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Significado de Lucas 22:66-71

Ao amanhecer, o Conselho (Sinédrio) se reúne no tribunal do templo para oficialmente julgar Jesus. Eles seguem rapidamente a mesma linha de argumentos empregados por Caifás para condenar Jesus por blasfêmia no segundo julgamento religioso pouco tempo antes. Assim que Jesus confirma ser o Cristo e o Filho de Deus, o Concílio O acusa condena sem a necessidade de qualquer outro testemunho. Este evento é conhecido como o Julgamento de Jesus ao Nascer do Sol.

Os relatos paralelos do Evangelho sobre esse evento são encontrados em Mateus 27:1, 2 e Marcos 15:1.

  • Nota: Ao longo desta parte do comentário, cada vez que uma lei judaica é quebrada pelos principais sacerdotes e anciãos enquanto julgavam Jesus, identificamos a lei por meio de colchetes. Exemplo: [Regra 2: Neutralidade]. A numeração dessas regras segue a série A Bíblia Diz sobre o Julgamento Religioso de Jesus.

Para obter uma lista completa das leis quebradas pelos líderes religiosos, consulte O Artigo A Bíblia Diz: A Provação de Jesus, Parte 1. As Leis Quebradas pelos Líderes Religiosos: Um Resumo.

Lucas continua sua narrativa sobre as horas que antecederam a crucificação de Jesus, discutindo o terceiro e último julgamento religioso de Jesus diante do Sinédrio formado por anciãos e principais sacerdotes logo após o nascer do sol. Este julgamento é chamado de Julgamento de Jesus ao Nascer do Sol. Lucas fornece os detalhes do julgamento religioso oficial de Jesus resumido por Mateus:

Pela manhã, todos os principais sacerdotes e os anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus, para o entregarem à morte (Mateus 27:1).

O Julgamento ao Nascer do Sol diante do Sinédrio ocorreu ao amanhecer, provavelmente entre 5:30 - 6:00 da manhã do dia 15 de Nisã (manhã de sexta-feira pelo cálculo romano).

Para saber mais sobre o tempo e a sequência desses eventos, veja o artigo A Bíblia Diz sobre a "Cronologia: As Últimas 24 Horas da Vida de Jesus".

Houve um total de três julganentos religiosos pelos quais Jesus passou entre Sua prisão nas primeiras horas da manhã no Getsêmani (Lucas 22:47-53) e Sua entrega a Pilatos logo após o amanhecer (Lucas 23:1; Mateus 27:2; Marcos 15:1; João 18:28). Esses três julgamentos foram:

  1. O Julgamento Preliminar de Jesus na casa de Anás, o antigo sumo sacerdote (João 18:12-14; 19-24);
  2. O Julgamento Noturno de Jesus na casa de Caifás, o sumo sacerdote em exercício (Mateus 26:57-68; Marcos 14:53-65; Lucas 22:54; João 18:24);
  3. O Julgamento de Jesus ao Nascer do Sol diante do Sinédrio (Mateus 27:1, 2; Marcos 15:1; Lucas 22:66-71).

Para saber mais sobre o Julgamento Preliminar de Jesus, consulte o comentário sobre João 18:12-14.

Para saber mais sobre o segundo julgamento religioso de Jesus na casa de Caifás, veja o comentário sobre Mateus 26:57, 58.

João é o único a descrever o primeiro julgamento. Mateus e Marcos descrevem o segundo, enquanto Lucas e João apenas o mencionam ou fazem alusão a ele. Lucas descreve o terceiro julgamento juntamente com Mateus e Marcos, fornecendo breves resumos a respeito dele. Nenhuma narrativa evangélica descreve detalhadamente todas as três provações religiosas de Jesus. Porém, juntas, as narrativas evangélicas se complementam, fornecendo um quadro completo do que aconteceu com Jesus após Sua prisão e antes de ser entregue aos romanos para Seu julgamento civil.

Para entender melhor a sequência desses eventos, consulte o artigo A Bíblia Diz, "Julgamento de Jesus, Parte 3. As 5 Etapas do Julgamento de Jesus".

Conforme acabamos de afirmar, Lucas ignora quase inteiramente as duas primeiras provações religiosas de Jesus, concentrndo-se quase exclusivamente na terceira e última. A razão para isso provavelmente seja porque o terceiro julgamento religioso de Jesus foi Seu julgamento oficial, carregando o peso legal e a autoridade de condenação que os julgamentos anteriores não carregavam. Apesar de seu status oficial, o Julgamento ao Nascer do Sol não foi menos ilegítimo que os dois julgamentos anteriores.

O resultado do Julgamento Preliminar de Jesus não passou de um tapa no rosto de Jesus e no ego de Anás, já que o ex-sumo sacerdote não conseguiu descobrir ou fabricar uma acusação diante do Sinédrio reunido na casa de Caifás.

O resultado do segundo julgamento quase foi um segundo fracasso, até que Caifás colocou Jesus sob juramento e perguntou se Ele era o Messias (Mateus 26:63). Quando Jesus respondeu que era e que eles O veriam sentado à direita de Deus e vindo sobre as nuvens (Mateus 26:64; Marcos 14:62), Caifás (ilegalmente) rasgou suas vestes e acusou Jesus do crime de blasfêmia (Mateus 26:65; Marcos 14:63-64). O Concílio rapidamente condenou Jesus à morte (Mateus 26:66; Marcos 14:64). O segundo julgamento foi um sucesso aos olhos dos inimigos de Jesus, porque eles finalmente encontraram uma forma de condená-lo à morte.

Ainda que o segundo julgamento tenha produzido uma condenação e uma sentença, ele não podia ser considerado legítimo por ter ocorrido à noite [Regra 5: Tempo Ilegal] na casa de um dos juízes [Regra 6: Localização Ilegal].

Daí a necessidade deste terceiro julgamento, que ocorreu no local adequado e tecnicamente feito enquanto ainda era dia. O terceiro julgamento foi o julgamento oficial de Jesus e permitiu que os juízes reivindicassem pelo menos alguma aparência de legalidade. Na realidade, ele não era mais legal ou legítimo que os dois julgamentos religiosos anteriores.

Lucas possivelmente tenha coberto o terceiro julgamento por ter sido o julgamento legal de Jesus, não um interrogatório preliminar, como haviam sido o primeiro e o segundo. Lembre-se de como seu objetivo declarado era o de relatar os acontecimentos de tal forma que seus leitores pudessem "conhecer a verdade exata sobre as coisas que lhes foram ensinadas" (Lucas 1:4).

Lucas também pode ter-se concentrado no terceiro julgamento porque estava ciente de que Mateus e Marcos já haviam discutido os outros extensivamente, porém apenas mencionado o terceiro; assim, ele se sentiu compelido pelo Espírito Santo a registrar o último.

De qualquer forma, a última menção de Lucas a Jesus foi feita quando Ele estava sendo espancado e zombado pelos homens que o prenderam, enquanto  aguardava Seu julgamento matinal (Lucas 22:63-65). Esse abuso físico provavelmente tenha ocorrido após Seu segundo julgamento na casa de Caifás e é bastante distinto na rodada inicial de violência recebida por Jesus ao ser condenado, conforme descrito por Mateus e Marcos em seus relatos (Mateus 26:67-68; Marcos 14:65).

O comentário desta seção das Escrituras é subdividido da seguinte forma:

  1. O CONCÍLIO SE REÚNE (Lucas 22:66);
  2. COMEÇA A ACUSAÇÃO (Lucas 22:67a);
  3. JESUS RESPONDE (Lucas 22:68, 69);
  4. JESUS É CONDENADO (Lucas 22:70, 71).

1. O CONCÍLIO SE REÚNE (Lucas 22:66)

Lucas começa a descrever o Julgamento de Jesus ao Nascer do Sol diante do Sinédrio — o terceiro e agora oficial julgamento religioso:

Logo que amanheceu, reuniu-se a assembleia dos anciãos do povo, tanto os principais sacerdotes como os escribas, e o conduziram ao Sinédrio (v. 66).

O pronome “o” na frase refere-se a Jesus.

A frase de Lucas - “logo que amanheceu” - nos mostra que ele não estava descrevendo o primeiro ou o segundo julgamento de Jesus, ocorridos à noite. O segundo indicador de que este julgamento é separado dos dois primeiros é sua localização. Lucas revela que o local era o Sinédrio.

O Sinédrio estava localizado no terreno do templo e era o tribunal oficial do Conselho religioso. No século I d.C., os judeus se referiam ao Sinédrio como "Salão das Pedras Talhadas". A câmara era diferente do primeiro (casa de Anás - João 18:3, 19-24) e do segundo julgamento (casa de Caifás - Mateus 26:57-66; João 18:25). O momento e o local dos dois primeiros julgamentos religiosos de Jesus foram ilegais:

  • Nenhum julgamento envolvendo um crime com possível sentença de morte poderia ocorrer à noite. [Regra 5: Tempo ilegal]
  • Todos os julgamentos tinham que ser administrados em um local público pré-determinado. [Regra 6: Localização ilegal]

Ao conduzirem o julgamento oficial de Jesus durante o dia no Sinédrio de maneira pública e pré-determinada, o Conselho retificou parcialmente a questão da localização, mas corrigiu apenas parcialmente a questão do tempo ilegal.

Ainda que tenha sido tecnicamente fosse dia, o julgamento religioso oficial ocorrera muito cedo para ser considerado como legal, porque não deveria haver julgamentos até que os sacrifícios matinais tivessem sido realizados. Esses sacrifícios normalmente eram realizados por volta das 9h. Marcos nos diz que Jesus já estava sendo crucificado às 9:00 da manhã (Marcos 15:25).

O julgamento civil de Jesus durou cerca de três horas; assim, Seu julgamento oficial ao Nascer do Sol (provavelmente ocorrido em algum momento entre 5:30 - 6:00 da manhã) ainda estava muito além dos limites autorizados para ser considerado como legal. Isso também coincide com a forma como Mateus introduz o julgamento: "Pela manhã..." (Mateus 27:1). Apesar de ser dia, ainda era muito cedo para se realizar legalmente um julgamento.

Além disso, não deveria haver julgamentos em um dia de sábado ou de festa. A data mais provável foi o dia 15 de Nisã, o primeiro dia do festival de sete dias dos pães ázimos. Era véspera da Páscoa. Sob nenhuma circunstância os julgamentos de Jesus podiam ser realizados durante qualquer um desses dias. Porém, como os anciãos do povo, os principais sacerdotes e os escribas estavam ansiosos para que Ele fosse morto (Mateus 26:59), eles ignoraram suas próprias leis.

Portanto, o terceiro e oficial julgamento religioso de Jesus foi no local legalmente apropriado, o Sinédrio, porém, ainda assim, quebrou várias leis relacionadas ao tempo [Regra 5: Tempo Ilegal].

Além disso, o terceiro julgamento de Jesus também quebrou os seguintes princípios judiciais e leis jurídicas no instante em que começou:

  • Regra 1: Conspiração - Os juízes haviam conspirado para matar Jesus.
  • Regra 2: Neutralidade - Os juízes odiavam Jesus.
  • Regra 3: Julgamento manipulado — O resultado foi pré-determinado.
  • Regra 4: Suborno - O julgamento foi baseado em suborno.

Na medida em que o julgamento avançava, continuamos a ver como ele violava mais e mais leis.

Lucas nos diz que o Conselho se reuniu assim que amanheceu. O julgamento ocorreu no primeiro momento possível do dia, para que Jesus pudesse ser executado pelos romanos antes que Seus seguidores conseguissem reunir o povo e para que os líderes religiosos pudessem continuar a cumprir seus deveres na Festa dos Pães Ázimos.

A assembléia dos anciãos do povo é a maneira de Lucas descrever o Sinédrio para sua audiência grega.

O Sinédrio era a mais alta autoridade legal judaica na terra. Era composto por 71 juízes. Durante a era do segundo templo, os fariseus (anciãos e mestres da lei) tinham 24 assentos; os escribas (advogados afiliados aos fariseus) recebiam 22 assentos; e os saduceus (principais sacerdotes) recebiam 24 assentos. O sumo sacerdote, que era saduceu, presidia. Assim, os fariseus recebiam o voto da maioria e os saduceus recebiam a liderança administrativa.

A razão pela qual o Sinédrio foi reunido tão cedo foi para condenar oficialmente Jesus à morte (Mateus 27:1). Eles sempre usavam argumentos semelhantes aos empregados por Caifás durante o segundo julgamento de Jesus visando produzir resultados rápidos. Assim, o segundo julgamento de Jesus serviu como uma espécie de ensaio para o terceiro, com os argumentos e o veredito já pré-determinados e amplamente roteirizados [Regra 3: Julgamento Manipulado].

Eles arrastaram Jesus para o Sinédrio, ou seja, para longe do lugar onde haviam mantido Jesus sob custódia, provavelmente dentro ou perto da casa de Caifás. Acredita-se que a casa de Caifás fosse localizada na porção superior de Jerusalém, na parte sudoeste da cidade. Se isso for verdade, a casa estava localizada no distrito essênio, não muito longe de onde Jesus celebrou a Páscoa com Seus discípulos ni início daquela noite. O Sinédrio, conforme mencionado anteriormente, estava localizado no terreno do templo. O complexo do templo ficava na parte nordeste da cidade, a cerca de 600 metros de distância.

O terceiro julgamento de Jesus foi muito mais ordeiro que o verdadeiro circo realizado na casa do sumo sacerdote. Não houve necessidade de acordar e reunir os juízes do Sinédrio para que encontrassem falsas testemunhas, fabricassem provas ou acusações. Com os argumentos já prontos e o processo já ensaiado, o julgamento oficial de Jesus evitou a confusão e o caos do segundo julgamento.

2. COMEÇA A ACUSAÇÃO (Lucas 22:67a)

Com pouco tempo antes da cidade de Jerusalém despertar, se encher de peregrinos e a celebração da Festa dos Pães Ázimos começar, o terceiro julgamento de Jesus foi direto ao ponto.

Após o interrogatório feito por Caifás, os juízes começam questionando Jesus sobre o pretenso crime de blasfêmia (Mateus 26:63):

Se és o Cristo, dize-nos (v. 67a).

O terceiro julgamento de Jesus não tinha a ver com tentar descobrir se Jesus havia ou não cometido algum crime, mas com encenar as coisas para que Ele se auto-acusasse diante do Conselho. Era uma perversão grosseira da justiça.

Além disso, sua abordagem violava várias leis judaicas:

  • Regra 7: Falta de uma acusação - O julgamento não foi baseado na acusação por um crime cometido anteriormente, mas baseado na tentativa de se encenar um novo.
  • Regra 8: Falta de defesa - O julgamento não começou com uma defesa em nome do réu, conforme exigido pela lei judaica.
  • Regra 9: Falta de provas - O julgamento não havia pesado provas de um crime cometido anteriormente; os acusadores tentavam criar provas para condenar Jesus.
  • Regra 12: Acusação imprópria - Os juízes não podiam atuar como defensores ou acusadores; porém, os juízes eram os mesmos que acusavam.
  • Regra 13: Autoincriminação forçada - Era ilegal usar o testemunho de um réu contra si mesmo.

3. JESUS RESPONDE (Lucas 22:67b-69)

Jesus respondeu à pergunta deles com duas observações sobre sua acusação injusta:

Respondeu-lhes: Se eu vo-lo disser, não o crereis; e, se eu vos interrogar, não me respondereis (v. 67,68).

Jesus já havia respondido a essa pergunta anteriormente durante o segundo julgamento, quando Caifás o colocou sob juramento. Ele lhes dissera ser o Cristo/Messias.

Respondeu Jesus: Tu o disseste; contudo, vos declaro que vereis mais tarde o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu (Mateus 26:64).

Respondeu-lhe Jesus: Eu o sou; e vereis o Filho do Homem sentado à mão direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu (Marcos 14:62).

Naquele momento, quando Jesus respondeu à pergunta deles, o sumo sacerdote rasgou suas vestes e acusou Jesus de blasfêmia, sem considerar a possível verdade de Sua declaração, muito menos sem crer Nele (Mateus 26:65; Marcos 14:63, 64a). Todos O condenaram à morte e o espancaram cruelmente por Sua resposta (Mateus 26:66-68; Marcos 14:64b-65; Lucas 22:63-65).

Jesus corretamente antecipara novamente a rejeição total da parte deles. Foi por isso que Ele lhes disse: Se eu vo-lo disser, não o crereis; e, se eu vos interrogar, não me respondereis.

Ao dizer-lhes essas coisas, Jesus estava apontando para Seus acusadores e dizendo-lhes que eles não tinham interesse em Sua pergunta, nem na verdade. Eles só queriam ouvi-Lo dizer algo que pudessem usar para condená-Lo.

A implicação dessas observações era a de que, por causa de sua maldade, Ele não tinha obrigação de responder à pergunta deles.

Porém, Jesus novamente respondeu à pergunta do Sinédrio. Ele respondeu da mesma forma que havia respondido profeticamente a Caifás (Mateus 26:64; Marcos 14:62) durante Seu segundo julgamento.

Desde agora, estará sentado o Filho do Homem à mão direita do poder de Deus (v. 69).

O termo “Filho do Homem” era um termo messiânico. Jesus costumava descrever-Se a si mesmo desta maneira.

Para saber mais sobre o significado desse termo, veja o artigo A Bíblia Diz: "Filho do Homem".

O termo “mão direita do poder de Deus” era uma referência a Deus e Seu trono.

Conforme havia respondido a Caifás, a resposta de Jesus foi uma referência explícita às profecias messiânicas estabelecidas em Daniel a respeito de uma visão poderosa do Anciãos de Dias e do Filho do Homem.

Daniel profetizara:

Eu estava olhando até que foram postos uns tronos, e um que era Antigo de dias se assentou (Daniel 7:9a).

Vi nas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como Filho do Homem, que se chegou até o Antigo de dias; foi apresentado diante dele (Daniel 7:13).

Sobre o Filho do Homem, Daniel descreveu:

Foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio sempiterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído (Daniel 7:14).

Ao afirmar esta profecia messiânica como resposta à pergunta do Sinédrio, Jesus afirma que a profecia era sobre Si mesmo. E insinua a mesma coisa que havia declarado anteriormente em Sua resposta à pergunta de Caifás.

Sua inferência era a de que, um dia, todos naquele conselho O reconheceriam como o Cristo/Messias, ou seja, quando eles O vissem sentado à direita do poder de Deus.

Jesus ofereceu a profecia relacionada a esse evento futuro como prova final em Suas alegações.

No futuro, não haverá dúvida de que Jesus é o Servo Messiânico do SENHOR. Portanto, os argumentos deles eram tão inúteis quanto uma vestimenta devorada por traças (Isaías 50:9). As mesmas línguas que O condenaram terão de confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Filipenses 2:11). No entanto, “os que acendeis um fogo e vos cingis com tições acesos, andai no lume do vosso fogo e por entre os tições que ateastes. Da minha mão vos sobrevirá isso; em tormentos vos deitareis” (Isaías 50:11).

4. JESUS É CONDENADO (Lucas 22:70, 71)

O Concílio provavelmente ficou entusiasmado com a resposta de Jesus. Seus corações provavelmente se alegraram quando Ele disse o que acreditavam ser blasfêmia. Porém, eles ainda desejavam uma resposta mais clara e simples para registrar Sua condenação.

Perguntaram todos: És tu, logo, o Filho de Deus? (v. 70a).

Eles pedem que Ele esclareça mais uma vez Sua declaração anterior, ou seja, que Ele afirmava ser Deus (Messias e Ancião de Dias).

Foi exatamente isso que Jesus dizia ser.

Respondeu-lhes ele: Vós mesmos dizeis que eu sou (v. 70b).

A expressão usada por Lucas, traduzida como “Eu Sou”, é a expressão grega ἐγώ εἰμι (esta expressão é pronunciada "Eg-ō I-me"). É a tradução grega do nome sagrado que Deus usou para se apresentar a Moisés - "YAHWEH (Êxodo 3:14). Os judeus consideravam blasfêmia falar o nome de Deus.

Ao responder com esta expressão, Jesus não apenas pronunciou o nome de Deus, mas o fez enquanto afirmava ser Deus. Isso era uma terrível blasfêmia. O Conselho, que era contrário a Ele, jamais investigou essa alegação. Eles simplesmente presumiram que Ele não era quem dizia ser.

Então, disseram: Que necessidade ainda temos de testemunho? Porque nós mesmos o ouvimos da sua própria boca (v. 71).

Da mesma forma que Caifás havia se gabado anteriormente (Mateus 26:65; Marcos 14:64), o Concílio agora se gaba de como não precisavam seguir às leis de Moisés, que exigiam o testemunho de duas ou mais testemunhas antes de se condenar um homem:

Pela boca de duas testemunhas ou três testemunhas, será morto aquele que houver de morrer; pela boca de uma só testemunha não será morto (Deuteronômio 17:6).

A justificativa usada pelo Conselho para desconsiderar a ordem de Moisés foi que todos eles haviam ouvido Jesus dizer com Sua própria boca o que eles supunham ser blasfêmia. Eles eram as testemunhas. Suas leis impediam que os juízes de um caso servissem como testemunha no mesmo caso. Um juiz não poderia prestar depoimento e servir como testemunha [Regra 12: Acusação indevida]. Porém, foi precisamente isso que o Conselho fez.

Além disso, de acordo com a lei judaica, em casos envolvendo pena capital, era ilegal usar-se o testemunho do réu contra si mesmo [Regra 13: Autoincriminação forçada]. As palavras que Jesus disse com Sua própria boca durante um julgamento não poderiam ser usadas para absolvê-Lo ou condená-Lo. Porém, o Concílio usou-as para condená-Lo de qualquer maneira.

A julgar pelo que tinham ouvido, sem o testemunho de outras pessoas, e ao aceitar as palavras da boca de Jesus como única prova de que Ele merecia morrer, o Conselho não conseguiu produzir provas legalmente aceitáveis para acusá-Lo, muito menos condená-Lo [Regra 9: Falta de Evidências].

Lucas não registra o veredito neste julgamento, assim como Mateus e Marcos fazem com o segundo julgamento (Mateus 26:66; Marcos 14:64b). Porém, seu resultado é claramente entendido: o veredito foi o de que Jesus era culpado de blasfêmia. Eles o condenam à morte.

Podemos inferir essas coisas porque o julgamento foi criado para produzir ambos os resultados desde o início. A próxima fase era levá-lo ao governador romano Pilatos para Sua execução (Lucas 23:1,, 215).

Mateus registra que esse foi o veredito e a sentença do terceiro julgamento de Jesus (Mateus 27:1).

Se o veredito de culpa fosse unânime, como ocorreu no segundo julgamento de Jesus, quando "todos o julgaram réu de morte" (Marcos 14:64), então, de acordo com a lei judaica, o veredito era inválido. Os Evangelhos não dão nenhuma indicação de que o veredito não foi unânime, mas alguns indicadores mostram que foi.

Os juízes que anteriormente haviam votado por unanimidade para condenar Jesus foram os mesmos juízes reunidos nesta sessão do Conselho. Além disso, Lucas nos diz que pelo menos um  membro do Conselho, simpático a Jesus, não estava presente para Seu julgamento religioso (Lucas 23:50), o que poderia indicar que apenas os membros do Conselho hostis a Jesus foram informados e se reuniram.

Se o veredito de culpa no terceiro julgamento religioso de Jesus foi unânime, o julgamento violou as leis judiciais [Regra 16: Veredito defeituoso].

Ao contrário de muitos códigos judiciais ocidentais, que exigem que todos os julgamentos do júri sejam decididos por unanimidade, no código legal judaico, qualquer veredito unânime de culpa desencadeava automaticamente a absolvição do réu.

Os vereditos judaicos exigiam que as condenações dos réus fossem decididas por uma maioria de dois ou mais juízes - não por unanimidade. Pelo menos um juiz deveria decidir a favor do réu. Isso ocorria por dois motivos:

  1. Havia um elemento de misericórdia presente em toda deliberação judicial (Êxodo 34:5-7; Zacarias 7:9).
  2. Os judeus sentiam que uma condenação unânime sugeriria a presença de uma conspiração contra o réu, porque os juízes anunciavam seu veredito um de cada vez, começando pelos mais jovens. Se todos os 23 (ou mais) juízes votassem pela culpa, isso poderia implicar um conluio.

O veredito e a sentença foram proferidos na mesma sessão, quando deveriam ter sido deliberados e decididos separadamente. Nos casos envolvendo a pena capital, a lei judaica exigia que uma sentença de morte fosse proferida no dia seguinte à condenação do réu.

No julgamento religioso oficial de Jesus, a sentença veio rapidamente depois de o veredito de culpa ter sido emitido. A sentença não foi proferida no dia seguinte ao veredito, mas imediatamente [Regra 17: Sentença precipitada].

O terceiro e último julgamento religioso de Jesus foi iniciado e decidido em um intervalo de poucos minutos. Sabemos disso porque o Concílio, pela manhã, o condenou (Marcos 15:1). De acordo com João, eles chegaram ao Pretório, do outro lado do complexo do templo, para entregar Jesus a Pilatos enquanto "ainda era cedo" (João 18:28).

Esta sequência de eventos começara com algo inesperado logo após o anoitecer, quando Judas informou os sacerdotes que Jesus estava ciente de sua conspiração contra Ele (João 13:21-30). Isso desencadeou uma avalanche de ações, desde a reunião dos sacerdotes e anciãos na coorte romana, onde prenderam Jesus e O interrogaram na casa de Anás através do uso de falsas testemunhas. Caifás interveio e acusou Jesus de blasfêmia. Ao reunirem-se novamente ao nascer do sol, ele O julgaram oficialmente.

Através do emprego de inúmeras perversões da lei, a conspiração para condenar Jesus à morte finalmente alcançou seu objetivo.

Tendo finalmente condenado Jesus à morte por motivos religiosos, de acordo com as cortes judaicas, o Sinédrio levou Jesus diante do governador romano da Judéia com o objetivo de executá-lo por motivos políticos de insurreição (Lucas 23:1-5).

Este é o conteúdo da próxima seção das Escrituras.

Para uma explicação detalhada dos princípios quebrados durante o julgamento de Jesus, ver o artigo do site A Bíblia Diz: O Julgamento de Jesus, Parte 4. Os Princípios Judiciais que Foram Violados.

Para uma explicação detalhada das outras leis quebradas durante o julgamento de Jesus, ver o artigo do site A Bíblia Diz: Julgamento de Jesus, Parte 5. As Leis da Prática que Foram Violadas.

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