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Significado de Mateus 5:17-20

Jesus diz a Seus discípulos que Ele não veio para abolir a Lei, mas para cumprir o que Moisés e os profetas haviam ensinado. No entanto, Ele deixa claro que os que obedeciam à Lei apenas na literalidade não possuíam justiça suficiente para entrar no Reino dos Céus.

Jesus faz uma conexão dos Seus ensinamentos com os ensinamentos de Moisés e do Antigo Testamento, aqui descritos como a Lei e os Profetas. Nos tempos de Cristo, as pessoas tinham somente o Antigo Testamento. Os primeiros cinco livros eram considerados como tendo a autoria de Moisés e grande parte do restante do Antigo Testamento havia sido escrito pelos profetas.

Embora a mensagem de Jesus fosse radicalmente diferente da mensagem do sistema que era ensinado pelos líderes religiosos da época, os escribas e fariseus, Ele diz que não havia vindo para abolir a Lei e os Profetas. Os escribas e fariseus  eram os líderes religiosos reconhecidos por todos. Eles haviam criado uma longa lista de regras a serem seguidas com o fim de se alcançar a justiça. Jesus, na realidade, não estava trazendo e impondo novas regras. Portanto, é razoável pensar que Jesus tivesse que explicar a Seus discípulos os motivos pelos quais Sua mensagem era diferente.

Jesus não veio para abolir a Lei, mas para cumprí-la. Ele não estava se referindo à longa lista de normas produzidas pelos escribas e fariseus. Sua mensagem estava centrada no cumprimento da Lei.

A implicação disso é que a abordagem dos escribas e fariseus não estava funcionando e jamais funcionariam para alcançar a justiça. Jesus está inaugurando um novo caminho para o cumprimento da Lei e dos Profetas. Os fariseus eram consumidos pela Lei, mas Jesus deve ter adicionado os Profetas porque eles sempre se referiam a Ele (o Messias) como a única forma de cumprir a justiça.

Jesus veio para cumprir a Lei e os Profetas de três maneiras.

Primeiro, Jesus é o Messias prometido apresentado pela Lei e pelos Profetas como Aquele que “salvaria o Seu povo de seus pecados” (Mateus 1:21). Já vimos vários exemplos nos quais Ele cumpriu as profecias do Antigo Testamento na narrativa de Mateus. Aqui, Jesus faz uma declaração geral a respeito de como Ele é o cumprimento do que havia sido profetizado.

Segundo, Jesus cumpriu perfeitamente a Lei e seus estatutos. Ele era puro e sem pecado. Até mesmo Seus inimigos - Seus adversários (João 8:46), Seu traidor (Mateus 27:4), Seus acusadores (Marcos 14:55-59), ou Seu juiz (Lucas 23:4) - não conseguiram encontrar falta Nele.

Terceiro, Jesus veio para cumprir a Lei dentro dos corações de Seus discípulos. A Lei de Moisés determinava como as pessoas deveriam viver, algo impossível a elas. Jesus veio não apenas para dizer e mostrar como viver justamente (em harmonia com Ele), mas para nos dar um novo coração e o poder do Espírito Santo, para que pudéssemos viver como Ele deseja que vivamos.

Romanos 10:4 diz: “Pois Cristo é o fim (cumprimento) da Lei para justificar a todo aquele que crê.” Romanos 8:4 diz que os crentes em Jesus cumprem a Lei quando andam em espírito, ao invés de andarem na carne. Em sua carta aos gálatas, Paulo aborda o tema de que a Lei é nossa tutora. Andar por fé, ele conclui, conduz os crentes a crescer em direção à maturidade e herança. Paulo também declara: “Pois toda a Lei se resume em um só preceito, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5:14).

O apóstolo continua descrevendo o caminhar em Espírito como forma de cumprir a Lei. Tudo isso é consistente com o Sermão da Montanha. Jesus está ensinando a Seus discípulos a caminhar por fé, seguindo o espírito por trás da Lei, focando em sua atitude interior, andando na dependência de Deus e no serviço ao próximo.

Após afirmar Seu apoio pela Lei e os Profetas, Jesus faz uma declaração espantosa: “Porque em verdade vos digo: Enquanto não passar o céu e a terra, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, sem que tudo se cumpra”. Jesus está afirmando com 100% de certeza que tudo o que havia sido escrito na Lei e nos Profetas aconteceria. Tudo. Nem um pingo ou til da Lei seria descartado. A própria existência do universo é sustentada por tudo o que Deus registrou em Sua Palavra e tudo vai se cumprir cabalmente. É importante observar que Jesus, com toda ousadia, faz a seguinte declaração sobre Sua própria autoridade: Porque em verdade vos digo.

Na tradição rabínica, os pensamentos de um mestre não eram maiores que sua autoridade. Os rabinos sempre comunicavam suas genealogias rabínicas para sustentar o seu ensino. “O que estou ensinando foi passado pelo rabino tal e tal, que foi discípulo do rabino tal e tal, que estudou com o rabino tal e tal...”, e assim por diante. Porém, Jesus não ensina desta maneira. Ele não apela à tradição rabínica. Ele não apela a qualquer autoridade maior que Ele para fazer tal declaração. E o motivo de não fazê-lo é simples: não havia autoridade maior que Ele. Sendo Deus, não há outro nome acima de Seu nome.

Nos Evangelhos, muitos dos que se encontravam com Jesus queriam saber a fonte de Sua autoridade (Lucas 4:31, 32; Marcos 2:6-11; João 8:13, 14; Mateus 21:23). Na cabala dos judeus, não existia autoridade humana maior que Moisés, porque Moisés havia visto a face de Deus e recebido a Lei de Deus, entregue à nação de Israel. Mas Jesus era Deus. Como lemos em João 1:17: “Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram (literalmente: vieram à existência) por Jesus Cristo.” Sendo Deus, o Criador dos céus e da terra, o mesmo Deus que havia escrito a Lei dada a Moisés, Jesus era a fonte da Lei e sua autoridade definitiva.

Portanto, Jesus não precisava ensinar como os escribas e fariseus. Ele podia dizer diante de todos: “Na verdade Eu vos digo”. E Ele disse (Jesus usa a frase vos digo catorze vezes neste sermão). Tal declaração, no entanto, era chocante a Seus discípulos e às multidões que O ouviam. Veremos isso claramente na reação de Seus discípulos quando Ele conclui Seu sermão: “As turbas admiravam-se do seu ensino; porque ele as ensinava como quem tinha autoridade” (Mateus 7:28, 29).

Para demonstrar a relevância da Lei, Jesus aponta para a sua durabilidade. Nem (mesmo) um pingo (literalmente, a menor letra do alfabeto greto, “iota”) ou ou til da Lei passarão até que tudo seja cumprido. Céus e terra passarão. Em outras palavras, a Lei deve ser honrada e mantida. Ela permanecerá em efeito até que seus propósitos se cumpram completamente. A declaração de Jesus ecoa Isaías 40:8: “Seca-se a erva, cai a flor, mas a palavra do nosso Deus subsistirá para sempre.” Jesus, mais tarde, faz o seguinte comentário em Mateus 24:35: “Passará o céu e a terra, mas não passarão as minhas palavras.” Quando consideramos essas três passagens bíblicas juntamente, a conclusão é a de que Jesus é Deus, o mesmo Deus que liberou cada letra e cada til da Lei de Moisés. Isso faz sentido, já que o apóstolo João indica claramente que Jesus é O Verbo Vivo de Deus (João 1:1-5).

Jesus, então, apresenta as consequências de se guardar ou desobedecer à Lei. Todo aquele que tentasse anular ou reescrever até mesmo um dos menores mandamentos, ou que ensinasse a outros que os mandamentos não são importantes seriam conhecidos como os menores no Reino dos Céus. É importante frisar que Jesus não diz que quem anular os mandamentos ou ensinar a outras pessoas a fazer o mesmo serão proibidos de entrar no Reino dos Céus. Mas, essas pessoas serão conhecidas como os menores lá. Menores, neste contexto, significa menos notáveis ou privilegiados, alguém com nível de autoridade menor no Reino. Esta é a consequência de se deslegitimar a Lei de Deus.

A consequência para qualquer um que obedeça os mandamentos e os ensine é a recompensa. A recompensa é ser chamado grande no Reino dos Cèus. Esta grandeza provavelmente se refere à influência, autoridade e distinção no Reino.

Jesus conclui suas palavras iniciais a Seus discípulos abordando o Seu Reino e suas plataformas com uma outra declaração impressionante. Ele diz aos discípulos que eles não entrariam no Reino dos Céus, a menos que suas justiça ultrapassassem a justiça dos professores e guardiões da Lei - os escribas e fariseus. Aos olhos dos discípulos de Jesus e das comunidades judaicas, era provável que ninguém fosse considerado mais justo que os fariseus. Ninguém entendia a Lei melhor que eles. Ninguém desejava cumprir a Lei mais do que eles. Ninguém ensinava suas aplicações melhor que eles.

Quando o assunto era a justiça da Lei, os fariseus eram geralmente considerados heróis em sua cultura. Isso pode ser visto em Mateus 15:12, quando os discípulos informam a Jesus que os fariseus haviam se ofendido com algo que Ele havia dito. Eles tinham credibilidade e, assim, as pessoas normalmente levavam suas críticas muito a sério. Sua justiça na Lei era algo inspirador. Isso também pode ser observado na exortação de Jesus aos fariseus em Mateus 23. O problema apontado por Jesus, tal como o de “devorar a casa das viúvas”, somente seria visto como ofensa pelos fariseus se eles gozassem de boa reputação entre o povo. A reação imediata na mente de todos provavelmente foi a seguinte: “Se os fariseus não são justos o suficiente para entrar no Reino dos Cèus, então quem jamais vai conseguir entrar?”

O que Jesus quis dizer com esta impactante declaração?

O pré-requisito apresentado por Jesus para entrada em Seu Reino não tinha a ver com “grau” ou “quantidade” de justiça, mas com o “tipo” de justiça. Que tipo de justiça permitiria que a pessoas entrasse no Reino de Deus? Seria pela via legalista do cumprimento externo da Lei ou pela obediência à justiça no coração?

Jesus ensinou que se tratava da segunda atitude. A justiça requerida para entrar no Reino dos Céus devia vir do coração. Não deveria ser resultado de uma justiça demonstrada externamente (o tipo de justiça que os fariseus apresentavam abundantemente), mas uma justiça interna proveniente do amor a Deus. Isso se torna ainda mais evidente quando consideramos os ensinamentos de Cristo a seguir.

Em Suas próximas palavras, Jesus vai descrever alguns cenários que contrastam a obediência externa e a obediência interna à Lei (assassinato e ira, Mateus 5:21, 22; fazer as pazes com Deus após um conflito relacional, Mateus 5:23, 24; adultério e luxúria, Mateus 5:27-32; votos públicos e honestidade, Mateus 5:34-37; vingança versus misericórdia, Mateus 5:38-47; demonstração pública de caridade, oração e jejum, Mateus 6:1-21).

Cada um desses exemplos ensinados por Jesus, Ele indica que a obediência interior tem, no mínimo, o mesmo nível de importância que a obediência externa. Tal distinção é frequentemente descrita como “manter a letra da lei” versus “manter o espírito da lei”. Jesus diz que devemos manter a ambos.

O ponto alto deste ponto sobre ultrapassar a justiça dos escribas e fariseus é que isso é algo factível. Não devemos tentar ser melhores que eles externamente. Talvez seja algo que jamais consigamos fazer. Porém, a justiça interior dos fariseus era extremamente fraca. Jesus os repeendeu muitas vezes: “Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (mateus 23:28). Jamais entraremos no Reino dos Céus se nossa justiça não ultrapassar a hipocrisia e a iniquidade.

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