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Jó 38:1-7 explicação

Jó 38:1-7 inicia um diálogo grandioso e misterioso entre Deus e Jó. Deus fala com Jó de um redemoinho. Ele o convida a se preparar para essa conversa. Deus começa uma série de perguntas incisivas que enfatizam a perspectiva limitada da humanidade e demonstram a Sua glória. Deus formula Suas perguntas retoricamente, como se Jó pudesse lhe dizer coisas que Jó não sabe, coisas que somente Deus sabe. Isso mostra a Jó que ele não pode acrescentar nada ao conhecimento de Deus, não pode apresentar seu caso a Deus como se Deus não fosse onisciente.

Em Jó 38:1-7, Deus finalmente responde ao anseio de Jó por uma audiência (Jó 23:3-7), porém o faz exigindo que Jó responda a uma série de perguntas metafísicas para as quais ele não tem resposta. Anteriormente, em Jó 23:3-7, Jó havia expressado confiança de que, se pudesse apresentar seu caso perante o tribunal divino, Deus mudaria Sua perspectiva.  Jó acredita que Deus carece de perspectiva e precisa de informações adicionais para perceber o que Lhe está deixando passar.

É importante notar que, em todas as suas provações, Jó jamais pecou com os lábios nem acusou a Deus (Jó 1:22; 2:10). Além disso, ele só falava a verdade sobre Deus, conforme atestado pelo próprio Senhor (Jó 42:7). Jó era o homem predileto de Deus, que sentia imenso orgulho dele (Jó 1:8; 2:3). No entanto, o que Jó fez foi expressar a crença equivocada de que Deus carecia de perspectiva.

Jó afirmou: “Quem me dera saber onde encontrá—lo e encher a minha boca de argumentos!” e “Ali os retos argumentariam com ele, e eu seria libertado para sempre do meu Juiz!” (Jó 23:4, 7). Com isso, Jó expressa confiança na retidão e justiça de Deus. Jó expressa confiança de que Deus faria o que era certo, SE Ele soubesse o que Jó acreditava que lhe faltava: a perspectiva de Jó.

Agora Deus atende ao desejo de Jó de compartilhar sua perspectiva. O diálogo começa: Então, do meio dum redemoinho respondeu Jeová a Jó (v. 1).

Jó pode ter vivido por volta de 2000 a.C., na região de Uz ou em seus arredores, possivelmente a sudeste do Mar Morto. O fato de o SENHOR ter respondido a Jó em meio ao redemoinho pode prenunciar o diálogo que se seguirá, visto que este se concentrará principalmente no poder criativo de Deus na criação de tudo o que existe. Pode também ser uma resposta sutil de Deus ao apelo de Jó: "Quem me dera saber onde encontrá—Lo!", que significa "Ele está ao seu redor, em tudo o que você vê".

Mil anos mais tarde, o salmista Davi expressará essa ideia de forma clara e direta, afirmando:

“Céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia profere palavras a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há fala, nem palavras; não se lhe ouve a voz.”
(Salmo 19:1b-3)

A criação está sempre falando. Romanos 10:18 afirma que todos ouviram a “palavra de Cristo” por causa do testemunho da criação. Romanos 10:18 cita o Salmo 19:4 para apoiar essa afirmação. A palavra hebraica traduzida como “redemoinho” é traduzida como “tempestade” em Jó 40:6: “Então do redemoinho respondeu Jeová a Jó”. Quando Deus falou com Elias em 1 Reis 19:10-15, Deus não estava no vento forte, mas sim em um “soprar suave” (1 Reis 19:12). Deus falou com Elias quando ele estava sob aflição espiritual e o confortou.

Talvez Deus apareça a Jó em meio a uma tempestade porque, embora Jó esteja passando por grande sofrimento físico, lhe falta justamente aquilo que ele acreditava que faltava a Deus: a perspectiva correta. Ao escolher uma tempestade para falar com Jó, talvez Deus esteja tanto chamando a atenção de Jó quanto ilustrando o ponto que agora irá enfatizar: Deus tem todas as perspectivas; é Jó quem carece de perspectiva. Deus desafia Jó: "Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?" (v. 2).

Essa resposta divina representa um desafio direto à afirmação de Jó, feita em Jó 23:3-7, de que o SENHOR precisava de seu conselho. Deus rebate essa ideia declarando que a "perspectiva" oferecida por Jó consiste, na verdade, em "palavras sem conhecimento" (Jó 38:2). Jó utiliza palavras, mas elas não transmitem nenhum entendimento útil. Em vez de iluminar o assunto, essas palavras servem para obscurecer o conselho. Jó pensava que poderia esclarecer um assunto para Deus. Deus começa afirmando que a perspectiva de Jó seria, ao contrário, palavras sem conhecimento e, portanto, ele é alguém que obscurece o conselho.

Uma afirmação e tanto. Principalmente quando lembramos que Jó é a pessoa predileta de Deus, por quem Ele nutre um profundo carinho (Jó 1:8, 2:3). Como veremos, isso se assemelha muito mais a um treino para um atleta olímpico que busca uma medalha de ouro do que a um tribunal, pois é um prelúdio para Deus derramar uma grande bênção sobre Jó. Mas, como em qualquer treinamento, não será fácil para Jó. Devemos lembrar que “O Senhor disciplina a quem ama” (Hebreus 12:6). O Senhor instrui Jó: “Cinge, pois, os teus lombos como homem, porque te perguntarei, e tu me responderás.” (v. 3).

Esta expressão, "cinge", é um prelúdio para uma ação vigorosa. Os antigos costumavam prender suas vestes no cinto, criando uma espécie de "calças—saias" adequadas para a ação. Como isso se refere à conversa, Deus está dizendo a Jó: "Você queria um debate acirrado, aqui está ele, é melhor se preparar!" Jó desejava apresentar seu caso a Deus, para que Deus aliviasse seu sofrimento (Jó 23:3-7).

O objetivo de Jó era compartilhar sua perspectiva com Deus, acreditando que, se Deus a compreendesse, mudaria de ideia. Como veremos a seguir, Deus interrogará Jó: "porque te perguntarei, e tu me responderás" O propósito do interrogatório será levar Jó a um conhecimento em primeira mão de que, comparado a Deus, ele não tem conhecimento algum a oferecer, nada a acrescentar à perspectiva divina. Deus faz sua primeira pergunta: "Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize—mo, se tens entendimento." (v. 4).

Observe que Jó não responde com nada. Isso significa que a resposta de Jó à pergunta "Dize—mo, se tens entendimento" é permanecer em silêncio. Trata—se essencialmente de uma pergunta retórica, visto que a resposta de qualquer ser humano à pergunta "Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra" seria: "Eu ainda não existia". O ponto, então, é que Deus criou todas as coisas sem qualquer contribuição de Jó. Deus não precisava da perspectiva de Jó, nem da de qualquer outra pessoa, para lançar os alicerces da terra.

Deus então continua: Quem lhe determinou as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? (v. 5). Deus agora começa a zombar da presunção de Jó ao pedir para ser ouvido a fim de instruir a Deus em um conhecimento que Ele próprio não possuía (Jó 23:3-7). Ao dizer "Já que você sabe", Deus infere que, ao afirmar que pode oferecer a Deus uma perspectiva que Ele não possui, Jó está alegando estar no mesmo nível de compreensão de Deus. Então Deus faz a Jó uma pergunta simples: "Quais são as dimensões do universo?" e "Como ele foi medido?"

Novamente, Jó permanecerá em silêncio, é evidente que nenhum ser humano pode conhecer as dimensões do universo. Mesmo com nossos instrumentos modernos, quanto mais aprendemos, mais percebemos o quão pouco sabemos. Até o momento em que este texto foi escrito, muitos acreditam que a "matéria escura" e a "energia escura" compõem grande parte do universo, até 85%. Nem a matéria escura nem a energia escura podem ser experimentadas ou com as quais se pode interagir; elas são apenas inferidas em explicações teóricas.

Os astrônomos dizem que não sabem se o universo é extremamente grande ou infinito. Portanto, não podem responder à pergunta de Deus sobre as dimensões do universo. Mas parece claro que existe uma resposta, e Deus a conhece. E a questão para Jó é: “Vocês não têm ideia da perspectiva da realidade além de Mim”.

A expressão "esticar a linha" evoca pensamentos de precisão na construção. Um artesão usa uma linha de medição para garantir que cada componente se encaixe perfeitamente. Deus, portanto, afirma que Ele, como o Mestre Artesão, conhece as dimensões exatas. No entanto, a perspectiva de Jó é como a de alguém que observa uma obra—prima finalizada, mas não consegue replicar os passos exatos dados ou a sabedoria por trás de cada medida. De fato, Jó nem sequer tem a capacidade de começar a fazê—lo. Além disso, o Senhor declara: "Sobre que foram firmadas as suas bases? Ou quem lhe assentou a pedra angular" (v. 6).

Deus usa os termos "bases" e "pedra angular" como termos que Jó entenderia no contexto da construção civil. Deus está perguntando a Jó: "De onde vieram os materiais de construção? De que eu os fiz? Qual é o projeto?" É claro que Jó não tinha ideia. E, novamente, quanto mais aprendemos na ciência moderna, mais descobrimos o quanto desconhecemos. Nesse aspecto, Deus colocou um testemunho de Si mesmo em tudo o que criou.

Na construção antiga, a pedra fundamental era o elemento principal que garantia a estabilidade de toda a estrutura. Ao fazer referência a uma pedra fundamental para a Terra, Deus evoca, de forma figurada, Seu plano perfeito que sustenta a criação (Colossenses 1:17). Jó, como toda a humanidade, testemunha apenas uma fração ínfima do resultado final, sem conseguir compreender esses alicerces divinos e os vastos atos da criação.

Finalmente, Deus descreve uma cena grandiosa durante o evento da criação: Quando, juntas, cantavam as estrelas da manhã, e jubilavam todos os filhos de Deus? (v. 7).

Aqui, as estrelas da manhã provavelmente simbolizam anjos, enquanto filhos de Deus se refere de forma semelhante à hoste celestial. A expressão filhos de Deus traduz “ben elohim” em hebraico. A expressão é usada em Jó 1:6 para se referir a anjos, incluindo anjos caídos, visto que Satanás estava entre os “filhos de Deus” que se apresentaram diante do Senhor. A expressão “ben elohim” também aparece em Gênesis 6:2, 4, onde os “filhos de Deus” geraram filhos com mulheres, filhos que se tornaram “homens poderosos” e “homens de renome”.

A imagem retrata anjos observando com admiração e exclamando de alegria diante da obra criativa de Deus. Podemos imaginar uma multidão assistindo a um espetáculo de fogos de artifício.

Este versículo nos lembra de que existe uma perspectiva celestial e vasta sobre os eventos deste mundo. Nossa visão é limitada e finita, enquanto a de Deus é infinita e abrangente. No entanto, Deus condescende em se relacionar com o homem, rebaixando—Se ao nosso nível para nos ajudar a compreender. Seu desejo de abençoar Jó vai muito além do mero conforto material ou restituição. Como veremos, o propósito último de Deus era que Jó O conhecesse plenamente pela fé. Isso ecoa a declaração de Jesus: “Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).

Ao longo de Jó 38-42, o objetivo de Deus é conduzir Jó a um conhecimento profundo de Si mesmo enquanto ele ainda está na Terra, um conhecimento que só é possível pela fé. Disso, podemos inferir que a maior demonstração de graça de Deus para com aquele a quem Ele mais estima é guiá—lo a um conhecimento mais íntimo de Si mesmo por meio da fé. Esta verdade se harmoniza com outras passagens que afirmam explicitamente que nossa maior bênção emerge de aprender a conhecer a Deus nas provações da fé (2 Coríntios 4:17, Tiago 1:2-3, 12, Apocalipse 3:21).

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