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Significado de Mateus 26:14-16

A barganha de Judas Judas procura os principais sacerdotes para trair Jesus. Ele lhes pergunta o que lhe darão por fazer isso. Eles respondem: "Trinta moedas de prata" – a compensação prescrita a ser paga a um proprietário pela morte acidental de um de seus escravos. Judas concorda.

Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este evento são encontrados em Marcos 14:10-11 e Lucas 22:3-6.

Em algum momento entre a Unção de Jesus em Betânia (Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9João 12:2-8), ocorrida seis dias antes da Páscoa (João 12:1) e a noite anterior à Páscoa, Judas Iscariotes, um dos doze discípulos foi aos principais sacerdotes para trair Jesus.

Este evento é comumente conhecido como "A Barganha de Judas".

Jesus tinha muitos discípulos, mas ele selecionou doze para estar entre Seus aprendizes mais próximos e os comissionou com autoridade especial (Mateus 10:1).  Judas Iscariotes era um desses doze selecionados (Mateus 10:4). O nome Judas Iscariotes significa "Judá de Corriotas". Queriote era uma cidade localizada no extremo sul da Judéia, aproximadamente 45 quilômetros ao sul de Jerusalém e 18 quilômetros a oeste do Mar Morto. Judas tinha a distinção de ser o único discípulo da Judéia, na parte sul de Israel. Os outros onze eram do norte, a região da Galiléia (ver mapa).

O Evangelho de João indica que Jesus passou Seu primeiro ano na Judéia, com frutos pouco conhecidos. Pode ser que Judas tenha sido Seu primeiro e único discípulo (dos doze) daquele ano de esforço. Como aquele que O trairia, isso tornaria completa a rejeição da Judéia a Jesus.

Além disso, em hebraico, o nome real de Judas era "Judá". A helenização dos nomes judaicos pode nos fazer perder algumas conexões proféticas. Judá, o patriarca da tribo de Judá (a tribo dos judeus), prefigurou Judá de Queriote (Judas Iscariotes). Em Gênesis, Judá traiu seu irmão José (o tipo de Jesus) e conspirou para matá-lo, colocando José num poco por três dias e depois o vendendo por alguns siclos de prata (Gênesis 37:26-28). Mais tarde, o Judá de Gênesis se arrependeu de sua traição (Gênesis 43:8-9; 44:18-34). Assim seria com "Judá Iscariotes" (Mateus 27:3).

Jerusalém está localizada na Judéia, o que poderia explicar a facilidade de Judas de se dirigir à presença dos principais sacerdotes, que se encontravam em Jerusalém.

Judas era o tesoureiro dos discípulos. Mas ele desviava seus fundos. Ele era avarento e relutou com Marta e a irmã de Lázaro, Maria, por usarem perfumes caros para ungir os pés de Jesus, em vez de doá-lo ao Senhor. Sua motivação real era ter o dinheiro em um lugar onde pudesse secretamente roubar (João 12:4-6). João sugere que Judas já estava "pretendendo trair" Jesus quando a ução em Betânia ocorreu (João 12:4).

Em suas narrativas evangélicas, Mateus e Marcos mencionam Judas indo aos sumos sacerdotes logo após a unção de Jesus por Maria (também abordada na primeira parte do capítulo 26). O registro deste evento em sua narrativa talvez seja uma maneira de sugerir que Judas era o discípulo mais indignado com o "desperdício" do perfume caro (Mateus 26:8). Ambos os escritores do Evangelho inserem a unção em Betânia na trama dos principais sacerdotes (Mateus 26:1-2; Marcos 14:1-2) e a Barganha de Judas (Marcos 14:10-11), aparentemente para efeitos temáticos.

Quando Judas vai até os sumos sacerdotes, ele lhes diz: "O que estais dispostos a dar-me para traí-Lo a vós? Sua pergunta indica que Judas estava procurando ganhar algo com aquela transação.

Os principais sacerdotes e fariseus estavam procurando uma maneira de matar Jesus há algum tempo (João 11:47-53). Eles haviam recentemente decidido esperar até depois do festival da Páscoa para evitar um tumulto (Mateus 26:5;  Marcos 14:1), mas agora, com a surpreendente oferta de Judas, eles parecem reconsiderar o esquema. Marcos e Lucas relatam que os principais sacerdotes e oficiais ficaram encantados com essa reviravolta dos eventos (Marcos 14:11; Lucas 22:5). Eles foram rápidos em fazer um acordo e prometeram dar-lhe dinheiro.

Somente o Evangelho de Mateus especifica que a quantia acordada era de trinta moedas de prata.

A quantidade de trinta moedas de prata é uma alusão a duas escrituras do Antigo Testamento.

A primeira alusão é a Êxodo 21:32, onde a Lei prescreve o valor da compensação que um senhor deve receber caso seu escravo fosse acidentalmente morto por outro:

"Se o boi matar um escravo masculino ou feminino, o proprietário do boi dará ao seu senhor trinta siclos de prata, e o boi será apedrejado" (Êxodo 21:32).

Em essência, quando Judas vai até os principais sacerdotes e lhes pergunta: "O que vocês estão dispostos a me dar para trair Jesus? Eles respondem: "O preço de um escravo". Eles estavam dispostos a compensar Judas pela morte de "seu escravo" - Jesus. Ao determinarem esse valor, sua resposta foi intencionalmente insultante. Também foi tortuosamente irônica. Jesus era o mestre, o Criador de Judas, não seu escravo. Judas era discípulo e seguidor de Jesus, não Seu mestre. Os principais sacerdotes provavelmente tiveram um prazer cínico nos termos da barganha enquanto pesavam as trinta peças de prata e as davam a Judas.

A segunda alusão é feita à cena estranha de Zacarias 11, que Mateus revela ser profética.

O versículo específico nesta referência é Zacarias 11:12-13:

"Eu lhes disse: 'Se é bom aos vossos olhos, dai-me o meu salário; mas, se não, não importa!' Então eles pesaram trinta siclos de prata como meu salário. Então o Senhor me disse: 'Joga-o ao oleiro, aquele preço magnífico pelo qual fui valorizado por eles'. Então peguei os trinta siclos de prata e os joguei ao oleiro na casa do Senhor."

Para entender adequadamente essa alusão profética, precisamos olhá-la em seu contexto original.

Nesta escritura, Deus diz ao profeta Zacarias para pastorear um "rebanho condenado ao abate" (Zacarias 11:4). O rebanho provavelmente representa a nação de Israel. Através da profecia, o Senhor zomba do rebanho e suas duas catástrofes. A primeira catástrofe é porque "os seus próprios pastores [que simbolizam os sacerdotes e líderes religiosos de Israel] não têm piedade deles" (Zacarias 11:5). A segunda é porque uma brutal tomada de poder político estava prestes a ocorrer: "Cada um cairá no poder do outro e no poder de seu rei; e eles atacarão a terra, e eu não os libertarei" (Zacarias 11:6). Esta é provavelmente uma previsão da demolição de Israel por Roma e do templo que ocorreu em 70 d.C. Em Seu Discurso das Oliveiras, Jesus havia recentemente dito a Seus discípulos sobre essa iminente destruição de Jerusalém (Mateus 24:2).

Em seguida, Zacarias diz que ele levou o rebanho condenado ao abate e dois cajados, aos quais ele chamou de "Favor" e "União" (Zacarias 11:7). O cajado "Favor", explica Zacarias, representa a aliança de Deus com o povo no Monte Sinai, e ele o quebra para simbolizar como os filhos de Israel quebraram a aliança com Deus (Zacarias 11:10-11). Zacarias também quebra o cajado chamado "União". Ele explica que representava a unidade quebrada entre as tribos de Judá e Israel quando se tornaram reinos separados (Zacarias 11:14).

Usando esses dois cajados como ilustrações, o profeta, Zacarias, estava resumindo a história de Israel e profetizando o que estava por vir. Ao longo de sua história, Israel repetidamente desobedeceu à aliança de Deus e o reino de Israel se dividiu aproximadamente em 975 a.C. Zacarias estava descrevendo esses eventos históricos séculos mais tarde, em 520 a.C. Profeticamente, a divisão do bastão "Favor" também simboliza a rejeição de Israel a Jesus como Deus e Messias quinhentos anos depois. A quebra do bastão "União" também simboliza a vitória sangrenta de Roma sobre os judeus em 70 dC e a diáspora judaica que se seguiu. Isso é consistente com o padrão bíblico de profecias com duplo cumprimento.

Há também um cumprimento profético messiânico que pode ser aplicado a respeito da quebra dos dois cajados. A quebra do "Favor" pode representar Israel rejeitando Jesus como o Messias. A quebra da "União" pode representar a crucificação do Messias por Roma. Essa interpretação messiânica segue ao princípio geral de que o que quer que aconteça com os israelitas também acontecerá com o Messias e vice-versa.

Em Zacarias 11:8, o Senhor diz que "aniquilou os três [maus] pastores em um mês, pois minha alma estava impaciente com eles, e a alma deles estava cansada de mim". Esses três pastores possivelmente representam os três ofícios religiosos durante os dias de Jesus que conspiraram para destruí-Lo: os anciãos (fariseus), os principais sacerdotes (saduceus) e os escribas (advogados religiosos) (Mateus 16:21; 21:45-46; 26:3-5). Isso pode representar essas três posições sendo destruídas durante a o cerco romano de Jerusalém.

Quando Zacarias promulga dramaticamente a palavra do Senhor por meio de seu discurso e ações diante do povo, ele faz uma pausa para perguntar-lhes se a palavra lhes parecia boa e pede um salário caso isso acontecesse. Em zombaria, as pessoas que o assistiam "pesavam trinta siclos de prata como meu salário" (Zacarias 11:12). Ofereceram-lhe, de forma insultante, o preço de um escravo.

Então, o Senhor diz a Zacarias para "jogá-lo ao oleiro" e sarcasticamente comentou sobre o baixo custo de "aquele preço magnífico pelo qual eu era valorizado por eles". Zacarias, assim, faz o que o Senhor lhe ordenou: "Então tomei os trinta siclos de prata e os joguei ao oleiro na casa do Senhor" (Zacarias 11:14).

Mateus revisita essa profecia depois que Judas amargamente devolve as trinta peças de prata aos principais sacerdotes (Mateus 27:3-4), que então usam o dinheiro para comprar um lugar chamado "Campo do Oleiro" como um jazigo para estranhos (Mateus 27:7), cumprindo assim a profecia de Zacarias (Mateus 27:8-10).

Além disso, há uma terceira alusão, menos explícita, do Antigo Testamento.

Toda a cena da Barganha de Judas, descrita pelos escritores dos Evangelhos, é estranhamente reminiscente dos irmãos de José vendendo-o como escravo. Jesus, como José, foi vendido por um de Seus "irmãos" (discípulos mais próximos) como escravo por meras peças de prata (Gênesis 37:28). É interessante, considerando que o nome do irmão que primeiro propôs a ideia de vender José aos comerciantes midianitas era "Judá", que é o mesmo nome do traidor de Jesus - Judas é a versão helenizada do nome hebraico, "Judá". O primeiro Judá foi um dos doze filhos de Jacó  (Gênesis 37:26-27); assim como Judas foi um dos doze discípulos que foram aos sacerdotes para vender Jesus.

Depois que Judas aceitou o pagamento das trinta moedas de prata, Mateus escreveu: A partir de então ele começou a procurar uma boa oportunidade para trair Jesus. Essa oportunidade viria em breve.

Por que Judas traiu Jesus?

O apóstolo João comenta que Judas já estava procurando trair Jesus antes da unção em Betânia (João 12:4). João também observa que Judas era um ladrão que roubava a caixa de dinheiro (João 12:6). Porém, trinta moedas de prata foi o preço simbólico oferecido como insulto a Jesus. É provável que, se a ganância fosse a principal motivação de Judas, ele teria pedido mais. Também é provável que os principais sacerdotes tivessem pago alegremente para se livrar de Jesus, a quem eles odiavam tanto. Os escritores dos Evangelhos não fornecem nenhuma outra motivação além do que Lucas explicou:

"E Satanás entrou em Judas,  que se chamava Iscariotes, pertencente ao número dos doze. E ele foi embora e discutiu com os principais sacerdotes e oficiais como ele poderia traí-Lo para eles" (Lucas 22:3-4).

Sabemos que a influência de Satanás é fazer com que as pessoas pensem nas coisas do homem e não nas coisas de Deus (Mateus 16:23). Jesus disse esta palavra a Pedro quando o discípulo O repreendeu por dizer que morreria, em vez de subir ao trono (como ele esperava) (Mateus 16:21-23). Podemos especular que Judas pode ter buscado as coisas dos homens, raciocinando para si mesmo que estava fazendo um favor a Deus ao forçar a mão de Jesus, para determinar se ele era de fato o Messias, levando Jesus a subir ao trono ou ser conhecido como uma fraude.

É evidente, a partir dos relatos do Evangelho, que a expectativa primordial tanto dos discípulos quanto do povo era que seu Messias fosse um libertador político. Isto tinha uma boa razão, já que os profetas haviam indicado claramente que este seria o caso. No entanto, o que o povo não compreendeu foi que o Antigo Testamento profetizava sobre dois Messias, um servo sofredor (José - Salmo 22 - Isaías 53) e um rei conquistador (Davi, aquele que eles esperavam), e isso deveria ser cumprido em uma só pessoa (Jesus), que viria à terra em dois momentos separados. Jesus veio pela primeira vez para servir e morrer pelos pecados do mundo (Mateus 20:28).

Podemos imaginar Judas racionalizando que, ao fazer sua barganha por trinta moedas de prata, ele estava forçando a mão de Jesus. Ou mostraria que Ele era uma fraude, ou O forçaria a subir ao trono. Esta especulação parece ser apoiada pela resposta de Judas depois que Jesus é preso. Depois que Judas viu que Jesus estava condenado, ele tentou devolver as trinta moedas de prata e disse: "Pequei por trair sangue inocente" (Mateus 27:3-4).

Qualquer que tenha sido seu raciocínio, Judas parece ter entregado seu coração e mente a Satanás e suas tentações quando traiu Jesus. Infelizmente, seria o maior arrependimento de sua vida. Mas, ao contrário de Pedro, que se arrependeu, Judas tiraria a própria vida (Mateus 27:5).

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