Significado de Deuteronômio 9:7-14

Após dizer aos israelitas que a conquista de Canaã era o resultado da vontade do Senhor, Moisés recorre à história para provar sua afirmação, no versículo 5, de que não era por sua justiça ou pela retidão de seu coração que iriam possuir a terra. Ele pede que eles se lembrem de como insultaram a seu Deus Susserano. Ele diz: "Lembrem-se, não se esqueçam de como provocaste o Senhor, seu Deus, à ira no deserto; desde o dia em que deixaste a terra do Egito até chegares a este lugar, foste rebelde contra o Senhor."

Moisés lembra aos israelitas que sua história era de rebelião contínua contra seu Susserano. Eles haviam sido infiéis a Deus em inúmeras ocasiões. De fato, o povo provocou a ira do Senhor, seu Deus, no deserto, logo depois de tê-los redimido da escravidão no Egito. Sua rebelião continuou até chegarem à planície de Moabe. Para mostrar até que ponto Israel havia se rebelado contra o SENHOR, Moisés declara: Mesmo em Horebe vós provocastes a ira do SENHOR. A menção de Horebe (Monte Sinai) aqui é significativa, porque foi lá que o SENHOR reuniu Seu povo para estabelecer a aliança com eles. Os israelitas provocaram a ira de Deus em Horebe (no Monte Sinai), logo depois de terem concordado voluntariamente com os termos da aliança, dizendo: "Tudo o que o SENHOR falou nós faremos!" (Êxodo 19:8). Assim, Deus ficou tão zangado com eles que poderia tê-los destruído.

A desobediência de Israel ao Senhor poderia ter resultado em morte. O SENHOR os teria destruído porque estava zangado. O que fizeram os israelitas para provocar o SENHOR a tamanha ira? Moisés relata o incidente nos versículos 9-21, mas o relato original está registrado em Êxodo 24:18;  Êxodo 31:18 - 34:28. Em Deuteronômio 9:9-10, Moisés lembra aos israelitas que ele havia subido ao monte para receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o Senhor fizera com Israel. Estes eram os Dez Mandamentos.

Enquanto permanecia no monte quarenta dias e noites, e nem comia nem bebia água, o povo iniciou uma festa pagã, quebrando os mandamentos de Deus. O povo não estava apenas adorando a um ídolo, eles estavam praticando engajados nas mesmas práticas que haviam observado no Egito. "Levantaram-se cedo e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas de paz; e o povo sentou-se para comer e beber, e levantou-se para se divertir" (Êxodo 32:6).

O SENHOR deu a Moisés as duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus e sobre elas estavam todas as palavras que o SENHOR havia falado com Israel no monte, do meio do fogo, no dia da assembléia. Portanto, as ordens não eram novas. O povo as ouvira na montanha, em meio ao fogo. As ordens haviam sido escritas. O povo sabia que estava quebrando o mandamento de Deus. Moisés só esteve ausente por quarenta dias. Porém, ele se foi por mais tempo do que esperavam e, assim, eles decidiram fazer um novo deus (Deuteronômio 32:1).

Ao relatar o incidente, Moisés lembra a Israel da maneira como haviam recebido as estipulações da aliança com Deus. Enquanto estava no monte, o Senhor deu-lhe as duas tábuas de pedra que continham os Dez Mandamentos. As tábuas de pedra eram especiais porque foram escritas pelo dedo de Deus, não pelo dedo do homem. Os mandamentos haviam sido dados diretamente a eles por seu Deus Susserano. Nessas tábuas, Deus havia escrito as palavras que Ele havia falado com Israel no monte do meio do fogo. Naquele dia de assembléia, o povo havia demonstrado grande temor a Deus e disposição para obedecê-Lo plenamente. Mas, agora que a presença de Deus havia sido removida e Seu porta-voz estava fora de vista, eles decidiram seguir seu próprio caminho.

Deus disse as palavras para que eles pudessem "realizá-las na terra", onde estavam entrando "para possuir" (Deuteronômio 4:9-14).

Moisés lembra aos israelitas que, depois de subir ao Monte Horebe, ao final de quarenta dias e noites, o SENHOR lhe deu as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança, e pediu-lhe que descesse do Monte Sinai rapidamente, porque os israelitas que ele havia liderado desde o Egito restavam agindo corruptamente em sua ausência. Os israelitas rapidamente deixaram de seguir o modo como o Senhor lhes ordenara. Eles fizeram uma imagem de adoração para si mesmos.

Ao fazerem uma imagem derretida para si mesmos, os israelitas deixaram de seguir ao verdadeiro Deus para adorar a um ídolo. Sua declaração a Arão - "Vinde, fazei-nos um deus que nos precederá" em Êxodo 32:1 - confirma sua intenção de trocar o verdadeiro Deus, que os havia tirado do Egito, e seguir a um deus moldado à maneira do Egito. Ao fazê-lo, eles violaram o segundo mandamento do SENHOR, que diz: "Não farás para ti um ídolo, nem qualquer semelhança do que está no céu acima ou na terra embaixo ou na água debaixo da terra" (Êxodo 20:3-4). Aquele ato pecaminoso merecia o juízo de Deus.

Moisés continua seu relato do incidente, lembrando a Israel como o Senhor os descreveu. Ele diz: O SENHOR falou comigo, dizendo: 'Eu vi este povo, e de fato, é um povo teimoso'. O termo “teimoso” significa literalmente "pescoço duro". Isso sugere a relutância de Israel em obedecer ao seu Deus Susserano (Governante). É usado pela primeira vez para descrever Israel dentro do contexto do incidente do bezerro de ouro (Êxodo 32:9; 33:3, 5; 34:9; Deuteronômio 9:6, 13; 10:16; 31:27). O termo descreve um estado de espírito que se recusa a ouvir a correção e a disciplina.

Esta teimosia é evidente no episódio do bezerro de ouro, onde o povo moldou um novo deus, enquanto o Deus Verdadeiro estava dando a Moisés os Dez Mandamentos. Ser de "pescoço duro" é ser como um animal, como um boi, puxando contra as rédeas, resistindo à direção para a qual seu mestre tenta conduzi-lo. Ser de "pescoço duro" descreve alguém que desafia deliberadamente a autoridade. Tal comportamento, muitas vezes, leva à destruição e à vergonha. Como diz sucintamente o livro de Provérbios: "O homem que endurecer o  pescoço depois de muita repreensão será subitamente quebrado sem remédio" (Provérbios 29:1).

A concessão da terra prometida a Abraão era irrevogável e permanente (Romanos 11:29). Agora, os israelitas tinham a oportunidade de entrar, possuir e desfrutar da Terra Prometida. Ainda que tenham recebido a permissão de Deus para herdar a terra (Gênesis 15:16), isso não era uma recompensa por suas virtudes. Não foi por causa de sua justiça. Eles eram um povo teimoso. Coube a Deus confirmar o juramento que o Senhor havia feito a seus pais, Abraão, Isaque e Jacó.

O ato rebelde de fazer uma imagem derretida como deus levou o Deus Susserano (Governante) a ficar furioso e dizer a Moisés: Deixe-me, para que Eu os destrua e apague seu nome debaixo do céu, e farei de ti uma nação mais poderosa e maior do que eles. A expressão "apagar o nome de alguém" significa elilminar completamente o nome de uma pessoa, uma expressão figurativa que significa não deixar nenhum vestígio oral ou escrito desse nome na terra, deixar a pessoa sem descendentes e sem memoriais. Foi isso o que o SENHOR fez com os habitantes originais da terra de Canaã (Deuteronômio 7:24). Este é o verbo que Davi usou no Salmo 51 ao pedir a Deus que apagasse suas transgressões (Salmos 51:1). Moisés lembra ao povo que Deus havia proposto eliminar Israel da face da terra e começar um outro povo com Moisés. Ainda que fizesse isso, Deus estaria confirmando o juramento que fizera a Abraão, Isaque e Jacó.

De fato, Deus propôs construir uma nação mais poderosa e maior do que a versão atual de Israel. Deus propôs fazer de Moisés um novo Abraão, no sentido de ser um patriarca. E por meio dele [Moisés] todas as promessas feitas a Abraão (Gênesis 12, 15, 17) seriam cumpridas. Moisés, no entanto, intercedeu por Israel, argumentando que Deus seria diminuído aos olhos dos egípcios e de outros povos se a nação perecesse. Então, Deus cedeu e deixou o povo viver (Deuteronômio 32:10-14). Isso mostrou a incrível humildade de Moisés, que a Bíblia chama de “o homem mais humilde de toda a terra” (Números 12:3)