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Significado de Atos 6:1-6

Para garantir que todos os crentes recebessem tratamento e caridade justos, os apóstolos organizam a escolha de sete homens de caráter para administrar os alimentos e os fundos. Um desses homens chama-se Estêvão, visto como um homem cheio de fé e do Espírito Santo.

Em Atos 6:1-6, Lucas registra o estabelecimento de diáconos na igreja (transliterado do grego "diákonos", que significa "servo"). A igreja dos crentes em Jesus estava crescendo rapidamente em Jerusalém. No dia de Pentecostes, 3.000 pessoas foram adicionadas ao número de crentes (Atos 2:41) e não muito tempo depois o número cresceu para 5.000 (Atos 4:4). Lucas relata em outros lugares, em termos mais gerais, que o número de crentes crescia diariamente:

"E o Senhor foi aumentando o número deles, dia após dia, aqueles que estavam sendo salvos" (Atos 2:47).

"E quanto mais crentes no Senhor, multidões de homens e mulheres, eram constantemente acrescentados ao seu número" (Atos 5:14).

A primeira igreja tinha mais do que apenas um culto uma vez por semana. Era uma comunidade que cultuava e compartilhava diariamente. As pessoas "vendiam suas propriedades e posses e dividindo-as com todos, como qualquer um poderia precisar" e "partiam o pão de casa em casa...tomando as suas refeições com alegria e sinceridade de coração" (Atos 2:45-46).

Porém, neste ponto os crentes tinham crescido a tal ponto que alguns estavam começando a se sentir maltratados. Lucas escreve: Ora, enquanto os discípulos aumentavam em número, surgiu uma queixa por parte dos judeus helenistas contra os hebreus nativos, porque suas viúvas estavam sendo negligenciadas no serviço diário de comida.

A queixa vinha dos judeus helenísticos, os judeus que falavam grego e estudavam a versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta. Aparentemente, alguns dos hebreus nativos, os judeus que falavam principalmente em sua língua nativa (e possivelmente se recusavam a assimilar a outra) estavam fazendo com que as viúvas entre os judeus helenísticos fossem negligenciadas quando as refeições eram servidas todos os dias. Talvez houvesse algum preconceito dentro da igreja, onde os hebreus nativos se sentiam superiores aos judeus helenistas por terem aderido às tradições e à língua de seus antepassados. Ou talvez fosse simplesmente um assunto que ainda não tinha sido notado.

De qualquer forma, mostrar parcialidade ia contra o ensinamento de Jesus, era uma atitude contrária à ideia de servir e amar ao próximo como a si mesmo (João 13:12-15, Mateus 7:12). Lucas não coloca em dúvida a alegação dos judeus helenistas de serem negligenciados; então, aparentemente, realmente havia discriminação por parte daqueles que serviam os alimentos, fosse intencional ou não.

Os doze apóstolos convocaram uma reunião para resolver a questão. Eles convocaram a congregação dos discípulos, a totalidade dos crentes. Lucas os chama de discípulos, porque esse termo se estendia a todos os crentes, não apenas àqueles que haviam seguido a Jesus durante Seu ministério. Pouco antes de subir ao céu, Jesus disse aos apóstolos que "fizessem discípulos de todas as nações" (Mateus 28:19-20). A ideia aqui é que crer em Jesus é apenas o início do nosso relacionamento restaurado com Deus.

A palavra grega traduzida como “discípulos” significa "aprendiz". Como discípulos, os crentes são aprendizes ou estudantes de Jesus. Estamos aprendendo a ser como Ele e escolher a obediência a Deus diariamente através da fé. Devemos crescer e aprender a rejeitar o poder do pecado em nossas vidas todos os dias. Mesmo que estejamos livres do poder do pecado, devemos aprender a andar nessa liberdade (João 8:34-36). Todos os crentes são chamados de congregação dos discípulos porque cada crente vai aprendendo, crescendo e conhecendo como seguir a Cristo e Seus caminhos. Aprender requer esforço. Os doze, agora, se esforçam para liderar a congregação de discípulos.

Com toda a congregação de discípulos reunida, os doze apóstolos exercem sua liderança, dizendo: Não é desejável que negligenciemos a palavra de Deus para servir às mesas. Os doze reconhecem que algo precisa ser feito. Mas, também reconhecem que seu tempo é limitado e que precisam priorizar suas ações. Neste caso, os doze consideram que sua principal prioridade é passar tempo na palavra de Deus. Vale notar que, neste momento da história, a palavra de Deus incluía apenas o Antigo Testamento. No entanto, isso não era um problema, porque toda a Escritura fala de Jesus, conforme Ele afirmou:

"Examinais as Escrituras porque pensais que nelas tendes a vida eterna; são elas quem testificam a meu respeito" (João 5:39).

Quando Jesus proferiu essas palavras, as únicas escrituras existentes eram as do Antigo Testamento.  No entanto, como Jesus afirma, essas escrituras do Antigo Testamento falavam Dele. Também vimos isso quando Jesus abriu as escrituras do Antigo Testamento aos discípulos no caminho de Emaús para falar de Si mesmo (Lucas 24:25-27). Portanto, ao se dedicar à palavra de Deus, os doze entendiam que as Escrituras falavam de Jesus.

Os doze disseram que o serviço às mesas tomaria tempo que os levaria a negligenciar a palavra de Deus. Gastar tempo com a palavra de Deus poderia incluir o estudo, pregação e ensino da palavra de Deus. Mesmo que os doze não tivessem credenciais educacionais (Atos 4:13) isso não os impedia de estudar, pregar e ensinar. O registro de Lucas nos mostra que a palavra de Deus era direcionada a todas as pessoas. Aqui, pessoas "sem instrução" ensinavam a Bíblia e os teólogos "educados" (os fariseus) se opunham ao verdadeiro significado da Escritura.

Os doze determinam o seguinte: Portanto, irmãos, escolhei entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, a quem possamos encarregar desta tarefa. Nós dedicaremos à oração e ao ministério da palavra.

Essencialmente, os apóstolos estavam delegando a questão a ser resolvida pela própria igreja. As responsabilidades e papéis dentro da igreja aparentemente não estavam completamente descobertas naquele momento. A igreja era jovem e sua estrutura parecia estar se desenvolvendo bem. Milhares já haviam se unido através de sua expressão de fé em Jesus e novos crentes eram adicionados a cada dia. Os apóstolos, então, definem claramente seu papel ministerial: eles se dedicariam à oração e ao ministério da Palavra.

O trabalho dos apóstolos era o de comungar com Deus em oração e realizar o ministério da palavra. Esse ministério da palavra incluiria o estudo da palavra de Deus, bem como o ensino das boas novas sobre Seu Messias, Jesus. A palavra grega traduzida como “ministério” nesta frase é a mesma raiz grega da palavra "servir" em Atos 6:1. A raiz grega é "diakonia", de onde se deriva a palavra "diácono".

Os apóstolos não estavam dispostos a negligenciar o serviço da Palavra de Deus às pessoas famintas por alimento espiritual a fim de servir as mesas daqueles que precisavam de alimento físico. Isso não rebaixava os que serviam às mesas, distribuíam alimento material e garantiam que as necessidades físicas fossem atendidas. Mas, este não era o papel dos apóstolos. Não era aí que seus pontos fortes e dons serviriam melhor à congregação de discípulos. Além disso, os doze haviam aprendido com Jesus, seu mestre, que o alimento espiritual é mais importante do que o alimento físico. Jesus mencionou isso várias vezes. Quando Jesus foi tentado por Satanás a transformar pedras em pedra para se alimentar, Ele citou Deuteronômio 8:3: "O homem não viverá só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4). Os discípulos podem ter tido em mente esse episódio registrado no Evangelho de João, onde Jesus deixara claro que o alimento espiritual era mais importante que o alimento físico:

"Enquanto isso, os discípulos o exortavam, dizendo: 'Rabi, coma'. Mas Ele lhes disse: 'Tenho comida para comer que vós não conheceis’. Então os discípulos diziam uns aos outros: 'Ninguém lhe trouxe nada para comer, não é?' Jesus lhes disse: 'Meu alimento é fazer a vontade daquele que Me enviou e realizar Sua obra'". (João 4:31-34)

Parece que, enquanto seguiam a Jesus, os doze estavam alheios à prioridade que deveria ser dada ao sustento espiritual. No entanto, agora em Atos, parece que eles abraçam a este princípio completamente e se organizam de modo a honrar a prioridade da nutrição espiritual enquanto outros atenderiam à realidade das necessidades físicas.

Além disso, os doze mostram total disposição para compartilhar a liderança e observam que certamente havia homens na congregação bem adequados para a tarefa. Por isso, os apóstolos dizem aos irmãos que escolhessem entre eles sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, que pudessem encarregar dessa tarefa. Esses homens precisavam ter bom caráter, ser confiáveis, pois estariam fazendo mais do que simplesmente colocar comida nas mesas. Eles ajudariam a supervisionar o dinheiro doado à igreja aos necessitados. Eles gerenciariam os ajudantes que estavam distribuindo a comida e se certificariam de que nenhuma viúva fosse negligenciada, fossem elas hebraicas nativas ou judeus helenistas. Eles essencialmente administrariam o ramo de caridade da igreja, um trabalho que poderia atrair homens desonestos que poderiam desviar fundos para si mesmos, como Judas Iscariotes havia feito durante o ministério de Jesus (João 12:6).

Os apóstolos sabiamente colocaram a questão à congregação, buscando selecionar entre eles os sete homens em quem pudessem confiar, homens que tinham boa reputação entre seus pares, em vez de deixar qualquer vigarista em potencial se voluntariasse para a tarefa. Já havi ocorrido na história recente um incidente em que alguns crentes haviam mentido à igreja sobre dinheiro, devido à sua ganância (Atos 5:1-4). A Bíblia ensina que devemos estar acima de reprovação tanto na realidade quanto na aparência (1 Tessalonicenses 5:22).

A declaração dada pelos apóstolos foi bem recebida: Lucas escreve que a proposta encontrou a aprovação de toda a congregação. Todos concordaram com a praticidade da proposta. Então, eles foram ao corpo de discípulos e escolheram aos seguintes homens: Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau.

Lucas destaca Estêvão especialmente, descrevendo-o como um homem cheio de fé e do Espírito Santo.

O único outro homem de quem se registrou alguma informação biográfica é Nicolau, um prosélito de Antioquia. Um prosélito era alguém que não era um hebreu nativo, mas que se havia convertido à cultura e à sociedade judaica, um gentio que se decidia por tornar-se judeu. Antioquia era uma grande cidade na atual Turquia, centenas de quilômetros ao norte de Israel. Uma segunda igreja surgiria ali em um futuro próximo, após o martírio de Estêvão. Barnabé serviria como um ancião lá e, finalmente, traria Paulo para o rebanho dos crentes naquela cidade (Atos 11:19-25, Atos 11:26). O termo "cristão" (em grego, "Christianos", alguém que é de Cristo, um seguidor do Ungido) teve sua origem em Antioquia (Atos 11:26).

Filipe, o Diácono (também chamado de "o Evangelista") anunciou o Evangelho em Samaria a um africano ao longo da costa do Mar Mediterrâneo (Atos 8:5, Atos 8:35,  Atos 8:40).

E eles os trouxeram diante dos apóstolos. Os apóstolos ordenaram esses homens diante de Deus para servir às necessidades dos membros da igreja, orando por eles após imporem suas mãos sobre eles. Neste caso, a imposição de mãos designava esses homens como tendo uma mordomia ministerial. Assim como Moisés impôs as mãos sobre Josué a fim de comissioná-lo para liderar Israel, os apóstolos agora impuseram as mãos sobre os diáconos/servos, encarregados de servir à igreja como líderes na administração de sua caridade de benevolência (Números 27:22-23). A imposição de mãos também era aplicada para outros fins. Foi feita por Jesus como parte da liberação de uma bênção (Marcos 10:16) e cura (Lucas 4:40). Os discípulos impuseram as mãos sobre os crentes samaritanos para que recebessem o Espírito Santo (Atos 8:17).

Esse papel de serviço na igreja para a qual esses homens haviam sido ordenados mais tarde passou a ser chamado de "diácono", tradução da palavra "diaconia", a palavra raiz para "servo/ministro". O apóstolo Paulo, ao escrever a Timóteo, fornece um olhar mais detalhado do que a igreja exigia das pessoas nomeadas como servos, ou diáconos, na igreja:

"Os diáconos também devem ser homens dignos, não de língua dupla, ou viciados em muito vinho ou amantes de ganhos sórdidos, mas agarrados ao mistério da fé com a consciência limpa. Esses homens também devem primeiro ser testados; então que sirvam como diáconos, se estiverem irrepreensíveis. As mulheres também devem ser dignas, não fofocas maliciosas, mas temperadas, fiéis em todas as coisas. Os diáconos devem ser maridos de apenas uma mulher e bons administradores de seus filhos e de suas próprias casas. Pois aqueles que serviram bem como diáconos obtêm para si uma elevada posição e grande confiança na fé que está em Cristo Jesus" (1 Timóteo 3:8-13)

Presumivelmente, esses traços de caráter eram exigidos de Estêvão e dos outros seis homens.

Isso deu início ao ofício do dioaconato (do grego "diákonos", que significa "servo") que deveria avaliar e dirigir o cuidado às viúvas e órfãos, pedidos de ajuda e servir onde necessário ou solicitado no corpo.

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