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Significado de Salmos 27:4-6
Nos três versículos seguintes do Salmo 27, Davi passa de suas ousadas proclamações para produzir reflexões de natureza mais introspectiva. Tendo declarado sua confiança na soberania do Senhor sobre a história — incluindo sobre seu próprio destino pessoal — Davi abre as janelas do seu coração e mente, permitindo aos leitores um vislumbre mais claro da lógica por trás de sua confiança no Senhor.
O salmista reconhece, como questão prioritária, que se aproxima do Senhor com uma petição especial: Uma coisa eu pedi a Jeová e a buscarei (v. 4).
Poderíamos facilmente imaginar que seu pedido fosse direcionado à sua saúde, segurança e proteção, em um mundo que oferecia desafios em todas as frentes.
Davi, no entanto, sabia que tais bênçãos seriam meros ecos de uma realidade maior: a bênção de viver cada momento na consciência da presença de Deus. E assim, o restante de sua oração é revelado no versículo 4:
Que habite eu na Casa de Jeová todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura de Jeová e meditar no seu templo (v. 4).
O primeiro desejo de Davi era o de habitar (em hebraico, "yashab") permanentemente na presença de Deus (Veja o Comentário sobre o Salmo 91:1 para uma discussão mais aprofundada sobre a palavra “habitar”.) O termo evoca a esperança de Davi tanto para o problema do imediatismo quanto para a continuidade do seu relacionamento com o Senhor.
Esta habitação revela as profundezas insondáveis da beleza de Deus (em hebraico, "noam") - aqui uma referência ao ser e ao caráter de Javé. A natureza de Deus é de tamanha pureza que aqueles que a vislumbram são dominados por Sua glória e castigados por suas imperfeições (1 Crônicas 17:16; Romanos 7:24).
“Meditar” (em hebraico, "baqar") no Seu templo significa uma atitude ativa e proposital de submissão, produzindo, assim, dádivas de discernimento, consciência e segurança - este é o resultado de se permanecer na presença do Deus Santo, o Criador da Vida. A palavra “templo” (em hebraico, "hekal") é usada para o tabernáculo do deserto, uma vez que ele foi estabelecido permanentemente em Siló depois de Israel ter entrado na Terra Prometida.
A palavra "hekal" também é usada por Davi para referir-se à morada de Deus (2 Samuel 22:7), o que se encaixa bem neste contexto. Também pode sugerir a aspiração de Davi em estabelecer um lugar e construir uma estrutura digna de representar a presença de Deus em Israel. Davi não construiu o primeiro templo. A tarefa foi deixada a seu filho, Salomão (2 Samuel 7:12-13).
Viver na presença do Senhor era sua recompensa e Davi testifica que aquela recompensa trazia muitos outros benefícios. Quando um problema aparecia e tentava perturbar sua vida, Davi sabia que o Senhor o esconderia em Seu tabernáculo (v. 5). O rei vivia - e por inferência também todos nós que nos dedicarmos a Deus - debaixo da proteção de Javé.
O imaginário poético aqui remete a uma residência sagrada, instransponível a criminosos e profanos. Davi se refere à presença espiritual de Deus. No início de Israel, o tabernáculo estava relacionado à tenda da reunião, em que a presença de Deus habitava entre Seu povo (Êxodo 33:14-15). O tabernáculo era carregado pelos israelitas em suas viagens e campanhas, estabelecendo as fronteiras da nação (Êxodo 25:8).
Davi estava familiarizado com a estrutura da tenda da reunião; a porção maior era referida como o Santo Lugar e a câmara interior era conhecida como o Santo dos Santos. No entanto, aqui, o acesso de Davi a Deus era obtido através da oração. Davi nos orienta a buscar este acesso a Deus em espírito.
O acesso ao interior da tenda da reunião era restrito à classe sacerdotal e a entrada às câmaras internas era ainda mais restritiva. A expressão “no recôndito do seu tabernáculo, me esconderá” mostra que o acesso de Davi não era limitado pela estrutura física. Apesar das conhecidas restrições, Davi tinha certeza de que o Senhor fornecia um abrigo a Seus fiéis, o que equivalia a ser escondido no nível inacessível da proteção divina.
Isso prenunciava, profeticamente, a revelação posterior de que o tabernáculo terreno era apenas um modelo do verdadeiro tabernáculo no céu (Hebreus 8:5, 9:11). Através da morte de Jesus, o Filho de Davi, os crentes agora têm acesso ao verdadeiro Santo dos Santos no céu para receberem a purificação de suas consciências (Hebreus 9:13).
Para indicar claramente sua confiança no cuidado de Deus, o salmista declara: Sobre uma rocha me elevará (v. 5). O uso do termo “rocha” é uma metáfora frequentemente adotada no Antigo e no Novo Testamento. Os artesãos de Israel, familiarizados com regiões de grandes extensões arenosas, sabiam que a rocha era a base mais estável sobre a qual se construir. Moisés proclamou que Deus era a rocha perfeita e justa de Israel (Deuteronômio 32:3-4).
Mais tarde no Antigo Testamento, algumas vozes ecoaram o sentimento de que Deus era um alicerce firme, uma “rocha” (por exemplo, 2 Samuel 23:3; Isaías 30:29; Habacuque 1:12). Jesus relatou a parábola sobre a sabedoria de se construir uma casa sobre um alicerce lançado na rocha em relação à aceitação de Seus ensinamentos (Mateus 7:24-25). Ele equiparou a proclamada porque Pedro como a rocha sobre a qual a igreja do Novo Testamento seria construída (Mateus 16:18). Não importando as dificuldades que a vida pudesse enfrentar, Davi sabia que estava sobre a rocha inabalável do cuidado providencial do Senhor.
O versículo 6 antecipa os momentos - nesta vida e, certamente, na próxima - nos quais Davi desejaria experimentar a plena vindicação de sua fé no Senhor: Será elevada a minha cabeça. Em vez da postura derrotada e curvada dos vencidos, Davi demonstra confiança de que sua linha fé se elevaria acima das intenções sórdidas dos que buscavam sua queda. Tal convicção, atribuída à intervenção de Deus em seu favor, evocava atos apropriados de adoração: Oferecerei sacrifícios de júbilo (v. 6). A oferta de sacrifícios neste contexto parece ser a de sacrifícios de ação de graças (Levítico 7:13, 15; 2 Crônicas 29:31).
Esta oferta de sacrifícios não deveria ser feita sob coação ou como resultado de temor em relação às consequências de se irritar a um deus petulante. O júbilo é uma característica de gratidão demonstrada por qualquer pessoa que reconheça as misericórdias e a graça de Javé nas circunstâncias adversas da vida.
Davi declara: Cantarei louvores a Jeová (v. 6). Cantar é uma das possíveis respostas humanas ao cuidado do Senhor. Esta não seria a primeira vez que o rei Davi expressaria abertamente sua exultação no Senhor Deus (2 Samuel 6:12-15). Ele era intencional tanto na escolha da perspectiva verdadeira, ou seja, de que Deus era Seu firme alicerce e que Seus planos eram para o nosso bem, quanto na tomada de ações coerentes com sua perspectiva, levando-o a oferecer sacrifícios e a cantar louvores ao Senhor.