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Significado de Salmos 51:4-6
Davi continua seu salmo de penitência (tristeza, arrependimento) depois de ter sido repreendido por seus pecados de adultério com Bate-Seba e a execução da morte de seu marido Urias, conforme descrito em 2 Samuel 11:1 - 12:25.
Davi reconhece que todo pecado era, em última análise, uma afronta a Deus:
Contra ti, contra ti só, pequei e fiz o que é mal diante dos teus olhos, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares (v. 4).
Ao lermos o contexto de 2 Samuel 11 e 12, podemos nos perguntar por que Davi fez a afirmação de haver pecado “contra ti, contra ti só”.
Davi claramente havia pecado contra Bate-Seba, Urias e até mesmo contra o povo de Israel, sobre quem era rei. Natã, o profeta, confrontou a Davi em 2 Samuel 12:9, dizendo:
"Por que desprezaste as palavras de Jeová, fazendo o mal diante dos seus olhos? Feriste à espada Urias, heteu, e tomaste sua mulher para ser tua mulher, e mataste-o com a espada dos filhos de Amom".
Davi viu que o que havia feito era pecado. No nível mais profundo, o pior pecado havia sido contra Deus: Contra ti, contra ti só, pequei”.
Neste sentido, os fariseus estavam corretos ao raciocinar dentro de seus corações: "Quem pode perdoar pecados, senão somente Deus?" (Marcos 2:6-7) quando Jesus perdoou ao paralítico de seus pecados (Marcos 2:5). Ironicamente, seu próprio pecado os cegava de reconhecer que Jesus era Deus. Pelo fato de todo pecado ser, em última análise, contra Deus, somente Deus tem o poder de apagá-los totalmente.
Conforme lemos neste salmo, Davi estava lutando contra a raiz do pecado em seu próprio coração. Assim, ele conclui que qualquer pecado contra os homens era, antes de tudo, um pecado contra Deus. Todo pecado é mau aos olhos de Deus. Podemos considerar alguns pecados piores do que outros - e certamente é verdade que as consequências terrenas podem variar, dependendo da natureza do pecado. No entanto, em comparação com a luz da justiça do Deus Santo, todo pecado é escuridão. Podemos ver isso em 1 João: "Esta é a mensagem que ouvimos dele e vos anunciamos, que Deus é luz, e nele não há treva alguma" (1 João 1:5).
Quando Davi diz: “Contra Ti, só contra ti, pequei”, ele se mostra consciente de que a maior consequência do pecado estava na quebra da comunhão com Deus Pai. Conforme lemos em 1 João, se andarmos nas trevas (pecado), nossa comunhão com o Pai será quebrada. O pecado é mais do que uma transgressão contra a lei: é o mal realizado diante de Deus.
Isso não diminui a gravidade nem a consequência do pecado de uma pessoa contra si mesma ou contra outra. Em vez disso, é um redirecionamento dramático de uma visão egocêntrica sobre o pecado. Esta visão centrada no Outro - ponto de vista de Deus - nos permite perceber e lidar com os resultados muito mais prejudiciais do que a realidade do pecado nos impõe. O pecado, a iniquidade, a transgressão e a desobediência, em última instância, causam uma ruptura entre o Soberano e Justo Deus Criador e os seres criados à Sua própria imagem. Do mais insignificante até o mais relevante dos assunto, portanto, o pecado envolvendo a própria pessoa ou dirigido contra outras é, inevitavelmente, um pecado contra Deus.
Quando nossa comunhão com Deus é quebrada, toda a nossa vida é afetada. A comunhão quebrada com Deus inevitavelmente nos leva à comunhão quebrada com outras pessoas. No caso de Davi, isso incluiu a consequência da morte.
O início do caminho de restauração da comunhão com Deus, de volta à luz e à comunhão com Ele, é concordarmos com Deus de que pecamos. A frase “para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares” é uma confissão de que os caminhos de Deus são os caminhos corretos, ou justificados. Os caminhos de Deus, não os nossos caminhos. Não há aqui racionalização alguma.
Deus é irrepreensível e, quando Ele julga, Ele está correto, porque Seus caminhos são consistentes com Seus bons desígnios para toda a criação. Quando vivemos separados e distorcemos os bons desígnios de Deus, somos separados dos Seus bons desígnios - ou seja, morremos (a morte é uma separação). Uma dessas separações é a separação do companheirismo. A confissão da verdade é um meio de restaurarmos nossa comunhão com Deus.
A confissão ou arrependimento começa quando concordamos com Deus de que pecamos contra Ele. É importante nos chegarmos a Deus em Seus termos. Podemos tentar justificar nosso pecado, racionalizar nosso comportamento. Ou talvez digamos a nós mesmos que Deus não está correto em considerar alguma atitude nossa como pecado. Porém, Deus é sempre justificado em tudo o que diz e faz.
Também podemos nos enganar ao olhamos para o mundo à nossa volta. Muitos dos comportamentos que nossa sociedade considerava como pecado em algum momento no passado agora foram "normalizados". Algumas pessoas consideram que a humanidade está em processo de evolução ou iluminação, abraçando o pecado como "progresso". Deus, no entanto, não muda. Como diz Hebreus 13:8: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre".
Isso é perturbador, pois o mundo ao nosso redor parece mudar a cada dia. Porém, nosso Deus é imutável e Suas leis são o alicerce firme sobre o qual podemos construir a "casa" de nossas vidas (Mateus 7:24). Deus é infinito e todas as coisas se encontram Nele. João 1:3 declara: "Todas as coisas existem por meio dele e sem Ele nada do que foi feito se fez."
Os que crêem em Jesus recebem a dádiva de um relacionamento vivo com Cristo. Todos os crentes são adotados na família de Deus e têm a Deus como sua herança imutável. O relacionamento de um crente com Deus é permanente e imutável (Romanos 11:29). No entanto, assim como nas relações humanas, a comunhão pessoal contínua não é estática. Nossos relacionacionamentos são dinâmicos e nos dão a oportunidade de crescer e florescer. Quando Davi confessa seu pecado a Deus, ele restaura sua comunhão com Ele e reinicia seu relacionamento com Ele.
Quando os crentes do Novo Testamento depositam sua fé em Jesus, eles recebem uma nova natureza:
"Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura; as coisas velhas se passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5:17).
Esta é uma boa notícia, porque precisamos receber uma nova natureza, porque a natureza com a qual nascemos é caída:
Eis que fui nascido em iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe (v. 5).
Esta é uma afirmação bastante surpreendente e ousada. Quando seguramos um bebê recém-nascido, uma das palavras que vem à mente é a palavra inocente.
É comum nas tradições cristãs se falar de uma "era da inocência". Ou seja, antes de atingirmos uma certa idade, não somos responsáveis por nossos atos, ou seja, eles naõ são considerados como pecado. Portanto, se morrermos antes da idade adulta, viveremos eternamente com Jesus Cristo. Há uma série de passagens que apoiam esta noção, incluindo uma envolvendo ao rei Davi (2 Samuel 12:23).
Davi não aborda diretamente esta questão, mas sobre a realidade de que todos os seres humanos nascem em pecado. Romanos diz:
"Portanto, assim como por um só homem o pecado entrou no mundo, e a morte pelo pecado, assim também a morte se espalhou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12).
O "um só homem" referido aqui é Adão; foi através dele que a humanidade caiu. Assim, entramos no mundo sob a escravidão do pecado.
Romanos 3:23 declara: "Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus". Paulo afirma em Romanos 6:23: "Porque o salário do pecado é a morte".
É isso que Davi quer dizer: “Fui nascido na iniquidade e em pecado me concebeu a minha mãe." Há uma tradição judaica que sustenta que, neste versículo, Davi estava indicando ser um filho ilegítimo de Jessé, o que seria parte da razão de ele não ter sido levado à presença do profeta Samuel por seu pai (1 Samuel 16:11). Se isso for verdade, a situação se encaixaria perfeitamente no padrão de Deus de redimir pessoas quebradas e colocá-las na linhagem de Cristo (como Raabe e Tamar). Porém, de qualquer forma, este versículo se aplica a todos os humanos na linhagem de Adão; todos herdamos o pecado de Adão.
Davi, agora, se volta à luz de Deus que brilhava em sua alma:
Eis que desejas a verdade no íntimo e, no oculto, me farás conhecer a sabedoria (v. 6).
Davi reconhece a pecaminosidade de seu coração e, agora, começa a buscar um acordo sobre como poderia se chegar a Deus para uma solução da sua condição: Desejas a verdade no íntimo. O salmista percebe o engano de seu próprio coração e que Deus desejava ser íntimo dele. Davi talvez estivesse racionalizando seu pecado. Uma vez que Natã trouxe luz à sua alma, ele reconhece que o que precisava era da verdade. Através de Natã, Deus trouxe a verdade de que ele havia pecado.
A verdade precisava ser implantada em seu íntimo. Isso expressava sua vontade de estar totalmente vulnerável diante de Deus. As Escrituras indicam que Deus conhece nossos pensamentos internos melhor que nós mesmos (Hebreus 4:12). Davi expressa que Deus tinha um desejo pela verdade no ser mais íntimo. Isso infere que Deus conhece o que se passa em nosso ser mais íntimo.
Esta “verdade no íntimo” nos leva a alcançar grande sabedoria. A definição da palavra “sabedoria” é viver a vida de forma construtiva. Assim, alcançar a “verdade no íntimo” torna-se uma expressão exterior da vida em ações e pensamentos.
Esta imagem da “verdade” brotando como “sabedoria” traz à mente a conversa de Jesus com a mulher de Samaria no poço de Jacó. Ali, Jesus pintou o quadro de um poço de água viva brotando da alma:
"Mas, quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede; mas a água que eu lhe der tornar-se-á um poço de água que brota para a vida eterna" (João 4:14).
Davi havia experimentado a Deus de muitas maneiras; ele havia sido chamado por Deus, protegido por Ele e abençoado por Ele. Assim, em sua própria mente, ele poderia ter questionado: "Como poderia eu fazer coisas más contra Deus?" Paulo dá uma visão sobre essa mesma questão em Gálatas 5:19: "Ora, as obras da carne (natureza pecaminosa) são evidentes". Os "atos", "transgressões" e "pecados" brotam do pecado dentro do qual nossa mãe nos concebeu. Davi recebeu perdão, pois Natã lhe diz em 2 Samuel 12:13: "O Senhor removeu o teu pecado; não morrerás". Porém, Davi parece ter percebido que precisava da verdade em seu íntimo para que pudesse ter sabedoria e viver de acordo com os desígnios de Deus, ao invés de viver nos caminhos distorcidos de sua natureza decaída.
O rei Davi havia ignorado essas exigências em seus comportamentos pessoais. Da mesma forma, ele havia abandonado as responsabilidades morais e éticas que o povo da aliança com Deus exigia de um monarca. Davi entendia que o “desejo” de Deus (em hebraico "chaphets") não era algo tão trivial quanto os meros desejos humanos. Abraçar e realizar o “desejo” de Deus — esforçar-se para trazer prazer ao Senhor — era parte integrante de um relacionamento autêntico e amoroso com o Criador.
Na ausència da busca fiel pelos padrões justos de Deus, todas as palavras externas, a autoridade moral visível do rei e sua reivindicação legítima de governar sob o pacto de Deus eram patentemente falsas. Consequentemente, a verdade não era mais a principal característica do “ser mais íntimo” de Davi (hebraico "tuchah").
Ao observarmos o que o rei disse antes desta declaração e para onde estão caminhando suas palavras, ele parecia estar admitindo que seu pecado era uma questão do seu coração. Isso é confirmado em outras partes das Escrituras:
Davi repete poeticamente a idéia de que o brilho da luz da verdade em seu íntimo o levaria à sabedoria: E no oculto me farás conhecer a sabedoria.
O resultado da verdade no fundo da alma é a sabedoria. A sabedoria vem de Deus. Tiago escreve: "Mas, a sabedoria do alto é primeiro pura, depois pacífica, mansa, razoável, cheia de misericórdia e bons frutos, inabalável, sem hipocrisia" (Tiago 4:17).
Davi toma consciência de que sua confissão o levaria à uma obra de Deus no fundo de sua alma. O resultado seria que a verdade e a sabedoria substituiriam ao engano e à maldade em seu íntimo. Na verdade, isso mudaria sua perspectiva, sua visão de mundo e sua atitude. A perspectiva de Davi começaria a se realinhar com a de Deus, levando-o a viver de acordo com Seus desígnios — ou seja, uma vida de sabedoria.
Quando caminhamos na realidade de nova criação em Cristo, que é uma aplicação prática do Novo Testamento à oração de Davi, somos capazes de ver a Deus através de Sua verdade e sabedoria. A verdade no íntimo e a sabedoria no oculto nos permitem cumprir a admoestação de Paulo a seus discípulos em Filipos:
"Tende em vós este sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou que o ser igual a Deus fosse coisa de que não devesse abrir mão, mas esvaziou-se, tomando a forma de servo, feito semelhante aos homens; 8e, sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8).