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Significado de Mateus 16:21-23

Jesus continua Sua importante conversa particular com Seus discípulos em Cesaréia de Filipe. Depois que confirma Sua identidade tanto como Deus quanto como Messias, Ele explica aos discípulos como seria morto em Jerusalém e ressuscitaria mortos. Mas eles não entendem. Pedro chama Jesus a parte para conversar e O desaconselha a dizer essas coisas. Jesus o repreende e diz que seus pensamentos e motivações são satânicas.

O Evangelho paralelo que narra a história desse evento pode ser encontrado em Marcos 8:31-33 e Lucas 9:22.

Mateus relata que a partir daquele momento¸ quando Jesus confirma a Seus discípulos que Ele era o Cristo, Ele começou a mostrar a eles o que aconteceria. Foi um momento de mudança. Deve ter sido uma situação de choque, porque Jesus diz a eles que Ele subiria a Jerusalém para ser morto e depois ser ressuscitado dos mortos. Contudo, parece que eles não compreenderam o que Jesus havia dito.

Jesus já havia feito alusões sobre Sua morte e ressurreição antes (Mateus 10:38, 12:39-40; 16:40). Mas Ele só havia feito isso com enigmas proféticos. Esta era a primeira vez que Jesus explicava essas coisas claramente. Ele disse a eles que iria sofrer muitas coisas dos anciães, chefes sacerdotes e escribas. O termo anciães se refere aos líderes judeus da cidade ou da nação, incluindo os saduceus e fariseus. Os chefes sacerdotes eram os levitas que lideravam o templo. E os escribas eram os advogados, peritos na Lei de Moisés. Jesus disse aos discípulos que depois de sofrer muitas coisas em suas mãos, Ele seria morto. Ele mostrou as discípulos que aquelas coisas deveriam acontecer em breve.

A noção de que Jesus, o Messias, Filho de Deus poderia ser derrotado e morto era muito difícil para a comopreensão deles. Na realidade, parecia que eles se recusavam a aceitar tal fato. De um lado, essa noção pode ter tocado em um dos seus maiores medos, o de que seu Mestre seria morto. Os discípulos estavam dispostos a morrer por Jesus e Seu Reino (Mateus 26:25; 26:51; João 11:6). Eles haviam aceitado isso como uma possibilidade, e até mesmo como seu destino.

Porém, eles consideravam que a morte de Jesus representaria uma catástrofe total, um desastre tão inconcebível que indicaria que sua causa havia sido destruída e o reino de Israel perdido de vez. Tudo que eles haviam abandonado para seguir Jesus teria sido desperdiçado. Uma perspectiva assim seria incompatível com muitas das profecias do Messias, Filho de Davi, redimindo Israel e instaurando um trono eterno no qual habitava a misericórdia (2 Samuel 7:11-16,  1 Crônicas 22:9-10,  Salmos 89:3-4, 89:35-36Jeremias 23:5-6,  Mateus 1:1, 1:17, 9:27, 12:23Lucas 1:32-33,  João 4:25-26,  Atos 15:15-17). O que eles não entendiam era que Jesus teria duas vindas à terra, a primeira como o servo, que sofreria como descrito nas profecias, e a segunda como o Rei conquistador (Apocalipse 19). Isso era um dilema até no meio dos pensadores judeus; alguns até chegavam a considerar que poderiam haver dois Messias.

Tal paradigma não permitia que eles realmente absorvessem o que Jesus estava dizendo para eles, e é provável que os discípulos nunca houvessem considerado a possibilidade de Jesus, o Messias, morrer. Aparentemente eles só haviam prestado atenção na profecia do Messias como o rei conquistador e ignoraram a parte do servo sofredor. Isso pode ter feito com que os discípulos pensassem ser inimaginável ver o Messias ungido de Deus sendo derrotado. De qualquer forma, eles ficaram confusos e incomodados com as declarações de Jesus.

Depois de ouvir tudo isso, Pedro chamou Jesus à parte para conversar e começou a repreendê-Lo. Ele tentou persuadir Jesus a parar de falar aquilo e mudar sua idéia quanto ao que iria acontecer. É interessante notar que Pedro chamou Jesus à parte para conversar. Talvez, na perspectiva de Pedro, ele não queria envergonhar Jesus ao confrontá-lo na frente dos outros discípulos. E, por isso, podemos entender que Pedro tinha certeza de seu ponto de vista.

Pedro disse a Jesus: Que Deus proíba. Com isso, Pedro queria dizer: “O Senhor está errado, Jesus, Deus não vai (ou não deveria) nunca permitir que isso aconteça”. Mas Pedro estava errado. Não somente Deus iria permitir, mas Ele havia enviado Seu Filho exatamente para ser morto. (João 3:16,  2 Coríntios 5:21,  1 João 4:9-10). É por isso que Jesus disse que aquelas coisas deveriam acontecer.

Jesus não permitiu que Pedro continuasse com sua repreensão. Jesus virou-se e disse a Pedro: “Saia da minha frente, Satanás!” Cristo sabia que Satanás estava tentando levá-Lo para longe do plano de Deus usando a Seu próprio discípulo. Jesus se recusou a ouvi-lo por muito tempo. Ele explicou a Pedro: “Você é uma pedra de tropeço para Mim; porque sua mente não está centrada nos interesses de Deus, mas do homem”. Jesus estava dando um alerta a Pedro nesse ponto. O discípulo estava apenas pensando em seus interesses pessoais e não nos interesses de outros, assim como Deus nos instrui a fazer (Filipenses 2:4).

Este episódio é intrigante e desafiador. Ele relata que Satanás pode trabalhar no meio do povo de Deus, quando escolhemos perspectivas erradas. Isso enfatiza o ponto primário do ensinamento de Jesus sobre a importância do coração humano, o lugar das nossas escolhas. As escolhas que fazemos em nossos corações são a origem de todas as palavras e ações humanas. Quando escolhemos uma perspectiva errada, uma visão não verdadeira, isso nos deixa vulneráveis a ser ferramentas de Satanás, mesmo que não seja nossa intenção.

Pedro apelou a Deus em sua repreensão a Jesus, dizendo: “Que Deus não permita.” Jesus respondeu a Pedro: “Na verdade, você está defendendo a vontade de Satanás”. Pedro, um crente em Jesus, alguém que havia sido abençoado por Deus com a revelação de que Jesus era o Cristo, foi uma ferramenta de Satanás porque acreditou em algo falso.

Paulo fala sobre isso em 2 Timóteo 2:24-26:

Ora, o servo do Senhor não deve brigar, mas deve ser condescendente para com todos, capaz de ensinar, sofrido, que corrija com mansidão aos que se opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem a verdade, e que despertem e se livrem do laço do Diabo (tendo sido feitos cativos por ele), para cumprirem a vontade de Deus.” (2 Timóteo 2:24-26).

Vemos nessa passagem de 2 Timóteo que Paulo o encoraja a corrigir gentilmente àqueles em sua igreja que se opunham à verdade, a fiim de que esses pudessem ser levados a “reconhecer a verdade” e, desta forma, pudessem “se livrar do laço do Diabo, que os havia tornado cativos a ele para fazer sua vontade”. A forma que Satanás leva os crentes a fazer sua vontade é fazendo-os acreditar em coisas que não são verdade.

Paulo encorajou a Timóteo a ser gentil com sua correção aos crentes. Jesus não pareceu ser tão gentil assim, dizendo a Pedro: “Saia da minha frente, Satanás”. Possivelmente, isso tenha ocorrido por causa do princípio do “a quem muito foi dado, muito será cobrado” (Lucas 12:48). A forma severa com a qual Jesus falou com Pedro mostra o amor que o Mestre tinha por ele, assim como Jesus diz à igreja de Laodicéia no livro de Apocalipse:

A todos quantos eu amo, repreendo e castigo” (Apocalipse 3:19).

Jesus sabia que enquanto Pedro estivesse acreditando em mentiras ele seria um obstáculo para o plano de Deus. É claro que Pedro não poderia interromper o plano de Deus. Deus é onipotente. Mas, como um obstáculo, Pedro poderia perder as bençãos e benefícios do Reino que Deus havia guardado para ele. Ele também teria que responder por sua obstinação e por sua cabeça dura contra Deus, sofrendo, assim, as consequências. Quando Pedro negou a Jesus, o profundo remorso a seguir pode ser visto como uma das consequências adversas de sua má escolha (Mateus 26:69-75).

Pedro acreditava que Jesus estabeleceria um reino mundano e que provavelmente promoveria seus próprios interesses. Vemos isso em todos os discípulos, em sua competição interna uns contra os outros para ver quem seria o maior entre eles (Marcos 9:34). Pedro, junto com os outros, não entendia que o Reino de Jesus seria governado por reis-servos. Pedro tinha em sua mente os interesses dos homens, não os interesses de Deus.

Um dos pontos centrais da ênfase de Jesus em treinar Seus discípulos era para reorientar seu zelo e sua disponibilidade em morrer por uma causa fora de suas ambições pessoais de ganhar poder e posições terrenas. Ao invés disso, Ele os ensinou a focar sua ambição nas recompensas divinas de servir a Deus e servir aos outros. Jesus os levou a entender que a grandeza verdadeira vem da humildade e do serviço (1 Pedro 5:6; Tiago 4:6).

É interessante que a chocante repreensão de Jesus a Pedro por tentar, de forma satânica, levá-lo para longe de Sua missão aparentemente ocorreu imediatamente após o reconhecimento de Jesus de que Pedro era “Makarios” ou “abençoado”, rasgando elogios por sua confissão sobre o Cristo e Seu Pai no céu. Esta é uma indicação clara de que um crente pode estar andando com Deus em um momento e andando na escuridão no próximo. Os crentes precisam sempre estar vigilantes para andar na luz, assim como Ele está na luz (1 João 1:5-7).

Quando tomamos a confissão de Pedro de que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, bem como os elogios que Jesus faz à fé sólida de Pedro, uma fé que iria destruir “os portões do Hades”, e comparamos com os interesses satânicos demonstrados por Pedro, devemos ver isso como um desafio para nós mesmos. Seguiremos a verdade e conquistaremos os portões do Hades e as coisas deste mundo, ou seguiremos a cultura mundana e seremos um obstáculo ao Reino de Deus? Esta é uma questão enfrentada pelos crentes todos os dias.

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