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Significado de Mateus 23:23-24

Em Seu quinto Ai aos escribas e fariseus, Jesus os repreende por focarem nos pequenos aspectos de suas regras, enquanto ignoram os princípios maiores da Lei de Deus.

O relato paralelo desta declaração é encontrado em Lucas 11:42.

O quinto Ai de Mateus 23 considera as prioridades equivocadas. Ele foi dirigido aos escribas e fariseus.

Os escribas eram advogados religiosos. Eles meticulosamente estudavam a Lei e a Tradição para criar brechas para si mesmos e produzir mais e mais regras para controlar o povo. Os fariseus eram os mestres desses costumes religiosos e os líderes das sinagogas locais. Eles esmagavam qualquer um que desafiasse sua autoridade ou que deixasse de seguir as regras dos escribas. Juntos, os escribas e fariseus eram uma força incontestável e corrupta.

Jesus os chamou de hipócritas. A palavra hipócrita vem do termo grego para "ator". É alguém que finge ser uma coisa, mas é realmente outra. Descreve alguém falso. Jesus usou esse termo para rotular os escribas e fariseus como fraudes religiosas.

A razão pela qual Ele os chama de hipócritas neste Ai é porque eles haviam "se especializado nos detalhes". Eles faziam uma tempestade num copo d’água em facetas minúsculas de suas disputas morais, a ponto de se esquecerem dos princípios básicos das regras às quais deveriam apoiar. Sua Má Religião os fazia prestar atenção na árvore e não na floresta moral. Ou, como Jesus disse, "eles engolem um camelo e coam um mosquito".

Jesus diz que eles meticulosamente davam o dízimo de tudo, incluindo os grãos de especiarias, como a hortelã, o coentro e o cominho, mas ignoravam as disposições mais pesadas da lei, a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

Dar o dízimo significa doar um décimo.

De onde veio a ideia do dízimo? E por que isso é importante?

Para começar, a Bíblia deixa claro que Deus é dono de tudo. O salmista escreve: "A terra é do Senhor, e tudo o que ela contém, o mundo, e os que nele habitam" (Salmo 24:1). E a Bíblia também sanciona a ideia de propriedade (Gênesis 34:10;  Atos 2:45). A propriedade da terra era a forma mais valiosa de propriedade no mundo antigo e a Bíblia a honrava grandemente (Deuteronômio 19:14).

A Bíblia nos ordena a respeitar os direitos de propriedade dos outros, não cobiçando ou roubando deles (Êxodo 20:15, 17). A ideia bíblica de posses e propriedade humanas é de mordomia. As coisas podem "pertencer" a nós por um tempo. Mas não podemos levar nossas posses conosco quando morremos. Nenhum caminhão com as posses de uma pessoa vai atrás de seu carro funerário. Deus deseja que usemos as coisas que possuímos para atender às nossas necessidades pessoais e para o benefício do Seu Reino (1 Timóteo 6:17-19). Deus permite que cada possuidor decida como irá usar aquilo que tem, ou como irá gastá-lo. Seremos responsáveis perante Deus por nossa mordomia no julgamento que está por vir (2 Coríntios 5:10). Esta é a ideia bíblica de propriedade/mordomia.

Deus nos concede a bênção de possuir coisas e determinar seu uso. Porém, Deus também nos dá o direito de desperdiçar ou de apreciar nossas posses, usando-as sabiamente para abençoar a outros.

"Aquele que rouba não deve mais roubar; mas, ao contrário, ele deve trabalhar, realizando com suas próprias mãos o que é bom, para que  ele tenha algo para compartilhar com aquele que tem necessidade. (Efésios 4:28).

A defesa da propriedade privada na Bíblia possibilita que os indivíduos amem e sirvam uns aos outros e promovam o Reino através de suas posses. Se não houvesse propriedade ou controle pessoal, não haveria doação autêntica - haveria apenas bem-estar estatal. E se não houvesse propriedade pessoal ou controle da propriedade, aqueles que recebem os benefícios das doações perderiam a oportunidade de serem pessoalmente valorizados e amados pelo doador. A instituição da propriedade privada permite que o amor faça parte da equação nessas transações e torna possível a doação autêntica.

Os israelitas receberam a ordem de dar o dízimo todos os anos ao Senhor (Números 28:26). Eles também foram instruídos a dar um dízimo adicional a cada ano, que deveria ser levado a Jerusalém (Deuteronômio 14:22-29). Eles deveriam oferecer um dízimo especial a cada três anos para ajudar aos que eram menos afortunados na comunidade israelita. Talvez este seja um substituto para o segundo dízimo, o dízimo que deveria ser trazido par a festa. Assim, a cada três anos, os israelitas deveriam dar ao Senhor algo que, de outra forma, desfrutariam pessoalmente, Ao invés disso, eles prover essa quantia para o sustento dos pobres em sua comunidade. De acordo com a tradição judaica, isso deveria ocorrer no terceiroe e sexto anos num ciclo de sete anos. O sétimo ano seria o ano sabático (Ver comentário sobre Deuteronômio 26:12-15).

Em toda a Bíblia, Deus convida Seu povo a dar com sabedoria e investir porções de sua propriedade para Suas causas - seja para apoiar aos levitas (Números 18:21;  Deuteronômio 12:17, 19), cuidar das viúvas e órfãos (Deuteronômio 14:28-29), apoiar projetos de construção (Êxodo 35:21-22, Neemias 7:71-72), ajudar a membros da família (Deuteronômio 5:16;  Mateus 15:4-6), etc. A Bíblia muitas vezes não coloca requisitos sobre o quanto se deve ou não dar, deixando para o doador determinar quanto dar, já que Deus ama ao que dá com alegria (2 Coríntios 9:7).

O ato de dar um décimo ou dízimo é uma prática tradicional na Bíblia. Abraão deu o dízimo a Melquisedeque (Gênesis 14:18-20). Jacó mais tarde prometeu a Deus que daria "um décimo" de seus ganhos se o Senhor o protegesse (Gênesis 28:22). Deus repreendeu a Israel por não dar seus dízimos e os desafiou a obedecê-lo e verificar se Ele não lhes abençoaria dos céus (Malaquias 3:8-10).

Tudo isso para dizer: uma das principais razões pelas quais Deus nos concede o dom de ter posses é para que tenhamos uma oportunidade maior de amar e servir materialmente a outras pessoas através do compartilhamento de nossos recursos. Deus espera que usemos os recursos que possuímos como meios para facilitar a justiça e a misericórdia para com os outros (Mateus 25:35-36, 40; 1 Timóteo 6:17).

Os escribas e fariseus davam o dízimo não por amor a Deus ou como meio de ajudar as pessoas, mas como uma maneira de ganhar no jogos moral, de acordo com sua Má Religião. Seu dízimo da hortelã, coentro e cominho eram performances destinadas a fazê-los parecer justos aos olhos dos homens.

Uma medida de coentro era composta de pequenas porções e o cominho eram pequenas sementes. Assim, a imagem que Jesus retrata é a dos fariseus contando 1.000 sementes minúsculas de cominho em uma cesta com 10.000 sementes de cominho, ou contando 1.000 minúsculos grupos de coentro em uma tigela com 10.000.    É provável que Ele tenha usado isso como uma hipérbole destinada a amplificar a hipocrisia deles.

Se o sacrifício simbólico de touros e bodes não agrada a Deus (Salmo 51:16), então o dízimo de especiarias como forma de ganhar o direito de se achar religioso também não. Os escribas e fariseus realmente davam o dízimo, porém para si mesmos e para sua própria auto-imagem.

Ao fazê-lo, eles negligenciavam as provisões mais pesadas e o propósito principal dos mandamentos de Deus. As principais coisas com as quais Deus se preocupa são a justiça, misericórdia e fidelidade a Ele (Miquéias 6:8). Quando Lucas registrou um ai semelhante de Jesus aos fariseus, o Mestre incluiu o "amor", ao lado da justiça, como as provisões mais pesadas da lei que não deveriam ser negligenciadas (Lucas 11:42).

A noção bíblica de justiça é o alinhamento do nosso comportamento com os padrões de Deus. Nossa inclinação natural é tentar conformar os outros aos nossos próprios padrões. O padrão final de Deus é que amemos e obedeçamos a Ele, e amemos aos outros como amamos a nós mesmos. A noção bíblica de misericórdia é colocar-nos no lugar dos outros. Isso nos dá uma capacidade maior de fazer por eles o que gostaríamos que fosse feito por nós mesmos. E a noção bíblica de amor ágape é escolher buscar o melhor para os outros, com base nos valores de Deus. Isso retornará a nós em bênçãos.

Ao exercermos justiça, misericórdia e amor, estamos exercendo fidelidade aos mandamentos de Deus. Jesus esperava que os líderes religiosos procurassem elevar e beneficiar os outros. Os fariseus faziam o oposto: eles exploravam os outros.

Jesus desafiou os fariseus quanto à hipocrisia de seus truques relacionados ao dízimo quando eles O confrontaram sobre a maneira como Seus discípulos comiam pão. O Mestre lhes disse que eles quebravam o mandamento de Deus de honrar pai e mãe “por causa de sua tradição" (Mateus 5:3-4) quando se recusaram a ajudar seus pais idosos e usaram a desculpa de terem dado a Deus a ajuda que poderiam dar a eles (Mateus 15:5). Aparentemente, vencer nas competições de dar o dízimo de especiarias era mais importante para aqueles líderes religiosos do que Deus ou seus próprios pais. Este é outro resultado da Má Religião.

Jesus repreendeu aos fariseus por suas prioridades iníquas. Vocês deveriam fazer essas coisas sem negligenciar aquelas. Esta frase parece se aplicar a viver com justiça, misericórdia e fidelidade. Esta é a prioridade de Jesus. No entanto, Jesus também esperava que eles obedecessem à Lei e dizimassem sobre seus bens. As outras coisas que Jesus não queria que eles negligenciassem incluíam todos os elementos da Lei. Quando nos concentramos nos pontos principais, acabamos cumprindo os pontos menores. Os fariseus se concentravam nos pontos menores porque desejavam se auto-justificar.

Na era do Novo Testamento, Deus também espera que sejamos doadores generosos para abençoar os outros e promover Seu Reino. Mas, Ele espera que façamos essas coisas de uma maneira que não interfira nas ações de justiça e misericórdia, ou na negligência aos princípios fundamentais da Sua Lei (1 Timóteo 6:17;  2 Coríntios 9:7.

Jesus, por fim, repete Seu rótulo aos escribas e fariseus: Guias cegos (Mateus 23:16; 15:14), antes de registrar outra expressão hiperbólica: Vocês coam o mosquito e engolem o camelo.

A imagem dessa comparação envolve a ingestão de alimentos. Jesus alude ao fato de que quando os escribas e fariseus notavam um pequeno mosquito em sua comida, eles o coariam com nojo porque não querem comê-lo. Porém, ao mesmo tempo em que conseguiam identificar o mosquito no prato, eles não conseguiam ver o enorme camelo na frente deles, e o engoliam inteiro. A aparente lição de Jesus nessa hipérbole chama a atenção para o hábito absurdo dos escribas e fariseus de serem obcecados com os detalhes, enquanto negligenciavam o quadro geral.

O mosquito nesta metáfora representa os pequenos detalhes do dízimo. Jesus ilustrou isso anteriormente com uma imagem dos fariseus separando pequenas sementes ou especiarias para dar o dízimo. Seu esforço para coar o mosquito era uma imagem simiular a contar grãos de especiarias. O camelo nesta metáfora representa as disposições mais pesadas da lei: justiça, misericórdia, fidelidade e amor. Os fariseus prestavam atenção ao mosquito, mas negligenciavam o camelo, significando que prestavam atenção às regras menores, que faziam pouca diferença para os outros, enquanto negligenciavam as principais maneiras pelas quais deveriam agir e abençoar as pessoas.

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