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Significado de Mateus 10:38,39
Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este ensinamento são encontrados em Mateus 16:24-25, Marcos 8:34-35, Lucas 9:23-24, Lucas 14:27 e João 12:25.
Ao longo dessas instruções, Jesus tem dois objetivos principais. O primeiro era comissionar os doze para pregar pelas cidades e aldeias de Israel proclamando o Reino e chamando as pessoas ao arrependimento (Mateus 10:7). Ele lhes deu diretrizes, tais como evitar os gentios e os samaritanos (Mateus 10:5) e não adquirir ouro (Mateus 10:9). Ele também lhes disse o que deveriam trazer e o que não trazer com eles (Mateus 10:10); como deveriam entrar e sair de uma cidade (Mateus 10:11-14); como ser astutos como serpentes e inocentes como as pombas ao enfrentarem os perigos dos tribunais políticos e das sinagogas (Mateus 10:16-18). Jesus os instruiu a esperar a perseguição (Mateus 10:17, 21-23, 25, 28, 34-36), mas os encorajou a se consolar nelas porque Deus os capacitaria (Mateus 10:19-20). Jesus afirmou que Deus via e sabia o que acontecia com eles (10:26-27, 29-31) e que Ele seria fiel para recompensar sua fidelidade (Mateus 10:32).
O segundo objetivo de Jesus era o de preparar os doze para a missão que Ele tinha para eles depois que deixasse a terra e subisse ao Céu.
Em muitos aspectos, as próximas declarações que Jesus faz são a culminação de ambos os objetivos.
Aquele que não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim. Esta é uma continuação do pensamento da passagem anterior, que havia afirmado que os que amavam os membros de sua família mais do que amavam a Ele não eram dignos Dele. Porém, aqui, Jesus muda o assunto da fidelidade e amor pelos entes queridos para o amor e a fidelidade a si mesmos ("psuche").
Não há nada de incomum ou estranho no pedido de Jesus de que Seus discípulos O sigam. Este era o convite e o comando esperados de um rabino por seus discípulos. Jesus disse várias coisas a eles e a outros possíveis discípulos anteriormente (Mateus 4:18; 8:22; 9:9). A declaração que precede este mandamento é o que o torna surpreendente e estranho: Aquele que não toma a sua cruz. A cruz era o método público romano de execução dos criminosos. Era fisicamente torturante e socialmente humilhante. Suas vítimas eram despidas, pregadas em uma madeira em formato de "T" ou "X" e deixadas para desidratar e sufocar até a morte fora dos muros da cidade ou ao longo dos caminhos para que todos vissem. A vítima tinha que carregar sua própria cruz até o local de sua morte. Isso deixa claro que qualquer um que busque a verdadeira grandeza terá que deixar de lado a prioridade de buscar conforto neste mundo. Ao invés disso, devemos buscar obediência a Jesus e Seus caminhos.
Jesus pediu a Seus discípulos que O seguissem e morressem, como Ele morreria, tomando Sua cruz. Isso provavelmente deve ter chocado ou confundido os discípulos. É provável que eles não tenham compreendido, neste momento, o que Jesus, o Messias, o Rei, o Profeta de Deus, o Filho Divino, estava lhes dizendo sobre ser asssassinado por crucificação. Isso provavelmente era totalmente impensável aos discípulos. Há inúmeras passagens que deixam claro que muito do que Jesus fez e ensinou aos discípulos só foi compreendido por eles depois que Ele ressuscitou dos mortos e depois que eles receberam o Espírito Santo, sendo agora guiados para a Verdade (Marcos 9:32; Lucas 9:45; Lucas 18:34).
O pedido de Jesus para que os discípulos morressem com Ele não foi tão impressionante assim. Estes homens eram profundamente comprometidos e zelosos pela restauração de Israel. A revolução pulsava em seus corações. Eles estavam plenamente conscientes de que tal causa seria considerada como rebelião contra Roma e muito provavelmente os levaria à morte. Eles estavam homens prontos para perder suas vidas ("psuche") para o reino - desde que o reino se encaixasse em seus paradigmas. Jesus os selecionou, em parte, por causa de sua disposição em morrer por Ele. Porém, Ele agora estava dando o primeiro passo para mudar seu paradigma. Seu chamado não era o de morrer por uma revolução política, mas espiritual.
Esta é a primeira vez que Jesus prediz Sua morte a Seus discípulos. E ainda que Mateus não descreva sua resposta imediata, com base em suas ações e declarações posteriores, eles não parecem compreender seu significado maior ou o propósito de Jesus em morrer até depois de Sua ressurreição ou da vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
Para ser dignos Dele, eles precisariam tomar sua própria cruz e estar dispostos a morrer como o próprio Jesus morreria. Este mandamento ecoa por toda a Escritura. Todos os crentes são chamados a morrer para si mesmos e viver para Cristo:
"Portanto, irmãos, somos devedores não à carne, para que vivamos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis." (Romanos 8:12-13)
"Fui crucificado com Cristo; e já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim". (Gálatas 2:20)
Jesus, então, apresenta algumas declarações paradoxais.
A primeira delas é: Aquele que encontra sua vida, vai perdê-la. A palavra traduzida como vida é "psuche". "Psuche" é a essência interior ou identidade central do que uma pessoa é. É o coração de uma pessoa, com todos os seus amores, desejos e vontades, além de sua mente com sua consciência e raciocínio. Perder o "psuche" é perder o seu próprio eu. Sem um "psuche", uma pessoa não é mais uma pessoa. O "psuche" não é apenas uma parte crítica de uma pessoa: ele é a pessoa. Quando o espírito se separa do corpo, como resultado da morte, o "psuche" continua a viver.
Uma das grandes questões e buscas da vida é encontrar quem somos. Descobrir porque existimos e cumprir esse propósito. Deus, de forma temível e maravilhosa, fez cada "psuche"/vida/alma para um propósito que Ele ordenou desde a eternidade passada (Salmo 139:14-17; Efésios 2:10). Por causa do pecado e da queda, fomos separados de Deus e somos incapazes de cumprir esse propósito de maneira satisfatória (Gênesis 2:17; Gn 3,17-24). Mesmo que acreditemos ter encontrado nosso "psuche" e seu propósito separados de Deus, estamos enganados. Podemos tentar encontrar satisfação em tudo neste mundo, mas as coisas deste mundo jamais poderão nos satisfazer plenamente (Eclesiastes 1:14). Nós nunca iremos realmente encontrar a nossa vida à parte de Deus. Isso ocorre porque Deus nos criou para ser e viver em harmonia com Ele e com os outros que Ele criou. Todas as tentativas de encontrar ou reivindicar nosso "psuche" separados de Deus são vaidade. O significado da declaração de Jesus é este: Aquele que encontra o seu "psuche" (separado de Deus) vai perdê-lo.
A segunda declaração paralela de Jesus não é menos notável: Aquele que perde Sua vida ("psuche") por Minha causa, a encontrará. A pessoa que perde seu "psuche" e todas as suas ambições terrenas por causa de Jesus e Seu Reino encontrará seu "psuche" e o propósito para o qual ela foi criada. Se renunciarmos às nossas reivindicações por esta vida e buscarmos primeiro a Jesus e Seu Reino e justiça, tudo o mais nos será acrescentado (Mateus 6:33). Este é o paradoxo da autodescoberta e da realização.
E a frase-chave deste paradoxo é para o Meu bem. Todos nós perderemos nosso "psuche", de uma forma ou de outra. As perguntas que Jesus coloca diante de Seus discípulos são: vocês irão perder suas vidas buscando o quê? E o que você vai receber em troca dessa perda? Você perderá sua "psuche" em busca de glórias vazias e com coisas materiais finitas dos reinos terrenos nesta vida tão curta? Ou você abandonará as ambições do mundo, as deixará de lado e viverá sua vida por Minha causa? O que sua alma vai acumular durante o seu tempo de vida nesta terra? Você vai buscar conhecer e andar com Deus pela fé, apesar das provações e perseguições dos homens? Ou você vai barganhar o propósito para o qual Deus o criou em troca dos tesouros terrenos, onde a traça e a ferrugem destroem? (Mateus 6:19)
Se vamos perder nossa "psuche", vamos perdê-la pela causa de Cristo, para que possamos encontrá-la outra vez, ao invés de desperdiçar esta oportunidade única de viver uma vida de fé com Deus e de conhecer o Seu amor na eternidade (1 Pedro 1:6-9).
Jesus abordou este paradoxo várias vezes. Ele ensinou que ganhamos nossa vida quando a perdemos (Mateus 16:24-25; Marcos 8:34-36; Lucas 9:23-24; João 12:25). A frequente repetição de Cristo, juntamente com o fato de que todos os quatro Evangelhos registram alguma versão deste paradoxo, ressaltam sua relevância.
Esta admoestação paradoxal de nos encontrarmos (em Cristo) através da perda da nossa vida (à parte de Cristo) reverbera a lição central do livro de Eclesiastes, no Antigo Testamento. Eclesiastes apresenta a vida como "hebel", uma palavra hebraica que significa "vapor". Salomão nos diz que se tentarmos descobrir o "hebel" da vida usando nosso próprio entendimento, o resultado será loucura, insanidade e maldade. Por outro lado, se admitirmos nossas limitações, confiarmos em Deus em vez de nossas próprias capacidades e seguirmos Seus mandamentos, encontraremos paz, felicidade e sabedoria. De maneira semelhante, Jesus diz a Seus sesguidores que se eles quiserem encontrar suas vidas agora e tudo o que ela tem a oferecer, eles precisam desistir da ideia de que podem fazê-lo sozinhos, seguindo seus próprios pensamentos. Somente quando seguimos a Cristo, em total dedicação, conseguimos garantir a obtenção daquilo que mais desejamos.