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Significado de Mateus 27:6-10

Mateus relata o que os sacerdotes fizeram com o dinheiro da propina deixado por Judas no templo. Como era ilegal para os sacerdotes colocar o dinheiro de sangue devolvido por Judas no tesouro do templo, eles o usaram para comprar o Campo do Oleiro, que se tornaria um local de sepultamento de indigentes. Mateus explica como a compra do "Campo do Oleiro" pelos sacerdotes com o dinheiro de sangue devolvido por Judas pela traição de Jesus, o Messias, cumpria quatro profecias sobre a destruição de Jerusalém.

Na seção anterior (Mateus 27:3-5), Mateus informa seus leitores sobre o que aconteceu com Judas. Depois de ver que Jesus havia sido condenado à morte, Judas sentiu remorso por seu papel pecaminoso em trair a seu ex-rabino (Mateus 27:3). Ele tentou devolver o dinheiro do suborno aos sacerdotes e anciãos, mas eles se recusaram a recebê-lo e lhe disseram para deixá-los em paz (Mateus 27:3-4). Judas, então, lançou as trinta moedas de prata no santuário do templo e fugiu — onde se enforcou (Mateus 27:5).

Agora, Mateus foca sua narrativa principal na crucificação de Jesus, visando concluir a história sobre o que acabaria acontecendo com o dinheiro de sangue e como ele cumpria as profecias judaicas.

O QUE OS SACERDOTES FIZERAM COM O DINHEIRO DE SANGUE

Os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no tesouro sagrado, porque é preço de sangue (v. 6a).

Os principais sacerdotes eram os líderes entre os saduceus, a parte responsável pelo templo e pela oferta de sacrifícios que ocorriam lá. Como Judas estava morto e havia deixado o dinheiro lá para eles, eles precisaram decidir o que fazer com as moedas de prata.

Normalmente, qualquer dinheiro não reclamado seria colocado no tesouro do templo; mas eles disseram: "Não é lícito deitá-las no tesouro sagrado, porque é preço de sangue" (v. 6).

A admissão dos principais sacerdotes de que não era lícito colocar as moedas nos fundos do templo porque aquele era dinheiro de sangue constituía uma admissão não intencional de que a acusação e condenação de Jesus haviam sido ilegais por ter sido baseadas em um suborno.

A Lei de Moisés afirmava:

Não aceitarás suborno, pois ele cega aos que têm vista e perverte as palavras dos justos (Êxodo 23:8).

A lei oral, chamada de "Mishná", também proibia um juiz de receber qualquer coisa dos litigantes em julgamentos criminais ou civis.

E, no entanto, o julgamento de Jesus havia obviamente sido o resultado de um suborno:

Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, procurou os principais sacerdotes e lhes disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? Eles lhe pesaram trinta moedas de prata. Desde então, Judas buscava oportunidade para o entregar (Mateus 26:14-16).

Sem Judas, eles não teriam conseguido localizado Jesus no Jardim do Getsêmani para prendê-lo. Sem Jesus como prisioneiro, eles não poderiam tê-Lo acusado ou condenado. Judas havia prestado esse serviço indispensável a eles pelo preço de trinta moedas de prata. Todo o julgamento foi ilegalmente baseado em um suborno pago com o propósito de matar um homem.

Agora que Jesus havia sido morto, a prata abandonada é considerada como dinheiro de sangue. O dinheiro era considerado contaminado e profano. O preço de sangue não  podia ser adicionado ao tesouro do templo sagrado, para não contaminar os fundos, o templo e os sacrifícios ali oferecidos.

Porém, não foi o dinheiro ilegal do suborno que tornou o templo profano. Foram os principais sacerdotes que conspiraram para assassinar o Messias, o Filho de Deus que haviam contaminado o templo.

O raciocínio distorcido dos sacerdotes era um exemplo explícito do tipo de legalismo hipócrita e de justiça própria contra o qual Jesus havia pregado tantas vezes (Mateus 5:33-35; 23:16-22, 27-33).

Eles não podiam devolver as moedas de prata a Judas, pois ele havia se enforcado (Mateus 27:5).

Depois de deliberarem em conselho, compraram com elas o Campo do Oleiro, a fim de servir de cemitério para os forasteiros (v. 7).

Como não podiam legalmente colocar a prata no tesouro do templo e não podiam reivindicá-la para si mesmos sem se contaminarem, eles decidiram usá-la para o bem público. Eles a usaram para comprar um lugar chamado Campo do Oleiro.

O Campo do Oleiro ficava localizado fora da cidade de Jerusalém, ao sul, ao longo de uma das encostas do vale de Hinom. Foi chamado de Campo do Oleiro porque era rico em argila vermelha que os artesãos usavam para fazer cerâmica. O campo, agora, seria usado como local de sepultamento de estrangeiros que morressem na cidade.

Mateus explica: “Por isso, aquele campo tem sido chamado até o dia de hoje Campo de Sangue(v. 8).

Aparentemente, os sacerdotes podem ter rebatizado o local como Campo de Sangue depois de comprá-lo, ou de alguma forma tornou-se de conhecimento comum que Judas havia traído a Jesus por suborno e o dinheiro de sangue devolvido fora usado para financiar a compra do campo. A expressão de Mateus - “até o dia de hoje” - indica que ele escreveu seu relato alguns anos depois desses eventos.

Lucas confirma que o campo comprado pelo dinheiro da maldade de Judas " e tornou-se isso conhecido de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue)" (Atos 1:19).

OS CUMPRIMENTOS PROFÉTICOS

Mateus, então, conecta a compra do Campo do Oleiro à profecia judaica:

Assim, se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: E tomaram as trinta moedas de prata, preço daquele que foi avaliado, a quem alguns dos filhos de Israel apreçaram; 10e deram-nas pelo Campo do Oleiro, assim como me ordenou o Senhor (v. 9,10).

Esta é a décima-sexta vez que Mateus aponta explicitamente como as profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias foram cumpridas em Jesus (os quinze textos anteriores encontram-se em Mateus 1:22-23; 2:5-6; 2:15; 2:16-18; 2:23; 3:1-3; 4:4-6; 4:13-16; 8:17; 10:35-36; 11:10; 12:17-21; 13:14-15; 13:35; e 21:2-5. Esta lista não inclui as profecias messiânicas adicionais aludidas por Jesus em Mateus 11:5, 6 e 26:31).

Mateus atribui essa profecia àquela que havia sido dita por meio de Jeremias, o profeta; porém, o texto parece ter sido tirado de outro profeta judeu, Zacarias.

Mateus não nomeia Zacarias como sendo o profeta por meio do qual essas palavras foram ditas. Em vez disso, Mateus nomeia Jeremias, que não parece escrever essas palavras exatas nem no Livro de Jeremias nem em suas Lamentações.

Por que, então, Mateus nomearia Jeremias em vez de Zacarias ao citar o profeta?

Isso pode ter sido simplesmente o resultado de um erro do escriba. Um escriba pode ter acidentalmente copiado o nome do profeta errado e mudado por engano de Zacarias para Jeremias. Porém, olhando mais profundamente, Mateus parecia saber exatamente o que estava fazendo ao atribuir a profecia a Jeremias.

Mateus parece aludir a temas de três profecias dentro do livro de Jeremias enquanto usa as palavras de Zacarias. O contexto mais amplo para todas as quatro profecias (três de Jeremias e uma de Zacarias) diz respeito à destruição iminente de Jerusalém. Veremos essas profecias mais de perto mais adiante. Por enquanto, vale ressaltar que Mateus parece ter em mente tanto o profeta Jeremias quanto o profeta Zacarias ao discutir a compra do Campo do Oleiro/Campo de Sangue pelos sacerdotes com o dinheiro devolvido por Judas.

Há pelo menos três possíveis razões pelas quais Mateus mencione Jeremias, não Zacarias, embora provavelmente ele tivesse a ambos os profetas em mente.

A primeira razão possível é que Mateus tenha citado o mais proeminente dos dois profetas (Jeremias), deixando o menor de fora (Zacarias). Pelos cálculos judaicos, entre os dois, Jeremias era o profeta mais significativo porque havia vindo antes de Zacarias e seus escritos eram mais volumosos. Neste caso, a menção de Mateus a Jeremias,  mas não a Zacarias, é comparável a quando uma pessoa menciona sua visita a Nova York quando pode ter descido no aeroporto de Newark, Nova Jersey (Nova York é o estado mais proeminente, o que torna Nova Jersey menos importante).

Outro fator que torna Jeremias mais proeminente do que Zacarias é o fato de Mateus parecer se basear em três referências proféticas de Jeremias, mas a apenas uma de Zacarias. Portanto, Mateus dá crédito ao profeta mais mencionado.

A segunda possível razão de Mateus ter mencionado Jeremias e não Zacarias é pelo fato de ter aludido às profecias de Jeremias, que seriam menos perceptíveis sem uma referência explícita, enquanto sua citação de Zacarias teria sido óbvia para seu público judeu. Portanto, ele achou necessário mencionar Jeremias, mas desnecessário nomear Zacarias.

Com essas possibilidades sobre o motivo de Mateus ter mencionado Jeremias ao fazer uma citação de Zacarias, voltemo-nos agora para as quatro profecias mencionadas pelo escritor evangélico para ver quais pontos ele estava tentando levantar. Começaremos com a referência óbvia de Zacarias.

REFERÊNCIA PROFÉTICA 1: ZACARIAS 11 — TRINTA SICLOS DE PRATA LANÇADOS AO OLEIRO

Mateus parece estar citando ou parafraseando diretamente uma profecia de Zacarias 11:12-13:

Pesaram, pois, por minha paga trinta moedas de prata. Jeová disse-me: Arroja-as ao oleiro, esse belo preço em que fui apreçado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e arrojei-as ao oleiro na Casa de Jeová (Zacarias 11:12b, 13).

Mateus parecia estar interpretando Zacarias em relação à compra do Campo do Oleiro pelos sacerdotes.

  • O sujeito oculto - "eles pesaram" - refere-se aos filhos de Israel os principais sacerdotes citados por Mateus.
  • "Trinta moedas de prata" foi o preço fixado pelos filhos de Israel. Este foi o preço exato estabelecido pelos sacerdotes para a traição de Jesus (Mateus 26:15).
  • A prata foi lançada "na casa de Jeová" (Zacarias 11:13b). A casa do SENHOR é o nome descritivo do templo. O lugar exato onde Judas jogou as trinta moedas de prata foi o santuário do templo (Mateus 27:5).
  • Eles deram as trinta moedas de prata "ao oleiro" (Zacarias 11:13) para o Campo do Oleiro.
  • Eles fizeram essas coisas como "Jeová me disse" (registra o profeta Zacarias) e orientou os principais sacerdotes a fazer.

O contexto da profecia de Zacarias ocorre dentro de uma metáfora profética que previa a destruição de Israel e seus líderes corruptos (Zacarias 11:1-17).

Neste texto, Deus diz ao profeta Zacarias para pastorear "ovelhas destinadas para o matadouro" (Zacarias 11:4). As ovelhas muito provavelmente representavam a nação de Israel. Através da profecia, o Senhor prevê ao rebanho duas catástrofes. Primeiro: seus próprios pastores (simbolizados pelos sacerdotes e líderes religiosos de Israel) não têm piedade delas (Zacarias 11:5). Segundo: uma brutal tomada de poder político estava prestes a ocorrer: "...entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei" (Zacarias 11:6). Esta era uma previsão da demolição de Israel e do templo pelos romanos, ocorrida em 70 d.C. Em Seu Discurso no Monte das Oliveiras, Jesus adverte Seus discípulos sobre essa iminente destruição de Jerusalém (Mateus 24:2).

Em seguida, Zacarias diz que apascentara o rebanho condenado à matança e tomara dois cajados chamados de "Formosura" e "União" (Zacarias 11:7). O bastão chamado "Formosura", explica Zacarias, representava a aliança de Deus com todos os povos no Monte Sinai; Zacarias quebra o cajado para simbolizar como os filhos de Israel haviam quebrado sua aliança com Deus (Zacarias 11:10, 11). Zacarias também quebra o cajado chamado "União". Ele explica que isso representava o rompimento da unidade das tribos de Judá e Israel ao se tornarem reinos separados (Zacarias 11:14).

Usando esses dois cajados como ilustrações, o profeta Zacarias resume a história passada de Israel e profetiza o que estava por vir. Ao longo de sua história, Israel desobedeceu repetidamente à aliança de Deus e o reino foi dividido aproximadamente em 975 a.C. Zacarias descreve esses eventos históricos séculos mais tarde, por volta de 520 a.C. Profeticamente, a quebra do cajado "Formosura" também simbolizaria a rejeição de Israel a Jesus como Deus e Messias 500 anos depois. A quebra do cajado "União" simbolizaria a vitória sangrenta de Roma sobre os judeus em 70 d.C. e a diáspora judaica que se seguiu. Isso é consistente com o padrão bíblico de profecias com duplo cumprimento.

Há também um cumprimento profético messiânico que pode ser aplicado à quebra dos dois cajados. A quebra do cajado "Formosura" pode representar a rejeição de Israel ao Messias. A quebra do cajado "União" pode representar a crucificação do Messias por Roma. Essa interpretação messiânica se harmoniza com o princípio geral de que tudo o que acontecesse com os israelitas também aconteceria com o Messias e vice-versa.

Em Zacarias 11:8, o Senhor diz: "Exterminei os três pastores num só mês; porque a minha alma se enfastiou deles, e a sua alma também teve nojo de mim". Esses três pastores possivelmente representavam os três ofícios religiosos durante os dias de Jesus que conspirariam para destruí-Lo: os anciãos (fariseus), os principais sacerdotes (saduceus) e os escribas (advogados religiosos) (Mateus 16:21; 21:45-46; 26:3-5). A representação aqui é dos três ofícios sendo destruídos durante a destruição de Jerusalém pelos romanos.

Após promulgar a palavra do Senhor por meio de seu discurso e ações diante do povo, Zacarias lhes pergunta se a palavra lhes parecia boa e pergunta que salário ele merecia receber caso aquilo tudo acontecesse. Em tom de chacota, o povo responde: "Pesaram, pois, por minha paga trinta moedas de prata" (Zacarias 11:12). Ou seja, ofereceram-lhe o preço de um escravo.

Então, o Senhor orienta Zacarias: "Arroja-as ao oleiro". Deus comenta, sarcasticamente, sobre esse valor: "...esse belo preço em que fui apreçado por eles". Zacarias, então, faz o que o Senhor lhe ordenou: "Tomei as trinta moedas de prata e arrojei-as ao oleiro na Casa de Jeová " (Zacarias 11:13b).

Mateus parece associar essa profecia de Zacarias com o uso do dinheiro de sangue pelos sacerdotes para comprar o Campo do Oleiro, conectando seu suborno corrupto para matar o Messias com a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.

Durante aquele terrível evento em 70 d.C., o templo foi destruído. O ouro derreteu e se infiltrou nas pedras. Os soldados as despedaçaram para recuperar o ouro — o templo foi completamente desmantelado, assim como Jesus havia previsto (Mateus 24:1, 2). Estima-se que mais de um milhão de judeus tenham perecido naquela guerra. Foram tantas mortes que, segundo o antigo historiador Filóstrato: "Todo o país (Jerusalém) estava cheio de cadáveres" (Flávio Filóstrato. "A Vida de Apolônio", 6.29). Muitos dos cadáveres foram enterrados no Campo de Sangue comprado pelos sacerdotes.

A horrível matança provavelmente tenha ocorrido algum tempo depois que o Evangelho de Mateus já estava em circulação. Se isso fo verdade, o próprio Mateus estava profetizando (através do Espírito Santo e do uso das profecias de Zacarias e Jeremias) sobre aquela iminente desgraça. Mateus conecta diretamente a catástrofe futura à rejeição de Israel a Jesus como Messias e Rei. Caso Mateus tenha escrito seu livro após a queda de Jerusalém, ele estava simplesmente demonstrando que aquela era a consequência da rejeição de Jesus como o Rei e Messias e que aquela profecia, uma vez predita como um alerta, fora cumprida.

REFERÊNCIA PROFÉTICA 2: JEREMIAS 18 — O OLEIRO E O BARRO

A primeira alusão a Jeremias parece vir da visita de Jeremias à casa do oleiro (Jeremias 18:1-4) e de sua advertência profética a Jerusalém (Jeremias 18:5-12).

Jeremias observa como o oleiro moldava o barro e era rápido em remodelá-lo para se adequar ao seu projeto, caso se estragasse em suas mãos (Jeremias 18:3, 4). O SENHOR, então, diz a Jeremias que Ele seria como o oleiro para Sua obra (Israel) caso eles persistissem em fazer o mal (Jeremias 18:5-10).

O Senhor fala diretamente aos "homens de Judá" (novamente, este era o nome hebraico de Judas — veja o comentário bíblico sobre Mateus 27:3-5) e "aos habitantes de Jerusalém" (Jeremias 18:11):

Eis que vou forjar mal contra vós e formar um projeto contra vós; convertei-vos, pois, cada um do seu mau caminho, e emendai os vossos caminhos e os vossos feitos (Jeremias 18:11b).

Apesar de Sua advertência e convite ao arrependimento, o Senhor prevê que eles não se afastariam de suas iniquidades:

Mas eles dizem: Não há esperança; porque havemos de andar após os nossos projetos e havemos de fazer cada um conforme a obstinação do seu mau coração (Jeremias 18:12).

As palavras de Jeremias eram proféticas em vários níveis. Elas se cumpriram quando a Babilônia destruiu a cidade de Jerusalém em 586 a.C. Elas também eram proféticas a respeito da destruição de Jerusalém por Roma séculos depois, em 70 d.C. Elas foram proféticas em relação a Judas, que matou movido por culpa e remorso (Mateus 26:3-5) ao sentir que não mais havia esperança (Jeremias 18:12). E elas são proféticas em relação aos principais sacerdotes e anciãos que seguiram a seus próprios “projetos... conforme a obstinação do seu mau coração" (Jeremias 18:12) ao se recusarem a crer em Jesus como o Messias, mesmo depois de Ele ter ressuscitado.

REFERÊNCIA PROFÉTICA 3: JEREMIAS 19 — A BOTIJA QUEBRADA E O VALE DA MATANÇA

A segunda profecia de Jeremias à qual Mateus parece aludir nesta passagem é a de Jeremias 19.

Neste capítulo, o Senhor instrui Jeremias a voltar ao oleiro, comprar um BOTIJA de barro e trazer alguns dos anciãos e sacerdotes com ele ao vale de Ben-hinom (Geena) (Jeremias 19:1, 2). Uma vez lá, Jeremias deveria profetizar a Jerusalém sobre uma calamidade vindoura que iria retinir nos ouvidos dos que ouvissem falar dela (Jeremias 19:3). Entre as previsões estava a de que o Senhor tornaria vão “o conselho de Judá [nome hebraico de Judas] e de Jerusalém" (Jeremias 19:7). O vale receberia um novo nome, "vale de matança" (Jeremias 19:6) porque as carcaças humanas encheriam o vale (Jeremias 19:7).

O Senhor diz a Jeremias, então, para quebrar a botija como sinal de que Ele quebraria a Seu povo infiel (Jeremias 19:10-11) antes de dizer-lhes que enterrariam as pessoas em Tofete (outro nome para Ben-hinom/Geena) "por não haver outro lugar para os enterrar" (Jeremias 19:11).

A alusão de Mateus a essa terrível profecia era uma advertência de que o Deus anularia o “conselho de Judá [Judas] e [dos sacerdotes de] Jerusalém" (Jeremias 19:7) quando viesse reivindicar o "Campo de Sangue" comprado com as trinta moedas de prata devolvidas por Judas aos principais sacerdotes. Mais uma vez, quando Roma destruiu Jerusalém em 70 d.C., incontáveis judeus foram massacrados e seus cadáveres encheram o Vale de Hinom e o campo que havia sido comprado com o preço do sangue do Messias.

Citando mais uma vez o antigo historiador Filóstrato:

"Depois que Tito [o general romano comandante] tomou Jerusalém...ele rejeitou tal honra a si mesmo, dizendo não ter sido ele a realizar tal façanha, mas que ele apenas emprestara suas armas a Deus, que havia manifestado sua ira" (Flávio Filóstrato. "A Vida de Apolônio", 6.29).

A ira de Deus era, talvez, a maneira mais apropriada de descrever a queda de Jerusalém.

REFERÊNCIA PROFÉTICA 4: JEREMIAS 32 — A COMPRA DO CAMPO POR JEREMIAS

A terceira profecia de Jeremias citada por Mateus nesta passagem é Jeremias 32.

Mateus escreve:

Assim, se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: E tomaram as trinta moedas de prata, preço daquele que foi avaliado, a quem alguns dos filhos de Israel apreçaram; e deram-nas pelo Campo do Oleiro, assim como me ordenou o Senhor (Mateus 27:9, 10).

Isso parece fazer referência à ordem do Senhor a Jeremias enquanto ele estava na prisão para comprar o campo em Anatote (Jeremias 32:6, 7). O profeta, ainda preso, chama seu tio para ajudá-lo. Ele o compra com "siclos de prata" (Jeremias 18:8, 9) com um registro selado da compra (Jeremias 18:10-15). Peças de prata são a moeda usada na traição de Judas a Jesus. Jeremias, então, passa a explicar como aquela compra era um ato de fé, apesar de a Judéia logo ser demolida pela Babilônia. A compra daquele campo ainda era um bom investimento, porque Deus redimiria a terra e Seu povo floresceria mais uma vez na Judéia (Jeremias 18:16-44).

Mais uma vez, como fizera com a profecia de Jeremias 18 e 19, Mateus usa a profecia inicial de Jeremias sobre a queda de Jerusalém diante da Babilônia para estabelecer uma conexão profética entre a traição de Judas, a rejeição dos principais sacerdotes a  Jesus, o Messias, e a compra do Campo de Sangue com a queda de Jerusalém diante de Roma.

O tema comum em todas essas quatro referências proféticas (três de Jeremias e uma de Zacarias) conecta a compra do Campo de Sangue e a rejeição do Messias por Jerusalém com a destruição da cidade cerca de 40 anos após esses eventos.

O campo comprado com o dinheiro do sangue do Messias logo se tornaria o local de uma matança indescritível e um local de sepultamento para os cadáveres que cairiam lá durante a destruição da cidade pelos romanos em 70 d.C. Esta passagem em Mateus demonstra que, quando os sacerdotes compraram o Campo do Oleiro, eles também trouxeram sobre si as profecias de vingança do Senhor a respeito daquele campo. O salário do pecado era, e ainda é, a morte.

Assim como o presidente americano Abraham Lincoln aplicou o Salmo 19:9 ao grande derramamento de sangue na Guerra Civil Americana como resultado da escravidão americana, podemos aplicar reverentemente este versículo ao dinheiro devolvido por Judas aos sacerdotes assassinos do Messias, que o usaram para comprar o Campo de Sangue:

...os juízos de Jeová são verdadeiros e inteiramente justos (Salmos 19:9).

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