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Significado de Zacarias 1:8-17
O Deus Soberano deu ao profeta Zacarias uma mensagem de arrependimento a Seu povo da aliança de Judá "no oitavo mês do segundo ano" do rei Dario da Pérsia (v.1-6). Em seguida, Ele lhe deu oito visões para revelar o que faria no futuro. Essas visões aconteceram "no vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês, que é o mês de Shebat", correspondendo a 15 de fevereiro de 519 a.C. em nosso calendário moderno (Zacarias 1:7 - 6:8). Elas eram representações visuais da vontade de Deus e tinham a mesma autoridade que a palavra divina falada. Essa seção elabora sobre a primeira visão.
Em poucas palavras, a visão contém a descrição de três indivíduos: um homem montado em um cavalo vermelho entre algumas árvores de murta em um desfiladeiro (v.8, v.10); um anjo que fala com Zacarias (v.9; v.13-14); e o anjo do SENHOR (v.11-12). É provável que o primeiro e o terceiro indivíduos sejam a mesma pessoa, conforme o trecho irá mostrar.
Esta é a visão de Zacarias: Eis um homem montado num cavalo vermelho (v. 8). O verbo aqui é "rāʾâ" no hebraico. Ele denota a experiência de ver algo na totalidade. Neste caso, a sensação e a percepção se fundem. O profeta usa o verbo para descrever a revelação recebida de Deus durante a noite. A referência à noite é significativa, pois era o momento em que atividades sobrenaturais frequentemente ocorriam nos tempos bíblicos (Lucas 2:8-14; Atos 5:19; Mateus 14:25).
Zacarias relata que viu um homem. Até esse momento, ele não sabia quem era o homem, nem de onde ele vinha. O homem estava montado em um cavalo, um animal frequentemente associado à guerra ou à conquista militar. A cor do cavalo era vermelha, um termo traduzido para a palavra hebraica "ʾādem". Esse termo é usado para “sangue” em 2 Reis 3:22 e para “suco de uva” em Isaías 63:2. Ele se refere a uma cor avermelhada ou marrom-avermelhada.
O homem no cavalo estava parado entre as murteiras que estavam no vale (v.8). A murta era um arbusto perene com folhas pequenas e flores perfumadas. Era uma das árvores usadas pelos israelitas para construir cabanas durante a Festa dos Tabernáculos (Neemias 8:15). O homem montado no cavalo vermelho tinha cavalos vermelhos, castanhos e brancos atrás dele.
O termo “vermelho” (“ʾādom” em hebraico) ocorre novamente neste versículo. É uma cor marrom-avermelhada. O termo traduzido como “castanho” é “saroq” em hebraico, significando vermelho-claro. O termo “branco” é “lāḇān” no texto em hebraico. As três cores usadas aqui estão no plural no texto em hebraico, sugerindo que talvez houvesse vários cavalos de cada cor. O restante do texto nos diz que havia cavaleiros montados nesses cavalos. Eles receberam uma missão ou tarefa do Senhor para patrulhar toda a terra (v.10-11).
Ao ver esses cavaleiros, Zacarias fica curioso. Ele queria saber o que estava acontecendo e, então, faz uma pergunta: Meu senhor, quem são estes? (v.9). O título traduzido como “senhor” aqui é "ʾadon" no texto em hebraico. Significa "mestre" ou "governante". No Antigo Testamento, "adon" é usado mais de 300 vezes para senhores terrenos e cerca de 30 vezes para um senhor divino. Sara se referia a seu esposo Abraão como "meu senhor" (Gênesis 18:12). Da mesma forma, os irmãos de José, sem saber quem ele era, se dirigiram a ele como "meu senhor", referindo-se a si mesmos como "seus servos" (Gênesis 42:10).
Às vezes, porém, o Antigo Testamento usa o termo "senhor" (ʾadon) como uma expressão de cortesia respeitosa, como em Gênesis 31:35. É dessa forma que o profeta Zacarias também o utiliza. Ele queria compreender o significado e o propósito dos cavaleiros. Porém, Zacarias usa o termo para se referir a um senhor terreno ou a um senhor divino?
O restante do versículo deixa claro que Zacarias usa o termo "senhor" para se referir a um anjo; ou seja, um mensageiro divino. Conforme declara: Respondeu-me o anjo que falava comigo (v.9). Neste ponto, o texto também revela que Zacarias estava interagindo com um anjo.
Nos tempos bíblicos, os anjos não apenas entregavam mensagens de Deus, mas também explicavam seu significado e respondiam a perguntas sobre elas. Um claro exemplo desse fenômeno está no livro de Daniel, onde o anjo Gabriel interpreta uma visão a ele (Daniel 8:16). Aqui em Zacarias, também, o anjo iria interpretar a visão para o profeta.
O SENHOR sabia que o profeta Zacarias não entenderia o significado da visão; assim, Ele ordena a um anjo que interpretasse o simbolismo para ele. Portanto, o anjo responde à pergunta de Zacarias sobre a natureza dos cavaleiros e disse: Mostrar-te-ei quem são estes. (v.9). Para reforçar a mensagem, o anjo intérprete permite que os atores falem. O homem que estava montado no cavalo vermelho fala primeiro. Ele era o líder dos patrulheiros e estava de pé entre as árvores de murta: Respondeu o homem que estava parado entre as murteiras e disse: Estes são os que Jeová tem enviado para correrem a terra. (v.10).
O termo hebraico traduzido como “SENHOR” é Yahweh, o Deus autoexistente e eterno que se revelou a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:14). Ele é distinto do termo anterior para senhor ("Adon" em hebraico), que significa "governante" ou "mestre" (v.9). O termo SENHOR refere-se a Deus Pai, o Deus da aliança de Judá, que exercia total domínio sobre a terra. Foi Ele quem havia enviado aqueles batedores para examinar a terra.
No mundo antigo, os persas possuíam mensageiros montados em cavalos que viajavam diariamente para manter a comunicação em todo o império. O SENHOR usa a mesma imagem para revelar Seu plano para o mundo. Ele envia esses cavaleiros como uma espécie de patrulha militar e os comissiona a examinar a situação mundial. Então, após o líder dos batedores responder à pergunta de Zacarias, eles responderam ao anjo de Jeová que estava parado entre as murteiras (v.11). Parece que aqui temos um reino angelical que governava sobre a estrutura política do mundo físico. Isso é consistente com o livro de Daniel, que fala de um "príncipe da Pérsia", aparentemente demoníaco, que luta contra Miguel, um anjo nomeado por Deus para proteger Seu povo (Daniel 10:13).
No Antigo Testamento, o título “anjo do SENHOR” sempre se refere a um mensageiro divino especial. Às vezes, pode ser uma manifestação do própio Deus (Gênesis 16:13; Juízes 13:21-22). Em outras ocasiões, é provavelmente uma referência ao Cristo pré-encarnado (Êxodo 23:23). Neste nosso trecho, Zacarias revela a identidade do homem montado no cavalo vermelho entre as árvores de murta (v.8). Ele era o anjo do SENHOR. A imagem parece ser a de um governante enviando seus mensageiros para investigar a terra e trazer relatórios.
Quando os mensageiros ouvem a resposta de Zacarias sobre a identidade deles, eles dizem: Nós temos corrido a terra, e eis que a terra toda está quieta e em descanso (v.11). Assim como os mensageiros persas do rei informariam a seu superior que tudo estava bem, os mensageiros angelicais trazem seu relatório ao anjo do SENHOR. Eles confirmam que haviam percorrido a terra e que tudo estava em paz. O império persa estava pacífico e tranquilo nesse ponto da história. O rei Dario havia assegurado o trono e extinguido revoltas em potencial. Isso era uma boa notícia para os persas, mas uma má notícia para os judeus, pois eles viviam em uma terra desolada.
Portanto, o anjo do SENHOR intercede pela nação de Judá e diz: Até quando, Jeová dos Exércitos, não terás tu compaixão de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais tens alimentado indignação estes setenta anos? (v.12). O termo traduzido como “exércitos” é "sabaoth" na língua hebraica, referindo-se frequentemente aos exércitos angelicais do céu, como em 1 Samuel 1:3.
A expressão SENHOR dos Exércitos ocorre frequentemente nos livros proféticos. Muitas vezes, descreve o poder de Deus como um guerreiro liderando Seu exército angelical para derrotar Seus inimigos (Amós 5:16; 9:5; Habacuque 2:17). Aqui em Zacarias, a expressão demonstra o poder de Deus como o guerreiro supremo que tem completo controle sobre todos os assuntos humanos.
A expressão “setenta anos” refere-se ao período em que o povo de Judá esteve no cativeiro na Babilônia (586-515 a.C.). Durante esse tempo, a terra de Judá ficou desolada. O anjo do SENHOR suplica a Deus, o Pai, para ter misericórdia das cidades de Judá e Jerusalém. Ele lamenta o fato de os setenta anos já haver passado, mas a terra de Judá ainda estava "um lugar de ruínas e objeto de horror" (Jeremias 25:11). Jerusalém era a capital e havia sido devastada, assim como as outras cidades de Judá.
O SENHOR ouve a oração de Seu mensageiro especial (o anjo do SENHOR). Embora tenha sido o anjo do SENHOR quem intercedeu por Judá, a resposta do SENHOR veio diretamente ao anjo intérprete. Ele, então, transmite a mensagem a Zacarias, que a proclamaria ao povo. Então, o profeta declara: Jeová respondeu ao anjo que falava comigo (v.13).
O fato de o SENHOR ter respondido confirma o que o salmista Davi diz no Salmo 34: "O SENHOR está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido" (Salmo 34:18). Ele sempre ouve as orações fervorosas de Seus servos. Como Ele diz no Salmo: "Invoca-Me no dia da angústia; Eu te livrarei, e tu Me glorificarás" (Salmo 50:15). Em Zacarias, o anjo do SENHOR clama ao SENHOR e Ele dá a resposta ao anjo intérprete. Ele faz isso com palavras graciosas, palavras de consolo (v.13).
A mensagem do SENHOR ao anjo intérprete continha três partes. A primeira falava do amor e cuidado de Deus por Judá e Jerusalém (também confirmado em Zacarias 8:2). Isso fica claro no versículo seguinte, onde o anjo intérprete declara ao profeta: Assim diz Jeová dos Exércitos: Zelo a Jerusalém e a Sião com grande zelo. (v.14).
O adjetivo “zelo” ("qanno" em hebraico) é traduzido como "ciumento". Quando usado para descrever os seres humanos, pode ter uma conotação negativa e se referir a uma emoção violenta provocada pelo medo da perda de uma pessoa ou algo (Números 5:14, 15, 18, 25). Esta forma de ciúme é descrita como "severa como o Sheol; suas chamas são labaredas de fogo" (Cântico dos Cânticos 8:6).
Contudo, quando o adjetivo "qanno" (ciumento) é usado para o Deus verdadeiro, ele se refere à zelosa proteção de Seu povo da aliança e à Sua ira contra Seus inimigos, significndo que Deus desejava preservar o que lhe pertencia, aquilo que Ele amava (Deuteronômio 5:9; Isaías 42:8; 48:11; Naum 1:2). Ele é zeloso por Seu "santo nome" (Ezequiel 39:25), por "Sua terra" (Joel 2:18) e por Jerusalém e Sião (Zacarias 1:14).
Jerusalém era a capital de Judá. Era o local da presença de Deus (Salmo 9:11; Zacarias 8:3). Em Isaías, é chamada de "a cidade santa" (Isaías 52:1). Ser "santo" é ser separado para um propósito especial. Os babilônicos destruíram Jerusalém em 586 a.C. Mais tarde, o exército romano a destruiu em 70 d.C. O lugar chamado Sião (ou Monte Sião) fica na parte sudeste da cidade de Jerusalém, que está no reino do sul de Judá. O Monte Sião é chamado de "a cidade de Deus" porque está em uma das colinas sobre as quais Jerusalém foi construída (Isaías 8:18). Em nosso texto, Sião e Jerusalém representam seus habitantes. O SENHOR as usa para dizer a Seu povo que Ele os amava e cuidava deles. Uma vez que as cidades refletiam Seu povo e Seu nome, Deus estava extremamente interessado no status e reputação do Seu povo.
A segunda parte da mensagem divina fala da ira de Deus contra as nações gentias: Eu, com grande indignação, estou indignado com as nações que estão em descanso (v.15). O Deus Susserano de Judá não estava satisfeito com as nações gentias pela forma como haviam maltratado a Seu povo da aliança. Embora tivessem tratado ao povo da aliança de Deus de maneira brutal, eles viviam despreocupados, o que significava que se sentiam confiantes e seguros (Amós 6:1). Embora o SENHOR tenha usado estas nações para disciplinar a Seu povo, eles viviam com orgulho e usavam seu poder para explorar as outras nações.
Eles eram cruéis e extraíam dos outros para satisfazer a seus apetites insaciáveis, como leões (Naum 2:11-12). Eles haviam ido longe demais em sua opressão. Deus estava indignado, pois eles auxiliaram o mal. (v.15). Eles foram além do que Deus lhes tinha ordenado fazer. Portanto, a ira de Deus se acendeu contra eles.
A terceira parte da mensagem divina fala das bênçãos do SENHOR sobre o Seu povo da aliança. Mais uma vez, o anjo intérprete usa a expressão profética “assim diz o SENHOR” para confirmar a origem divina de sua mensagem (v.14). Então, ele permite que seu público ouvisse diretamente de Deus.
O Senhor diz: Portanto, assim diz Jeová: Acabo de voltar para Jerusalém com misericórdia; (v.16). E, antes mesmo de concluir a sentença, o anjo intérprete insere a expressão “declara o SENHOR dos exércitos”, reiterando a fonte de sua mensagem. Em seguida, ele acrescenta: O cordel será estendido sobre Jerusalém.
Nos tempos antigos, as pessoas usavam uma linha de medição/cordel para preparar um local de construção antes que o trabalho começasse. Era o primeiro passo no processo de construção (Jeremias 31:39). Deus declara que restauraria a comunhão com o povo de Jerusalém e teria compaixão deles. Em Jerusalém, Ele reconstruiria Sua casa e estenderia uma linha de medição sobre a cidade, uma promessa de que o projeto de reconstrução começaria e a conclusão da tarefa se seguiria.
Esta profecia foi cumprida no curto prazo, quando Zorobabel liderou a reconstrução do templo de Salomão (Esdras 6:15-16). Ela também pode se referir a um tempo futuro, quando o templo, falado por Ezequiel, será reconstruído durante o reinado milenar de Cristo (Ezequiel 40-44).
O anjo intérprete encerra a seção pedindo a Zacarias que proclamasse novamente. Antes de dizer ao profeta o que proclamar, o anjo insere a expressão profética “Assim diz o Senhor dos Exércitos” para confirmar a origem divina de sua mensagem. Então, ele dá a Zacarias a mensagem: As minhas cidades ainda se trasbordarão de bens; Jeová ainda confortará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém (v.17).
A palavra “novamente” ocorre quatro vezes neste versículo. A repetição enfatiza a certeza da intenção do SENHOR de restaurar a fortuna de Seu povo da aliança e abençoá-los sem medida. A mensagem traria esperança aos judeus exilados que retornavam e estavam entristecidos pela condição desolada de sua terra. O SENHOR os lembra que restauraria suas bênçãos e substituiria sua tristeza pela alegria. Ele escolheria Jerusalém como o local de Sua presença, assim como havia sido antigamente (Salmo 9:11; Joel 3:17).
Isso estava de acordo com a promessa da aliança, de que embora Israel fosse disciplinado por quebrar o compromisso da aliança de seguir aos mandamentos de Deus, eles não seriam abandonados. Deus nunca rejeita a Seu povo.
O povo de Judá sofreu nas mãos dos babilônicos por muitos anos. Embora tenham retornado à sua terra após o cativeiro, ainda estavam tristes ao olhar para a difícil condição de sua terra. Porém, Deus envia palavras reconfortantes ao Seu povo da aliança através do anjo intérprete. Ele lhes diz que restauraria sua sorte.
Os seres humanos podem oferecer conforto até certo ponto, mas somente Deus pode fornecer um conforto duradouro, pois Ele é "o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação" (2 Coríntios 1:3). Ele reitera Seu amor e cuidado por Judá e Jerusalém. Ele cumprirá completamente todas essas promessas quando Jesus Cristo retornar e estabelecer Seu Reino na terra. Nessa época, "não haverá mais luto, nem choro, nem dor; as primeiras coisas já passaram" (Apocalipse 21:4b).