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Significado de Deuteronômio 21:1-9

Moisés lida com a questão do assassinato nos casos quando o assassino é desconhecido.

Nesta primeira jurisprudência, Moisés explica o que fazer quando uma pessoa morta for encontrada deitada no campo aberto na terra que o Senhor, seu Deus, lhe dá para possuir, e não se sabe quem o atingiu (v.1). Ao contrário dos casos anteriores que identificaram o malfeitor (ver Deuteronômio 13:1; 17:2; 19:4; 11), este caso trata de um assassinato perpetrado por uma pessoa desconhecida.

A pessoa morta (em hebraico "ḥālāl") significa literalmente "perfurado" ou "alguém esfaqueado até a morte" (Números 19:16). Isso implicava que a pessoa morta provavelmente teria marcas de perfuração indicando haver sido atingida por outra pessoa.

Embora a morte tenha sido causada por um agressor desconhecido, os israelitas ainda precisavam expurgar o sangue derramado para restaurar seu relacionamento com Javé. Portanto, Moisés descreve o ritual a ser realizado uma vez que uma pessoa morta fosse encontrada deitada em campo aberto na terra que o Senhor deu a Israel para possuir.

Ao encontrar um corpo morto, Moisés diz ao povo que seus anciãos e juízes sairiam e mediriam a distância até as cidades que estão ao redor do morto (v.2). Os anciãos (hebraico "zāqēn") eram aqueles tidos em alta estima na comunidade israelita e muitas vezes serviam como autoridades em suas cidades (Deuteronômio 1:13). Os juízes (hebraico "shāpat") eram os que conduziam procedimentos legais na comunidade israelita. Na prática, a busca pela cidade mais próxima e o envolvimento com a liderança daquela cidade fariam com que o assassinato fosse amplamente divulgado, aumentando a probabilidade de que o assassino fosse encontrado. Essa lei era muito provavelmente conhecida por potenciais agressores e atuaria como um dissuasor.

Uma vez que os anciãos ou juízes encontrassem a cidade mais próxima do cadáver, os anciãos daquela cidade deveriam levar uma novilha do rebanho (v.3). Uma novilha era uma vaca jovem, que não havia ainda dado à luz a um bezerro. As novilhas eram comumente usadas para arar (Juízes 14:18) e para debulhar grãos (Oséias 10:11). Porém, a novilha a ser escolhida neste caso precisava ser aquela que não tivesse sido trabalhada e que não tivesse puxado um jugo. Essa novilha deveria ser sacrificada para remover a culpa associada a um assassinato cometido por um agressor desconhecido.

Assim, os anciãos da cidade deveriam levar a novilha até um vale com água corrente, que não havia sido arada ou semeada (v.4). Os anciãos não podiam trazer a novilha para qualquer lugar, exceto uma corrente de águas. Lá eles quebravam o pescoço da novilha no vale, tirando a vida da novilha no lugar do homem assassinado. É interessante notar que a novilha deveria ser jovem, devendo ser levada a uma porção de terra que não havia sido trabalhada ou cultivada.

A idéia aqui parece ser a de que um animal que ainda não tivesse se tornado plenamente fecundo deveria ser sacrificado em terras ainda não frutíferas. Isso pode retratar o fato de que o assassinato tenha encerrado prematuramente a fecundidade da vítima. Mais uma vez, a elaborada cerimônia envolvendo os líderes da cidade mais próxima, bem como o proprietário do terreno afetado, aumentaria a conscientização sobre o crime.

Depois de destruir o mundo com as águas do dilúvio para evitar que a terra se enchesse de violência novamente (Gênesis 6:11), Deus deu autoridade moral aos humanos para eliminar a vida como restituição pela vida tirada (Gênesis 9:6). Neste caso, como o assassino era desconhecido, não se sabia qual vida humana deveria pagar pela vida tirada. Portanto, uma novilha a substituiria, lembrando a Israel quanto a santidade da vida.

Em seguida, os sacerdotes, filhos de Levi, se aproximarão, pois o Senhor, vosso Deus, os escolheu para servi-Lo e abençoá-Lo em nome do Senhor (v.5). Os sacerdotes eram os filhos de Levi. Levi era um dos doze filhos de Jacó e os filhos de Levi constituíam uma das tribos de Israel. Esses filhos de Levi havia sido designados por Deus como sacerdotes. Eles haviam sido escolhidos pelo Deus Susserano (Governante) para servir como ministros diante Dele (Deuteronômio 10:8; 2 Crônicas 29:11; Ezequiel 44:15). Além disso, em seu papel de servos do Senhor, cada disputa e cada caso de violência deveria ser resolvido por eles, e sua presença era necessária durante o ritual de sacrifício para garantir que tudo fosse feito à maneira de Deus. Eles também serviam como testemunhas diante do Deus Susserano. Mais tarde, Deus instruiria Israel a nomear juízes, que decidiriam os casos (Deuteronômio 16:18). Por enquanto, Deus havia designado que os sacerdotes resolvessem tais disputas.

Além disso, todos os anciãos daquela cidade mais próxima ao homem morto deveriam lavar as mãos sobre a novilha cujo pescoço havia sido quebrado no vale (v.6). O lavar das mãos simbolizava a inocência dos anciãos e da comunidade de Israel. Lavar as mãos como sinal de uma declaração de inocência era uma prática comum nos tempos antigos. No Salmo 26, o salmista ora para que Deus o vingasse, porque ele andava em integridade (v.1). Ele declara: "Lavarei as minhas mãos na inocência, irei sobre o teu altar, ó Senhor, para que eu possa proclamar com a voz da ação de graças e declarar todas as tuas maravilhas" (vv.6-7; conforme Isaías 1:15-16). Este costume ainda estava em prática durante os tempos de Jesus, quando o governador romano Pilatos lavou as mãos publicamente em uma tentativa (fútil) de demonstrar sua inocência ao condenar Jesus à morte, alguém a quem ele havia declarado ser inocente de qualquer maldade (Mateus 27:24).

Após o ato simbólico de lavar as mãos para simbolizar sua inocência, os anciãos deveriam fazer uma declaração pública de sua inocência e da inocência da comunidade israelita, dizendo: Nossas mãos não derramaram esse sangue, nem nossos olhos o viram (v.7). Os anciãos falavam por si e por toda a comunidade. Dessa forma, os líderes políticos (anciãos), bem como os líderes espirituais (sacerdotes) reconheciam a importância da vida e declaravam que cumpririam a lei de Deus caso tivessem os meios para fazê-lo. Eles deixavam claro que não estavam ignorando o caso, ou dizendo: "Não é problema nosso". Ao fazerem tal declaração, eles inferiam que haviam feito uma busca minuciosa de boa-fé para localizar e identificar ao assassino.

Eles, então, deviam orar ao SENHOR, o Deus Susserano (Governante): Perdoa ao teu povo Israel, a quem redimiste, ó Senhor, e não coloques a culpa do sangue inocente no meio do teu povo Israel (v.8). O verbo “perdoar” (hebraico "kāpar") traz a idéia de apagar a ofensa de alguém da memória. Quando usado em conjunto com o pecado, significa "expiar". Então, aqui os anciãos pediam ao SENHOR que os libertasse (e à comunidade israelita) da culpa do sangue inocente. Após a oração, a culpa de sangue lhes seria perdoada. Assim, enquanto os anciãos oravam, eles lembravam a Deus de que Ele havia redimido aos israelitas, uma clara referência à libertação de Israel do Egito das mãos do Faraó (Êxodo 14-15). Esta oração lembraria aos líderes da cidade que eles tinham a responsabilidade diante de Deus de buscar justiça e resolver os crimes, sempre que possível.

Os anciãos deveriam fazer tudo isso para remover a culpa do sangue inocente de seu meio (v.9).  O verbo “remover” (hebraico "bā'ar", "varrer", "livrar-se de") denota a idéia de queimar algo para removê-lo completamente de um determinado ponto. Nesse contexto, os anciãos deveriam realizar esse ritual com a novilha quando o assassino fosse desconhecido. A culpa precisava ser removida da comunidade israelita porque isso era certo aos olhos do Senhor.

A obediência a este princípio levaria os israelitas a desfrutar de uma vida pacífica e próspera enquanto serviam e obedeciam fielmente ao seu Deus Susserano. Nesse caso, eles estavam reconhecendo a lei, o crime e seu serviço ao seu Deus, porém declarando sua incapacidade de fazer cumprir toda a lei, já que o assassino era desconhecido. Portanto, eles o deixavam nas mãos de Deus. O fato de serem obrigados a passar por esse exercício garantiria que não houvesse nenhuma execução injusta ou ignorada em Israel. Isso ressalta a ética bíblica de que toda a vida humana é valiosa, pois cada pessoa foi criada à imagem de Deus.

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