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Significado de João 18:19-24

O Julgamento Preliminar de Jesus João descreve o primeiro dos três processos religiosos contra Jesus. Passa-se na casa de Anás, o antigo sumo sacerdote. Anás questiona a Jesus sobre Seu ensino. Jesus respeitosamente lembra a Anás que Ele sempre ensinou abertamente para todos ouvirem e que se havia algo que Ele disse que era contra a lei, era obrigação de Anás citá-lo e prová-lo antes de prendê-lo ou interrogá-lo. O servo do sumo sacerdote golpeia Jesus por falar assim com o antigo sumo sacerdote. Jesus responde que se havia dito algo errado, isso deveria ser apontado, não recebido com violência, ao mesmo tempo em que afirma ser verdade o que havia acabado de dizer. Não tendo encontrado nada do que acusar Jesus, Anás passa seu prisioneiro para Caifás, o sumo sacerdote em exercício.

Não há relato paralelo aparente para este evento nos outros Evangelhos.

  • Nota: Ao longo desta parte do comentário, cada vez que uma lei judaica era quebrada pelos principais sacerdotes e anciãos enquanto processavam a Jesus, identificamos essa regra por meio colchetes, ou seja, [Regra 2: Neutralidade]. A numeração dessas regras de acordo com a série A Bíblia Diz é registrada no Julgamento Religioso de Jesus.

Para obter uma lista completa das regras quebradas, consulte o artigo A Bíblia Diz: "O Julgamento de Jesus, Parte 1. As Leis Violadas pelos Líderes Religiosos: Um Resumo."

Depois de informar a seus leitores sobre a primeira negação de Pedro no pátio (João 18:15-18), João muda a cena de volta para o julgamento preliminar ilegal de Jesus na casa de Anás, o ex-sumo sacerdote [Regra 6: Localização ilegal].

Anteriormente, João nos havia informado que Jesus havia sido levado a Anás primeiro (João 18:12-13), após Sua rendição à prisão no Jardim do Getsêmani (João 18:1-11). João também indica como o julgamento religioso era manipulado, visando considerá-lo culpado e condená-lo à morte (João 18:14) [Regra 3: Julgamento manipulado].

O julgamento descrito por João aqui é o julgamento religioso preliminar de Jesus. João é o único escritor do Evangelho a explicá-lo e este é o único julgamento dos três processos religiosos que o Evangelho de João cobre. Mateus e Marcos explicam o segundo julgamento religioso de Jesus na casa de Caifás (Mateus 26:57-68; Marcos 14:53-65). Lucas explica o terceiro e último julgamento religioso de Jesus, que ocorreu ao nascer do sol diante do Sinédrio (Lucas 22:66-71).

Para entender melhor a sequência desses eventos, consulte:

  • "Linha do tempo: As 24 horas finais da vida de Jesus."
  • "O Julgamento de Jesus, Parte 3. Os 5 Estágios do Processo Contra Jesus."

Todos os três julgamentos violaram a várias leis, o que os tornava ilegais e ilegítimos.

No início, o julgamento preliminar de Jesus foi ilegal por ter violado aos seguintes princípios jurídicos:

  • Regra 1: Conspiração - Os juízes haviam conspirado para matar a Jesus.
  • Regra 2: Neutralidade - Os juízes odiavam a Jesus.
  • Regra 3: Julgamento manipulado — O resultado foi pré-determinado.

Além disso, o julgamento quebrara às seguintes leis judaicas da prática jurídica no instante em que começou:

  • Regra 4: Suborno - O julgamento foi baseado em suborno.
  • Regra 5: Tempo ilegal - Nenhuma parte de um julgamento envolvendo um delito capital poderia ocorrer à noite.
  • Regra 6: Localização ilegal — A casa de Anás não era o local autorizado para um julgamento.

Sobre o julgamento preliminar de Jesus, João escreve: O sumo sacerdote questionou a Jesus sobre Seus discípulos e sobre Seu ensinamento (v. 19).

O sumo sacerdote, a quem João se refere, era Anás, sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano (João 18:13). Em nosso comentário de João 18:12-14 apontamos que Anás era o patriarca de uma dinastia sacerdotal e que, além de ser um dos principais receptáculos do esquema de extorsão dos adoradores por meio de vendas de sacrifícios e dos impostos do templo, ele era notório por ser um caluniador habilidoso e um experiente acusador.

Para saber mais sobre Anás e/ou Caifás, consulte o artigo da Bíblia Diz: "O Julgamento de Jesus, Parte 2. A Lei Judaica e os Atores Políticos que Condenaram a Jesus".

As ações do sumo sacerdote em relação ao interrogatório de Jesus, o réu, eram ilegais porque o juiz não podia agir como advogado a favor ou contra o réu [Regra 12: Acusação indevida]. Além disso, em casos envolvendo crimes capitais, como este, o julgamento deveria começar com uma declaração em nome do réu. O julgamento preliminar de Jesus começou com um interrogatório [Regra 8: Falta de Defesa]. Ao longo dos julgamentos religiosos, a Bíblia não apresenta indicação alguma de que alguém tenha oferecido qualquer defesa em nome de Jesus. De fato, ela sugere que todos estavam contra Ele: "Todos O condenaram a ser merecedor da morte" (Marcos 14:64b).

A razão pela qual Anás questionou a Jesus foi porque os sacerdotes e anciãos não tinham nenhuma evidência de que Jesus havia infringido a alguma lei punível com a morte [Regra 9: Falta de Evidências]. Isso também significava que Anás não tinha nenhum crime de que acusar a Jesus [Regra 7: Falta de Acusação]. Sem provas ou acusação, não poderia haver um julgamento legítimo.

O ex-sumo sacerdote questionou a Jesus sobre duas coisas: 1) Seus discípulos e 2) Seus ensinamentos.

Anás estava tentando levar Jesus a se auto-incriminar. Sua tentativa fracassou. Porém, mesmo que tivesse funcionado, teria sido inválido porque era ilegal usar o testemunho de um réu contra si mesmo em julgamentos envolvendo a pena capital [Regra 13: Auto-incriminação forçada].

Jesus não era legalmente obrigado a responder às perguntas de Seu interrogador, mas Ele respeitosamente as respondeu de qualquer maneira. Em vez de morder a isca, Jesus responde: "Falei abertamente ao mundo; sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem; e nada falei em segredo" (v. 20).

Jesus educadamente explica a Anás que não tinha nada a esconder. As coisas que Ele disse, Ele tinha falado abertamente ao mundo. Nenhum de Seus ensinamentos ou afirmações eram segredo. As coisas que Ele ensinava eram sempre feitas em público, como nas sinagogas e no templo.

As sinagogas eram os centros comunitários locais de culto em cada cidade. Uma sinagoga era onde as escrituras eram ensinadas e expostas por rabinos judeus. As sinagogas eram administradas pelos fariseus. O templo era o lugar sagrado de adoração em Jerusalém. Era muitas vezes referido como "a Casa de Deus". O templo era onde todos os judeus vinham oferecer sacrifícios e adorar a Deus enquanto celebravam Suas misericórdias. O templo era administrado pelos sacerdotes sob a influência de Anás.

Jesus havia acabado de passar os últimos dias ensinando no templo e no pátio ao redor do templo (Mateus 21:12-16; 21:23 - 25:46). Se houvesse algo sobre Seu ensinamento ou Seus discípulos que potencialmente tivesse violasse uma lei, isso teria sido feito publicamente, diante de todos os judeus, incluindo os escribas religiosos e advogados.

Jesus, então, exerce Seus direitos civis de acordo com a lei judaica. Jesus pede a Anás que apresentasse testemunhas e provas, como ele era legalmente obrigado a fazer antes de prendê-lo e interrogá-lo:

"Por que me questionas? Questione àqueles que ouviram ao que falei; eles sabem o que eu disse" (v. 21).

Se o ex-sumo sacerdote realmente quisesse descobrir se os ensinamentos de Jesus violavam à lei, ele poderia (e legalmente deveria) questionar a todos aqueles que haviam ouvido ao que Jesus havia falado - incluindo os muitos saduceus, a ordem sacerdotal à qual Anás liderava - eles sabiam exatamente o que Jesus havia dito (Mateus 26:55).

Por insistir em Seus direitos e respeitosamente desafiar ao ex-sumo sacerdote a seguir suas próprias leis, Jesus foi golpeado.

Quando disse isso, um dos oficiais que estavam nas proximidades golpeou a Jesus, dizendo: "É assim que você responde ao sumo sacerdote?" (v. 22).

A palavra grega referente à expressão “um dos oficiais” é uma forma de ὑπηρέτης (G5257 — pronuncia-se: "hoop-ay-ret-ace"), literalmente descrevendo um sub-remador de um navio de galé. Neste contexto, significava um subordinado ou assistente do antigo sumo sacerdote. Este oficial golpeou a Jesus em nome do ex-sumo sacerdote. Aparentemente, apesar da resposta respeitosa de Jesus, o oficial ficou ofendido por um prisioneiro como Jesus ter tido a audácia de pedir a alguém tão reverenciado, como Anás, que seguisse à lei.

A ironia dessa reação violenta é que esse oficial havia acabado de golepar ao Sumo Sacerdote. Como o Messias, Jesus era o sumo sacerdote supremo da ordem de Melquisedeque (Salmos 110:4; Hebreus 5:5-10; 7:1-28). Este oficial, sem querer, cumpre à profecia de Isaías:

"Nós mesmos o estimamos por ferido, ferido de Deus e aflito" (Isaías 53:4b).

Porém, Jesus, em obediência à vontade de Seu Pai (Lucas 22:42) e em cumprimento da profecia de Isaías, permaneceu gentil e não revidou:

"Ele [o Messias] não clamará nem levantará a voz, nem fará ouvir a sua voz na rua. À cana machucada Ele não quebrará e ao pavio fumegante Ele não apagará" (Isaías 42:2-3a)

Jesus confiou em Deus, sabendo que "Aquele que Me vindica está perto" e que ninguém poderia "contender" com Ele (Isaías 50:8), pois "o SENHOR Deus me ajuda" (Isaías 50:7, 9).

Jesus, de forma misericordiosa, não respondeu na mesma moeda à insolência desse oficial. Em vez de puni-lo como merecia por golepar à Pessoa de Deus, Jesus oferece uma repreensão branda:

Jesus respondeu-lhe: "Se eu falei errado, testifique do errado; mas, por que me golpeias?" (v. 23).

Era inapropriado que um dos policiais atacasse a um prisioneiro por falar algo errado. De acordo com a lei judaica, os prisioneiros deveriam ser tratados de forma justa e humana por aqueles que os julgavam. Quando o policial bateu em Jesus, ele infringiu a essa lei [Regra 10: Abuso]. Seria a primeira de muitas infrações deste tipo nas horas seguintes.

Jesus primeiro atestou sobre a violência inapropriada feita contra Ele quando calmamente instruiu o oficial a testemunhar do mal que poderia ter falado, em vez de imediatamente golpeá-Lo. Jesus, então, oferece uma outra possibilidade ao oficial: Ele havia falado corretamente. E se havia falado corretamente, Ele pergunta ao oficial: Por que você me ataca?

Jesus havia falado corretamente. Ele o fez na maior paciência, respeito e amor por Anás e pelo oficial — já que ambos traziam Sua imagem divina (Gênesis 1:26-27) e foram Suas criações pessoais (Salmo 139:14). Era evidente que Anás e seus oficiais odiavam a Jesus. Eles O consideravam seu inimigo. A resposta misericordiosa de Jesus ao ódio violento deles foi uma aplicação de Seu ensinamento a Seus discípulos:

  • "Não resista ao maligno"/dê a outra face” (Mateus 5:39; Lucas 6:29)
  • "Amai aos vossos inimigos" (Mateus 5:44; Lucas 6:27, 35)
  • "Sede misericordiosos, assim como vosso Pai é misericordioso" (Lucas 6:36)

Anás queria saber qual era o ensinamento de Jesus. Ele recebe uma bela exibição de Seu ensinamento através da resposta misericordiosa àquele oficial.

Porém, Anás não estava interessado em tais coisas, especialmente tarde da noite. O ex-sumo sacerdote só queria descobrir algo sobre Jesus que pudesse transformar em uma acusação suficiente para assassiná-lo.

Incapaz de encontrar alguma coisa suficiente para esse propósito sombrio, Anás decide que era hora de remover Jesus dali e concluir a trilha preliminar.

Então, Anás o enviou amarrado a Caifás, o sumo sacerdote (v. 24), onde o Sinédrio havia sido reunido para condenar Jesus em Seu julgamento noturno. Este foi o segundo julgamento religioso de Jesus. Tais eventos estão descritos em Mateus 26:57-68 e Marcos 14:53-65.

Para uma explicação detalhada dos princípios quebrados durante o julgamento de Jesus, ver o artigo de A Bíblia Diz: "O Julgamento de Jesus, Parte 4. Os Princípios Jurídicos que foram Violados."

Para uma explicação detalhada das outras leis que foram quebradas durante o julgamento de Jesus, veja o artigo de A Bíblia Diz: "O Julgamento de Jesus, Parte 5. As Leis de Prática que foram Violadas".

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