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Significado de Deuteronômio 30:15-20
A partir do v. 15, Moisés concluiu seus discursos (imniciados em 1:6) com uma exortação final a respeito da escolha do caminho da vida. Ele começa ordenando aos israelitas que vejam (v. 15). Esta palavra (hebraico "rā'â", possivelmente "observar cuidadosamente" ou "entender") é usada aqui para fazer com que o povo prestasse muita atenção ao que seria dito. Ele, então, diz que colocava diante deles duas alternativas.
A primeira alternativa levaria à vida e prosperidade na Terra Prometida. Aqui, ele repete o que o SENHOR havia prometido anteriormente (Deuteronômio 29:9, 30:5). A noção de "vida" neste contexto provavelmente se refere à qualidade de vida e não apenas à mera presença da vida. A expressão “vida e prosperidade” indica que, ao escolherem obedecer às duas alianças que Moisés havia apresentado (Deuteronômio 5:1 até 30:14), Israel poderia esperar viver uma vida abundante em todos os aspectos.
Ao seguir a aliança, Israel teria saúde comunitária. Isso seria uma consequência natural de escolherem amar uns aos outros como a si mesmos (Levítico 19:18). Eles teriam saúde familiar pelo mesmo motivo, além de ensinarem essa abordagem de autogoverno a seus filhos (Deuteronômio 6:4-9). Eles também desfrutariam de abundância econômica e comercial; uma sociedade que valoriza a verdade e protege a propriedade uns dos outros estabelece a base para uma economia próspera. Além das consequências naturais, Deus promete adicionar abundância através de condições climáticas favoráveis e proteção contra os inimigos (Deuteronômio 28:7, 11-12).
Caso Israel escolhesse o caminho da desobediência à aliança de Deus, isso os levaria à morte e à adversidades. A palavra hebraica para “adversidades” é "ra", geralmente traduzida como "mal", "miséria" ou "aflição". A expressão “morte e adversidades” inclui a noção bíblica de morte como separação. Desobedecer aos mandamentos da aliança levaria Israel a ser separado das bênçãos de uma sociedade autogovernada. Em vez de amor e cuidado mútuo, haveria inveja e exploração. Em vez de honestidade e colaboração, haveria desconfiança e isolamento. Além disso, Deus acrescentaria castigos sobrenaturais na forma de condições climáticas adversas e invasões. Parte da morte e adversidades seriam, em última instância, a perda da vida física e de sua liberdade para invasores estrangeiros.
Moisés retoma o que estava envolvido na escolha do caminho para a vida e a prosperidade com três declarações no infinitivo, deixando claro que essa escolha deveria ser contínua e diária:
• Amar ao Senhor, teu Deus,
• Andar em Seus caminhos e
• Guardar os Seus mandamentos, os Seus estatutos e os Seus juízos (v. 16).
Amar ao Senhor, teu Deus, neste contexto, significava comprometer-se a viver em obediência ao próprio SENHOR. Este amor a Deus não deveria ser apenas um forte afeto por Ele, mas uma expressão de submissão às Suas estipulações da aliança (Deuteronômio 6:4; 11:1; 30:16). Este amor implicava confiar que os caminhos de Deus eram para o bem de Israel (Deuteronômio 6:24, 8:16; 10:13). Amar a Deus incluiria crer que Deus era quem Ele dizia ser e que Suas promessas eram reais e verdadeiras. Esta confiança daria lugar a uma obediência alicerçada na crença de que seguir a Deus os levaria aos melhores resultados possíveis.
Este amor seria a resposta apropriada ao SENHOR, pois Ele era o Deus compassivo e gracioso que havia restaurado Israel, trazendo-os de volta à Terra Prometida (Deuteronômio 30:1-5). Isso era uma demonstração da afirmação de Deus de que Ele havia escolhido a Israel como Seu povo, independentemente de suas escolhas. Ele os havia escolhido simplesmente porque os amava (Deuteronômio 4:37; 7:7-8).
Andar em Seus caminhos significava viver de acordo com Suas leis, viver de uma maneira que os levaria a um grande florescimento como comunidade. Este caminhar descrevia a resposta de Israel às leis da aliança de Deus, manifestada por um senso de envolvimento dinâmico e mútuo. Se Israel amasse ao Senhor e reconhecesse que somente Ele era Deus, eles reconheceriam que as bênçãos de Deus eram reais e verdadeiras. Eles entenderiam que andar em seus próprios caminhos, ou ouvir à voz de outros, era uma jornada rumo a destruição.
Guardar os mandamentos, estatutos e juízos de Deus signifivava seguir a todas as estipulações da aliança prescritas no documento da aliança. Esses mandamentos e essa exortação para escolher sabiamente marcam os três pilares do autogoverno refletidos na aliança de Deus:
• Estado de Direito: Deus criou o mundo e todos os processos de causa e efeito. Apenas Deus determina a relação de causa e efeito e isso jamais será alterado por seres humanos ou por circunstâncias.
• Consentimento dos Governados: Deus deu a Israel o poder da escolha. Eles decidiriam por si próprios se queriam ser abençoados. Para serem abençoados, eles deveriam crer que amar ao próximo como a si mesmos era a melhor opção como nação (Levítico 19:18; Marcos 12:31).
• Propriedade Privada: Cada pessoa tinha o direito de escolher o que fazer com suas vidas e bens. Eles não deveriam ser coagidos ou abusados.
O propósito de Deus em fazer a aliança com Israel, tornando claro quais escolhas levavam à bênção, era para que os israelitas pudessem viver e se multiplicar e para que o Senhor, o seu Deus, os abençoasse na terra da promessa. Ao viverem de acordo com o autogoverno estabelecido pela aliança, Israel reconheceria a Deus como seu Rei (1 Samuel 8:7). Ao fazerem isso, eles escolheriam um caminho que geraria as melhores consequências naturais e receberiam bênçãos adicionais de Deus como resultado de sua confiança Nele.
Fazer essas três coisas (amar, caminhar, guardar) resultaria em uma vida próspera na Terra Prometida. Este sempre foi o desejo de Deus para Israel (Deuteronômio 4:1; 5:33; 6:2; 8:1; 16:20).
Esta ordem é semelhante à promessa feita no livro de Apocalipse:
“Bem-aventurado o que lê, e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas, pois o tempo está próximo” (Apocalipse 1:3).
Apocalipse 1:3 oferece uma grande bênção a qualquer pessoa que 1) leia, 2) ouça (entenda e concorde) e 3) obedeça ao que está escrito no livro. Isso é semelhante à admoestação de Moisés a Israel para escolherem ouvir as palavras da aliança de Deus, a fim de que pudessem ser abençoados. Apocalipse exorta o povo de Deus a ser testemunhas fiéis e a não temer a perda, a rejeição ou mesmo a morte. Deus promete grandes recompensas a qualquer um que vença e seja uma testemunha fiel (Apocalipse 1:3; 2:7, 11, 17, 26-29; 3:5, 13, 21; 22:7, 12). Fica claro que essas bênçãos serão perdidas se os crentes do Novo Testamento não forem testemunhas fiéis.
Tanto Israel quanto os crentes do Novo Testamento são, ambos, preciosas propriedades de Deus, porque Ele os amou, independentemente de suas escolhas (Deuteronômio 4:37; 7:7-8; João 3:14-16; Romanos 5:1; 8:38-39). Porém, também para ambos os grupos, Deus lhes deu o poder de escolher e decidir, com consequências claras como resultado do caminho pelo qual eles desejam seguir. Este padrão começou no Jardim do Éden, quando Deus deu a Adão uma escolha clara e o deixou, juntamente com Eva, escolher entre seguir o caminho da vida ou da morte (Gênesis 2:16-17).
Em contraste com as bênçãos que Israel receberia por andar fielmente nos mandamentos da aliança de Deus, Moisés declara ao povo que eles certamente pereceriam caso se desviassem da adoração ao Deus Soberano e se recusassem a obedecer às Suas leis. Neste caso, é provável que Deus estivesse dizendo que Israel pereceria mesmo que permanecesse na terra, ou seja, sem receber os benefícios prometidos da aliança. A palavra “perecer” é traduzida como "arruinar" em Números 21:29. Esta idéia parece se encaixar aqui, uma vez que Deus promete que, quando uma geração futura se rebelasse contra a aliança, Deus a exilaria da terra (Deuteronômio 29:28) e, em seguida, faria com que retornassem (Deuteronômio 30:1-5). Isso deixa claro que muitos em Israel sobreviveriam fisicamente ao castigo de Deus. A idéia parece ser a de que todas as grandes bênçãos que Deus havia planejado para Israel seriam "arruinadas" caso Israel escolhesse o caminho da desobediência.
Eles certamente seriam arruinados caso fossem atraídos a adorar outros deuses e servi-los (v. 17). Em outras palavras, os israelitas seriam severamente punidos se adorassem a deuses pagãos e lhes oferecessem sacrifícios como forma de honrá-los. Moisés diz que essa prática de idolatria não prolongaria seus dias na terra para onde estavam cruzando o Jordão para entrar e possuir (v. 18), referindo-se à Terra Prometida. O povo pereceria na terra e sofreria as maldições, que eram as consequências acordadas por violarem aos termos da aliança.
Após esse ponto, Moisés parece iniciar um processo de preparação ao que podemos chamar de cerimônia de assinatura. No entanto, o processo fica como que aberto. Parece que Israel deveria decidir a cada dia se obedeceria aos mandamentos de Deus.
Moisés, então, apela aos céus e à terra para que testemunhassem a escolha que Israel faria. Assim como contratos importantes são feitos na presença de testemunhas nos tempos modernos, Moisés chama testemunhas para esta aliança adicional. Porém, neste caso, Moisés convoca testemunhas que estariam presentes para observar as gerações futuras, já que a aliança adicional seria perpétua, aplicando-se tanto àquela segunda geração que havia saído do Egito quanto às gerações futuras a partir daquele momento (Deuteronômio 29:1, 14-15). As testemunhas convocadas por Moisés são os céus e a terra.
Moisés deixa claro que Israel tinha uma escolha binária diante de si. Eles poderiam escolher seguir ou não à aliança. As consequências eram claras. Se seguissem aos termos da aliança, receberiam a consequência da vida. Se não seguissem aos termos, receberiam a morte.
Moisés coloca diante deles uma escolha clara: vida e morte, bênção e maldição (v. 19). Isso é uma reafirmação do que ele havia declarado em Deuteronômio 4:26. Nos tratados do Antigo Oriente Próximo, testemunhas eram frequentemente chamadas para testificar a respeito de um contrato. Aqui, tanto o céu como a terra seriam testemunhas permanentes de uma geração a outra, testemunhando em nome de Deus quando a aliança fosse violada. Dia após dia, o céu e a terra testemunhariam se Israel decidiria seguir aos caminhos de Deus e obter Suas bênçãos.
Moisés exorta os israelitas a escolherem a vida para que tu e teus descendentes possam viver. Moisés deseja que aquela segunda geração, a quem ele estava dirigindo seu discurso, escolhesse a vida. Moisés queria que eles tivessem as bênçãos e a plenitude de uma vida abundante.
Esta oferta também é estendida aos descendentes desta segunda geração. Isso significava que eles teriam que decidir diariamente se seguiriam aos caminhos de Deus e receberiam suas bênçãos.
A escolha que o povo de Israel deeveria fazer era entre vida e morte. Moisés estava deixando claro que aquela deveria ser uma escolha diária. Israel iria crer, confessar e fazer as coisas que Deus lhes ordenava? Se fizessem, seriam grandemente abençoados. Do contrário, não seriam abençoados. Em vez disso, enfrentariam significativas consequências adversas.
Curiosamente, nesta aliança adicional, não vemos qualquer pergunta relacionada ao acordo ou não do povo aos termos da aliança, como havia ocorrido na aliança que Deus havia feito com a primeira geração no Horebe (Êxodo 19:8), ratificada pela segunda geração aqui (Deuteronômio 26:17). Parece que esta aliança adicional deveria ser mantida perpetuamente, dia após dia, através da fé, da confissão e do cumprimento dos princípios da lei (Deuteronômio 30:14).
Esta pode ser a razão pela qual o apóstolo Paulo tenha usado Deuteronômio 30 para ilustrar a caminhada de fé no Novo Testamento como a maneira de alcançarmos a justiça (veja comentário sobre Deuteronômio 30:11-14).
Para garantir que Israel entendesse o que significava escolher a vida e como isso poderia ser alcançado, Moisés retoma os requisitos da aliança em três declarações importantes:
• Amando ao SENHOR, teu Deus,
• Obedecendo à Sua voz, e
• Apegando-se a Ele (v. 20).
Em cada caso, o verbo é expresso no gerundio, o que indica novamente que aquela escolha deveria ser feita diariamente, de forma contínua.
Os israelitas deveriam amar ao SENHOR de todo o seu coração e alma porque Ele era o seu Susserano (ou Governante) (Deuteronômio 6:5; Marcos 12:29). Eles deveriam obedecer à Sua voz, o que significava que deveriam sempre prestar muita atenção e seguir às instruções da aliança. Eles deveriam se apegar firmemente (hebraico "dābaq," "seguir de perto") a Ele, o que resultaria em não serem enganados por falsas promessas de deuses estrangeiros e pela idolatria. Esses deuses estrangeiros prometiam benefícios, mas traziam a morte.
Ao realizarem fielmente a esses três coisas - amar ao SENHOR, obedecer à Sua voz e se apegar a Ele - isso traria grandes benefícios a eles e os permitiria viver por muito tempo na terra que o SENHOR jurou a seus pais, a Abraão, Isaque e Jacó, dar-lhes. Deus deixa claro que uma futura geração violaria aos termos da Sua aliança com Israel e seria exilada da terra (Deuteronômio 30:17-18). Porém, Israel sempre seria o povo de Deus e Ele os restauraria à terra quando se arrependessem (Deuteronômio 30:1-5). No entanto, Deus deixa claro que era Seu desejo que cada geração andasse fielmente e obedecesse à Sua lei da aliança, para que pudesse ser abençoada. Este é o desejo de Deus, mas cada geração fará sua escolha e experimentará as consequências desta escolha.