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Significado de Salmos 27:7-12
Ouve, Jeová (v. 7). Até este ponto do salmo, basicamente lemos sobre o testemunho do rei Davi. Nos versos 7-12, ele nos mostra sua intercessão junto ao Senhor.
No versículo 7 ele diz: Com a minha voz eu clamo, ressaltando um apelo profundamente pessoal. Como rei, Davi tinha a mais alta posição no reino, um poder impressionante e um imensa riqueza. Porém, aqui, ele se coloca em uma posição de grande vulnerabilidade diante de seu Deus. Sua oração se eleva acima do nível de uma conversa casual e comum para tons urgentes de angústia em tempos de extrema necessidade: Eu clamo.
A expressão “eu clamo” vem da raiz hebraica da palavra "qara", que significa "chamar", "ler" ou "proclamar". A partir disso, podemos compreender a intensidade e profundidade da busca do rei pelo favor do Senhor em circunstâncias difíceis. O rei de Israel, que tinha sacerdotes e profetas para atendê-lo, deixa de lado seus oficiais menores e usa sua própria voz e seu próprio coração para falar com Deus.
Embora esperasse que Javé fosse gracioso e embora certamente esperasse receber uma resposta do Senhor, o salmista estava ciente de que não estava em posição de exigir isso. Qualquer resposta do Deus Imortal Todo-Poderoso a um ser humano mortal seria, em si mesma, um ato de generosidade e amor (Salmo 8:4; Jó 7:17; 1 Pedro 5:6-7).
O versículo 8 declara: Quando disseste: Buscai o meu rosto, a ti te disse o meu coração: O teu rosto, Jeová, buscarei. Davi demonstra ainda mais sua submissão proposital e ativa ao governo de Deus: Quando disseste...meu coração disse.
O Senhor falou e Davi respondeu positivamente à Sua ordem: Buscai o Meu rosto...Teu rosto, Jeová, buscarei. Uma das partes indissociáveis de um relacionamento duradouro com o Senhor é a disposição humana de responder em obediência à graça de Deus.
A Bíblia nos instrui a buscar a Deus para descobrirmos Sua vontade e Suas intenções (Provérbios 8:17; Jeremias 29:13; Hebreus 11:6). "Buscar o rosto" de Deus é uma expressão coloquial que adiciona graus significativos de intensidade aos esforços humanos para buscar o caráter, o propósito e as intenções do Senhor (2 Crônicas 17:4; Oséias 5:15).
Há na expressão “o Teu rosto, ó Senhor, buscarei” uma intimidade muito intensa e profunda, como quando falamos com outra pessoa "face a face" e não através de mediadores ou outros meios (como em Êxodo 33:11a). Essas interações íntimas e pessoais permitem que os participantes observem e percebam mudanças nas situações ao ser redor. Neste ambiente, a probabilidade de uma compreensão mais completa entre as partes é altamente elevada. Este é o nível de relacionamento que o Senhor pede a Davi e ao qual o rei se esforça por corresponder.
Os versículos 9 e 10 estão entrelaçados um ao outro, como um apelo apaixonado: Não escondas de mim o teu rosto (v. 9).
No uso comum de imagens literárias no Antigo Testamento, "esconder o rosto" equivaleria a remover a presença; a expressão é especialmente aplicável aos momentos quando Deus escolhia tornar-se indisponível para socorrer, aconselhar ou acompanhar (Deuteronômio 31:17-18; Salmos 44:24; Oséias 5:6).
Ainda mais inquietante, a frase indica um estado contínuo de ausência de Deus, no qual não haveria esperança de resgate (Salmo 89:46; Isaías 59:2; Ezequiel 39:24; Miquéias 3:4). Uma face mais positiva da frase é encontrada - ainda que não neste salmo - no Salmo 51:9, relevando que Deus esconde Seu rosto do pecado para ignorá-lo e perdoá-lo. Claramente, Davi desejava ser plenamente visto diante do Senhor.
O rei, então, faz um novo pedido: Não rejeites com ira o Teu servo (v. 9). Uma ligeira mudança de foco no versículo 9 ocorre neste pedido. No instante em que Davi reconhece que Deus era o sujeito principal de Suas próprias ações, o texto mostra, neste ponto, que Deus via a Davi como o sujeito principal de suas ações.
O salmista implora para não ser afastado do Senhor. A “ira” de Deus (em hebraico, "aph" - a palavra mostra um quadro vívido de narinas flamejantes) sempre se levanta contra toda injustiça (Romanos 1:18; Efésios 5:6; Colossenses 3:6). Desejando firmemente ser um servo dedicado, Davi estava sempre pronto a pedir perdão por pecados que despertassem a justa ira do Senhor.
Tu tens sido o meu auxílio (v. 9). Davi se lembra de que, durante toda a sua vida — na verdade, durante toda a vida de Israel — Deus sempre o ajudou, orientou, corrigiu. Sem a ajuda do Senhor Israel jamais teria existido, ou teria suportado o indescritível fardo da escravidão. Apesar de tudo o que fez para impedir a bênção de Deus, Israel emergiu como a nação mais abençoada e próspera da história (Salmo 124). Da mesma forma, a história do rei Davi foi repleta de superação. Assim, não era pouca coisa reconhecer a ajuda do Deus Criador Todo-Poderoso:
"Dai graças a Jeová, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre. Digam-no os remidos de Jeová, os quais ele remiu da mão do adversário " (Salmos 107:1, 2).
Davi, rei e senhor de todo o Israel, reconhecia seus próprios limites e vulnerabilidades: Não me enjeites, nem me desampares, ó Deus da minha salvação! A presença e as bênçãos de Deus não dependiam dos méritos ou realizações de Davi, mas do caráter santo e do amor permanente do seu Deus.
A palavra “enjeitar” (em hebraico, "natash") sugere ceder, desistir de todas as tentativas de se conectar ou estar presente para o sujeito rejeitado. A palavra “desamparar” (em hebraico, "azab") aprofunda o abismo da separação ao indicar uma decisão premeditada de se afastar, a despeito dos resultados para a pessoas que tenha sido abandonada.
Em ambas as palavras - “enjeitar” e “desamparar” - há uma mensagem implícita: "Eu não mais me importarei com você". Davi não conseguia sequer imaginar a vida sem os cuidados e a redenção do Senhor. O salmista confessa que Deus era a única fonte de sua salvação eterna, presente e futura (em hebraico, "yesha"). Neste contexto, sua libertação (salvação) parecia ser, principalmente, a libertação da perda da fé em seu Deus diante das provações e dificuldades. Sustenta-se, portanto, que esta declaração de Davi é, por si só, parte integrante da solução para sua preocupação. Neste salmo, o salmista articula a perspectiva que adotaria; ao fazê-lo, ele coloca sua mente em um lugar apropriado, um lugar de completa dependência de Deus.
Anos mais tarde, o profeta Isaías abraçaria o mesmo espírito de dependência e glorificaria a Deus:
Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque Jeová é a minha fortaleza e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação (Isaías 12:2).
Aqueles que confessam a Jesus como Senhor e O seguem na prática de sua fé recebem a garantia do Novo Testamento de que Deus, por meio do Espírito Santo, continuará a ajudá-los. Enquanto preparava os discípulos para enfrentar os desafios aparentemente intransponíveis nos dias que se seguiram à crucificação, Jesus prometeu: "Eu pedirei ao Pai, e Ele vos dará outro Ajudador, para que esteja convosco para sempre" (João 14:16). O "Ajudador" prometido por Jesus refere-se ao Espírito Santo. O Espírito de Deus está, portanto, sempre conosco, para nos guiar. Podemos, assim, expressar continuamente o sentimento deste salmo e colocar nossa perspectiva neste lugar de dependência total de Deus.
A expressão “pois meu pai e minha mãe me abandonaram” (v. 10) é um grito de dor do rei Davi. A palavra inicial, a conjunção “pois” (hebraico, "ki"), é melhor entendida, em termos de prosa contemporânea, como "quando” ou “se”. Está implícita no versículo uma circunstância poeticamente potencial, não necessariamente uma realidade. No entanto, uma certa tradição judaica sustenta que Davi foi deixado de fora da apresentação dos filhos de Jessé a Samuel porque ele era considerado ilegítimo (ver comentário em 1 Samuel 16:6-13). Assim, esta dor pode ter sido uma ferida carregada por Davi durante longos anos. Faz sentido que este seja o caso, já que Davi era um prenúncio de Jesus e o Messias também foi considerado como um filho ilegítimo (Mateus 1:18-19).
Davi se baseia no mais íntimo dos relacionamentos humanos - o dos pais com os filhos - para indicar um ponto cardeal sobre a fidelidade inabalável de Deus para com Seus filhos. Os homens podem ser inconstantes, propensos a sucumbir aos interesses próprios até mesmo em seus relacionamentos mais próximos, levando inclusive à traição. O salmista oferece a imagem comovente de total desdém e desinteresse dos pais para destacar a resposta amorosa e constante do Senhor em relação a Seus filhos.
A frase “Mas Jeová me acolherá” (v. 10) é o contrapeso edificante à rejeição parental. Deus tomaria o lado de Davi, não apenas ficaria "do lado" dele. O Senhor o acolheria (protegeria, defenderia, asseguraria, moldaria) e trabalharia para que o rei desfrutasse do melhor.
Independentemente de agirmos em retidão, ignorância, erro, raiva ou desrespeito uns com os outros, Deus sempre agirá para dar o melhor a Seus filhos, procurando incessantemente atraí-los a Cristo ao longo do caminho, gerando arrependimento, redenção, plenitude e paz eterna (Isaías 44:22; João 5:17; João 10:10; Romanos 8:28, 31-39; 2 Pedro 3:9).
O discurso da oração de Davi ao Senhor é concluído nos dois versículos seguintes (11-12): Ensina-me, Jeová, o teu caminho (v. 11). Embora a declaração seja traduzida como uma frase verbal no modo imperativo (verbo de comando), o termo “ensinar” (em hebraico, "hovreni") é melhor entendido como um pedido feito de um agente menor a um agente maior, não como uma exigência imposta.
A palavra raiz do verbo “ensinar” significa “atirar, arremessar ou lançar em uma direção especificamente pretendida”. A palavra “caminho” revela, portanto, que Davi desejava aprender tudo o que podia sobre Deus. O rei de Israel subordinava-se propositadamente à vontade do Senhor, visando ser "empurrado" para um destino específico. Ele reconhecia que seguir aos caminhos de Deus seria sempre para o seu bem.
Davi pede ao Senhor: Conduz-me por uma vereda plana (v. 11). Aprender é uma jornada que exige disciplina, comprometimento, experiência e oportunidade de exercitar o que se aprende. Davi pede que o Senhor o fosse adiante dele, guiando-o na jornada em direção à uma vida piedosa, abrindo o caminho e ajudando-o em cada passo. O salmista refere-se a essa viagem como uma “vereda plana”.
Uma curva de aprendizado muito acentuada ou muito profunda poderia fazer seu coração tropeçar. Um curso esburacado, tortuoso e incerto poderia facilmente confundi-lo e desencorajá-lo. Davi pede a Deus uma “vereda plana” (da raiz hebraica "yashar"), um caminho bem cuidado, ao longo do qual ele poderia não apenas aprender, mas também crescer em competência e confiança, sabendo que o Criador do caminho era o Deus justo e amoroso.
Embora Jesus ensine, mais tarde, que "o caminho estreito é o que leva à vida" (Mateus 7:14), ele não deixa de ser o caminho preparado por Deus; portanto, este é o único caminho verdadeiro, seguro e certo para a eternidade (Jeremias 29:11).
A razão pela qual Davi clama para ser ensinado e conduzido no caminho de Deus era simples: Por causa dos que me espreitam (v. 11).
Todos os outros caminhos nos afastam da vontade do Senhor. Todos os outros caminhos eram repletos de pessoas e coisas que não serviam aos melhores interesses de Davi. Todos eram seus inimigos. Na melhor das hipóteses, simplesmente tinham desprezo por ele, buscando ativamente o seu mal. Davi sabia que aqueles inimigos representavam a rejeição do que Deus desejava a ele.
Os inimigos eram forças hostis que se levantavam contra o salmista, buscando uma oportunidade de destrui-lo. Eles realmente eram, no sentido mais direto da palavra, “inimigos” (em hebraico, "shorer"). Se O Senhor conduzisse a Davi, no entanto, ele seria capaz de testificar: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo" (Salmo 23:4a).
Não me entregues à vontade dos meus adversários (v. 12). O famoso estrategista militar e filósofo do século 6 a.C., Sun Tzu, escreveu na A Arte da Guerra: é imperativo "conhecer ao inimigo e conhecer-se a si mesmo". O salmo deixa claro que Davi se conhecia o suficiente para entender o quanto ele dependia do Senhor Deus para encontrar o caminho a seguir nos desafios à sua volta. Davi pede a ajuda de Deus para livrá-lo das más intenções de seus inimigos.
O versículo 12 confirma que Davi também conhecia muito bem a seus oponentes e suas intenções. Os que se levantavam contra ele são referidos não como meros competeidores em igualdade de condições, mas como adversários (em hebraico, "czar"). Eles eram oponentes que literalmente desejavam e buscavam a destruição de tudo o que Davi era e representava.
Alguns dos adversários de Davi eram as falsas testemunhas que se levantavam contra ele (v. 12). Acusando-o onde não havia culpa, inclinando-se às mentiras que serviam a seus próprios propósitos nefastos, os inimigos de Davi eram falsas testemunhas que agiam com base em sua própria falsidade. Seu objetivo era o de derrubar não apenas a pessoa de Davi, mas também dizimar tudo o que estivesse associado a ele. Eles se levantavam contra o salmista numa guerra injustificável.
Aqueles inimigos exalavam violência (v. 12). Eles eram a definição de oposição. O próprio ar que respiravam cheirava a “violência” (em hebraico, "chamas"). Eles eram inimigos dedicados à opressão e destruição total por todo e qualquer meio.
O rei de Israel e, por implicação direta, a nação e o Deus de Israel, eram os principais alvos contra os quais os adversários implacáveis se levantavam. A oração de Davi era para que ele não ficasse exposto, vulnerável aos que buscavam sua completa humilhação e morte. Ele buscava a intervenção contínua e o apoio amoroso de Seu Senhor e Deus, reconhecendo sua necessidade e dependência contínuas Dele.