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Significado de Mateus 26:20-25
Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este evento são encontrados em Marcos 14:17-21, Lucas 22:14, 22-23 e João 13:21-30.
Depois da narrativa sobre os preparativos celebrar a Páscoa (Mateus 26:17-19), Mateus aborda a refeição da Páscoa. Ele pula alguns eventos - como Jesus lavando os pés dos discípulos (João 13:3-17). Em vez disso, Mateus relata alguns eventos mais relevantes para ele e/ou para os leitores de sua narrativa do Evangelho quanto à refeição final da Páscoa.
Os cinco momentos-chave citados por Mateus sobre a última refeição pascal de Jesus são:
Na parte inferior desta página há uma sequência de todos os eventos da última Páscoa de Jesus. Os eventos nesta sequência são retirados dos quatro Evangelhos. Eles tentam descrever como a última refeição de Páscoa de Jesus pode ter se desenrolado.
Mateus começa o relato desses eventos com uma frase simples, mas significativa: Quando a noite chegou.
A expressão Quando a noite chegou indica uma mudança de dias no calendário judaico. Isso ocorre porque os dias judaicos terminam e começam ao pôr do sol. Esta pode ter sido a maneira de Mateus dizer que eles já estavam no décimo quinto de Nisã. Os cordeiros pascais deveriam ser abatidos no crepúsculo (a tarde) de 14 de Nisã (Êxodo 12:6). O cordeiro pascal deveria ser comido no jantar naquela noite - a noite de Nisã 14-15 (Êxodo 12:6-8), o dia em que Jesus, nosso cordeiro pascal, morreria (1 Coríntios 5:7b).
Depois de notar que a noite havia chegado, Mateus escreve que Jesus estava reclinado à mesa com os doze discípulos. Esta foi a sua observação de que a refeição da Páscoa havia começado.
JESUS ANUNCIA QUE SERÁ TRAÍDO
O primeiro momento descrito por Mateus sobre a "Última Ceia" de Jesus foi Seu anúncio surpreendente de que um dos doze discípulos O trairia. Mateus nos diz que Jesus faz essa declaração enquanto estava reclinado à mesa com os doze discípulos. Ele diz que Jesus e Seus discípulos estavam reclinados porque o costume daquele dia era deitar-se de lado e comer dos alimentos servidos numa mesa baixa (ver Imagem). Também era costume reclinar-se enquanto eles comessem o Seder de Pessach.
O Evangelho de João registra dois exemplos de Jesus afirmando que um dos doze O trairá. Uma vez antes da refeição (João 13:18-20) e uma vez durante a mesma (João 13:21-30). Como Mateus escreve que Jesus declarou isso enquanto estavam comendo, seu relato provavelmente identifica a segunda menção a esse anúncio doloroso. Jesus provavelmente disse isso logo depois de ter partido o pão e enquanto eles estavam molhando o pão em uma das tigelas do Seder. Isso parece provável, uma vez que Jesus especifica: O que mergulha a mão Comigo na tigela é aquele que Me trairá.
Mateus registra o anúncio da traição de Judas separadamente de sua narração do próprio Seder. Ele não parece recontar esses momentos da última Páscoa de Jesus na ordem exata em que aconteceram. Mateus provavelmente os separou para que o significado de cada momento não fosse confundido ou ofuscasse o significado do outro.
É difícil imaginar o nível de perturbação que os discípulos sentiram ao ouvir Jesus anunciar durante a refeição da Páscoa: Verdadeiramente Eu lhes digo que um de vocês Me trairá.
Jesus havia escolhido os doze discípulos (Mateus 10:1-4; Lucas 6:12-16). Cada um dos doze havia deixado tudo para seguir a Jesus. Eles acreditavam que Ele era o Messias. Eles serviram juntos um ao lado do outro pela causa de Jesus por um longo tempo. Uma traição a Jesus seria uma traição pessoal contra todos eles. Era uma traição a Israel. Era uma traição contra o Messias. Esta notícia foi profundamente perturbadora. Mateus e Marcos observam como os discípulos ficaram profundamente entristecidos (Marcos 14:19). João descreve como os discípulos ficaram sem palavras e perplexos com o choque do que Jesus acabara de dizer (João 13:22).
Quando este pensamento preocupante é registrado, os discípulos começam a tentar descobrir quem entre eles faria aquela coisa horrível. Cada um começa a dizer-lhe: "Certamente não sou eu, Senhor." De acordo com o Evangelho de João, Pedro finalmente gesticula e pede a João que pergunte a Jesus quem era o traidor. João Lhe pergunta: "Senhor, quem é?" (João 13:24-25).
É neste ponto que Jesus diz aos discípulos: O que mergulha a mão Comigo na tigela é aquele que Me trairá. Essa resposta enigmática tinha vários significados.
Primeiro, era uma metáfora que ressaltava como Jesus e Seu traidor compartilhavam a a vida juntos. O Seder traz uma tigela de ervas amargas e uma tigela com uma mistura de frutas doces esmagadas e nozes. A resposta de Jesus, metaforicamente, mostrou como Ele e Seu traidor haviam experimentado momentos amargos e doces juntos.
Segundo, os doze discípulos estavam participando da Páscoa com Jesus até este ponto, quando Ele reitera que o traidor estava presente e era um deles.
Terceiro, essa foi a maneira de Jesus vocalizar como uma profecia messiânica do Salmo 41 tinha que ser cumprida:
"Até mesmo meu amigo íntimo em quem eu confiava,que comeu meu pão,levantou o calcanhar contra mim" (Salmos 41:9).
Em quarto lugar, Jesus parece sutilmente limitar os suspeitos aos discípulos próximos a Ele durante a refeição da Páscoa. O traidor estava perto o suficiente para mergulhar seu matzá (pão ázimo) na tigela que compartilhavam. João estava sentado ao lado de Jesus durante esta refeição (João 13:23-25). Então, ao que parece, o outro era Judas.
JESUS ADVERTE SEU TRAIDOR
Antes de identificar Judas como Seu traidor, Jesus o advertiu: “O Filho do Homem deve partir, assim como está escrito sobre Ele; mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido.”
A expressão O Filho do Homem deve partir, assim como está escrito sobre Ele se refere ao fato de que as Escrituras prediziam que o Messias seria traído e entregue às autoridades para ser executado. O termo Filho do Homem se referia ao Messias e Jesus frequentemente o usava para falar de Si mesmo como o Messias.
Jesus pode ter tido o Salmo 41:9, entre outras profecias, em mente ao dizer isso. Uma dessas outras profecias pode ter sido a profecia do "Servo Sofredor" de Isaías 53.
Estava preordenado que o Filho do Homem seria removido - Ele sofreria e morreria pelos pecados do mundo.
Depois da desobediência de Adão e Eva no Jardim do Éden, Deus diz à serpente:
"E porei inimizade entre ti e a mulher, E entre a tua semente e a sua semente; Ele te machucará na cabeça, e tu o ferirás no calcanhar" (Gênesis 3:15).
A visão apocalíptica de João descreve Jesus como "o Cordeiro" que foi "morto desde a fundação do mundo" (Apocalipse 13:8).
Porém, embora fosse predestinado que o Filho do Homem sofresse e morresse, isso não absolveu Seu traidor. Jesus disse: "Ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seu traidor seria responsabilizado por seu pecado e a penalidade por seu pecado seria terrível. Ainda que Deus soberanamente ordenasse isso, Judas escolheria trair a Jesus. Isto é um complexo paradoxo, mas todas as coisas de Deus são paradoxais à nossa perspectiva humana (link para o artigo TT Founding Paradox).
Jesus descreve a devastação da penalidade do traidor com a exclamação: Ai. Um ai é uma interjeição que transmite tristeza ou desespero, ou ambos. É uma advertência profética. Jesus estava advertindo Seu traidor a não prosseguir com sua traição, porque a consequência seria muito danosa para ele.
O que Jesus diz a seguir é sério e preocupante:
“Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido.”
Gramaticalmente, essa observação pode ser interpretada de duas maneiras, cada uma com significados diferentes.
A diferença diz respeito a quem teria sido poupado caso o traidor nunca tivesse nascido:
A primeira maneira pela qual essa afirmação pode ser gramaticalmente interpretada é: Teria sido bom para aquele homem [Judas/o traidor] se ele [Judas/o traidor] não tivesse nascido.
A segunda maneira pela qual essa afirmação poderia ser gramaticalmente interpretada é: Teria sido bom para Ele [Jesus/o Filho do Homem] se esse homem [Judas/o traidor] não tivesse nascido.
Talvez a razão para essa ambiguidade gramatical seja que Jesus pode ter-se referido a ambas as interpretações.
A primeira maneira foi como a maioria dos tradutores optou por interpretar essa afirmação. Porém, nos textos gregos, que são a versão autorizada do Novo Testamento, a ambiguidade quanto a Jesus estar se referindo a Judas ou a Si mesmo continua.
Para enxergar tal ambiguidade, precisamos mergulhar no âmago do próprio texto grego. Caso seja seu interesse, a seção a seguir tenta demonstrar tal ambiguidade gramatical. Caso não seja seu interesse, sinta-se à vontade para ignorá-lo e avançar para a próxima seção, onde consideraremos as várias implicações dessas interpretações substancialmente diferentes.
Um olhar detalhado sobre o texto grego de Mateus 26:24
Aqui estão o texto em grego e a tradução de Mateus 26:24 lado a lado. Os principais termos e frases em questão estão em negrito.
ὁ μὲν υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ὑπάγει καθὼς γέγραπται περὶ αὐτοῦ οὐαὶ δὲ τῷ ἀνθρώπῳ ἐκείνῳ δι᾽ οὗ ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου παραδίδοται· καλὸν ἦν αὐτῷ εἰ οὐκ ἐγεννήθη ὁ ἄνθρωπος ἐκεῖνος
O Filho do Homem deve partir, assim como está escrito a partir Dele; mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido.
A ambiguidade gramatical é derivada da advertência emitida por Jesus: Ai daquele homem por quem o Filho do Homem for traído! A frase grega traduzida como esse homem nesta advertência é ἀνθρώπῳ ἐκείνῳ.
A palavra ἀνθρώπῳ é pronunciada "anthrōpō". Significa literalmente "homem" e é uma forma do substantivo grego "anthrōpos". Aqui está no tempo chamado “caso dativo".
A palavra ἐκείνῳ é pronunciada "ekeinō". Significa literalmente "aquilo" e vem do pronome demonstrativo grego "ekeinos". Também é um “caso dativo".
Na advertência de Jesus, ἀνθρώπῳ ἐκείνῳ (esse homem) refere-se claramente a Judas.
Essas mesmas palavras (ἄνθρωπος ἐκεῖνος) são usadas em sua forma "nominativa" no final da declaração de Jesus traduzida: Teria sido bom para aquele homem se não tivesse nascido.
Aqui, ἄνθρωπος ἐκεῖνος (esse homem) é traduzido como ele. A frase refere-se claramente a Judas/o traidor.
Porém, o termo em questão na declaração de Jesus: Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido, repousa sobre o pronome grego αὐτῷ (pronuncia-se "au-tō"). A palavra αὐτῷ está no “caso dativo". Esta palavra é normalmente traduzida como "ele". Mas, neste caso, os tradutores optaram por traduzi-lo como esse homem.
Em outras palavras, os tradutores trocaram as traduções normais para αὐτῷ (ele) e ἄνθρωπος ἐκεῖνος (aquele homem) na declaração de Jesus: Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido. Se não tivessem mudado as traduções normais dessas palavras na declaração de Jesus, teríamos o seguinte:
Teria sido bom para ele/Ele se aquele homem não tivesse nascido.
Se os tradutores não tivessem mudado os significados normais desses dois termos, então a declaração poderia igualmente indicar que teria sido bom para Jesus/o Filho do Homem ou Judas/Seu traidor se Judas/Seu traidor não tivesse nascido.
Discutiremos as implicações de ambas as interpretações em um momento. Porém, antes de o fazermos, precisamos considerar as razões gramaticais que nossos tradutores tiveram para interpretar esse versículo como o fizeram, a fim de influenciar o leitor a interpretar o versículo referindo-se a Judas como aquele que nunca devereia ter nascido.
Primeiro, a tradução da observação de Jesus fornece evidências para o Seu Ai. Sua interpretação descreve quão terrível seria o infortúnio de Judas, algo tão terrível para o discípulo que seria melhor ele jamais ter nascido. Na opinião dos tradutores, este contexto gramatical justifica o afastamento da tradução gramatical normal para cada termo.
Em segundo lugar, sua tradução conecta as formas do “caso dativo" do uso que Jesus faz de ἀνθρώπῳ ἐκείνῳ (aquele homem) em Seu Ai, usando o pronome αὐτῷ (ele) em Sua observação (Teria sido bom...). O fato de esses termos estarem no mesmo caso possivelmente os conecta.
Essas razões fornecem mérito gramatical para a interpretação dos tradutores e um motivo para mudar os significados normais de cada termo. Porém, ao mesmo tempo, vemos que há validade gramatical na interpretação da observação de Jesus de maneira oposta, ou seja, de que teria sido bom para Jesus se Judas nunca tivesse nascido.
Às vezes, os próprios limites da linguagem humana e a natureza da tradução do texto de um idioma para outro forçam o tradutor a escolher um significado em detrimento de outro. E isso dificulta a possibilidade de interpretação(ões) alternativa(s) igualmente válidas. É o caso deste texto em particular.
O texto grego de Marcos 14:21 (que é a passagem paralela a Mateus 26:24) é inteiramente idêntico (os Evangelhos de Lucas e João não contêm essa observação).
Uma consideração sobre o que Jesus quis dizer com a Observação: "Teria sido bom para aquele homem não ter nascido."
Como mencionado acima, há duas maneiras pelas quais a observação de Jesus - Teria sido bom para aquele homem não ter nascido - pode ser gramaticalmente entendida. Ambas as interpretações têm significados substancialmente diferentes uma da outra. Conforme discutido acima, há razões sólidas para ambas as interpretações. Ambas as interpretações podem ser verdadeiras, separadamente ou simultaneamente.
Eis a diferença: teria sido bom para quem - Judas, o traidor, ou Jesus, o Filho do Homem - se o traidor nunca tivesse nascido?
A primeira forma pela qual essa afirmação pode ser tomada é que Jesus estava se referindo a Judas/o traidor como o homem que não deveria ter nascido.
É assim que a maioria dos tradutores optou por interpretar esta afirmação.
De acordo com essa interpretação, Jesus estava, em primeiro lugar, advertindo Judas a não seguir adiante com sua traição. Ele também está descrevendo a severidade da desgraça que acabara de emitir a Seu traidor.
O ponto principal de Jesus ao dizer que teria sido bom para aquele homem se não tivesse nascido era advertir Judas, Seu discípulo.
Ele estava dizendo a Judas: "Não faça isso! Se você Me trair, você vai se arrepender mais do que você pode imaginar." A advertência de Jesus foi severa e amorosa para com Seu discípulo traidor. Era do melhor interesse de Judas não entregar Jesus aos líderes religiosos.
Trair a Jesus seria esmagador para Judas. Quando finalmente percebeu o peso de seu pecado, Judas (depois do fato) sentiu intensa culpa. Ele tentou desfazer sua traição devolvendo o dinheiro do sangue. Mas já era tarde demais. Dominado pela tristeza e culpa, Judas se matou em desespero (Mateus 27:3-5).
As ações de Judas após o fato demonstraram que ele sentiu remorso. Porém, em seu desespero, ele não buscou perdão. Talvez por Jesus ter sido executado no mesmo dia em que Judas se enforcou, Judas sentiu que não havia ninguém a quem ele pudesse recorrer para obter ajuda - pois ele também havia traído os discípulos. Judas se enforcou (Mateus 27:5). Quando seu corpo caiu, suas entranhas se espalharam pelo chão (Atos 1:16-18).
O remorso de Judas mostrou que ele teve uma mudança de coração (perspectiva), que é a definição de arrependimento (mudar de ideia). Porém, Judas não se arrependeu da maneira correta. Ele não mudou sua perspectiva de ruim para boa. Ele mudou de mal para pior. Ele não trocou sua perspectiva terrena pela perspectiva de Deus. Em vez de pedir perdão a Deus e confiar Nele, Judas piorou uma situação que já era terrível ao se matar. O suicídio é um auto-assassinato. O assassinato é uma violação dos Dez Mandamentos (Êxodo 20:13). Se Judas tivesse se voltado para a sabedoria de Deus, ele não teria se enforcado. É possível que ele até pudesse ter sido restaurado, já que Pedro foi restaurado por Jesus depois de suas negações (João 21:15-22). O ato suicida de Judas tragicamente eliminou a possibilidade de poder ser restaurado nesta vida).
Podem haver momentos em nossas vida em que nos sintamos irremediavelmente perdidos e esmagados pelo peso de uma culpa. Não conseguimos ver saída. A vergonha parece esmagadora. Mas não temos que ceder ao desespero. Deus nos ama. Ele sabe o que fizemos. Ele vê o que ainda podemos nos tornar caso confiemos Nele. Ele tem grandes coisas reservadas para nós. Ele pode nos redimir. E Ele o fará se confiarmos Nele. Não há pecado que Ele não possa perdoar. Todos os pecados foram pregados na cruz (Colossenses 2:14). Não há situação que Ele não possa redimir. Não há nada que possamos fazer para fazê-Lo nos amar mais ou menos do que Ele já ama - pois Deus é amor (1 João 4:16). Se cremos em Jesus como o Filho de Deus para a vida eterna, somos Seus filhos e Ele já pagou a penalidade por todos os nossos pecados. Se não fizemos isso ainda, devemos confiar Nele agora e receber Seus dons de perdão e vida eterna (João 3:16).
Se já somos crentes e estamos atualmente lutando com uma culpa - lembre-nos de aplicar esta bendita verdade de 1 João e agir de acordo com ela. Assim, começaremos a trilhar um caminho de ter nosso relacionamento com Cristo restaurado.
"Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9).
Jesus amava Judas. Foi por isso que Ele advertiu Judas a não traí-Lo. Mas, embora advertisse a Seu amigo, Ele também descreve o quão terrível seria se ele O traísse. Precisamos considerar as possíveis implicações deste aviso.
Jesus diz a respeito de Judas: Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido.
Muitos entendem que a advertência de Jesus implica que Judas seria enviado ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). Isso pode muito bem estar correto.
Se isso foi o que Jesus quis dizer, então isso também implicaria que Judas nunca havia crido em Jesus como Filho de Deus e jamais recebeu o dom da vida eterna.
Mas também é possível que Jesus estivesse simplesmente descrevendo a perspectiva desesperada de Judas, uma vez que a traição era final. Jesus podia apenas estar predizendo o trágico suicídio de Seu amigo e não fazendo uma declaração sobre a condição eterna de Judas. Ou pode ter feito as duas coisas.
A segunda maneira pela qual a observação de Jesus pode ser tomada é que Ele estava falando de Si mesmo ao dizer: Teria sido bom para aquele homem se ele não tivesse nascido.
Teria sido bom para Ele - o Filho do Homem - se Judas/Seu traidor não tivesse nascido.
Se foi isso o que Jesus quis dizer, então Ele estava se referindo à dor física, o trauma emocional e angústia espiritual que Judas O faria sofrer ao traí-Lo.
A dor física que Jesus sofreu foi excruciante. Ela incluiria: os espancamentos corporais dos sacerdotes (Mateus 26:67; Marcos 14:65), a sangrenta flagelação dos romanos (Mateus 27:26; Marcos 15:15-19; João 19:1-5) e, claro, a tortura física de ser pregado e pendurado por horas na cruz (Mateus 27:33; Marcos 15:24; Lucas 23:33; João 19:19).
O trauma emocional que Jesus sofreu foi extremo. Ele incluiria: a traição de Seu amigo íntimo (Mateus 26:48-50; Lucas 22:47-48), o abandono do restante de Seus amigos na hora de maior necessidade (Mateus 26:56b; Marcos 14:50), os insultos de seus compatriotas e a rejeição a Ele (Mateus 27:21-26; Marcos 15:9-15; Lucas 22:18-22; João 18:39-40), a vergonha de ser tachado como criminoso e a humilhação de ser executado publicamente enquanto estava pendurado (provavelmente nu) em uma cruz.
A angústia espiritual que Jesus sofreu foi inimaginável. Uma sensação desse horror pode ser sentida no grito perturbador de Jesus: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" (Mateus 27:46).
Essa interpretação seria compatível com o pedido que Jesus fará em breve a Seu Pai, para que outro caminho seja encontrado, se possível (Mateus 26:39). No fim, nenhuma alternativa foi disponibilizada. Judas, de fato, nasceu, e Jesus foi, de fato, traído por Judas, o que levou ambos os homens a sofrer. Isso levou diretamente à morte de Jesus na cruz. E isso indiretamente produziu o suicídio de Judas.
JESUS IDENTIFICA JUDAS COMO SEU TRAIDOR
Jesus havia anunciado:"Um de vós Me trairá". Os discípulos começaram a dizer: "Certamente não sou eu, Senhor.” Jesus, então, respondeu-lhes: "O que mergulha a sua mão Comigo na tigela é aquele que Me trairá", antes de advertir Seu traidor.
Então, Judas, que iria traí-Lo, respondeu: "Certamente não sou eu, rabino?" Ao apontar que Judas era o traidor, Mateus nos informa que a resposta de Judas não foi apenas cheia de engano, mas foi, em si mesma, um ato de traição. O uso de Judas da palavra Rabi foi especialmente pessoal. Um rabino era um mentor pessoal ou professor para seus discípulos.
A resposta de Jesus provavelmente foi bastante clara para Judas, porém enigmática para os outros discípulos: "Tu mesmo o disseste". Com isso, Judas sabia que Jesus estava ciente de que ele O estava traindo. Ao mesmo tempo, o que os discípulos ouviram foi Jesus afirmando a declaração de Judas, de que ele não era o que O trairia. Foi apenas depois do fato consumado que eles fizeram essa conexão.
Depois de todos os discípulos terem falado, João pede a Jesus esclarecimentos sobre quem era o traidor (João 13:24-25).
Jesus, então, responde: É aquele a quem Eu der o pedaço de pão mergulhado no vinho." Então, após mergulhar o pedaço de pão no vinho, Jesus o toma e dá a Judas, o filho de Simão Iscariotes (João 13:26).
Jesus descarta Judas, dizendo-lhe: "O que você tem que fazer, faça rapidamente" (João 13:27). Os discípulos, porém, entenderam mal as palavras de Jesus (João 13:28-30). Isso pode ter ocorrido porque eles não suspeitavam de Judas. Ou pode ter acontecido porque sua discussão sobre quem seria o traidor havia sido transformada em uma discussão entre si (novamente) sobre qual deles era o maior (Lucas 22:23-24).
POSSÍVEIS MOTIVOS PARA A TRAIÇÃO DE JUDAS
A Bíblia não especifica o(s) motivo(s) de Judas para trair Jesus. Não é particularmente importante por que ele traiu seu Senhor. O que é mais significativo é que ele traiu a Cristo. No entanto, aqui estão quatro motivos potenciais, quatro especulações, para Judas ter traído ao Senhor:
Judas pode ter traído a Jesus por qualquer uma dessas razões acima, ou uma combinação delas, ou ainda pode ter traído a Jesus por qualquer outra razão. A Bíblia, às vezes, nos mostra os pensamentos internos de algumas pessoas, mas não neste caso. O que Judas fez foi mau. E quanto mais maligno algo é, menos racionais e sãs são as razões por trás daquela decisão, até o ponto em que a lógica começa a desaparecer. Isso ocorre porque a natureza do mal é distorcer a realidade do desígnio de Deus na criação.
Talvez seja por isso que a Bíblia seja silenciosa quanto ao motivo de Judas. Foi por malignidade. A traição foi totalmente ilógica e fruto de sua insanidade moral. Não havia e não há razão válida ou sã alguma que pudesse justificar a traição de Judas a Cristo. Foi algo separado da realidade e completamente desastroso. É sempre o caso da malignidade. Ela sempre inflige automutilação, mas é sempre oferecida por Satanás em todo o mundo como caminho para benefícios próprios. Assim como foi no Jardim do Éden, assim é sempre: o pecado (agir à parte do desígnio de Deus) leva à morte, e a obediência (agir dentro do desígnio de Deus) leva à vida.
O que as Escrituras nos dizem é que Satanás entrou em Judas (Lucas 12:3; João 6:70; 12:26-27). A Bíblia mostra claramente que Judas foi moralmente responsável pela escolha que fez. Tanto a advertência de Jesus - Ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído - quanto a declaração dos discípulos em Atos sobre como "Judas se desviou para ir ao seu próprio lugar" (ou de acordo com a expressão: "o lugar ao qual ele pertencia", Atos 1:25) deixam bem claro que Judas foi responsável por sua escolha.
POSSÍVEL SEQUÊNCIA DE EVENTOS DURANTE A ÚLTIMA CEIA