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Significado de Gálatas 2:11-14

A harmonia do Concílio de Jerusalém (Atos 15) não durou muito. Logo em seguida, o apóstolo Pedro (Cefas) mostra favoritismo aos crentes judeus que ensinavam que os gentios deveriam obedecer à lei, o que era uma grave deturpação do Evangelho. Paulo repreende a Pedro na frente de todos por sua hipocrisia.

Aqui, Paulo descreve como Pedro (Cefas) tropeça e defende o legalismo. Os primeiros dez versículos deste capítulo mostram como Paulo e todos os apóstolos e anciãos em Jerusalém participaram do Concílio (Atos 15), onde se estabeleceu que os crentes gentios não precisavam assimilar as práticas religiosas judaicas, ser circuncidados e obedecer às regras religiosas judaicas. Como o próprio Pedro afirmara no Concílio a respeito da salvação de Deus: "Ele não fez distinção entre nós e eles, purificando seus corações pela fé" (Atos 15:9).

No entanto, nesses versículos, vemos que nem mesmo Pedro estava imune à hipocrisia. Paulo relata que Pedro visitou Antioquia. Durante essa visita, Paulo foi obrigado a apontar o pecado de Pedro. Pedro costumava comer com os gentios, mas quando certos homens de Tiago chegaram a Antioquia, Pedro manteve-se afastado dos gentios, temendo os crentes judeus enviados por Tiago. Os homens de Tiago eram "autoridades" e aparentemente eram crentes judeus em Jerusalém que ainda aderiam à Lei do Antigo Testamento, porque Paulo os chama de partido da circuncisão. Não fica claro porque Tiago enviaria pessoas como seus representantes que não estavam alinhados com o acordo alcançado no Concílio de Jerusalém. Talvez Tiago não conhecesse a posição deles. Talvez ele próprio tivesse sido influenciado por eles.

De qualquer forma, esses homens promoveram o mesmo princípio que os homens do versículo 4, dizendo que os crentes gentios, como Tito, deveriam ser circuncidados de acordo com a lei judaica. Paulo e os outros no Concílio de Jerusalém em Atos 15 se opuseram firmemente à exigência de que os gentios assimilassem às práticas religiosas judaicas (Atos 15:5). Todos estavam unidos por Cristo, não na pela prática judaica. Agora, esse consenso estava sendo minado.

Pedro mostra preferência pelos homens enviados por Tiago quando chegaram à igreja em Antioquia. Pedro era um dos apóstolos em Jerusalém, um homem tido em alta consideração pela maioria dos outros crentes. Diante dos crentes gentios Pedro, de repente, parou de partir o pão com eles e comia apenas com os crentes judeus. Paulo relata que o restante dos judeus havia se juntado a ele na hipocrisia - seu exemplo foi seguido até mesmo por Barnabé, que passara anos pregando o Evangelho aos gentios e, agora, se recusava a comer com eles.

Paulo, no entanto, recebera sua missão pessoalmente de Jesus. Ele era amigo de Pedro, mas não seu seguidor. Anteriormente, Paulo havia explicado claramente que não se importava com o status entre os homens, referindo-se aos apóstolos em Jerusalém que tinham uma boa reputação. Ele afirma que o que eles eram não fazia diferença para ele, já que Deus não mostrava parcialidade. Assim, Paulo repreende a Pedro por sua hipocrisia em se associar às autoridades de Jerusalém e ficar longe dos crentes gentios. Paulo escreve: Eles não eram diretos sobre a verdade do Evangelho. Esse segregacionismo liderado por Pedro estava corrompendo a verdade do Evangelho.

Paulo também deixa clara a motivação de Pedro para exercer sua hipocrisia: Pedro não queria ser excluído/rejeitado pelas autoridades de Jerusalém. Pedro começou a retirar-se e a manter-se afastado, temendo o partido da circuncisão. Pedro não queria ser rejeitado. A rejeição é uma ferramenta poderosa usada por pessoas que querem ganhar seguidores. E, de fato, a mesma ferramenta estava sendo usada sobre os gálatas, pois Paulo escreverá em 4:17: "Eles vos procuram ansiosamente, não louvavelmente, mas desejam excluí-los para que os procureis".

Uma das principais características desse conflito se localizava na área da alimentação. A lei do Antigo Testamento ditava uma dieta rigorosa que excluía alimentos "imundos". Em Atos 10, Pedro tem uma visão de Deus, onde Deus traz todos os animais da terra até ele e ordena que ele os mate e coma. Pedro protesta e afirma nunca ter comido nada comum (profano) ou imundo. Deus responde: "O que Deus purificou, não considere mais profano" (Atos 10:15). A comida era simbólica da divisão entre judeus e gentios. Israel deveria ser a nação santa de Deus e os gentios eram comuns e impuros. Pedro fica profundamente intrigado, mas o restante de Atos 10 revela o significado da visão.

Um centurião romano, Cornélio, um gentio que temia a Deus, leva Pedro à sua casa. Pedro compartilha o Evangelho, explicando: "Vós mesmos sabem como é ilegal para um homem judeu associar-se a um estrangeiro ou visitá-lo; e, no entanto, Deus me mostrou que eu não deveria chamar nenhum homem de profano ou imundo" (Atos 10:28). O Evangelho de Jesus era para todos os homens, não apenas para os judeus. Pedro percebe isso, acrescentando: "Eu certamente entendo agora que Deus não é alguém para mostrar parcialidade, mas em toda nação o homem que O teme e faz o que é certo é bem-vindo a Ele" (Atos 10:34-35).

Porém, agora, depois de anos de ministério e pregação do Evangelho, Pedro cai na hipocrisia e mostra parcialidade. Por maior que Pedro fosse, ele ainda falhava. Isso deve dar-nos grande alento.

Não está claro se comer com os gentios significava que eles estavam comendo comida impura, ou se estavam comendo sua comida kosher ao lado ou em comunhão com os gentios. É mais provável que seja a última opção, já que, no final do ministério de Paulo, quando ele desembarca em Roma, onde seria preso e martirizado, o apostolo se dirige aos líderes judeus em Roma da seguinte maneira: "Depois de três dias, Paulo convocou aqueles que eram os principais homens dos judeus e, quando eles se reuniram, ele começou a dizer-lhes:  'Irmãos, embora eu não tivesse feito nada contra nosso povo ou os costumes de nossos pais, ainda assim fui entregue como prisioneiro de Jerusalém nas mãos dos romanos'" (Atos 28:17).

Ao dizer que nada fez contra os costumes de nossos pais, Paulo afirma que havia mantido as leis religiosas judaicas o tempo todo. Isso também é aparente em Atos 21:17-26, quando Paulo se submete a algumas práticas religiosas judaicas para provar que não estava ensinando os judeus a abandonar a Lei de Moisés. O comportamento de Paulo é consistente com o acordo no Concílio de Jerusalém em Atos 15. O acordo era o de que os judeus continuariam a praticar os costumes religiosos judaicos, mas os gentios estavam livres de tais práticas. O ponto principal era que os dois grupos deveriam existir juntos em harmonia. Assim, quando Pedro se retira da comunhão com os gentios, ele quebra o acordo de Atos 15.

Paulo escreve que não falou com Pedro em particular. Na presença de todos os crentes em Antioquia, ele o repreende. Em geral, o pecado deve ser tratado em particular. Porém, a exceção é o falso ensino, que deve ser tratado publicamente. A repreensão de Paulo é uma explicação apaixonada da unidade de Cristo entre os crentes, bem como uma condenação completa do legalismo, algo que os próprios gálatas haviam começado a praticar. Paulo começa perguntando a Pedro: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como os judeus, como obrigas os gentios a viverem como judeus?

Paulo é muito simples e preciso indicando a hipocrisia de Pedro: "Você é um judeu, Pedro, e todo esse tempo você estava comendo com os crentes gentios. Você comeu na presença deles porque eles foram purificados em Cristo. De repente, essas 'autoridades' de Jerusalém aparecem e você esnoba seus irmãos gentios para que eles não o rejeitem."

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