Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Deuteronômio 13:1-5

Para fazer cumprir o segundo dos Dez Mandamentos, Moisés ordena aos israelitas que executem a qualquer falso profeta que tente seduzi-los a servir a outros deuses, a fim de expurgar o mal do meio deles.

O segundo dos Dez Mandamentos diz:

"Não farás para ti um ídolo, nem qualquer semelhança do que está no céu acima ou na terra embaixo ou na água debaixo da terra. ' Não os adorarás nem os servirás; porque eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus ciumento, visitando a iniquidade dos pais sobre os filhos, e sobre a terceira e a quarta gerações daqueles que Me odeiam, mas mostrando bondade a milhares, aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos" (Deuteronômio 5:8-10).

O primeiro cenário relevante que Moisés aborda aqui é se um profeta ou um sonhador surgir entre vós. O termo traduzido como “profeta” aqui é "nābî'" e o significado primário da palavra é "proclamador" ou "anunciador". Descreve uma pessoa que era porta-voz de Deus para Seu povo. O termo pode ser usado para profetas verdadeiros e falsos (Jeremias 6:13; 26:7-8; 27:9; 28:1Zacarias 13:2). O fato de Moisés apresentar um cenário em que um falso profeta surge entre vós [Israel] provavelmente indica que esse profeta era um israelita, não um cananeu.

Talvez uma das declarações mais impactantes sobre a natureza da inspiração profética no Antigo Testamento venha do livro de Números. Neste livro, lemos: "Ele [o SENHOR] disse: 'Ouvi agora as minhas palavras: Se houver um profeta entre vós, eu, o SENHOR, far-lhe-ei conhecer numa visão. Farei com ele em sonho" (Números 12:6). Essas declarações mostram que Deus se revelava aos seres humanos através de sonhos e visões nos tempos do Antigo Testamento.

O outro grupo aqui mencionado é o sonhador. Esta é mais uma descrição de um profeta porque o SENHOR se comunicava com os profetas muitas vezes por meio de sonhos (Números 12:6).

O cenário começa quando os profetas ou sonhadores dão um sinal ou uma maravilha. Um sinal ou uma maravilha refere-se a um evento visível extraordinário, muitas vezes na natureza, que pode ser percebido como uma ação milagrosa do SENHOR dentro da história (Deuteronômio 4:34; 6:22). O profeta ou sonhador traria o sinal, provavelmente referindo-se a uma previsão. O sinal ou maravilha que se tornasse realidade autenticaria tanto a mensagem quanto a afirmação do profeta de ser o representante de uma divindade (Êxodo 4:21Isaías 8:19Atos 2:22;  2 Coríntios 12:12; Hb. 2:4).

Em Deuteronômio 18:22, o Senhor dirá a Israel que, se um profeta faz uma previsão e ela não se concretiza, isso demonstra que ele não é realmente um profeta, e a nação não deve ouvi-lo ou respeitá-lo como tal. Não é o caso aqui. Neste caso, o sinal ou a maravilha se torna realidade (v.2). Isso significa que se trata de alguém que merece respeito como profeta. A pergunta, então, permanece: "Profeta de quem?"

O teste fornecido aqui está no conteúdo da mensagem do profeta. Se o profeta exorta o povo a servir ao Senhor Susserano, então ele ou ela é um verdadeiro profeta. No entanto, se a mensagem do profeta, mesmo quando apoiada por relatos de testemunhas oculares em relação a algum evento fenomenal, encoraje as pessoas a se afastarem de servir e adorar o SENHOR, dizendo: “Vamos atrás de outros deuses (que você não conheceu) e vamos servi-los”, então esta pessoa é um falso profeta. Ser profeta verdadeiro ou falso não dependia apenas da demonstração de sinais —dependia também de a mensagem ser consistente com outras verdades reveladas das Escrituras.

Isso indica que o sinal ou a maravilha pode ocorrer pelo truque de um ilusionista/mago, ou pode ser obra de Satanás (2 Tessalonicenses 2:9). Lembre-se de que os magos do Faraó foram capazes de replicar algumas das pragas no Egito (Êxodo 7:11, 22, 8:7), mas não todas (Êxodo 8:18s). Isso pode ser algo muito persuasivo quando visto com os próprios olhos. Seria muito tentador seguir alguém que tenha acabado de realizar uma maravilha. Eles parecem ser autenticamente ordenados por Deus. Seria tentador segui-los mesmo quando dizem: “Vamos atrás de outros deuses (que você não conheceu) e vamos servi-los”. Porém, qualquer profeta que ensinasse os israelitas a servir a deuses que não fossem o SENHOR era um falso profeta.

Moisés, então, instrui o povo a não ouvir as palavras daquele profeta ou daquele sonhador (v.3). Mesmo que tal profeta realizasse maravilhas que parecem autenticar sua autoridade, os israelitas deveriam ignorar suas palavras caso ele os encorajasse a se afastar de sua fé.

Alguém poderia perguntar por que o SENHOR permitiria que um falso profeta realizasse sinais e maravilhas, sabendo que isso poderia resultar na infidelidade de Seu povo. Moisés responde a esta pergunta (não declarada) afirmando que, se isso ocorrer, o SENHOR, seu Deus, os está testando. Aparentemente, neste caso, o Senhor coloca testes para ver se as pessoas confiarão no que conhecem sobre Deus, ou se confiarão no que vêem apenas por que é algo deslumbrante diante de seus olhos. O verbo “testar” (hebraico "nāsâ") refere-se a uma experiência destinada a revelar o caráter ou integridade de alguém. Neste caso, Moisés afirma claramente que a razão para o teste era descobrir se o povo amava ao SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração e de toda a sua alma.

A palavra “coração” descreve a sede do intelecto, da vontade e das emoções. Isso indica que o SENHOR esperava que Israel colocasse Sua palavra em seus corações e agisse de acordo com ela, compreendendo-a intelectualmente e tomando decisões intencionais e deliberadas com base no que sabem ser verdade. Desta forma, eles seriam capazes de discernir e evitar o mal.

A palavra “alma (hebraico "nephesh") refere-se à parte invisível e espiritual do homem representada pelo fôlego de vida (Gênesis 2:7). É o espírito da vida alojado dentro do corpo (Gênesis 35:18). Como tal, os termos coração e alma poder ser usados aqui para descrever todo o ser humano, tanto físico quanto espiritual. Assim, o SENHOR estava testando Seu povo para ver se O serviriam com toda a sua vida.

Moisés, então, lista seis requisitos específicos visando instruir os israelitas sobre o que significava amar ao SENHOR, seu Deus, de todo o coração e de toda a alma. Esses requisitos, prescritos para encorajar os israelitas a viverem como vassalos leais a seu Deus Suzerain (Governante), são dados da seguinte forma:

(a) Os israelitas deveriam seguir ao SENHOR, seu Deus. Isso pode ser traduzido como "andar segundo o SENHOR, seu Deus". Seguir ou caminhar significa agir. Os mandamentos de Deus não se limitam a atos religiosos, eles se destinam a serem aplicados a todas as áreas de nossas vidas, em todos os momentos. No Novo Testamento, os crentes são instruídos a renovar suas mentes (Romanos 12:1-2) e andar segundo o Espírito (Gálatas 5:16). Seguir ao Senhor significa meditar e decidir transformar Seus caminhos em nossos caminhos e tomar decisões intencionais em todas as áreas da vida de forma consistente com Suas orientações. Uma vez que Deus fez o mundo e todos os aspectos de causa e efeito, e uma vez que Ele deseja o melhor para Seus filhos, andar em Seus caminhos será sempre a melhor decisão de longo prazo.

(b) Os israelitas receberam o mandamento de temê-Lo. Temer significa ter preocupações significativamente sérias com as consequências dos nossos comportamentos. Tememos (obviamente) quando um caminhão se aproxima porque ele pode nos matar. O temor adequado significa se importar mais com o que Deus pensa e diz, e se Ele aprova nossos comportamentos (Deuteronômio 5:29; 6:2, 13).

Nós, seres humanos, somos propensos a temer a maioria das coisas que vemos e sentimos. Por exemplo, somos propensos a temer mais as pessoas do que a Deus. Temer a Deus acima de tudo nos liberta de muitas maneiras, incluindo da escravidão de tentarmos agradar os outros (por sua natureza, impossíveis de serem agradados plenamente). A Bíblia deixa claro que temer ao SENHOR é o fundamento para a sabedoria, que é a habilidade de viver bem a vida (Provérbios 1:7Salmos 111:10). O temor se aplica a consequências positivas e negativas. Podemos temer perder grandes bênçãos. Esta é uma das partes igualmente relevantes da mensagem bíblica sobre o temor. Em Êxodo 20, o povo foi instruído a não temer a morte, mas temer o pecado. O pecado é o maior gerador de perdas. Em Deuteronômio 30, Moisés estabelece uma escolha clara e binária sobre como viver: bênção ou maldição. Temer a Deus é temer tanto as consequências adversas sdas más escolhas quanto a perda das bênçãos.

(c) O povo de Deus deveria guardar Seus mandamentos. Guardar os mandamentos de Deus significa obedecê-Lo, fazer o que Ele exige de nós. Este é o meio para garantir bênçãos e evitar maldições. Nossas ações têm consequências e Deus nos diz antecipadamente quais ações são benéficas para nós. O estilo de vida pagão explora as pessoas e procura satisfazer a seus próprios apetites às custas dos outros. Isso leva à decadência social, bem como à decadência em nossas próprias almas. O caminho de Deus é buscar o melhor e servir ao próximo. Isso leva ao benefício coletivo, bem como à realização dentro de nós mesmos.

(d) O povo de Deus foi convidado a ouvir a Sua voz. Os israelitas tiveram o privilégio de ser os destinatários da comunicação do Senhor aos seres humanos. Aqui, eles recebem a ordem de ouvir ("obedecer") a essa voz que continha orientações e preceitos. Deus, o Criador, criou a todas as relações de causa e efeito no mundo e instrui Seu povo a como navegar por elas para seu próprio bem. Porém, a instrução de Deus não produz nenhum benefício se não for ouvida.

(e) O povo de Deus também deveria servi-Lo e não aos deuses dos cananeus, assim como afirma o segundo mandamento (Êxodo 20:5). Os israelitas receberam a ordem de fazer oferendas a Deus e somente a Deus, a fim de servi-Lo como vassalos leais. Ao servirem como Seus vassalos leais, eles obterão os grandes benefícios de Seus bênçãos.

(f) O povo de Deus recebeu a ordem de se apegar a Ele. O verbo “apegar-se” expressa proximidade emocional e lealdade. Esta palavra é usada em Gênesis 2:24 para  descrever quando um homem deixa seus pais e se “une" à sua esposa para "tornar-se uma só carne" (ver também Deuteronômio 4:4Deuteronômio 10:20). A relação que Deus oferece tem a intimidade de uma relação conjugal. A Bíblia usa o casamento para descrever o relacionamento desejado de Deus com Seu povo (Ezequiel 16, Oséias, Efésios 5:31-32). A Bíblia também descreve a Deus como Pai e Seu povo como filhos. Seu povo deve se apegar a Ele como um filho se apega a seus pais.

Esses seis requisitos descrevem a obediência completa às leis do pacto com Deus. Semelhante aos Dez Mandamentos, essas instruções abarcam a totalidade da vida. Eles abrangem totalmente todos os aspectos do engajamento humano, incluindo o envolvimento com outros seres humanos.

Os israelitas não apenas deveriam rejeitar a mensagem do falso profeta ou sonhador. Aquele profeta ou sonhador deveria seria morto. O falso profeta era digno de uma punição tão drástica por ter aconselhado a rebelião contra o Senhor, seu Deus (v.5). Deus foi quem os havia trazido da terra do Egito e redimido da casa da escravidão. Não deveria haver tolerância para que alguém que usasse de poderes ocultos para realizar sinais e desviar o povo, para sua própria destruição.

Israel fora escravizado por mais de 400 anos sob o Faraó e os egípcios (Gênesis 15:13;  Êxodo 12:40-41). Porém, Deus os livrou das mãos do Faraó, o rei egípcio que se julgava poderoso. O verbo traduzido como “redimir” é a palavra hebraica "pādâ". Esta palavra enfatiza a idéia de que um preço de resgate foi pago para a libertação dos escravos. No antigo Oriente Próximo, tal resgate envolvia a apresentação de algo de valor equivalente para libertar a pessoa. O SENHOR havia pago o preço para redimir aos israelitas. Portanto, o falso profeta era um ladrão que roubaria esta redenção e, portanto, merecia a morte.

Matar o falso profeta seria apropriado porque sua intenção era a de seduzir ao povo de Deus e tirá-lo do caminho pelo qual o SENHOR, seu Deus, ordenou que andassem.

O verbo traduzido como "seduzir" (hebraico "nādaḥ") traz a idéia de impulsionar ou forçar alguém a fazer algo. Nesse caso, o falso profeta era aquele que exortava o povo de Deus a desobedecer ao seu Susserano e se afastar de Seus caminhos justos. Tal ato era uma ofensa grave que precisava ser punida severamente. Como diz Moisés a Israel: Assim expurgarás o mal do meio de vós.

O verbo "expurgar" é literalmente "queimar". Denota a idéia de queimar algo para removê-lo completamente de um determinado lugar. Neste contexto, o falso profeta deveria ser queimado e removido da comunidade de Israel. Isso daria ao povo de Deus a liberdade de continuar a segui-Lo, temê-Lo, guardar Seus mandamentos, ouvir Sua voz, servi-Lo e apegar-se a Ele. 

O expurgo do falso profeta destinava-se a ajudar a evitar que as pessoas fossem levadas a andar por caminhos de morte. Portanto, a morte do falso profeta impediria outra morte - a morte do povo, caso seguissem os caminhos do falso profeta. Deuteronômio 30 deixará isso claro, afirmando:

"Vede, hoje vos coloquei a vida e a prosperidade, a morte e a adversidade; nisso vos ordeno hoje que amem o SENHOR, vosso Deus, que andem nos Seus caminhos e que guardem os Seus mandamentos, os Seus estatutos e os Seus juízos, para que vivam e se multipliquem, e para que o SENHOR, vosso Deus, vos abençoe na terra onde estais entrando para possuí-la. Mas se o teu coração se afastar e você não obedecer, mas for atraído e adorar outros deuses e servi-los, eu te declaro hoje que certamente perecerás. Não prolongareis os vossos dias na terra onde atravessais o Jordão para entrar e possuí-lo" (Deuteronômio 30:15-18).

A morte mencionada em Deuteronômio 30 é a separação do povo de Israel de sua terra e das bênçãos prometidas. A desobediência de Israel geraria a morte dos benefícios das bênçãos da aliança. Expurgar o mal do falso profeta do meio do povo de Israel significava expurgar um câncer do meio deles, um câncer que os levaria à morte.

Select Language
AaSelect font sizeDark ModeSet to dark mode
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.