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Significado de Mateus 5:21-22

Jesus diz que a justiça é cumprida pela obediência externa à Lei e pela obediência interna ao espírito da Lei. Ações violentas e desejos violentos no coração resultam em desarmonia (injustiça).

Jesus desafiou o status quo ao dizer a Seus discípulos: “se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). Ao mesmo tempo, os fariseus eram vistos como as pessoas mais justas em Israel. Portanto, uma declaração como essa provocou curiosidade e surpresa nos discípulos. Jesus começa a dar exemplos, visando demonstrar os princípios do Seu Reino de Justiça (harmonia), que era muito superior à justiça dos fariseus.

O primeiro princípio é que a justiça do Seu Reino era tanto externa quanto interna. O primeiro exemplo lida com a questão da ira.

Jesus inicia seu discurso pela aliança com Noé (Gênesis 9:5, 6), repetida mais tarde como o famoso sexto mandamento dos Dez Mandamentos (Êxodo 20:13): Não matarás. Jesus diz a Seus discípulos: “Vocês sabem que seus antepassados foram ensinados que matar uma pessoa era uma violação da aliança com Deus. Se vocês vocês ouviram esta declaração, isso significa que a Lei de Deus foi ensinada a vocês pelos escribas e fariseus, ou outros rabinos.

Neste ponto da história, os judeus aprendiam as escrituras sagradas em sua juventude. Alguns acreditam que o judeu típico (homem) já havia memorizado toda a Bíblia quando chegava à vida adulta. Os evangelhos deixam claro que a Bíblia era lida e discutida com frequência nas comunidades judaicas (Mateus 21:42; 23:2, 3; Lucas 4:16-20). A Bíblia, naquele tempo, consistia de todos os livros conhecidos como Antigo Testamento. Quando Jesus entra no cenário da história, não havia um único texto adicionado à Bíblia por quatrocentos anos.

Os antigos (G746) na frase “foi dito aos antigos” significa literalmente “os iniciadores” ou os “antepassados”. Jesus repete esta palavra em Mateus 5:33. Os antigos pode ter sido uma referência geral à época quando Deus revelou o Antigo Testamento, de Moisés a Malaquias, ou pode ter sido uma referência à geração de Êxodo, quando a Lei foi oficialmente dada ao povo de Israel. Os antigos pode também significar o período antes da Lei Mosaica, durante todo o tempo desde Adão até Noé e os patriarcas de Gênesis. O assassinato foi explicitamente condenado por Deus no caso de Caim, antes do dilúvio e novamente na alliança noética. Independentemente de quem Jesus tem em mente, Ele está falando sobre homens que haviam vivido muito tempo antes dele.

Esta referência destaca a conexão entre os ensinamentos de Jesus e os antigos ensinos dos rabinos, tão familiares aos discípulos. Jesus não refutou os ensinamentos dos escribes e fariseus. Ele refutou sua aplicação ou, melhor dizendo, a falta de aplicação dos ensinos (Mateus 23:2, 3). Conforme registrado alguns versículos antes, Jesus foi firme ao dizer que não havia vindo para alterar qualquer aspecto das escrituras, mas para cumprir tudo o que a Bíblia dizia (Mateus 5:17). O que Jesus estava enfatizando é que a aplicação da Bíblia demandava uma transformação do coração e da mente.

Seus discípulos também haviam ouvido que todo assassino deveria ser levado diante do tribunal (Deuteronômio 16:18). Ser levado diante do tribunal significava ser levado sujeito a julgamento, estar em perigo. O assassinato não é apenas errado: ele é algo sério e, como tal, a pessoa precisa ser indiciada, julgada e condenada. Tanto sob a aliança noética quanto sob a Lei de Moisés a punição de um assassino era a morte (Gênesis 6:5, 6; Levítico 24:17, 18; Deuteronômio 19:1-13).

Jesus expôs o mandamento sagrado e ensinou a partir de Sua própria autoridade: “Mas eu vos digo”. Novamente, Jesus não contradisse ou alterou a Bíblia. Afinal de contas, Ele havia acabado de dizer aos discípulos que Ele não havia vindo para abolir ou substituir a Lei, mas para cumpri-la (Mateus 5:17). Jesus estava revelando o princípio interno da justiça que transcendia meras atitudes externas. Ele não estava dando um novo código de ética em substituição à anterior. Jesus estava aplicando o ensino da Lei ao coração, aprofundando-o ao nível invisível aos olhos humanos. Jesus foca na questão do coração das pessoas.

Não é suficiente dizer: “Bem, eu não desobedeci a lei, eu não matei ninguém. Portanto, eu sou justo”. Todo aquele, Jesus diz, que se ira contra seu irmão estará sujeito a julgamento. A justiça de Deus (harmonia social) não é observada apenas no fato de uma pessoa não matar a outra, como Caim havia matado a seu irmão Abel. A justiça vem do coração, ou seja, não devo me irar contra meu irmão e, assim, matá-lo em meu coração. Como Deus é a última instância de justiça e consegue ver as intenções do meu coração, tal declaração é absolutamente séria (Hebreus 4:12).

A ira contra um irmão é uma violação da justiça (harmonia social). O assassinato é uma expressão horrível da terrível condição do nosso coração. O assassinato é apenas o efeito visível. A ira é a causa. A ira e a amargura conduzem ao oposto da harmonia e degradam a bondade de qualquer comunidade. Todo aquele que se ira contra seu irmão é culpado de quebrar a harmonia social da ordem de Deus - não apenas os que matam. O espírito da Lei pode ser violado por alguém que viva em ira e amargura, mesmo que o mandamento de não matar seja cumprido externamente. Qualquer violação da Lei, interna ou externamente, não produz justiça (harmonia social).

Todo aquele que se ire contra seu irmão estará sujeito a julgamento (literalmente, levado à corte, G2920). Deus e as cortes do Céu são capazes de julgar o coração dos homens (1 Samuel 16:7; Provérbios 21:2; João 2:24, 25; 2 Coríntios 5:10).

Jesus está querendo dizer que a ira não é algo estático. Ela sempre produz uma ação. A cada passo, as consequências negativas aumentam. E quem chamar a seu irmão Raca (inútil) estará sujeito a julgamento no Sinédrio (Suprema Corte). Mesmo um insulto considerado “relativamente leve”, como “você é um inútil”, é uma exteriorização da ira. Insultar e cometer assassinato têm consequências diferentes, mas ambas são expressões do mesmo pecado (ira): “Porque a sua boca fala o de que está cheio o coração” (Lucas 6:45). Ambos serão julgados por Deus. Jesus aumenta a gravidade do pecado quando a ira é externalizada. Embora a ira interna contra um irmão possa levar alguém a ser encontrado culpável diante da corte, a demonstração da ira, por exemplo, chamar alguém de “inútil”, poderá levar a pessoa à Suprema Corte. A Suprema Corte dos tempos de Jesus era o Sinédrio (G4862).

O Sinédrio era o mais alto conselho de justiça do primeiro século D.C. A tradição judaica registra que a corte começou com os setenta anciãos indicados por Moisés em Números 11:16. Nos dias de Cristo, esta Suprema Corte (Sinédrio) consistia de saduceus e fariseus, e era liderada pelo sumo sacerdote. Isso sugere que os saduceus tinham mais influência nas decisões da corte. A autoridade do Sinédrio era limitada por Roma. Roma não concedia a ela o poder para aplicar a pena capital.

O Sinédrio foi o tribunal judaico que condenou a Jesus e O trouxe diante do governador romano Pilatos, porque eles queriam crucificá-lo. Temos a impressão de que Jesus está usando a Suprema Corte figuradamente para demonstrar a maior gravidade da ira que se manifesta no mundo visível. É improvável que Jesus estivesse dizendo que um indivíduo seria literalmente levado ao conselho dos saduceus e fariseus, a quem Ele chamava de “filhos do inferno” (Geena) (Mateus 23:15). Jesus muito provavelmente está indicando que palavras de insulto chamarão a atenção da mais alta corte existente, a corte do “Reino dos Céus”.

Jesus descreve uma Terceira punição ao pecado da ira: E quem lhe chamar ‘Tolo’. Desta vez, não apenas a punição aumenta, mas Jesus descreve exatamente o que irá acontecer: “Estará sujeito à Geena de fogo”.

A palavra Geena é traduzida como inferno (G1067). Inferno é a transliteração da palavra grega Geena e da palavra hebraica Hinnon. Hinnon/Geena era o nome do vale localizado ao sul das muralhas de Jerusalém. Nos tempos de Cristo, o Vale do Hinon, ou Geena, era utilizado como depósito de lixo e esgoto da cidade. Seu nome era proveniente de uma família e era originalmente chamado de Vale (“gay”, em hebraico) de Hinon (2 Crônicas 28:3; 33:6; Jeremias 7:31; 32:35).

O Vale de Hinon, ou Geena, também era chamado de “Topet”, ou “Vale da Matança” (2 Reis 23:10; Jeremias 7:32). Cada um desses nomes estavam conectados ao tempo no qual o reino de Judá havia caído na idolatria e o vale era usado como local para sacrifícios de crianças ao deus pagão Moloque (2 Reis 23:10). Durante a invasão da Babilônia, pilhas de corpos humanos foram queimadas no Geena (Jeremias 7:32). O nome do vale permanece até hoje. Atualmente ele é chamado de “Vale de Hinon” e ainda está situado fora dos muros da cidade velha de Jerusalém (embora não mais seja um depósito de lixo).

Entretanto, no contexto das palavras de Jesus, Ele está se referindo ao lugar onde o lixo  e as carcaças de animais mortos eram queimadas, bem como ao lugar onde os dejetos da cidade eram jogados. Consequentemente, Jesus descreve Geena como o lugar onde “onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga” (Marcos 9:44, 48). Geena aparece onze vezes nos relatos dos evangelhos (Mateus 5:22; 5:29; 5:30; 10:28; 18:9; 23:15; 23:33; Marcos 9:43; 9:45; Lucas 12:5) e uma vez nas epístolas (Tiago 3:5). Em cada citação, a palavra que temos é inferno. Em cada exemplo, uma melhor perspectiva seria traduzir por “Vale de Hinon” e permitir ao leitor a oportunidade de interpretar o que Jesus quis dizer ao se referir à figura da combinação de lixão como esgoto a céu aberto.

Na versão New American, a palavra inferno aparece apenas uma outra vez e a tradução não é Geena. Está em 1 Pedro 2:4, quando a palavra inferno vem da palavra “tartaroo” (G5020). Tartaroo, ou Tártaro, era uma região do Hades, a conceito grego de submundo dos mortos. Tártaro era o compartimento dos amaldiçoados. Em 2 Pedro 2:4, o Tártaro é indicado como sendo o lugar de contenção dos anjos caídos que aguardam seu julgamento. Na versão New American, o nome do lugar dos mortos é o “Hades” (G86). A palavra Hades ocorre dez vezes (Mateus 11:23; 16:18; Lucas 10:15; 16:23; Atos 2:27; 2:31; Apocalipse 1:18; 6:8; 20:13; 20:14).

O Geena se refere a uma localização geográfica e é indicativo de morte, corrupção, malignidade e podridão. É um local geográfico com um significado figurado. É como dizer “Faria Lima” para se referir ao mundo econômico, ou “Hollywood” para se referir à indústria artística. Dependendo do contexto, Geena vai significar morte e corrupção. Caso Jesus quisesse ter mencionado Hades aqui, Ele o teria feito, como o fez diversas vezes.

Hades é uma palavra originada na mitologia grega. Porém, aparentemente, era uma figura suficientemente adequada para os judeus que desejavam aplicar seu significado prático. Atos 2:27 cita o Salmo 16:10, onde “Hades” é diretamente substituída pela palavra hebraica “Sheol”, usada em todo o Antigo Testamento para simbolizar o túmulo, ou o lugar dos mortos. Jesus validou este uso da palavra “Hades”, mais particularmente em Sua parábola do rico e do Lázaro. Nessa parábola, Jesus define dois compartimentos separados por um abismo intransponível. De um lado est[a o seio de Abraão (o paraíso, na descrição de Jesus) e do outro lado está o lugar para onde foi enviado o rico, que agora vive em tormento (Lucas 16:19-31).

Portanto, à exceção da passagem em 2 Pedro (tartaroo), o leitor pode compreender melhor o contexto se substituir a palavra “inferno” por “Vale de Hinon” ou “Geena”. O Hades é um lugar real, conforme indicado por Cristo. Ele disse ao ladrão na cruz: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43). No entanto, o Hades não é o destino final dos mortos sem Cristo. Eles serão lançados no lago de fogo. Tanto o Hades quanto a Morte serão lançados lá também, juntamente como o diabo e seus anjos (Apocalipse 20:10,, 1415).

Jesus, com consistência, fez uso das descrições do Geena, “fornalha” e “escuridão” como forma de contrastá-las com Seu Reino. O contraste é feito entre a vida no lixão/esgoto fora da cidade em meio ao cheiro fétido dos dejetos versus a vida dentro da cidade numa casa confortável. Tais referências geralmente são aplicadas às consequências das nossas atitudes. Portanto, elas não se adaptam ao contexto bíblico de se passar a eternidade separados de Deus. A Bíblia nos ensina que passar a eternidade com Deus é o resultado da graça incondicional dada a todos os que crerem em Jesus Cristo como Filho de Deus, não estando conectada com nossas obras (Efésios 2:8, 9).

A separação eterna de Deus no lago de fogo é reservada àqueles cujos nomes não estiverem escritos no livro da vida porque eles não creram em Jesus (Apocalipse 20:15). No sermão da montanha, Jesus demonstrou a Seus discípulos Seu desejo de que eles fossem participantes do Seu Reino. A participação no Reino é conquistada por uma vida de justiça no coração. Os crentes em Jesus que viverem de forma infiel e injusta chegarão ao Céu quando morrerem mas, para sua tristeza, eles terão perdido a recompensa aqui na terra de apreciarem a vida de Cristo e, no futuro, o reinado com Ele (Mateus 25:14-30; Romanos 8:16, 17; 1 Coríntios 3:11-15; 2 Timóteo 2:11-13; 2 Pedro 1:10, 11; Apocalipse 21:6, 7).

Ao dizer a Seus discípulos E quem lhe chamar: Tolo estará sujeito à Geena de fogo, Jesus queria dizer que sua ira interior e suas palavras ofensivas poderiam levá-los a perder as recompensas de viverem de acordo com os princípios do Reino dos Céus. Ao invés disso, as pessoas que vivem iradas colhem as severas e dolorosas consequências do pecado neste mundo. Ao guardarmos ira ou amargura no coração, ele se torna numa Geena (lixão a céu aberto). A ira apodrece nossa alegria, destrói relacionamentos, quebra nossa saúde física e nos rouba de grandes recompensas.

O mundo apresenta a ira como um estilo de vida satisfatório, prazeroso e benéfico. Com este exemplo, Jesus deixa clara a verdadeira realidade. Não entrar em Seu Reino através de uma vida justa é como permanecer de fora de Jerusalém no Vale de Hinon, onde há apenas lixo e esgoto. É como vivere m Geena, o vale cheio de morte e degradação. A figura do reino deste mundo é sempre trazida como uma pilha de carcaças em decomposição. Jesus está apresentando uma alternativa aos discípulos. E ela se aplica aos pensamentos, palavras e atitudes externas.

Este quadro também pode ser aplicado ao dia do juízo. No entendimento judaico, é bem provável que os discípulos estivessem considerando o risco de passarem a eternidade queimando a corrupção de seus corações. Esta é, até hoje, a compreensão dos judeus. Tal perspectiva era bastante conhecida na primeira igreja e, com o tempo, se incorporou ao ensino medieval do purgatório. A igreja medieval equivocadamente concedia autoridade a seus oficiais quanto ao uso do fogo purificador de Deus. Por conta disso, de forma corrompida e incorreta, ela vendia “indulgências” ao povo, dizendo que tal ação dava às pessoas a possibilidade de pecar sem que fossem condenados no dia do juízo.

O fato de alguns desses ensinos sobre o fogo purificador de Deus serem errados não negam a sua realidade. Em uma de suas cartas, o apóstolo Paulo nos oferece uma ilustração sobre as obras dos crentes na terra ao serem expostas ao fogo. Algumas obras serão consumidas no fogo, outras irão permanecer. Mas, a pessoa será “salva, como através do fogo” (1 Coríntios 3:15). A Bíblia nos ensina que ao seguirmos a Deus em obediência nesta vida e na próxima é e será sempre algo benéfico a nós (Marcos 10:30).

Mais adiante em Mateus, Jesus irá novamente destacar a severidade do julgamento de quaisquer palavras ofensivas:

“Porque a boca fala o de que está cheio o coração. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau tira más coisas do seu mau tesouro. Digo-vos que de toda palavra ociosa que falarem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado” (mateus 12:34-37).

Todos os exemplos de Mateus 5:21, 22 demonstram que tanto as nossas ações, quanto nossas palavras ou atitudes em relação ao nosso próximo irão determinar se somos justos ou injustos, se estamos semeando harmonia ou divisão, se estamos escolhendo a vida ou a morte. Este texto demonstra o primeiro princípio da justiça do Reino de Cristo: a justiça não é apenas uma questão de obdeiência externa à Lei. A justiça é a harmonia interior, espiritual, a honra ao espírito da Lei no coração.

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