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Significado de Salmos 27:1-3
Davi toma uma decisão crítica que define a natureza e a direção da vida que ele se esforçava por viver. Logo no versículo 1, ele inicia uma linha poética sobre sua decisão, estabelecendo três características indiscutíveis a respeito de seu relacionamento com o Senhor, Javé (Veja o Comentário sobre o Salmo 91:2 para mais conteúdos sobre Javé, o nome pessoal de Deus).
Sobre o Senhor, Davi escreve:
Jeová é a minha luz e a minha salvação... Jeová é a fortaleza da minha vida.
Ao lidarmos com essas características em camadas, como um habilidoso pedreiro colocaria tijolo sobre tijolo para garantir a estabilidade e a segurança de uma construção, Davi diz que Javé era sua luz, salvação e defesa.
A expressão “O Senhor é a minha luz” é uma declaração profundamente pessoal e destina-se a revelar algo que poderia permanecer escondido nas sombras. Esta construção poética é notável por usar o nome mais íntimo de Deus, Javé. Davi audaciosamente afirma sua intimidade pessoal com Javé, empregando o pronome possessivo na primeira pessoa - “minha” - para representar seu relacionamento com Deus. Não há espaço para equívocos: Davi se sentia tão próximo de Deus quanto um filho próximo a um pai amoroso.
“Luz e salvação” podem ser entendidos como termos equivalentes usados em uma estratégia poética de repetição, ou como termos contextualmente expandidos que, embora intimamente correlacionados, mostram perspectivas diferentes. Em primeiro lugar, pensamos na redenção final que Javé planeja conceder aos que se apegam a Ele em fé. Tanto a “luz” (hebraico "or") quanto a “salvação” (hebraico "yasha") são palavras empregadas nas Escrituras para descrever esta dádiva suprema de Deus a Seus filhos (Isaías 9:2; Colossenses 1:12-14; 1 Pedro 2:9). Para além da relação com o destino final dos fiéis na eternidade, a Bíblia também olha para essas duas palavras e propõe um alívio mais imediato para as circunstâncias difíceis da vida (Salmo 18:8; Miquéias 7:8).
O Evangelho de João nos garante que é através de seguirmos a Jesus pela fé que podemos experimentar esta luz redentora e esta salvação segura como dádivas de Deus (João 1:4, 12-13; 3:15-16; 8:12). João também nos adverte contra nos afastarmos da luz e da salvação disponibilizadas em Jesus Cristo:
"Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus. O juízo é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras. Porquanto todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não vem para a luz, a fim de que as suas obras não sejam arguidas" (João 3:18-20).
A segunda abordagem, mais metaforicamente inclinada a interpretar a luz e a salvação, não exclui as idéias de redenção e eternidade. No entanto, ela convida o leitor a considerar os benefícios advindos do envolvimento de Javé em nossas vidas. Ao fazê-lo, nossa alma pode experimentar o impacto da declaração de Davi: O Senhor é a fortaleza da minha vida.
Depositar nossa confiança no Senhor em todas as experiências da vida resulta em luz (iluminação, percepção, compreensão) e uma compreensão mais profunda sobre a vida, o bem e o sofrimento. Esta maior profundidade de discernimento produz uma maior capacidade de compreensão das circunstâncias presentes - independentemente de se apresentarem como boas ou más - e uma capacidade de se confrontar mais efetivamente o que vier pelo caminho (Salmos 119:105, 130; João 8:12).
A salvação (resgate, alívio, libertação) acompanha a luz como um termo referente à esperança, assegurando ao crente que Deus é capaz de criar redenção e injetar graça até mesmo nas situações mais terríveis da vida (Salmo 18:35-36; 2 Coríntios 4:8-9; Filipenses 2:12-13). Assim, luz e salvação trabalham em conjunto, estabelecendo a força do Senhor como uma defesa impenetrável (hebraico "mauz") ou barreira contra tudo o que ameaça o destino de vida eterna dos crentes (Salmos 91:1-4, 16; João 10:28).
Davi pergunta: De que me recearei? De quem terei medo? Cada estrofe do versículo 1 termina com uma pergunta. Esta dupla de interrogações retóricas revela mais a resposta do que qualquer linha real de investigação. Trabalhando juntas na repetição poética, visando sublinhar o tema recorrente, as perguntas parecem ser quase irônicas, dadas as respostas que se seguem.
Lembrando a tranquilidade encontrada no Salmo 23:4 - "Não temerei mal algum" - este salmo apresenta o termo “recear” (em hebraico, "yare") - significando ter medo, acovardar-se, amedrontar-se - apenas para negar seu poder sobre o salmista ou qualquer pessoa que compartilhe da sua fé.
“Temer” é um verbo que expressa a experiência de um presente imediato e sempre demanda um sujeito - quem - para completar seu significado. O “temor” (em hebraico, "pachad"), embora também reflita as qualidades do medo, coloca a ocorrência numa expectativa futura. A primeira ocorre no "agora"; a segunda é uma antecipação provocada pela experiência anterior, gerando uma expectativa amedrontadora no futuro. Em ambos os casos, o salmista responde claramente: "Nada nem ninguém e nada é maior que meu Senhor".
O apóstolo Paulo capturou a essência desta declaração confiante, ao mesmo tempo em que esclareceu ainda mais a conclusão da graça protetora e redentora de Deus por meio de Jesus Cristo:
"Que diremos, pois, à vista dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem formará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é o que os condena? Cristo Jesus é o que morreu ou, antes, o que foi ressuscitado, o que está à mão direita de Deus, o que também intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores por aquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas presentes nem as futuras, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que é em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8:31-39).
Os versículos 2 e 3 são amplificados pelo contexto e expressam a forte confiança que Davi tinha no Senhor. A expressão “Quando malfeitores se chegaram a mim para comerem as minhas carnes” registra um relato vívido, até mesmo chocante, da ameaça à qual o rei estava exposto quando da composição do salmo. Os “malfeitores” (em hebraico, "raa") eram os ímpios que propositalmente se esforçavam por causar danos físicos e psicológicos ao salmista.
Davi não tinha dúvida alguma quanto à intenção dos malfeitores: “devorar sua carne” é a frase usada por ele para descrever e retratar até que ponto a maldade dos malfeitores se estendia. Seus planos eram mortais e pretendiam impedir que Davi, por qualquer meio, realizasse aquilo que o Senhor havia proposto para sua vida.
Os ímpios eram, de fato, adversários e inimigos de Davi e de suas intenções de honrar ao Senhor em tudo. Esses inimigos, no entanto, relata Davi, não tiveram sucesso em sua missão de frustrá-lo e feri-lo: “Tropeçaram e caíram” - ou seja, fracassaram. Davi credita o livramento de seus inimigos e adversários à ação e proteção do Senhor (v. 1).
Talvez seja verdadeira a afirmação de que, na maioria das questões da vida, bons resultados no futuro não são garantidos. Portanto, Davi permanecia confiante, não nas possibilidades do futuro, mas na capacidade do Senhor de protegê-lo e conduzi-lo. Davi vira o que o Senhor havia feito no passado e sabia que o Senhor continuaria a fazer o que fosse preciso para garantir que Sua vontade redentora eterna acontecesse no futuro (Deuteronômio 31:6; Salmos 34:19, 46:1).
A confiança de Davi repousa a em sua compreensão do caráter e da superioridade do Senhor acima de toda a ordem criada — até mesmo sobre as coisas que deram errado após a introdução do pecado na criação (Isaías 46:9).
As possibilidades do futuro não eram importantes: Ainda que se acampe contra mim um exército... Embora se levante contra mim a guerra...(v. 3). Apesar dos números aparentemente avassaladores de soldados que marchavam contra ele, independentemente do caos que pudesse ocorrer, Davi não se intimidaria nem renunciaria à sua determinação e fé. O rei-poeta permaneceria firme e resoluto: Não se receará o meu coração... Ainda assim conservarei eu a minha confiança.
Aquele em quem Davi confiava jamais falharia (Isaías 46:10; Ezequiel 12:28; 2 Timóteo 4:18). É notável que Davi tenha se determinado a não temer. Ele faz uma declaração intencional a seu próprio coração: Conservarei a minha confiança de que Deus tem todas as coisas em Suas mãos e tudo o que Ele faz é para o meu bem.
Esta declaração seria um prenúncio messiânico para o Filho de Deus no Jardim do Getsêmani. Lá, Ele orou para que Seu desejo fosse atendido, caso estivesse dentro do plano de Seu Pai, dizendo:
"Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; mas, não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22:42).
Nesta passagem de Lucas, Jesus usa duas palavras gregas diferentes traduzidas como "desejo" e "vontade". Na frase "Pai, se quiseres", Jesus usa o termo "boulomai", que indica uma intenção, uma decisão baseada em um plano. Na frase "Não seja feita a Minha vontade", Jesus usa o termo "thelema", um desejo. Jesus estava dizendo que Seu desejo não era sofrer; porém, da mesma forma que o rei Davi em sua oração, Jesus coloca Sua mente em Deus e confiar que os caminhos de Seu Pai Celestial eram para o Seu bem. Portanto, Ele teve confiança. A expressão “conservar a confiança” significa dizer: "Seja feita a tua vontade".