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Significado de Salmos 121:5-8
Enquanto os versículos 3 e 4 oferecem uma visão sobre a presença e proteção constantes de Deus, os versículos 5 e 8 apresentam uma cor poética sobre como experimentar a natureza da eterna vigilância de Deus. A expressão “Jeová é quem te guarda” prepara o terreno para os versículos a seguir. O substantivo em hebraico, "shamar" - traduzido como “guardião” - será aplicado, de formas diferentes, quatro vezes no restante do salmo. "Shamar" é traduzido na forma verbal do infinitivo como "proteger, guardar, preservar, vigiar". Emparelhado ao substantivo “guardião” está o verbo "ser" no presente e no futuro do presente. A primeira (presente) revela um estado de ser contínuo. A segunda indica uma resposta ou condição futura de ação.
Os fiéis devem estar convictos de que o Senhor é e continuará a ser seu “guardião”, um protetor constantemente vigilante e cuidadoso sobre Seu povo. Neste ponto, os leitores talvez possam ouvir ecos emanados do Salmo 23 ou João 10:11. Este guardião, Javé, não é opressor ou punitivo, mas totalmente dedicado e inspirado pelo amor, buscando apenas o que é, em última análise, melhor para a coroa de Sua criação: a humanidade.
A palavra hebraica traduzida como “guardião” aparece pela primeira vez em Gênesis 2, quando Deus nomeia Adão para ser o guardião do jardim. A humanidade recebeu a missão de administrar a terra como seu guardião no projeto original de Deus. Da mesma forma, Deus é o guardião de Seu povo. Quando servimos uns aos outros, refletimos a imagem de Deus. O oposto disso é ser como Caim, que alegou não ter sido nomeado como guardião (mesma palavra) de seu irmão.
A última metade do versículo 5 e o versículo 6 trabalham juntos para criar uma imagem única: A expressão “Jeová é a tua sombra à tua mão direita” é uma mensagem que certamente apelaria às experiências dos que tiveram a sorte de embarcar nas emocionantes aventuras de peregrinação que, em última análise, os levariam a Jerusalém e os reconectariam com a fé que moldava toda a sua história. Viajar a pé, ao ar livre, exposto ao calor e à luz do sol, faria com que qualquer pessoa apreciasse o valor refrescante de uma sombra.
O Senhor Jeová proporcionava esse benefício de alívio aos peregrinos cansados que procuravam um momento de descanso ao longo do caminho. Da mesma forma, Jesus ofereceu o socorro cuidadoso e consolador de Deus ao longo das jornadas de todos os que O seguiam (Mateus 11:28-29).
A frase “à sua mão direita” faz referência direta ao status honrado do Senhor. A “mão direita”, ou o lado direito, foi por muito tempo considerado o lugar de honra ou privilégio, indicando que as bênçãos de Deus seriam alcançadas. Em Sua resposta impressionante a Pilatos, por exemplo, Jesus se baseou em referências do Antigo Testamento à mão direita (encontradas no Salmo 110:1) para descrever Seu poder e domínio indicados em Daniel 7:13:
"Respondeu Jesus: Tu o disseste; contudo, vos declaro que vereis mais tarde o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu'" (Mateus 26:64).
O versículo 6 do Salmo 121 utiliza a estratégia poética de se retomar à imagem anterior visando expandir o imaginário da palavra “sombra”. Não te ferirá o sol não...nem de noite a lua. Os dois astros que dominam os céus - o sol durante o dia, a lua durante a noite - eram componentes significativos da cosmologia do mundo oriental antigo. Cada um evocava um conjunto diferente de respostas que refletiam suas próprias diferenças. Pode-se facilmente ver a necessidade do calor e da luz do sol ao longo do dia, mas também pode-se entender o perigo quando o calor se torna excessivo e a luz se torna tão brilhante a ponto de cegar. A lua, muitas vezes retratada como silenciosa e fria, representava primordialmente o caráter misterioso e sombrio que o mundo assumia durante as horas de ausência do sol.
A confiança sincera do salmista no Senhor o leva à conclusão de que nem o sol escaldante nem a lua enigmática podiam interferir na cuidadosa supervisão de Javé sobre as nações e os indivíduos. Deus, cuja "bondade é eterna" (Salmo 136:7-9) criou tanto o dia quanto a noite (Gênesis 1:5). O Senhor Javé, nosso guardião, é soberano todo o tempo (Salmo 74:16). O Senhor é soberano sobre todos os outros aspectos da vida. Não há situação alguma fora do alcance redentor de Deus; nada é difícil para o Senhor (Jeremias 32:17). Da mesma forma, não há indivíduo a quem o Senhor não deseje amar e trazer à luz curadora e salvadora de Seu Reino (Salmos 67:2; Isaías 45:22; 1 Timóteo 2:4; 2 Pedro 3:9).
Os dois versículos finais do Salmo 121 são uma resposta poética aos dois versículos iniciais. São expressões lindamente elaboradas de confiança] na promessa do Senhor de guardar aqueles que erguem seus olhos para os momntes em fé (v. 1), sabendo que seu socorro vem do Senhor (v. 2). Soando como uma bênção litúrgica - orações das Escrituras que liberam as bênçãos de Deus - os versículos 7 e 8 reafirmam a proteção de Deus sobre aqueles que colocam suas vidas em Suas mãos.
O versículo 7 deixa um ponto cristalino: Jeová te guardará de todo mal. A palavra "guardar" é derivada de outro derivado do termo hebraico "shamar", do qual recebemos as palavras “manter, guardar e proteger”. O fato de a palavra hebraica "shamar" assumir diferentes formas verbais dentro do contexto hebraico leva os tradutores a abordar as nuances de seus significados. Em todos os casos, porém, o princípio é o mesmo: Deus cuidará de nós enquanto trilhamos a jornada da vida. Assim como Deus cuidava dos peregrinos que subiam ao templo em Jerusalém, Deus também cuidava de Seu povo durante toda a sua vida.
O salmista estabelece que a proteção vem do Senhor. Não havia o menor indício de dúvida sobre isso na mente do salmista: o Senhor era capaz de protegê-lo. O que desafia os leitores contemporâneos é a frase “de todo o mal”. Circunstâncias difíceis ocorrerão, mas nenhuma delas frustrará o propósito de Deus para nossas vidas enquanto estivermos trilhando Seus caminhos.
A Bíblia nunca se furta à verdade: o mal existe no mundo. Ele foi convidado a entrar na terra em Gênesis 2:17; 3:14-19. Certamente, mesmo os fiéis podem ser profundamente atingidos pelo mal. Jesus é o maior exemplo disso, pois Ele foi condenado, embora fosse inocente, e crucificado, embora sem culpa. No entanto, Deus é nossa ajuda e está sempre presente para nos proteger do mal quando confiamos Nele e andamos em Seus caminhos.
Podemos ver isso refletido na oração do "Pai Nosso". Jesus instrui Seus discípulos com relação à oração. Entre os exemplos das petições a serem apresentadas, lemos: "E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal" (Mateus 6:13). Jesus sabia que Deus, o Pai, não tentava a ninguém colocando o pecado diante dos homens mortais para observar se eles sucumbiriam nas profundezas da perdição. Jesus disse: "Ninguém é bom, senão Deus" (Mateus 10:18). Não há parceria possível entre o bem e o mal.
O Novo Testamento confirma as Escrituras hebraicas (ver, por exemplo, 1 Samuel 2:2) a respeito da santidade e pureza de Deus: "Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo não tenta ninguém" (Tiago 1:13). Em Sua oração modelo, Jesus parecia estar demonstrando como Seus seguidores deveriam pedir e reconhecer a proteção de Deus contra suas próprias propensões malignas. A expressão "Não nos deixe" pode muito bem inferir "não nos permita aproximar-nos". Esta parte da oração serve como a proposta de uma nova perspectiva que gera a proteção de Deus.
O pastor não pode impedir que os lobos cacem seu rebanho. Certamente, no entanto, o pastor pode esconder o rebanho e impedir a aproximação dos lobos. Se necessário, o bom pastor dará até mesmo o que lhe é mais precioso para proteger ao rebanho quando os lobos atacarem: "O bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (João 10:11). Nossa parte neste relacionamento é cumprir a promessa de Deus de que, se "resistirmos ao diabo, ele fugirá" de nós (Tiago 4:7). Orar a Deus pedindo Sua ajuda parece parte integrante da resistência contra Satanás.
Ele te guardará a alma. A proteção contra o mal resulta na segurança da alma sob os cuidados de Deus. Quando participamos do mal, incorremos nas consequências adversas do mal (Romanos 1:24,,; 26286:23). Quando descansamos na ajuda de Deus e buscamos Seus caminhos, olhando para Ele ao invés de olhar para o mundo, evitamos essas consequências adversas. Como Tiago nos diz, nossa alma/vida é preservada sempre que deixamos de lado o mal que está dentro de nós e o substituímos pela Palavra de Deus (Tiago 1:14-15, 21).
O tema que estamos desenvolvendo aqui é a distinção entre estarmos sujeitos ao mal versus participarmos do mal; isso envolve nossa escolha. Voltando a usar o "shamar" (guardar), o salmista apela à idéia de proteção e libertação do domínio do mal sobre sua alma, ou seja, sobre todo o seu ser - corpo, mente, caráter e espírito. Desfrutamos dessa proteção sempre que mantemos nossos olhos voltados para cima, confiando em Deus e em Seus caminhos, conforme indica este salmo.
O próprio Jesus foi submetido ao nível mais brutal que o mal poderia infligir a um ser humano (Filipenses 2:8), chegando até mesmo a tentar destruir Seu relacionamento com o Pai através do compromisso com o pecado (Mateus 4:1-11; Lucas 4:1-13). No entanto, embora submetido ao mal, Ele não participou do mal (Hebreus 4:15). Jesus não teve nenhum sentimento de vingança, mas pediu a Seu Pai que perdoasse aos que O haviam injustiçado (Lucas 23:34). Em todas as formas possíveis, Jesus fez a vontade de Deus (João 5:19, 30; Lucas 22:42).
De fato, Jesus orou para ser poupado do que sabia ser uma provação devastadora, a cruz. Mesmo assim, Sua oração termina com Sua submissão absoluta à vontade soberana do Pai. Ele sabia que aquela era a mais pura expressão do amor do Pai, pois Deus tinha Seu melhor interesse no coração (Jeremias 29:11; Lucas 22:41-42; João 3:16). Como resultado, Deus Pai não apenas guardou a alma de Jesus, mas o exaltou:
"Por isso também, Deus o exaltou sobremaneira, dando-lhe um nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e que toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai" (Filipenses 2:9-11).
O Novo Testamento é categórico em dizer que, quando seguirmos o mesmo caminho de dependência e confiança em Deus, também seremos exaltados (1 Pedro 5:6; Romanos 8:17b).
O salmista estava plenamente convencido de que o Senhor guardaria a todos os que buscassem Sua vontade e Sua ajuda. Pela última vez neste salmo, o autor se apoia na palavra hebraica "shamar" (guardar), a fim de nos apresentar o contexto de vigilância e cuidado do Senhor aos que foram criados à Sua imagem (Gênesis 1:26-27) e andam em Seus caminhos. Com brilho lírico, cada aspecto da vida é englobado nas palavras “Jeová guardará a tua saída e a tua entrada”. O dia a dia, a rotina, os acontecimentos extraordinários da vida, o Senhor está sempre em guarda enquanto tudo isso ocorre.
Embora os seres humanos sejam seres imperfeitos, sempre propensos ao erro, não seremos abandonados por Deus; Ele é fiel em todas as coisas (Lamentações 3:22-23; 2 Timóteo 2:13). Aqueles que buscam sinceramente o Senhor não se identificarão nem experimentarão as consequências adversas do mal que pode destrui-los. Independentemente das injustiças sofridas, das perdas sofridas, dos desgostos experimentados — e todos os outros desafios aos quais nós, mortais, possamos enfrentar em nossa vida imperfeita — o Senhor garantirá redenção e libertação para todos os que estiverem sob Seus cuidados.
O apóstolo Paulo expressou esta realidade em sua carta aos Romanos: "E sabemos que Deus faz com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com o Seu propósito" (Romanos 8:28).