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Significado de Deuteronômio 24:14,15
Moisés, agora, se volta à questão do pagamento de alguém por serviços prestados. Ele especifica que ninguém deveria oprimir a um servo contratado pobre e necessitado (v.14). A palavra “oprimir” (hebraico "'āshaq") significa cometer atos de abuso de poder contra alguém inferior na sociedade. Também tem implicações em relação a agir de forma enganosa, fraudar e até ser violento. Um empregado contratado (hebraico "sakîr") referia-se a alguém contratado para um trabalho, como um diarista.
Neste caso, o servo contratado era pobre e necessitado. Isso seria um indício de que o trabalhador vinha de um status social inferior àquele que o contratava (o empregador). Reter seu salário significaria usar o poder para abusar do outro. Isso violava o princípio subjacente à segunda metade dos Dez Mandamentos, que era o princípio de amar o próximo tanto quanto a si mesmo (Levítico 19:18; Marcos 12:31).
Alguém pobre e necessitado dependia de seu salário diário para prover o essencial para sua família, como comida e um lugar para morar. No antigo Israel, essa condição precária podia acontecer como resultado da perda de terras ou de outros meios de renda independente. Como resultado, a pessoas era reduzida a vender seu trabalho como operário.
Esta regra aplicava-se a todos os que era contratados como operários, quer seja um dos vossos conterrâneos ou um dos vossos estrangeiros que esteja na vossa terra nas vossas cidades. A palavra “contrerrâneo” (hebraico "'āḥ") significa literalmente "irmão" na língua hebraica. Essa pessoa era um membro da comunidade da aliança. Os estrangeiros eram os não-israelitas, mas viviam ou viajavam pela terra de Israel. Eles eram geralmente protegidos pelo SENHOR contra abusos (Levítico 19:33-34) e esta lei os protegia de serem enganados a fornecer trabalho gratuito.
Independentemente da etnia do trabalhador, o empregador era obrigado a dar-lhe seu salário ao pôr do sol (v.15). A razão é que o trabalhador era pobre. A vida do trabalhador dependia de seu salário diário. Ele vivia um dia depois do outros. Sua motivação para trabalhar (seu coração) era ser pago ao final do dia. Amar ao próximo como a si mesmo significava apoiá-lo e elevá-lo. Reter o que o outro merecia significava esmagá-lo.
O homem pobre fora contratado durante o dia para fazer um trabalho e deveria ser pago à noite, a fim de dar-lhe o que seu coração desejasse, pelo fato de precisar do dinheiro para prover comida para sua família. Reter seu salário significaria oprimi-lo, colocando seus familiares em risco de não terem suas necessidades básicas atendidas.
O patrão precisava pagar ao trabalhador para que ele não clamasse ao Senhor contra ele. Se o trabalhador apelasse ao Senhor, isso se tornaria pecado contra o empregador. O SENHOR promete julgar a pessoa que cometesse tal tipo de pecado (Malaquias 3:5). Em outras palavras, o Deus Susserano (Governante, o Empregador supremo de todos) responsabilizaria o empregador por não pagar ao trabalhador pobre. Por esta razão, qualquer empregador que retivesse o salário de seu diarista era passível de julgamento (Malaquias 3:5).
Esta lei também aparece no livro de Levítico, mas lá ela se aplica a todos os trabalhadores (Levítico 19:13). Aqui em Deuteronômio, a preocupação de Moisés era com os pobres e necessitados, pois eram eles quem mal tinham comida ou dinheiro para viver. Em termos modernos, podemos dizer que aquelas pessoas pobres viviam de salário em salário.
Prometer o pagamento de um trabalhador contratado e, uma vez feito o trabalho, recusar-se a pagá-lo, seria dar falso testemunho. A promessa de pagamento seria mentira. Seria, portanto, uma violação do nono mandamento. Também era uma forma de roubo, considerada uma violação do oitavo mandamento. Ambos fazem parte dos últimos cinco mandamentos, que se enquadram no título geral de amar o próximo como a nós mesmos (Levítico 19:18; Marcos 12:31).
Esta lei, como tantas outras no pacto mosaico, foi projetada para proteger a dignidade daqueles que precisavam de ajuda urgente. Um tratamento semelhante pode ser encontrado em Tiago 5:4. A Lei era clara ao dizer que sempre haveria pessoas pobres (Deuteronômio 15:11; Marcos 14:7). No entanto, a lei mosaica deixava claro que os pobres deveriam ser tratados com dignidade e ter todas as oportunidades para se reerguer. Não deveria haver subclasse permanente em Israel (Deuteronômio 15:1-4).