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Apocalipse 18:1-3 explicação

Apocalipse 18:1-3 retrata um anjo com autoridade descendo do céu e declarando que a grande Babilônia caiu. O sistema comercial explorador da meretriz que é a Babilônia embriagou as nações, tornou os reis imorais e os mercadores ricos.

Em Apocalipse 18:1-3, um novo anjo aparece e começa a anunciar a ruína da Babilônia e da meretriz, o sistema global de comércio. João descreve esse novo anjo:

Depois disso, vi descendo do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra ficou iluminada com a sua glória. (v.1).

A frase "Depois disso" conecta o aparecimento deste novo anjo aos eventos anteriores em Apocalipse 17, onde foi predita a queda da meretriz montada na besta. Foi descrito que a besta e sua confederação de dez governantes odiariam a meretriz, que é Babilônia, e a aniquilariam (Apocalipse 17:16).

Agora, João vê esse novo anjo descendo do céu. João afirma que esse anjo possui grande autoridade, e a terra foi iluminada com sua glória (v. 1). A palavra grega traduzida como "glória" é "doxa". Ela refere—se à percepção da verdadeira essência de algo ou alguém, seja positiva ou negativa. Por exemplo, vemos em 1 Coríntios 15:41 que o homem é imagem e glória de Deus, enquanto a mulher é glória do homem. Vemos em Filipenses 3:19 que a "glória" de algumas pessoas está na "vergonha" de serem dominadas por seus apetites.

A glória deste anjo manifesta—se em seu esplendor. Toda a terra foi iluminada com sua glória. O brilho deste anjo pode originar—se de sua comunhão com Deus no céu, semelhante a Moisés, cujo rosto irradiava quando desceu do monte após estar na presença de Deus (Êxodo 34:29).

É—nos dito que este anjo possui grande autoridade. Podemos perceber isso pelo tom de grande autoridade com que ele profere a sentença de destruição da Babilônia. O fato de ele descer do céu seria outra evidência de sua autoridade; aparentemente, ele serve na presença de Deus e/ou foi enviado por Deus para esse propósito. Em seguida, João descreve o anjo:

Clamou com voz forte, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia; tem—se tornado uma morada de demônios, guarida de todos os espíritos impuros e guarida de aves imundas e detestáveis (v. 2).

Este anúncio duplo, “Caiu, caiu” (v.2), que também se encontra em Apocalipse 14:8, ecoa Isaías 21, uma profecia bíblica que se referia à antiga Babilônia: “Eis aqui vem uma tropa de homens, cavaleiros de dois a dois. Ele respondeu e disse: Caiu, caiu Babilônia; e todas as imagens esculpidas dos seus deuses são despedaçadas até o chão” (Isaías 21:9).

Este evento em Apocalipse 18 servirá como um cumprimento duplo de Isaías 21:9. O cumprimento múltiplo de profecias é o padrão profético normal.

Apocalipse 14:8 utiliza o que pode ser denominado "passado profético", quando um evento futuro é declarado no passado para enfatizar a certeza de seu cumprimento: "Caiu, caiu a grande Babilônia, que deu a beber a todas as nações do vinho da ira da sua fornicação." (Apocalipse 14:8).

A prostituta Babilônia não aparece na visão de João até Apocalipse 17, e ainda assim é mencionada no passado no capítulo 14. Agora, aqui em Apocalipse 18, a declaração está no passado literal. Babilônia caiu na visão, e o anjo descreverá as consequências de sua queda.

Parece que esse anjo não está preocupado apenas com a queda da grande Babilônia e da meretriz que é o sistema comercial global. Ele também está preocupado com uma decadência espiritual:

  • Ela se tornou morada de demônios.
  • e prisão de todo espírito imundo,
  • e uma prisão para todas as aves impuras e odiosas.

O fato de Babilônia ter—se tornado morada de demônios indica que o sistema comercial global está sob influência demoníaca. Não há nenhuma força contrária aparente para o bem. O mal tornou—se dominante. Vemos nas Escrituras que existe um reino espiritual que se sobrepõe ao reino físico, no qual há uma interação entre anjos (seres espirituais bons) e demônios (seres espirituais maus). Também podemos observar que as orações e as ações de pessoas justas impõem limites ao poder do mal.

Um exemplo da interação entre os reinos espiritual e físico encontra—se em Daniel 10:12-14. Nessa passagem, Daniel empenhou—se em compreender, suas palavras foram ouvidas e, então, Deus enviou um anjo para lhe trazer a resposta. Contudo, o anjo enviado para instruí—lo foi impedido durante vinte e um dias por um agente demoníaco chamado "o príncipe da Pérsia". Outro exemplo da interação entre o céu e a terra está em Apocalipse 2:13, onde a cidade romana de Pérgamo é descrita como "onde está o trono de Satanás".

Em Apocalipse 2:16, Jesus exorta os crentes em Pérgamo a se arrependerem, ou Ele mesmo virá e lutará contra eles com a espada da Sua boca. Isso implica que a vida justa dos santos refreia o mal; Jesus não precisaria intervir se os crentes estivessem vivendo fielmente. Isso reflete que a responsabilidade atribuída aos crentes é servir como sal e luz, vivendo como testemunhas fiéis. Essa responsabilidade fará parte do juízo de Cristo sobre os crentes por suas obras praticadas enquanto viviam na Terra (2 Coríntios 5:10).

O uso de "sal" e "luz" para descrever o impacto que os crentes têm na preservação da Terra quando vivem como testemunhas fiéis também indica que uma quantidade mínima preserva o todo. Uma pitada de sal preserva toda a carne, e um pequeno ponto de luz dissipa as trevas. Em cada caso, a presença de sal ou luz representa uma porcentagem ínfima do volume, mas altera substancialmente o resultado.

2 Tessalonicenses 2:7-8 sugere que a influência restritiva do Espírito Santo será removida para abrir caminho para a besta, que é chamada de "o iníquo". É possível que o arrebatamento dos crentes para encontrar o Senhor nos ares, mencionado em 1 Tessalonicenses 4:16-17, também seja a ocasião em que a influência restritiva do Espírito Santo será removida. Se assim for, isso se alinharia com a influência preservadora dos fiéis. Pode ser que o Espírito Santo opere principalmente por meio dos crentes, que servem como sal e luz, para exercer Seu ministério de restrição..

Parece que a expressão "morada de demônios" indica uma completa ausência de influência justa. Assim como uma pequena quantidade de sal preserva uma peça de carne e um pequeno ponto de luz dissipa as trevas, podemos inferir que não há sal nem luz presentes neste sistema comercial global. A palavra grega "katoikētērion" é traduzida como "morada" na expressão "morada de demônios". Esse mesmo termo é utilizado em Efésios:

“no qual também vós sois edificados para uma habitação de Deus no Espírito.”
(Efésios 2:22)

Parece que, assim como o Espírito de Deus habita na Terra por meio do Seu povo — os crentes em quem o Espírito Santo habita —, também uma presença demoníaca habita na Terra por meio do sistema comercial perverso chamado Babilônia.

Babilônia também tem—se tornado uma morada de demônios, guarida de todos os espíritos impuros e guarida de aves imundas e detestáveis (v. 2). A palavra grega “filaque” é traduzida como morada em referência tanto a todo espírito impuro quanto a toda ave imunda e detestável. “Filaque” é traduzido na NASV 95 tanto como morada quanto como “vigília” — como em Lucas 2:8, quando os pastores vigiavam (“filaque”) seus rebanhos durante a noite.

Neste caso, o sentido de “vigiar” teria uma conotação melhor para “filaque” do que a tradução de morada. Como vemos em Apocalipse 19:17 e 19:21, o anjo de Deus chama as aves (mesma palavra grega de 18:2) para virem e se fartarem com a carne dos soldados mortos do exército da besta. Elas são convidadas a vir e “vigiar” a batalha, aguardando o aparecimento de cadáveres para encher seus estômagos.

As aves de rapina são consideradas impuras segundo a lei judaica (Levítico 11:13-19). O fato de essas aves de rapina estarem de vigia, talvez circulando, evocaria uma imagem de morte. A Babilônia está repleta de morte, o que significa que está cheia de pecado (Romanos 6:23). Isso se alinharia perfeitamente com a ideia de que a Babilônia está cheia de todos os espíritos impuros. Talvez as aves de rapina, consideradas imundas, também sejam chamadas de detestáveis por serem um sinal de morte — podemos pensar nos urubus circulando.

Essa descrição vívida da decadência espiritual e moral recorda as advertências de Jesus sobre o vazio espiritual (Mateus 12:43-45). Quando uma cultura se esvazia da verdade de Deus e acolhe o engano, o mal inevitavelmente cria raízes. Em Apocalipse 18:2, João descreve um quadro das severas consequências espirituais para uma cultura de pecado.

A Babilônia, o sistema comercial global, é um antro de trevas espirituais. As trevas espirituais conduzem à destruição. Nesse caso, Deus usa a grande ironia de que as trevas vencem as trevas, visto que a besta e seus aliados são a fonte da destruição do sistema comercial (Apocalipse 17:16).

Em seguida, a passagem apresenta a causa por trás do juízo da Babilônia, que recebe a devastadora sentença de estar "Caída, caída é a grande Babilônia". O anjo proclama:

porque todas as nações têm bebido do vinho da ira da sua fornicação. Os reis da terra fornicaram com ela, e os mercadores da terra se enriqueceram com a sua excessiva luxúria (v.3).

Os principais perpetradores do pecado da Babilônia são um trio de atores: as nações, os reis e os mercadores. Todos participaram ou se beneficiaram de seu sistema corrupto. Esse entrelaçamento mundial é chamado de imoralidade da Babilônia. Podemos inferir que essa luxúria é semelhante à imoralidade do antigo Egito e de Canaã, que eram nações pagãs com comportamentos similares.

Em Levítico 18, vemos uma lista de comportamentos que Israel é instruído a não imitar. Eles são orientados a evitar as práticas imorais que testemunharam no Egito, bem como aquelas que encontrarão ao entrar em Canaã. São as mesmas. Os comportamentos imorais podem ser descritos, de forma geral, como a exploração dos mais fortes sobre os mais fracos e a utilização alheia para benefício próprio.

Isso inclui uma série de práticas sexuais que violam o plano divino para o casamento, incluindo incesto e bestialidade. E talvez o mal supremo seja o ato de tirar vidas humanas — o sacrifício de crianças. Em muitos casos, essas práticas pagãs eram moralmente justificadas por meio de rituais religiosos pagãos.

O pecado subjacente é descrito como o vinho da paixão da sua fornicação. A palavra grega usada aqui para paixão é traduzida como “ira” em Apocalipse 16:19, na frase: “A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações caíram. Deus lembrou—se da grande Babilônia, para lhe dar a beber o cálice do vinho do furor da sua ira”. Isso nos mostra que a imoralidade leva à ira.

As Escrituras apresentam diversas maneiras pelas quais o pecado conduz à destruição. Uma delas é a autodestruição. Romanos 1:24, 26, 28 afirma que o pecado leva a uma progressão constante de degradação. A luxúria conduz ao vício, que leva à perda da sanidade mental (uma "mente reprovada"). Tiago 1:14-15 afirma que a fonte de nossa tentação está em nossa própria natureza pecaminosa. O pecado é concebido, gera morte quando maduro, e finalmente produz a morte.

Outra forma pela qual o pecado conduz à destruição é através da violência entre as pessoas. Deus destruiu a terra com um dilúvio porque ela estava cheia de violência (Gênesis 6:11). Esse tipo de imoralidade gera uma cultura de destruição. Apocalipse 18:13 inclui "escravos, isto é, almas humanas" como uma das mercadorias negociadas no sistema comercial chamado prostituta e Babilônia. Isso implica a exploração de outros para obter lucro, extraindo prazeres perversos da dor alheia — outro exemplo da consequência da imoralidade.

Uma terceira maneira pela qual a imoralidade leva à ira é que o pecado leva à ira de Deus. Seguem alguns versículos que indicam isso:

  • Romanos 2:5 diz que, ao viverem em pecado e não se arrependerem, as pessoas estão "entesouras para ti ira no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus".

  • Romanos 13:4, onde Deus designa a agência humana do governo para executar a “ira” como Seu instrumento para deter o mal.
  • Aqui, em Apocalipse 17-18, a ira de Deus é derramada em julgamento sobre a terra.

O fato de as nações terem bebido do cálice da Babilônia, que é o vinho da paixão da sua imoralidade, recorda Jeremias 51:7, que diz:

“Na mão de Jeová tem sido Babilônia um copo de ouro que embriaga toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso estão fora de si. Repentinamente caiu Babilônia e ficou arruinada; uivai sobre ela; tomai bálsamo para a sua dor, porventura sarará.”
(Jeremias 51:7-8)

Vemos em Jeremias 51:7-8 que a antiga Babilônia "caiu e foi quebrada" por causa de sua imoralidade que embriagou todas as nações. De forma semelhante aos mercadores e reis em Apocalipse 17-18, a passagem de Jeremias exorta as nações a "lamentarem por ela". Uma das formas pelas quais a antiga Babilônia era ímpia residia em sua crueldade e exploração de outras nações e povos. O fato de "escravos, isto é, almas humanas" estarem incluídos entre as mercadorias da grande Babilônia, a meretriz, a futura Babilônia, sugere que o sistema comercial global durante a grande tribulação será igualmente corrupto e opressor.

Vemos novamente que a antiga Babilônia serve como um prenúncio deste sistema comercial e político global (a prostituta e a Babilônia do Apocalipse) que se expandirá até os confins da terra nos últimos dias. Contudo, agora a besta foi usada como instrumento de Deus para destruir esse sistema corrupto.

Há aqueles que lucram com o sistema, e são esses que lamentam. Esses são os reis da terra que cometeram atos de imoralidade ao formar alianças com a Babilônia, que é a meretriz. De modo geral, os interesses comerciais têm sua capacidade de explorar os clientes limitada sem formar uma aliança com o governo. Infere—se que, nesta Babilônia, empresas e governos aliaram—se para compartilhar benefícios mútuos através da exploração da população.

Os reis da terra aliaram—se à Babilônia comercial para obter poder e lucro. Fazem isso enquanto pisoteiam o povo de Deus e Seus padrões morais. Parece que essa aliança e a corrupção resultante são globais.

Além disso, mercadores da terra se enriqueceram com a sua excessiva luxúria (v. 3). Os mercadores da terra não estão apenas se beneficiando desse sistema corrupto que está em conluio com os governos da terra — eles estão se tornando fabulosamente ricos; eles são ricos. A fonte dessa riqueza material é a excessiva luxúria. Tanto os reis quanto os mercadores estão obtendo grandes lucros com esse sistema mas tudo será destruído.

O pronome "ela" refere—se à prostituta, que também é Babilônia. A meretriz é o sistema comercial que gera a abundância ou excessiva luxúria. A palavra grega traduzida como luxúria também pode ser entendida como "iguarias" ou "luxos". O sentido da expressão "excessiva luxúria" parece ser uma abundância de prazeres. Dado que "vidas humanas" e "escravos" fazem parte das mercadorias dos mercadores, parece que o tráfico de seres humanos é uma parte material de seu comércio de prazeres.

O fato de o sistema comercial ser retratado como uma prostituta pode indicar que ele prospera com a exploração de mulheres e crianças. Isso está em consonância com as práticas pagãs descritas em Levítico 18. As palavras descritivas sugerem uma economia global baseada na exploração, no engano e em paixões desenfreadas.

Jesus falou sobre o perigo de ganhar o mundo inteiro e perder a alma (Marcos 8:36). Aqui, à medida que os mercadores da Babilônia aumentavam em riqueza material, aumentavam também em culpa. O plano de Deus para a Terra é que ela seja governada por líderes servos, como Jesus, que defende a justiça enquanto busca o melhor para os outros (Mateus 20:28). Os reis e mercadores distorceram o plano de Deus e criaram o oposto. Em vez de os fortes servirem aos fracos, eles abusam e exploram.

Vimos em Apocalipse 17:3 que a meretriz estava assentada sobre a besta, indicando uma posição de domínio. É—nos dito que a besta e sua aliança de dez reis passam a odiar esse sistema comercial e decidem destruí—lo com "fogo" (Apocalipse 17:16). É possível que a besta considere a aliança do sistema comercial com os reis como um limite ao seu poder. Visto que a besta claramente deseja obter domínio absoluto, faria sentido que ela destruísse qualquer possível obstáculo à conquista da tirania absoluta.

Sabemos que o objetivo de Satanás era destronar Deus e reinar sobre o universo (Isaías 14:12-14). Vimos em Apocalipse 12:12 que Satanás foi expulso do céu e confinado à terra. Parece que agora ele almeja o controle absoluto sobre a terra. Mas sua destruição total está próxima (Apocalipse 20:1-3).

Podemos observar que, embora a besta destrua um sistema ocupado por forças demoníacas, os espíritos demoníacos semelhantes a rãs ainda cumpriram sua função, reunindo as nações para guerrearem contra o Cordeiro (Apocalipse 16:13-14). A besta agora domina os reis que estão sob seu poder, como vemos em Apocalipse 18:9, quando os reis lamentam a destruição da Babilônia. O fato de eles ainda comparecerem à batalha contra o Cordeiro indica que, em sua ação para destruir a prostituta e a Babilônia, ela mantém ou adquire o poder de comandar os reis para cumprirem suas ordens e entrarem em guerra.

Os crentes são sábios em reconhecer o perigo de serem arrastados para sistemas que se opõem a Deus. A queda da Babilônia serve tanto como advertência quanto como convite: advertência de que as estruturas de poder injustas estão condenadas e convite para "sair dela" (Apocalipse 18:4) — para viver segundo os caminhos da verdade e da justiça de Deus, em vez de viver segundo o comércio corrupto e o compromisso com o mundo.

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