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Significado de Salmos 16:1-4
Embora os Salmos sejam numerados em capítulos e versículos e os leiamos, estudemos, meditemos ou cantemos, há um contexto abrangente que nos ajuda a mantê-los conectados.
Embora um Salmo possa ser individualmente um lamento, louvor, oração ou pedido de ajuda, o contexto é moldado por quem Deus é, o Deus infinito de toda a criação:
"No princípio, Deus criou os céus e a terra" (Gênesis 1:1).
Chegamos a Ele nos termos Dele, não nos nossos. Ele estabelece Sua aliança com Seu povo, o que é algo quase incompreensível:
"Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo" (Levítico 26:12).
Este é o contexto de tudo o que somos e de tudo o que fazemos. O Salmo 16 não parece ser um grito de socorro ou libertação de uma situação específica, mas sim uma clareza de visão em relação a quem Deus é ao considerarmos onde colocamos nossa verdadeira confiança.
O Salmo 16 é reconhecido como um Salmo de Davi. No entanto, há um novo termo introduzido aqui. Este salmo é chamado de Mictão de Davi; a palavra Mictão não aparece nos Salmos anteriores. Não vemos o termo novamente até os Salmos 56-60, também de Davi. O termo é relativamente obscuro e, embora alguns tentem dar-lhe significados específicos, talvez o mais próximo que possamos chegar seja o significado raiz de "cobertura". No entanto, é melhor ter cautela ao tentarmos determinar um significado exato desse termo.
Davi começa o salmo, escrevendo: Guarda-me, ó Deus, porque em Ti me refugio. A palavra “guardar” carrega o significado de "vigiar", "proteger" ou "manter" na língua hebraica original. Uma vez que não encontramos um pedido específico de libertação ou ajuda no restante do Salmo, Davi parece estar reconhecendo e buscando a proteção contínua de Deus. Assim, este pode ser considerado um Salmo de confiança em Deus. Esta confiança não pode ser encontrada em nenhum outro lugar, pessoa ou deus: Ó Deus...em Ti me refugio.
“Refúgio” não é uma palavra usada com frequência hoje. A definição de “refúgio” no dicionário é esclarecedora: "abrigo ou proteção contra perigo ou angústia; lugar que fornece abrigo ou proteção; algo ao qual se recorre nas dificuldades". Davi proclama que seu refúgio se encontra somente em Deus; os homens frequentemente procuram outros tipos de abrigo ao enfrentar perigos, angústias ou dificuldades.
Davi se dirige diretamente a Deus: A Jeová eu disse: Tu és Senhor meu. Podemos nos perguntar: "Por que Davi diria isso?" Não seria algo redundante, especialmente em se tratando de algum tipo de oração ou cântico de louvor? Para Davi, este era seu foco central não apenas neste Salmo, mas em sua vida como servo e adorador de Deus. Por isso, vale a pena repetir. Como seres humanos, precisamos da repetição para nos relembrar as verdades de Deus. Isso nos mostra que uma confissão contínua da nossa fé é um aspecto importante para a manutenção da nossa comunhão com Deus e para permanecermos em contato com a realidade.
Somos lembrados da confissão de Pedro (Mateus 16:13-20). Em resposta à pergunta feita por Jesus: "Mas, quem dizeis que eu sou?" Pedro responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Quando Pedro diz "Tu és o Cristo", ele confessa que Jesus era o ungido, o Messias, aquele em quem eles depositariam toda a sua esperança. Esta confissão de Pedro carrega a mesma seriedade da confirssão de Davi quando ele diz: Tu és Senhor meu. Jesus confirma isso ao responder: "Eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja, e as portas do Hades não a dominarão." O que é essa "rocha" sobre a qual Jesus edificaria Sua igreja? É a confissão de que Ele, Jesus, era o "Cristo, o Filho do Deus vivo."
Para Davi, e mais tarde para Pedro, eram mais do que apenas palavras. Viver nossas confissões moldam nossas vidas para cumprirmos o propósito de Deus (Efésios 2:10). Porém, tanto Davi quanto Pedro fizeram uma confissão verbal como parte de sua caminhada de fé.
Davi continua: Além de Ti não tenho outro bem. Esta é uma afirmação bastante surpreendente! Nosso primeiro pensamento talvez seja de que isso fosse uma hipérbole. Às vezes, particularmente em ambientes de adoração, podemos ser tentados a dizer, pensar ou orar coisas que mais tarde, nos movimentos comuns da vida, não parecem estar enraizadas na realidade. O que Davi estaria dizendo com a proclamação de que não tinha outro bem além de Deus? Em nossa era atual, temos dificuldade para entender isso porque temos acesso a muitos "bens".
Podemos obter informações sobre algumas das coisas que Davi pode ter querido dizer usando outras Escrituras. O salmista (provavelmente Asafe, que, de acordo com 1 Crônicas 16:4-5, foi nomeado por Davi como líder litúrgico para "celebrar, agradecer e louvar ao Deus de Israel") no Salmo 73:25, diz: "A quem tenho eu no céu, senão a Ti? Além de Ti, não desejo nada na terra." Paulo, em sua carta à igreja em Filipos, declara: "Mais do que isso, considero todas as coisas como perda, tendo em vista o valor superior de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofro a perda de todas as coisas e as considero como lixo, para que eu ganhe a Cristo" (Filipenses 3:8).
Podemos ser tentados a relativizar o significado, até lermos as palavras de Jesus em João 15:5: "Eu sou a videira, vós sois os ramos; aquele que permanece em Mim e eu nele, este dá muito fruto, pois sem Mim nada podeis fazer." Assim, tudo o que é bom provém de Deus. Da mesma forma que Jesus é o Criador e sustentador de todas as coisas, tudo o que é bom vem através de Deus (Colossenses 1:16-17). Portanto, isso não é hipérbole: Deus é, realmente, a fonte e a substância de tudo o que é bom.
Davi, então, reflete sobre o povo de Deus:
Quanto aos santos que estão na terra, eles são os ilustres nos quais está todo o meu prazer.
A quem Davi chama de ilustre? A palavra significa "santo". A idéia de ser "santo", tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, significa ser separado para um serviço especial, como talheres especiais para uma refeição especial. O povo de Deus, Israel, foi separado como um povo especial para servir como sacerdotes às outras nações (Êxodo 19:6). Eles tinham um trabalho especial a fazer, um trabalho santo, ou seja, demonstrar às outras nações que os caminhos de Deus levam à vida. Os mandamentos de Deus de amor ao próximo levam ao florescimento humano, em vez de levá-los à violência e à pobreza resultantes da exploração do próximo no paganismo.
Esta passagem, no entanto, parece se referir aos ilustres ou "santos" como aqueles que olham para o Senhor Deus e declaram sua fé e fidelidade a Ele. O salmista se refere aos ilustres como pessoas em quem está todo o meu prazer. Aqueles que andam nos caminhos de Deus, obedecendo aos Seus mandamentos, são ilustres. Quando o povo de Deus reflete Sua natureza andando em Seus caminhos, Davi os vê como ilustres e isso lhe dava grande prazer.
Este versículo coloca uma questão para ponderarmos em relação à designação do termo "ilustres". A maioria de nós, seguidores de Cristo, relutaríamos a nos referir a nós mesmos como "ilustres" ou "santos" porque sabemos o quanto somos pecadores (1 João 1:8). No entanto, a Escritura designa como “ilustres” aqueles que são separados para os propósitos de Deus. No Novo Testamento, todos os que criam em Jesus eram chamados “santos” (Romanos 1:7, 15:26, 16:15; 1 Coríntios 1:2 14:33; 2 Coríntios 1:1; Efésios 1:1). Isso é apropriado, uma vez que todos os que são espiritualmente nascidos de novo através da fé em Jesus são declarados justos aos olhos de Deus porque são identificados na morte de Jesus e ressuscitados em Sua vida (Romanos 6:3-4). Assim, a separação dos crentes do Novo Testamento se deve à santidade de Jesus apropriada pelos crentes pela fé.
Em toda a Escritura, o fio condutor em qualquer designação do termo "santo" é algo ou alguém que pertença a Deus. Nada é santo fora de Deus; tudo o que pertence a Deus é santo e tudo o que Ele torna santo é santo. Assim, o povo de Deus, que vive em Sua aliança, conforme mencionado em Levítico, é santo. Quase todas as epístolas de Paulo às igrejas são escritas aos “santos” que estão em Cristo Jesus, que pertencem a Jesus. Eles são Seus porque nasceram de novo em Sua família pela fé (João 3:3, 14-16).
Pedro escreve que, em Cristo, o povo de Deus é uma "nação santa" (1 Pedro 2:9). O público principal de Pedro em sua epístola provavelmente era composto por judeus (1 Pedro 1:1). Israel foi chamado por Deus para ser um "reino de sacerdotes" para as nações (Êxodo 19:6). Pedro poderia estar relembrando seus companheiros judeus de seu chamado original e pedindo que eles andassem de maneira digna daquele chamado. Talvez seja mais fácil dizer: "Sou apenas um pecador salvo pela graça", sem aceitar a significativa responsabilidade advinda de um dom tão precioso. A realidade é que todos os que pertencem a Deus são chamados a andar como Jesus andou (Mateus 5:48). É verdade que todos os que crêem são pecadores salvos pela graça. Porém, é igualmente verdade que agora somos filhos de Deus, testemunhas ou embaixadores de Deus, amigos de Jesus, "santos" que pertencem a Deus através de Cristo.
Eles são os ilustres nos quais está todo o meu prazer. A palavra “ilustre” também pode carregar o sentido de "glorioso" ou "nobre". Davi declara a verdade de que seu refúgio e proteção estão no Senhor e que ele não tinha bem algum além Dele. Logo a seguir, ele declara que se deleitava com os santos da terra. O dicionário define a palavra "prazer" como um "alto grau de gratificação, deleite ou alegria". Quando usado como verbo, significa ter grande prazer ou deleite em alguém ou algo. Os crentes em Jesus agradam ou deleitam a seu Senhor quando andam em fé, confiando que Sua recompensa é superior a qualquer coisa que possam ganhar este mundo (Hebreus 11:6).
Muitas serão as penas daqueles que trocam a Jeová por outros deuses. A palavra "trocar" carrega consigo o sentido de "correr atrás" ou "seguir" outros deuses. Para Davi, isso parecia ser um contraste gritante com o que ele havia proclamado e declarado nos versículos anteriores. Ao correr atrás de outros deuses, a pessoas trocaria o deleite de Deus pela multiplicação de tristezas.
É provável que aqueles que correm atrás de outros deuses o façam em busca de prazer, alegria, deleite e felicidade. Esta é a inclinação natural dos seres humanos. Nossa escolha básica como seres humanos é buscar alegria e prazer através dos caminhos do mundo, não através dos caminhos de Deus. O mundo determina que a alegria e o prazer vêm através do cumprimento de nossas concupiscências (1 João 2:15). Inevitavelmente, buscamos satisfazer as concupiscências por meio da exploração dos outros ou da automutilação. Isso nos leva à ira de Deus, observada quando Ele nos entrega às consequências naturais de nossas más escolhas (Romanos 1:18, 24, 26, 28). Isso inevitavelmente nos leva a grandes tristezas. As formas pagãs de exploração e abuso produzem tristezas que se multiplicam.
“Tristeza” é uma palavra forte que pode indicar até mesmo hematomas ou feridas. Seguir à linha de raciocínio de Davi será útil para nossa própria jornada. Se chegarmos ao lugar onde possamos dizer que não temos nenhum bem além de Deus, isso nos dará lentes com as quais veremos os outros "deuses". Os outros deuses são ídolos que prometem prazer em troca de nossos serviços a eles, porém entregam tristezas que se multiplicam.
Podemos ver esta perspectiva em 2 Coríntios 5:14-16 e olhar para a vida através de lentes diferentes, ou seja, as lentes do amor de Cristo:
"Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: um morreu por todos; portanto, todos morreram. Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e foi ressuscitado. Por isso, nós, daqui em diante, não conhecemos a ninguém segundo a carne; ainda que temos conhecido a Cristo segundo a carne, agora, contudo, não o conhecemos mais desse modo."
Quando conseguimos ver através das lentes da morte de Cristo por nós, tudo muda! Podemos ver mais claramente a Deus, Seus propósitos e experimentar Seu amor, às vezes até mesmo em forma de deleite. Deus nos criou com o propósito de servirmos uns aos outros, em vez de meramente vivermos para nós mesmos. É servindo aos outros em harmonia com Deus que cumprimos o propósito de Deus para nossa criação (ver comentário sobre o Salmo 8). Quando servimos aos outros, amamos ao nosso próximo e até mesmo a nossos inimigos (Romanos 12:19-21). Quando perseveramos em fazer o bem, isso agrada a Deus e Ele promete honrar grandemente tal serviço a Ele (Romanos 2:7).
Davi, então, destaca dois atos de adoração que seriam expressões de idolatria detestáveis diante de Deus, em contraste com os santos nos quais ele se deleitava:
Não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios.
Um ato detestável a Deus é derramar ofertas de sangue. A palavra "libação" pode ser usada para descrever uma falsa adoração. As pessoas traziam os sacrifícios de sangue a um "deus" e derramavam os sacrifícios diante dele em adoração. Ao realizarem tal ato, elas se submetiam àquela divindade. Em troca, elas podiam pedir para serem perdoados ou libertados da ira daquele deus, ou talvez solicitar o recebimento de algum favor. Os deuses pagãos eram transacionais e forneciam justificativas morais para o comportamento egoísta de seus adoradores. O comportamento da busca de si mesmo é, na realidade, um comportamento autodestrutivo.
O segundo ato detestável a Deus. Segundo Dai, era: Tomar seus nomes em meus lábios. Às vezes, esses atos de adoração eram tomados em conjunto. Um adorador levava o cálice do sacrifício a seus próprios lábios e até mesmo o bebia em nome daquela divindade. Davi declara sua fidelidade a Javé (o Eu Sou), afirmando que não derramaria suas ofertas de sangue e que definitivamente não tomaria seus nomes em seus lábios.
Embora tendamos a aplaudir Davi, somos tentados a basicamente ignorar suas declarações, já que não conseguimos nos relacionar com elas no mundo moderno. No entanto, elas nos falam em termos das nossas próprias medidas de idolatria. Quando pensamos em idolatria, imaginamos alguém se dobrando diante de um ídolo físico, como uma estátua ou busto de algum deus. Porém, o princípio primário em jogo aqui é a transação egoísta entre o adorador e o ídolo.
Esta passagem deve nos lembrar do quão severo e grave é o pecado da idolatria. Idolatria é entrar em qualquer tipo de transação egoísta que esteja além da fé em Deus e Seus caminhos, visando buscar nossa própria felicidade. A realidade de buscar a felicidade de qualquer outra maneira diferente do mandamento de Deus de servir e amar aos outros inevitavelmente nos leva à miséria e à auto-destruição.
Os mandamentos de Deus são claros: "Não terás outros deuses diante de Mim... Não farás para vós ídolos...Não os adorarás nem os servirás...Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão". Estes mandamentos não costumam estar em nosso radar e tendemos a dar pouca atenção a eles. No entanto, eles foram dados para o nosso bem (Deuteronômio 10:13). O SENHOR deseja que Seus filhos prosperem (Jeremias 29:11). Ele nos dá Seus mandamentos para nos instruir nos caminhos que levam à vida. Paradoxalmente, o verdadeiro caminho para a vida é através da morte:
"E aquele que não toma a sua cruz e segue depois de Mim não é digno de Mim. Aquele que encontra sua vida a perderá, e aquele que perde a sua vida por amor de Mim a encontrará" (Mateus 10:38-39).
É quando deixamos de lado nossos desejos carnais que encontramos a realização de nossos desejos mais profundos.
Embora possamos ser tentados a pensar que os mandamentos de Deus relacionados aos ídolos não sejam relevantes em nossos dias, Jesus os resume apropriadamente em Mateus 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou odiará um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas". Ele confirme isso no versículo 33: "Mas, buscai em primeiro lugar o Seu reino e a Sua justiça". O final de Mateus 6:33 afirma que todas as nossas verdadeiras necessidades e desejos mais profundos serão atendidos quando buscarmos primeiro o Seu Reino: "Todas estas coisas vos serão acrescentadas".
Vivemos em um mundo onde as multitarefas assumiram um novo significado, especialmente com o advento dos smartphones. Podemos manter conversas com várias pessoas ao mesmo tempo, enquanto conversamos com uma pessoa face a face. Muitos de nós realizamos multitarefas, minimizando a comunhão com Deus por um longo tempo. Em nossa era moderna no Ocidente, temos muitos "deuses" possíveis com os quais transacionar. Podemos trocar nosso serviço por uma promessa de felicidade através do dinheiro, prazer, poder, sucesso, bens materiais, trabalho, relacionamentos ou até mesmo serviços religiosos. Em vez de confiarmos que Deus sabe o que é melhor para nós, podemos colocar a Deus onde Ele convenientemente se encaixe.
Normalmente não vemos a compartimentalização de Deus como idolatria; porém, sempre que priorizamos as nossas próprias transações sobre a obediência a Deus ficamos de fora do melhor de Deus para nós. As palavras de Davi são lembretes de quem Deus é, de quem nós somos e de que não temos nenhum bem além Dele.