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Significado de Tiago 2:14–17
Tiago ilustra a inutilidade de se ter fé sem uma ação. Se alguém está sofrendo e um crente apenas deseja o bem daquela pessoa, em vez de ajudá-la, de que adianta isso? Se não acrescentarmos ação à nossa fé, nossa fé se torna fria e inerte.
Tiago faz uma pergunta retórica a seus leitores:
De que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações? Será que essa fé pode salvá-lo?
A resposta implícita é: "Não".
Tiago está dizendo, diretamente: "É inútil afirmar ter fé e não ter obras".
Ele está falando aos irmãos (em grego, "adelphos", que ocorre 15 vezes em sua carta). Ele chama esses irmãos (irmãos e irmãs) de "amados" e "primícias" da criação de Deus (Tiago 1:16-18). Eles são as primícias, as primeiras colheitas da raça humana a ser reconciliada com Deus (Mateus 9:37). Os "irmãos" aos quais Tiago escreve são "irmãos em Cristo" judeus, membros da família de Deus devido à sua fé em Jesus. Este fato é impactante porque a informação se aplica especificamente ao público abordado.
Quando Tiago pergunta: Será que essa fé pode salvá-lo? Ele não está se referindo à salvação do inferno, já que está escrevendo a irmãos em Cristo que já haviam sido salvos do inferno. Sempre que encontrarmos a palavra “salvar” (em grego, "sozo") na Bíblia, precisamos olhar para o contexto e nos perguntar quem ou o que está sendo salvo do quê? Um exemplo óbvio é o seguinte versículo de Marcos, onde os tradutores apresentam "sozo" como "bem", porque o contexto deixa claro que a mulher foi liberta/salva de uma doença:
"E Ele [Jesus] disse-lhe: 'Filha, a tua fé te salvou [sozo]; vá em paz e seja curada de sua aflição'" (Marcos 5:34).
O contexto imediato de Tiago é semelhante a este versículo de Marcos; Tiago pergunta se a inação de um crente (uma pessoa de fé) pode salvá-lo de alguma coisa.
Assim, como a palavra “salvar” (do grego "sozo") não é um termo técnico com um único significado aplicado em todos os contextos (como a palavra "talento" em Mateus 25), devemos determinar o significado a partir do contexto: "Quem ou o que está sendo salvo de quê?" “Salvar” (em grego, "sozo") carrega o significado de "entregar, preservar ou resgatar". Neste contexto, lembremo-nos de que Tiago já havia estabelecido que seus leitores eram irmãos em Cristo.
A questão que Tiago levanta ao longo de sua carta até este ponto não é se os crentes judeus tinham fé - eles tinham. A questão é que sua fé fosse posta em ação, superando as dificuldades, para que pudesse ser completada (Tiago 1:2). Uma fé completa resulta na aprovação no Tribunal de Cristo e no recebimento de grandes recompensas, como a "coroa da vida" (Tiago 1:12).
A fim de terem sua fé aprovada, Tiago exorta os crentes a deixarem de lado a maldade interior de sua antiga natureza, substituindo-a pela palavra de Deus, que salvará ("sozo") suas almas das consequências do pecado (decorrentes da maldade interior da antiga natureza) que leva à morte (Tiago 1:15, 21).
Tiago deixa claro que esta é uma questão de escolha. Eles poderiam escolher agir de acordo com sua fé e ser aprovados/recompensados, ou poderiam escolher não agir de acordo com sua fé e sofrer a consequência negativa do pecado, chamada por Tiago de morte. Morte, neste caso, significa separação do que é bom. Quando morremos fisicamente, ficamos separados do nosso corpo físico. Quando Adão e Eva pecaram, eles foram exilados/separados do Éden. Quando os crentes pecam, eles são separados das imensas bênçãos associadas à prática da fé, bênçãos que poderiam abençoar a nós mesmos àqueles ao nosso redor.
A passagem anterior termina com o seguinte texto:
"Falem e vivam como pessoas que serão julgadas pela lei que nos dá a liberdade. Quando Deus julgar, não terá misericórdia das pessoas que não tiveram misericórdia dos outros. A misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tiago 2:12-13).
Assim, o contexto imediato traz a mesma mensagem básica: os crentes que haviam sido libertos da penalidade eterna do pecado através da fé (uma salvação não merecida e que jamais poderia ser perdida) agora tinham uma escolha importante a fazer a cada dia: andar em obediência aos mandamentos de Deus, a fim de também serem libertos das consequências do pecado, alcançando as grandes recompensas da fé.
Ainda que seu relacionamento com Deus estivesse garantido, eles só experimentariam os benefícios tangíveis desse relacionamento se andassem na obediência da fé. Como um filho real que escolhe deixar o palácio e viver sob uma ponte, os irmãos perderiam os benefícios de sua posição real. Jesus julgará e recompensará às obras de cada crente. Em Tiago 2:12-13 (citado acima, falando sobre os crentes serem julgados pela misericórdia que demonstram a próximo), o apóstolo pode ter em mente o ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha:
"Porque, do modo como julgais, sereis julgados; e pelo seu padrão de medida, sereis medidos" (Mateus 7:2).
Reforçando ainda mais o ponto de que "sozo" (salvar) deve ser aplicado com base no contexto para se determinar quem ou o que está sendo salvo do quê, Tiago usará o termo "sozo" mais adiante nesta carta para referir-se à libertação de uma enfermidade ("sozo" é a palavra grega traduzida como “salvo” na frase “Será que essa fé pode salvá-lo?):
"Essa oração, feita com fé, salvará [sozo] a pessoa doente. O Senhor lhe dará saúde e perdoará os pecados que tiver cometido " (Tiago 5:15).
Em outro lugar, Tiago usa a palavra "salvo" ("sozo") para se referir à libertação da morte física (um tema comum na literatura da sabedoria):
" Meus irmãos, se algum de vós se desviar da verdade e outro o fizer voltar para o bom caminho, lembrem disto: quem fizer um pecador voltar do seu mau caminho salvará [sozo] da morte esse pecador e fará com que muitos pecados sejam perdoados" (Tiago 5:19-20).
Quando Tiago pergunta: Será que essa fé pode salvá-lo?, ele não está falando sobre a "salvação" do inferno, pois isso não seria aplicável aos que já eram crentes (irmãos/irmãs), ou seja, o público alvo desta carta. Além disso, o contexto imediato de Tiago 2:14 aborda o julgamento dos crentes por suas obras terra. Isso está em harmonia com o contexto geral de Tiago 1, que fala do refinamento da fé por meio das provações, visando gerar recompensas na próxima vida e grandes bênçãos nesta vida (vida versus morte, Tiago 1:2,, 12-1421).
A expressão “essa fé” na frase “Será que essa fé pode salvá-lo? (falando da fé sem obras) é melhor traduzida simplesmente como fé (como ocorre em várias versões). Estaria fora de contexto aqui adicionarmos um qualificador que desloque a questão da fé geral para um tipo de fé particular, ou uma categoria específica de fé, ao invés da fé em si mesma. Tiago diz que a fé, quando divorciada das obras, não produz resultado de libertação no contexto da libertação das consequências negativas provenientes da escolha pelo pecado. Quando os crentes escolhem andar em obediência, esta mesma fé gera obras. Assim, a fé em ação possui produz resultados positivos. A obediência nos livra da consequência de seguirmos à nossa iniquidade interior (morte) e nos leva a alcançar grandes recompensas nesta vida e a coroa da vida na eternidade (Tiago 1:12).
Portanto, neste versículo do capítulo 2, onde Tiago pergunta a seus irmãos se uma fé sem obras salvaria a pessoa, a discussão está centrada na salvação dos crentes das consequências negativas do pecado. Romanos 1 diz que quando alguém escolhe andar em pecado, fora dos desígnios de Deus, Deus os entrega às consequências adversas naturais do pecado, levando a pessoa ao que podemos chamar, nos tempos modernos, de vício ou perda da saúde mental (Romanos 1:24, 26, 28). Assim, a intenção de Tiago é, apropriadamente, equipar a seus seguidores, ajudando-os a adotar uma perspectiva que os leve a fazer escolhas que realmente sejam para o seu bem.
Se ignorarmos o contexto e interpretarmos a palavra “salvar” como "salvos do inferno" na pergunta de Tiago - “Será que essa fé pode salvá-lo?” - isso significaria que a vida eterna deve ser conquistada por meio de boas ações. Isso significaria, ainda, que Tiago mudou completamente o princípio estabelecido no capítulo 1, onde ele fala sobre deixar de lado os desejos pecaminosos, substituindo-o pela palavra de Deus e refinando nossa fé. Além disso, essa abordagem contradiz muitas passagens que afirmam que somente a fé em Cristo é o que nos salva da separação eterna de Deus (João 3:14-16, Efésios 2:8).
O dom da vida eterna é dado incondicionalmente. Uma vez que o recebemos, não podemos perdê-lo. Nada pode tirá-lo de nós (João 10:28-29, Romanos 8:38-39, Judas 24). No entanto, a posição de filhos de Deus nos confere uma imensa responsabilidade, com enormes consequências. A fé discutida aqui por Tiago tem a ver com nossa eficácia espiritual como mordomos da graça concedida a nós. Cabe a nós decidir seguir ao caminho do crescimento. A vontade de Deus é a de que façamos escolhas que nos levem à santificação aqui nesta terra (1 Tessalonicenses 4:3-8). Assim como no nascimento físico, o nascimento espiritual é concedido como uma dádiva. Além disso, assim como em nossa vida física, nossa experiência de vida é muito influenciada por nossas escolhas.
Tiago expande sobre a pergunta se a fé sem a ação poderia livrar os crentes da consequência adversa do pecado. Ele fornece um exemplo de como a fé sem as obras era inútil e não beneficiaria a ninguém:
Se um irmão ou irmã está sem roupa e precisando de alimento, e um de vós diz a ele: "Vá em paz, aqueça-se e sacie-se", e ainda assim não lhe dás o que é necessário para seu corpo, de que adianta isso?
O exemplo aqui fala sobre irmãos carentes de algumas das necessidades básicas da vida (roupas, comida). Tiago lança luz sobre o problema de se dizer algo (Vá em paz, aqueça-se e sacie-se) sem demonstrar uma ação que esteja em harmonia com as palavras (mas não lhes dá o que é necessário para seu corpo). São palavras vazias, sem ação. A fala pode até ser gentil, desejamos o melhor para a pessoa, mas o que importa o quão gentil nossas palavras sejam quando não as ajudamos na prática?
Quando os crentes não exercem sua fé, ela se torna inativa. Portanto, os grandes benefícios da fé estabelecidos no capítulo 1 não são experimentados. Não podemos nos beneficiar da fé se não agirmos. É a obediência da fé que nos salva da tentação (Tiago 1:12) e da nossa iniquidade interior (Tiago 1:14) que traz a morte (Tiago 1:15). Assim, exercer fé, andar pela palavra (Tiago 1:21) e não por nossas próprias paixões (Tiago 1:14) nos permite ser libertos/salvos das consequências adversas resultantes do pecado (morte). Por inferência, portanto, se não exercermos nossa fé, se não acrescentarmos obras à nossa fé (Tiago 1:12, 15), as consequências adversas do pecado serão a nossa sorte. Tiago afirma:
Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Aqui, Tiago enfatiza sua conclusão. A fé sem obras, sem uma ação correspondente, simplesmente é morta. Tiago está focado na santificação e crescimento espiritual dos irmãos. Ele está lidando com a questão da fé prática dos crentes, não com a questão da fé salvífica para os perdidos (João 3:16, João 5:24, Romanos 5:1).
Para morrer, algo deve primeiro estar vivo. Portanto, Tiago não diz que a fé não é real, boa ou verdadeira, mas que não há como a fé permanecer viva sem uma ação ou obra correspondente. A morte significa separação. Um corpo morre quando se separa do espírito. O corpo físico ainda existe, mas está morto porque não tem mais o espírito. Como veremos em Tiago 2:26, assim como o espírito anima ao corpo físico, tornando-o vivo, assim também as ações animam a fé. Um corpo físico pode existir sem o espírito, mas não é útil para ninguém, porque lhe falta a energia da vida. Da mesma forma, a fé pode existir sem as obras, mas não é útil a ninguém, porque lhe falta a energia da vida.
Tiago nos ensina que tanto a posse da fé a prática da fé em ação são responsabilidade diária dos crentes. O novo nascimento espiritual é algo que Jesus fez por nós (João 3:14-16; 2 Coríntios 5:17). O dom da vida eterna é uma dádiva. Porém, Deus delega a cada crente a responsabilidade de fazerem escolhas e viverem na realidade de seu novo nascimento.
Cada pessoa controla três coisas: 1) em quem ou no que ela confia; 2) sua perspectiva; e 3) suas ações. Tiago aborda cada uma dessas coisas sistematicamente, exortando os crentes a: 1) confiar em Deus e em Suas recompensas, ao invés de confiarem nos prazeres passageiros do mundo; 2) escolher a perspectiva de que o exercício da fé em meio às dificuldades é um privilégio, porque produz o crescimento da nossa fé rumo à maturidade, o que produz recompensas maiores; e 3) escolher tomar decisões que sigam à direção de Deus porque confiamos Nele e escolhemos a perspectiva verdadeira.