Significado do Apocalipse 2:24-29

Jesus agora abandona Seu castigo contra aqueles que seguiram a falsa professora que Ele chama de “Jezabel” para a imoralidade sexual e se dirige àqueles que resistiram ao seu falso ensino: Digo, porém, a vós outros que estais em Tiatira, a quantos não seguem esse ensino e que não conhecem as coisas profundas de Satanás, como eles dizem: Eu não vos ponho outro fardo.

O ensinamento da falsa profetisa Jezebel aparentemente é chamado localmnte de as coisas profundas de Satanás. De alguma forma, a falsa profetisa convenceu um grupo de crentes em Jesus, crentes que tinham "amor e fé e serviço e perseverança" (Apocalipse 2:19), de que as práticas chamadas de coisas profundas de Satanás eram consistentes com a caminhada na fé em Jesus. Não é dito como ela conseguiu fazer isso.

Sabemos que várias formas de feitiçaria eram comuns entre os pagãos gregos. Vemos várias instâncias disso nas Escrituras, desde o endemoniado nas cidades gregas da "Decápole" (Marcos 5:1-20) até Simão, o mágico (Atos 8:9). É comum as pessoas encontrarem maneiras de sincronizar suas antigas práticas com uma nova fé. Por isso, Paulo exorta os crentes de Roma que abandonaram o paganismo a "serem transformados pela renovação da mente" (Romanos 12:1b). É um processo para substituir o pensamento errôneo pela verdade.

Jesus diz que não dará nenhum outro fardo aos crentes que se recusaram a seguir o caminho de Jezebel, além de continuarem a manter sua resistência às suas falsas doutrinas. Isso nos diz mais sobre a grande persuasão dela. Jesus simplesmente os incentiva a permanecer firmes em seguir Seus caminhos e evitar cair na imoralidade sexual defendida pela falsa profetisa. No entanto, isso é um comando ativo.

A frase em grego traduzida como guardar bem no versículo 25, onde Jesus instrui os crentes que não caíram em tentação a guardai-o bem, até que eu venha é em outros lugares traduzida no Novo Testamento como "confiscado" (Mateus 26:57) ou "preso" (Marcos 6:17). Isso não é uma palavra que implica que você deve apenas continuar fazendo o que está fazendo casualmente. Pelo contrário, ela insta você a se apegar firmemente e com propósito às instruções de Deus para que não seja influenciado por falsos mestres.

Em seguida, Jesus se dirige ao vencedor, que é um grupo de crentes mencionado no final de cada uma das sete cartas. Neste caso, parece que os que vencem seriam os crentes em Tiatira que se mantêm firmes e não cedem aos ensinamentos falsos de Jezebel.

No Velho Testamento, Jezebel, queria poder mundano, mas não o obteve. Mas ao vencedor será recompensado sendo dado o que Jezebel desejava, mas foi negado. Jesus está dando aos que vencem autoridade sobre as nações. Ao fazer isso, Ele está compartilhando com esses crentes a autoridade que lhe foi concedida por sua fidelidade (Mateus 28:18; Filipenses 2:8-9). Ele está compartilhando a própria recompensa (Apocalipse 3:21). Jesus recompensará grandemente aquele que resiste a Jezebel e às tentações do diabo, e que ao invés disso segue o caminho de Deus, assim como Jesus superou as tentações do diabo e a rejeição dos homens (Apocalipse 3:21).

O vencedor é aquele que guarda as minhas obras até o fim. Jesus começou esta carta com uma recomendação para a igreja em Tiatira. Eles haviam crescido em maturidade, mas alguns se desviaram do caminho e foram encorajados a se arrepender e retornar, o que implica que poderiam retomar sua jornada para vencer e ser recompensados por isso. No entanto, isso requer perseverança em evitar o ensino falso de "Jezebel" e continuar a fazer boas obras em obediência a Cristo para superar.

A autoridade sobre as nações da qual Jesus fala será compartilhar de Seu governo sobre a terra, um domínio que é previsto em toda a Bíblia. Deus originalmente criou os seres humanos para governar a terra, escolhendo-os em vez dos anjos, que eram seres superiores (veja nosso comentário sobre o Salmo 8). No entanto, quando os seres humanos caíram devido ao pecado de Adão, aparentemente Satanás recuperou o lugar de governar o mundo do qual ele havia sido destronado (João 16:11). Foi designado aos seres humanos silenciar o tirano em potencial, servindo como líderes-servos (Salmos 8:2).

Os líderes-servos do novo céu e da nova terra terão autoridade para governar sobre ela. Jesus detalha como Ele recompensará aqueles que vencerem: a ele darei autoridade sobre as nações. Ele as regerá com vara de ferro, quebrando-as, como são quebrados os vasos de oleiro.

As frases citadas são retiradas do Salmo 2:

“Pede-me, que te darei as nações por tua herança e as extremidades da terra, por tua possessão. Tu as quebrarás com uma vara de ferro, fá-las-ás em pedaços, como vaso de oleiro.”

(Salmos 2:8-9)

Este salmo é o Deus Pai, falando com o Deus Filho. Veja como é a mesma tradução em Apocalipse 2:27 sobre o vaso de oleiro. A imagem de um governo com uma vara, ou cetro de ferro é uma representação de soberania absoluta. No mundo que está por vir, o caminho de Deus prevalecerá. É por isso que será um mundo no qual a justiça habita (2 Pedro 3:13). O governo de Jesus baseado na justiça criará um mundo no qual não haverá morte, dor ou choro para os crentes que habitam (Apocalipse 21:4). Uma das grandes recompensas para aquele que guarda os Minhas obras até o fim é "entrar na alegria do seu mestre" e compartilhar o governo de Seu reino em comunhão com Ele (Mateus 25:21, 23).

A vara de ferro que representa a autoridade de Jesus os "despedaçará como vasos de oleiro". O "eles" se refere novamente ao Salmo 2:1:

“Por que se amotinam as nações, e os povos tramam em vão?”

(Salmos 2:1)

A autoridade dos governantes das nações que buscam poder para si, contra o padrão de Jesus, será quebrada assim como uma vara de ferro quebra uma frágil peça de cerâmica. Os líderes mundiais desejam dominar em vez de servir seus súditos. Eles se reunirão contra o Cordeiro de Deus e serão destruídos (Apocalipse 19:11-21). Em seus lugares estará Jesus, que se levantará e assumirá o lugar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. E, aparentemente, os reis e senhores sob Ele serão aqueles que Jesus nomeia para governar consigo; aqueles que guardam Suas obras até o fim.

Vale a pena refletir que as obras que Jesus considera como superação diferem de igreja para igreja. Parece que Jesus está julgando a fidelidade de cada pessoa com as circunstâncias que lhes são dadas. Isso é consistente com a parábola dos talentos de Jesus, onde cada servo foi julgado pelo que havia feito com o que lhes foi dado (Mateus 25:14-30). Jesus indica que mesmo que o servo mau e preguiçoso tivesse feito um pouco de esforço e colocado seu talento no banco para render juros, ele teria sido recompensado em algum grau (Mateus 25:27).

A promessa final dada ao vencedor é que eu lhe darei a estrela da manhã.

A imagem da estrela da manhã em Isaías se refere ao rei da Babilônia, que é uma face do anjo Lúcifer, que se tornou Satanás:

“Como caíste do céu, ó estrela radiante, filho da alva! Como estás cortado até a terra, tu que abatias as nações!”

(Isaías 14:12)

A frase em Isaías traduzida como "estrela da manhã" é pensada especificamente para se referir a Lúcifer, o anjo caído que conhecemos como o diabo. Parece que é a partir deste trecho que Lúcifer foi originalmente colocado como um governante sobre o mundo. Fica claro que Satanás caiu de sua posição elevada:

O trecho continua:

“Tu dizias no teu coração: Subirei ao céu, exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus e sentar-me-ei no monte da congregação, nas extremidades do Norte. Subirei acima das alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Todavia, serás precipitado para o Sheol, para as extremidades do abismo.”

(Isaías 14:13-15)

Talvez então Satanás tenha sido substituído pelos humanos, que foram designados para governar a terra, mesmo sendo seres inferiores (Salmos 8).

Parece que Jesus dando a estrela da manhã aos vencedores pode se aplicar à sua posição como governantes sobre o mundo.

Então, Lúcifer foi a primeira estrela da manhã, o luminoso, a joia da coroa no Céu e governante sobre todas as coisas. Mas Jesus é a verdadeira estrela da manhã:

“Ainda temos mais segura a palavra dos profetas, a qual fazeis bem de atender, como a uma candeia que alumia num lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva surja nos vossos corações”

(2 Pedro 1:19)

Jesus agora assumiu o lugar da estrela da manhã, e toda a autoridade lhe foi dada (Mateus 28:18). No futuro, Ele assumirá a autoridade física sobre o mundo, e quando isso acontecer, Ele concederá a estrela da manhã aos vencedores.

Receber a estrela da manhã é estar em grande favor com Deus, estar acendendo sobre a criação e ter uma posição de incrível autoridade. Jesus tem tudo isso, e Ele quer compartilhar com os vencedores. Uma coisa interessante a se notar sobre os vencedores é que resistir à má autoridade (a falsa profetisa chamada Jezebel) o qualifica para ser uma boa autoridade, governando em serviço.

Ouvimos a frase "o orgulho vem antes da queda", e isso se aplica principalmente a Lúcifer. Ele era um anjo muito respeitado com muitas responsabilidades, mas ele ficou excessivamente orgulhoso e quis ainda mais poder; ele queria ser como Deus. Então, Deus o expulsou do Céu.

Isso também se parece um pouco com o que aconteceu com Jezebel: ela estava orgulhosa e queria mais poder para usurpar a autoridade de Deus, e então Ele a lançou para fora quando ela foi literalmente jogada de uma janela.

A carta à igreja de Tiatira termina com o convite para Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

O desafio para os crentes é fazer uma escolha. Os crentes podem ouvir Jezebel e suas falsas doutrinas, ou podem ouvir o Espírito de Deus. Os crentes podem ouvir o que é falso e buscar satisfazer seus próprios desejos, ou podem ouvir o que Jesus diz, acreditar que é verdadeiro e correto, e seguir em obediência. Isso será em grande parte influenciado pela perspectiva que cada crente escolher em relação à recompensa associada às suas escolhas. Aqui Jesus pede aos crentes que olhem além dos apetites imediatos e acreditem que esperar pelas Suas recompensas valerá a pena. Isso requer fé e reflete este trecho de Hebreus:

“Sem fé é impossível agradar a Deus; pois é necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus e que se mostra remunerador dos que o buscam.”

(Hebreus 11:6)