que ele pedia era algo mau e destrutivo, fundamentalmente oposto aos desígnios de Deus. A graça de Deus era dada gratuitamente, algo que já foi pago integralmente por Jesus. Uma das principais razões pelas quais Deus envia aos crentes o Espírito Santo é para que eles tenham um Ajudador que os levará a caminhar em sintonia com o que é melhor para eles, visando cumprir a lei de Deus de "amar ao próximo como a si mesmos" (João 14:26). Simão provavelmente esperava usar o Espírito como caixa registradora, como havia feito no passado. Ele estava acostumado a explorar as pessoas, aliciando-as a comprar o favor e o poder de Deus. Na realidade, o dom do Espírito de Deus é exatamente isso — um dom. O Espírito Santo que habita em todos os crentes como guia não pode ser comprado.
O termo "simonia" originou-se a partir desse homem. Simonia é quando alguém tenta comprar uma posição de poder em uma igreja, ou algum favor de Deus. O conceito de indulgências na Idade Média apontava para esta prática, a venda do perdão de Deus aos pobres e analfabetos. Simão estava tentando comprar seu caminho para o apostolado.
Pedro responde à oferta de Simão com uma forte repreensão: "Que a tua prata pereça contigo, porque pensaste que podias obter o dom de Deus com dinheiro! A ideia de que o dom de Deus podia ser comprado com prata é escandalosamente ofensiva a Pedro. Sua resposta é propositalmente dura, visando acabar com a menor noção de que qualquer um possa obter o dom do Espírito Santo com dinheiro. Isso é loucura mundana e pagã.
Pedro está dizendo algo muito radical aqui em oposição à cultura da época (e até dos nossos dias). Qualquer um que conseguisse atrair multidões com poderes (seja de persuasão, malandragem ou de forma satânica) naturalmente procurava lucrar com seu status. Até mesmo os fariseus exploravam aos pobres de sua época (Lucas 20:47). Pedro, no entanto, diz: "Se é com isso que você se importa, você e sua prata devem ser destruídos. Seu conceito do que importa deve perecer - deve morrer. Você não pode comprar nada de Deus. Seu dinheiro é inútil em Seu Reino. Vai morrer com você. Você não vai levá-lo ao céu."
Pedro havia aprendido isso com o próprio Jesus, que ensinou os discípulos a alcançar recompensas no Céu, em vez de se esforçarem por ganhos terrenos e fugazes:
"Não guardeis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas guardai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, lá estará também o teu coração". (Mateus 6:19-21)
Pedro aborda a condição do coração de Simão, corrigindo as prioridades do mago: Não tendes parte ou porção neste assunto, pois teu coração não está certo diante de Deus.
Ele diz isso não apenas para humilhar ao jovem crente, mas para reorientá-lo para a comunhão com Deus. O coração de Simão claramente não estava certo diante de Deus, e a primeira coisa que ele precisava entender era que ele não tinha parte ou porção na questão de orar para que o Espírito Santo viesse sobre os crentes em Jesus. Este não era o chamado de Simão. Ele não era apóstolo. Ele não conseguiria fazer isso. Deus não lhe concederia poderes especiais para seu próprio benefício. Ele estava completamente errado em seu coração, em sua ambição de prestígio mundano.
Pedro dá a Simão o antídoto para o estado tortuoso de seu coração: Portanto, arrepende-te dessa maldade e ore ao Senhor para que, se possível, a intenção do teu coração lhe seja perdoada. Pois vejo que estais no fel da amargura e na escravidão da iniquidade.
Pedro declara que Simão estava no fel da amargura. Ambas as palavras, fel e amargura, comunicam algo ácido, ardente, desagradável, como a bile no estômago. Pedro estava dizendo a Simão que ele estava cheio de pecado, saturado de corrosão. Todo crente recebe uma nova natureza ao receber o novo nascimento (2 Coríntios 5:17). Porém, eles ainda têm sua antiga natureza, à qual Paulo chama de "carne" (Gálatas 5:16-17). A maneira de Pedro descrever a "carnalidade" de Simão é: fel da amargura e escravidão da iniquidade.
Pedro exorta Simão a arrepender-se daquela maldade, o desejo de comprar o poder de Deus. Arrepender-se (em grego, "metanoeō") é mudar de ideia sobre algo. Arrepender-se de um pecado significa simplesmente decidir: "Isso está errado, eu não quero isso, quero honrar a Deus e seguir Seus caminhos". No contexto aqui, essa mudança de mentalidade inclui a seguinte ideia: "Não quero mais viver como escravo do pecado e ter a morte como recompensa, quero viver como livre e escolher a vida". Parte desse aspecto do arrependimento é escolher uma visão diferente do pecado. Em vez de enxergar o pecado como algo que lhe faria bem, Pedro exorta Simão a reconhecer que viver como escravo do pecado, ceder à ganância e à busca de si mesmo era, na verdade, escolher a autodestruição. Em vez disso, Pedro desejava que Simão reconhecesse que a maior recompensa na vida é conhecer a Deus (João 17:3). Nesta vida, a principal oportunidade de se conhecer a Deus é conhecê-Lo pela fé, o único caminho para se obter a aprovação de Deus (Hebreus 11:6).
Simão era um jovem crente e a feitiçaria era seu único meio de ganhar dinheiro e atenção. Pedro, com amor e severidade, estava lhe apresentando um novo despertar: se ele realmente desejasse andar em liberdade em vez de escravidão ao pecado, ele deveria desistir da magia, desistir de tentar comprar poder para explorar as pessoas. Deus o estava chamando para uma nova vida, dando-lhe um novo poder para servir as pessoas. Servir é experimentar a vida e libertar-se da amargura, do fel e da escravidão da iniquidade. Pedro estava convidando Simão a deixar para trás sua vida de exploração.
As instruções de Pedro são claras: Arrepende-te dessa iniquidade e ore ao Senhor para que, se possível, perdoe a intenção do teu coração. Peça perdão, diga a Deus que você estava errado, que seu coração, suas intenções, sua ambição mundana estavam todas erradas. Se Simão pedisse perdão a Deus, a intenção de seu coração seria perdoada. Pedro o convida a escolher entre duas alternativas.
A expectativa era a de que, caso Simão se arrependesse, seria perdoado. Se não se arrependesse, não seria perdoado. Pedro havia aprendido este princípio com Jesus, pois este era o ponto principal da oração do Pai Nosso — alcançamos o perdão de Deus quando pedimos perdão e quando perdoamos aos outros (ver comentário sobre Mateus 6:9-15). No entanto, ninguém pode exigir nada de Deus. Portanto, o perdão de Deus é sempre um ato de misericórdia. Deus é o juiz dos corações dos homens.
Pedro conclui sua repreensão enfatizando novamente a Simão a extensão de seu erro, o estado horrível de seu coração e a maldade de suas prioridades. Com a perspicácia dada por Deus, Pedro olha para o coração de Simão, dizendo: Porque vejo que estás em fel da amargura e em escravidão da iniquidade.
A escravidão da iniquidade é algo verdadeiro em todo ser humano, crente e descrente. Para os incrédulos, não há nada que eles possam fazer para se libertar dessa escravidão ao pecado. A palavra “iniquidade” (em grego, "adikia") significa injustiça, ou seja, estar errado, incorreto, contrário ao desígnio perfeito de Deus. Somente crendo na morte e ressurreição de Jesus Cristo podemos ser libertos da escravidão do pecado (Romanos 6:6). Mesmo que qualquer pecado cometido pelos crentes já tenha sido pregado na cruz e perdoado (Colossenses 2:14), andar em pecado nos faz viver como escravos do pecado.
Para os crentes, somos libertos, mas nossa velha natureza permanece. Fomos libertos da escravidão que leva à morte, mas devemos fazer escolhas e viver nossa liberdade em obediência a Deus, em vez de obedecermos à nossa velha natureza pecaminosa, caso desejemos experimentar a vida. O apóstolo Paulo registra isso em Romanos 6:16:
"Não sabeis vós que, quando vos apresentais a alguém como escravos para obediência, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer do pecado que resulta em morte, quer da obediência que resulta em justiça?"
Imagine viver uma vida inteira em uma gaiola e, um dia, alguém quebrar a fechadura e abrir a porta. Como crentes, enfrentamos a escolha, momento a momento, de sair da jaula e viver livremente. Quando escolhemos o pecado, nos recolhemos de volta àquela jaula, àquela escravidão, ignorando a liberdade que poderíamos desfrutar lá fora. Quando retornamos à jaula, perdemos todas as oportunidades que poderíamos ter tido; as oportunidades morrem.
O argumento de Paulo é simples: "Por que viver como escravo (do pecado), que traz a morte, quando somos livres para escolher a vida?"
Essa batalha entre nossa nova natureza e nossa velha é contínua, conforme Paulo explicita em sua carta aos Gálatas:
"Mas eu digo: andai em Espírito, e jamais realizareis os desejos da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; porque estes são opostos entre si, para que não façais as coisas que vos aprazem" (Gálatas 5:16-17).
A resposta de Simão ao chamado de Pedro ao arrependimento é positiva. Ele não discute, não zomba. Ele reage, com razão, com temor. O temor de Deus: Mas Simão respondeu e disse: "Orai ao Senhor por mim, para que nada do que dissestes venha sobre mim".
Ele vê que os apóstolos são representantes de Deus, que por seu pedido o Espírito descia e passava a habitar nos samaritanos, e que Pedro podia ver seu coração. Assim, ele implora que eles orem ao Senhor em seu favor. Ele deseja a intercessão deles. Pedro lhe diz para se arrepender e sua resposta pode ser vista como o primeiro passo para esse arrependimento. Simão era, afinal, um novo crente. Ele tinha muito a aprender e muito a desaprender. Simão estava no mínimo convencido e abandona a ideia de comprar o poder de Deus. Ele não deseja perecer. A este respeito, ele tem uma compreensão precisa, que o pecado leva à separação/morte. Ele não deseja permanecer no fel da amargura e na escravidão da iniquidade. Ele não quer que nada do que Pedro disse venha sobre ele. Claramente ele muda de ideia, o que faz parte do processo de arrependimento.
Simão, o Mago, não mais aparece em nenhuma outra escritura; assim, não sabemos como sua vida terminou. Lucas, o autor de Atos, termina sua história e nos mostra um Simão rendido a Deus depois que os apóstolos o confrontam. É um exemplo de que o Evangelho havia chegado a uma cultura espiritualmente morta. Eles levaram o Espírito Santo aos primeiros crentes que não eram totalmente judeus, acabando com as antigas formas de magia e exploração daquela cultura. O dom de Deus é gratuito, não pode ser comprado com dinheiro. Simão cede à liderança e instrução dos apóstolos.
Depois dessa repreensão, os apóstolos voltam para Jerusalém, mas aproveitam para pregar sobre a salvação em Jesus ao longo do caminho: Então, quando testificaram solenemente e falaram a palavra do Senhor, eles começaram a voltar para Jerusalém e pregavam o Evangelho para muitas aldeias dos samaritanos. Muitas vezes os judeus evitavam andar pela Samaria, a fim de evitar ser contaminados pela interação com os desprezados samaritanos. Aqui, os apóstolos intencionalmente caminham por Samaria e pregam o Evangelho aos samaritanos enquanto passam pelas muitas aldeias ao longo da estrada para Jerusalém.
O Evangelho estava se espalhando, embora Saulo e os fariseus tenham dispersado a assembleia de crentes de Jerusalém. Os apóstolos não vacilam, mas obedecem fielmente à comissão de Jesus de ser Suas "testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até mesmo na parte mais remota da terra" (Atos 1:8). Embora Samaria fosse culturalmente ofensiva, os apóstolos obedeceram e não a deixaram de fora. Nisso eles estavam andando no caminho de Deus, pois Deus não mostra parcialidade a ninguém (Deuteronômio 10:17; Atos 10:34).
Esta história de Simão, o Mago, começara com Filipe, o evangelista sendo o instrumento de sua conversão (Atos 8:13). Filipe ainda tem trabalho a fazer nos versículos seguintes. Parece que ele voltou para Jerusalém com os apóstolos, pregando o Evangelho nas muitas aldeias ao longo do caminho, porque no versículo 26, ele recebe a mensagem de um anjo para viajar pela estrada de Jerusalém a Gaza, o que implicava que Jerusalém é seu ponto de partida na seção a seguir.