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Significado de Zacarias 1:2-6
A seção anterior fornece ao leitor informações sobre a data, autoria e fonte da profecia. Ela nos diz que Zacarias recebe uma revelação do SENHOR "no oitavo mês do segundo ano de Dario", o quarto rei persa (outubro-novembro de 520 a.C.). A presente seção inicia a mensagem divina. É um poderoso apelo ao arrependimento.
O SENHOR dá a mensagem a Zacarias para os exilados que estavam retornando. Ele começa se referindo a Si mesmo na terceira pessoa, dizendo: Jeová irou-se fortemente contra vossos pais. (v. 2). O termo hebraico traduzido como “Jeová” é Yahweh, o Deus auto-existente e eterno que havia se revelado a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). O nome Yahweh enfatiza o relacionamento de Deus por meio da aliança com Seu povo. O termo “vossos pais” se refere à geração pré-exílica de judeus, especialmente àqueles que viram a queda de Jerusalém em 586 a.C. (2 Reis 21:14-15). O texto nos diz que eles deixaram Deus muito irado por causa de sua desobediência.
O termo “irado” nos diz que a geração pré-exílica de judeus desagradou ao SENHOR. O texto hebraico nos diz que Deus estava muito irado. Seres humanos geralmente manifestam sua ira através da perda de controle, resultando em comportamentos malignos. No entanto, a ira de Deus é um ato de Sua vontade. Sua ira não exibe perda de controle. Pelo contrário, resulta em julgamentos deliberados contra o pecado, atitudes que distorcem e pervertem ao Seu projeto para a Criação. Neste caso, Judá havia violado sua aliança/tratado com Deus e se voltado a uma cultura pagã de exploração, em vez de viver em amor uns aos outros, conforme requerido na aliança (Levítico 19:18).
Antes de dizer aos exilados que retornavam o que seus antepassados haviam feito para provocá-Lo à ira, o SENHOR faz uma pausa e convida a nova geração de judeus a renovar sua comunhão com Ele. Ele instrui Zacarias a transmitir a eles a mensagem através da expressão profética “assim diz o SENHOR dos Exércitos”. Esta expressão ocorre três vezes neste versículo, com uma pequena variação.
A primeira ocorrência é “assim diz o SENHOR dos Exércitos”. Ela introduz a mensagem divina nesta seção. A segunda fórmula (“declara o SENHOR dos Exércitos”) segue a primeira parte da mensagem (Voltem a Mim), reforçando a primeira fórmula e reiterando a autoridade por trás da mensagem. A terceira ocorrência da fórmula é: “diz o SENHOR dos Exércitos”. Ela segue a segunda parte da declaração - “Para que Eu volte a vós” - e marca o ponto alto da mensagem.
Deus promete em Sua aliança/pacto com Seu povo que se eles retornassem a Ele após serem julgados e exilados Ele retornaria a eles (Deuteronômio 30:1-6). Agora, Deus, através de Zacarias, chama Seu povo a retornar a Ele para que pudesse cumprir essa parte da aliança. Deus sempre deseja o bem para Seu povo (Jeremias 29:11). Ele deseja que eles possuam as bênçãos que Ele oferece (Deuteronômio 30:19); porém, muitas vezes, Seu povo não anda em Seus caminhos.
O termo hebraico traduzido como “SENHOR” é Yahweh, o Deus autoexistente e eterno que Se revelou a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). O termo traduzido como “exércitos” é "sabaoth" no idioma hebraico e muitas vezes se refere aos exércitos angelicais do céu, como em 1 Samuel 1:3. A expressão “SENHOR dos Exércitos” ocorre frequentemente nos livros proféticos. Frequentemente, descreve o poder de Deus como um guerreiro liderando Seu exército angelical para derrotar Seus inimigos (Amós 5:16; 9:5; Habacuque 2:17).
Aqui em Zacarias, a expressão “SENHOR dos Exércitos” demonstra o poder de Deus como o supremo guerreiro que tem controle completo sobre todos os assuntos humanos. De fato, o SENHOR é o "Deus Todo-Poderoso" (Gênesis 17:1). Ele reina para sempre e "está revestido de majestade" (Salmo 93:1). Isso é importante, considerando que Judá estava em um estado frágil, sob o domínio da Pérsia e apenas começando a se reconstruir.
A essência da mensagem do SENHOR ao Seu povo era simples, mas tinha um significado teológico profundo: Tornai para mim, diz Jeová dos Exércitos, e tornarei para vós (v. 3). O verbo “tornar” denotava um movimento de volta a um local ou condição anterior, como ocorre com os seres humanos ao voltarem ao pó depois de sua morte (Gênesis 3:19), ou Jacó voltando à terra de sua origem familiar após uma jornada de vinte anos com Labão em Harã (Gênesis 31-35).
No entanto, a imagem de retornar significava mais que um movimento físico. Significava uma mudança de comportamento, uma mudança de foco mental. Tornar a Deus significa abandonar nossos caminhos malignos e nos dedicar a Ele. Implica uma conversão sincera, deixando de depender dos nossos próprios desejos para firmemente descansar nas promessas da aliança de Deus. Significa afastar-nos do caminho do pecado e da autossuficiência e, em seguida, retornar ao lugar de comunhão restaurada e paz com Deus ao seguir a Seus caminhos.
É por isso que o SENHOR pede a Seu povo desviado da aliança que retorne a Ele, para que Ele pudesse retornar a eles. Isso significava que Deus faria com que Seu povo da aliança se beneficiasse de Sua presença e das bênçãos abundantes (Deuteronômio 28:1-14). Ele "perdoaria seus pecados e curaria sua terra" (2 Crônicas 7:14). Deus estava se comprometendo a cumprir Sua promessa a eles, conforme expresso no acordo da aliança com Seu povo (Deuteronômio 30:1-6).
Depois de convidar aos exilados judeus a retornar à comunhão com Ele, o SENHOR lhes apresenta uma breve lição de história, explicando por que havia ficado irado com seus pais (v. 2). Ele os exorta com as seguintes palavras: Não sejais como vossos pais, a quem clamavam os profetas anteriores, dizendo: Assim diz Jeová dos Exércitos: Tornai, agora, dos vossos maus caminhos e dos vossos maus feitos. Contudo, não ouviram, nem me escutaram, diz Jeová. (v 4).
Antes da cidade de Jerusalém cair diante dos babilônicos, os profetas pré-exílicos haviam convocado os ancestrais do remanescente exilado de Judá a retornar ao SENHOR (Joel 2:12-14). Eles deveriam abandonar a seus caminhos perversos e se voltar a Deus em fé. Vez após vez, os profetas os chamaram a "buscar a Deus para que possais viver" (Amós 5:6). No entanto, eles não ouviram, nem me escutaram, diz Jeová. (v. 4). Eles foram rebeldes e obstinados. O povo ignorou a Deus e Suas leis da aliança. Portanto, Ele os julgou severamente, conforme estipulado em Seu acordo com eles.
O SENHOR, então, faz uma pergunta à geração pós-exílica sobre seus antepassados: Onde estão seus pais? (v. 5). A resposta esperada para essa pergunta retórica era: "Eles já não existem." Os antepassados dos judeus pós-exílicos haviam saído de cena. Mais importante, entretanto, era que eles haviam perdido sua pátria e sido exilados na Babilônia. Sua desobediência resultou em seu julgamento (1 Crônicas 9:1).
Infelizmente, muitos morreram em sua desobediência contra seu Deus Soberano. Deus usou os exércitos babilônicos para derrotá-los (Habacuque 1:6). Assim, o rei Nabucodonosor da Babilônia veio a Jerusalém, a destruiu e exilou a seu povo:
“Queimou a Casa de Jeová e a casa do rei; todas as casas de Jerusalém, todas as casas importantes, ele as entregou às chamas. Todo o exército dos caldeus que estava com o capitão da guarda deitou abaixo em roda os muros de Jerusalém. Nebuzaradã, capitão da guarda, transferiu o resto do povo que havia ficado na cidade, e os que se tinham desertado para o rei da Babilônia, e o resto da multidão; mas deixou alguns dos mais pobres da terra para serem vinheiros e lavradores” (2 Reis 25:9-12).
O SENHOR faz uma segunda pergunta à geração pós-exílica: Vossos pais, onde estão? E os profetas, vivem eles para sempre? (v. 5). A resposta esperada para esta pergunta retórica era: "Não, os profetas não vivem para sempre", pois os seres humanos são mortais - "Há um tempo determinado para tudo. E há um tempo para todo propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3:1).
A geração pré-exílica de judeus deveria se arrepender enquanto os profetas ainda estavam vivos, para evitarem o julgamento de Deus. É importante aproveitar as oportunidades certas para viver para Deus e fazer o que é bom. Alguns judeus haviam perdido essa oportunidade e, por isso, experimentaram a ira de Deus (v. 3). No entanto, embora os profetas não estivessem mais vivos, as palavras que eles haviam falado ainda viviam, porque a palavra de Deus não retorna vazia (Isaías 55:11).
O SENHOR faz uma terceira pergunta retórica que antecipava uma resposta afirmativa. Ela se destaca nitidamente das duas primeiras: Mas as minhas palavras e os meus estatutos que ordenei aos profetas meus servos não recaíram eles sobre vossos pais? (v. 6). O termo “palavras” refere-se aos comandos de Deus. O termo “estatutos” ("ḥuqqîm" em hebraico) refere-se a algo prescrito por uma autoridade. Como tal, pode ser traduzido como "prescrições" ou "decretos" (Deuteronômio 12:1). Esses dois termos enfatizam a totalidade da autoridade de Deus e a necessidade de se obedecer a Seus decretos (Deuteronômio 4:1; 5:1).
O SENHOR levantou a algumas pessoas como profetas. Ele ordenou que eles advertissem Seu povo da aliança sobre seus pecados, convidando-os ao arrependimento, visando evitarem o julgamento. Esses profetas eram servos de Deus. Eles tinham a tarefa de lembrar à comunidade da aliança de que Deus tinha uma vontade para eles, cuidava deles e desejava se comunicar com eles. Basicamente, os profetas deveriam guiar o povo de Deus no caminho da retidão. Eles pregavam a mensagem divina às suas respectivas gerações e, em seguida, morriam quando Deus os chamava para casa. Porém, a palavra deles permanecia, porque a palavra de Deus sempre permanece.
Mesmo que a geração anterior de judeus e os profetas que os haviam servido tivessem morrido, a palavra do SENHOR não retornaria vazia (Isaías 55:11). Suas palavras e estatutos alcançariam ao povo. O verbo “alcançar” significa que o juízo divino alcançaria aos ímpios (Deuteronômio 28:15). Então, quando experimentaram o julgamento de Deus, eles retornaram e disseram: Assim como Jeová dos Exércitos resolveu fazer a nós segundo os nossos caminhos e segundo os nossos feitos, assim ele nos tratou. (v. 6).
Deus projetou a relação de causa e efeito para o universo moral de forma tão confiável quanto a relação de causa e efeito projetada para o universo material. Ele sustenta essas relações de causa e efeito e tem o poder (SENHOR dos Exércitos) para garantir que tudo aconteça conforme o planejado. É importante destacar que, aqui, Deus havia planejado garantir que houvessem consequências diretamente relacionadas aos caminhos e ações do Seu povo. Fica claro na aliança de Deus com Israel que eles tinham uma escolha e que sua escolha resultaria em consequências relacionadas à vida/benefício/conexão ou à morte/maldição/exploração (Deuteronômio 30:19).
O verbo “arrepender” aqui provavelmente tenha um aspecto duplo. Em primeiro lugar, implicava que a geração pré-exílica dos judeus havia voltado à razão e percebido que merecia o julgamento de Deus, porque o que lhes aconteceu foi um resultado direto de seus próprios caminhos e ações. Eles assumiram a responsabilidade por suas ações, reconhecendo: "Nós somos o problema". Eles perceberam que haviam se recusado a ouvir aos profetas e, portanto, haviam escolhido as consequências adversas que estavam sofrendo.
Em segundo lugar, indicava que alguns judeus realmente se afastaram de seus caminhos maus e receberam o perdão de Deus. Eles se arrependeram. Esta é uma excelente ilustração de arrependimento:
• Reconhecimento da realidade do princípio de causa e efeito (meus caminhos e ações têm consequências) (Gálatas 6:8).
• Reconhecimento de que, no fundo, sabemos o que é certo e verdadeiro, mas escolhemos ignorá-los (Romanos 1:19-20).
• Reconhecimento da "minha responsabilidade" - fazendo a escolha de seguir um caminho novo e melhor.
Na antiguidade, havia vários tipos de tratados entre duas nações ou partes. Um desses tratados era o "Tratado Susserano-Vassalo". Nesse acordo, o susserano ou governante superior prometia abençoar a seus vassalos caso eles obedecessem às suas estipulações. Isso significava que ele os recompensaria por sua lealdade e obediência. Por outro lado, o susserano prometia amaldiçoar/punir a seus súditos caso ignorassem ou rejeitassem às suas estipulações. Ele, então, os amaldiçoaria/puniria por desobediência e rebelião. Deus escolheu essa construção de tratado para definir Sua relação com Israel e Judá, conforme delineado em Êxodo - Deuteronômio.
A estrutura de Susserano-Vassalo de Deus tinha diferenças notáveis em relação aos tratados seculares da época. Em primeiro lugar, Ele não fez um tratado com o governante de Israel, como um governante humano faria. Em vez disso, Deus fez um tratado diretamente com o povo (Êxodo 19:8). É por isso que Zacarias podia falar adequadamente das escolhas feitas por indivíduos dentro de Judá, assim como grupos de indivíduos, como os governantes.
O SENHOR escolheu o povo de Israel como Seus vassalos e detalhou Suas promessas, garantindo que receberiam Suas recompensas se seguissem a Seus mandamentos:
“Tendes visto o que fiz aos egípcios, de que modo vos trouxe sobre asas de águias e vos cheguei a mim. Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos (pois minha é toda a terra) e vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êxodo 19:4-6).
O SENHOR amava a Seu povo da aliança e os aceitava como Seus filhos. Sua aceitação deles como Seu povo era incondicional e irrevogável (Deuteronômio 7:6-8; Romanos 11:29). Ele lhes deu as leis da aliança para mostrar-lhes como agradá-Lo e manter comunhão com Ele. E a maneira de agradá-Lo era amar uns aos outros, assim como amavam a si mesmos (Levítico 19:18). O desejo de Deus para Seu povo é que eles vivessem da maneira mais construtiva e próspera. Embora Ele nos dê ampla revelação para conhecer os Seus caminhos, Ele nos permite escolher viver dessa maneira ou não (Romanos 10:18).
O povo de Israel compreendeu os requisitos de Deus a tal ponto que "responderam juntos e disseram: 'Tudo o que o SENHOR falou, faremos!'" (Êxodo 19:8). Eles entraram na aliança/tratado Susserano-Vassalo de forma intencional e livre. Porém, eles não cumpriram o seu voto.
Infelizmente, embora Deus tenha sempre permanecido fiel e confiável, o povo de Israel/Judá falhou em cumprir sua parte do acordo. Eles continuamente se rebelaram contra Deus, apesar dos avisos dos profetas. Como consequência, o SENHOR usou os assírios para derrotar Israel e enviá-los ao exílio (2 Reis 17:5-6). No entanto, Judá não aprendeu com seus irmãos e também continuou a se rebelar contra a aliança/tratado na qual haviam entrado. Então, Deus os julgou permitindo que os babilônicos tomassem a terra de Judá e enviassem seus cidadãos ao exílio (2 Reis 25:8-12).
Em Zacarias, Deus adverte o povo quanto aos erros de seus pais, que haviam perdido a comunhão com Ele e seguido aos caminhos pagãos de exploração e engano. Essa advertência tinha o objetivo de impedir que a geração pós-exílica repetisse os mesmos erros cometidos por seus pais.