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Significado de Mateus 25:14-30
O Evangelho paralelo que narra a história desse evento pode ser encontrado em Lucas 19:11- 27.
Uma parábola similar a essa também pode ser encontrada no registro de Marcos no Discurso das Oliveiras, em Marcos 13:34- 37.
Por meio de parábolas, Jesus continua a ilustrar e a explicar pontos chaves de Suas respostas para as perguntas dos discípulos sobre o fim dos tempos e Seu retorno, enquanto estava sentado com eles no Monte das Oliveiras. Ele já havia contado a eles duas parábolas e, agora, conta uma terceira. Ela é conhecida como a “Parábola dos Talentos”. É similar de várias maneiras às duas primeiras parábolas. Cada uma enfatiza a volta iminente de Jesus e o fato de que Ele irá recompensar aqueles que viveram como mordmos fiéis e que estavam preparados para Sua volta.
A primeira parábola é a “Parábola dos Servos Fieis e os Servos Infiéis” (Mateus 24:45- 51). Os pontos principais dessa parábola são: fazer o que o mestre pede; não ser egoísta e desperdiçar sua riqueza; não exigir ou explorar outros servos usando a autoridade delegada pelo mestre.
A segunda parábola é a “Parábola das Madrinhas de Casamento” (Mateus 25:1- 13). O ponto principal dessa parábola é estarmos sempre alertas e prontos para o retorno do Senhor, sendo sábios e nos preparando para Sua chegada, para que Ele possa ficar satisfeito conosco (Mateus 25:13).
Os pontos principais dessa terceira parábola são: usar os talentos que Deus nos deu para administrar, com o foco no avanço de Seu reino; e investir no Reino sabiamente, sem desperdícios desnecessários.
De uma maneira mais simplificada, essas parábolas nos ensinam a servir ao invés de explorar; a sermos sábios e preparados, ao invés de tolos e despreparados; e a fazer o melhor possível pela obra de Deus, ao invés de apenas servirmos a nós mesmos.
Assim como na parábola anterior, a Parábola dos Talentos também é relacionada ao Reino do Céu. Jesus começa a parábola dizendo: Pois é assim como. Nós sabemos que a expressão “Pois é assim” é uma referência ao Reino, porque essas palavras funcionam como lembrança de algo falado anteriormente. O Reino do Céu foi referenciado de forma similar na Parábola das Madrinhas (Mateus 25:1).
Além disso, Lucas registra que Jesus compartilhou uma versão diferente dessa parábola logo antes de Sua entrada triunfal em Jerusalém. Lucas começa a parábola comentando: “Ouvindo eles isso, prosseguiu Jesus e propôs uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém e pensarem eles que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente.” (Lucas 19:11). Isso confirma ainda mais como essa parábola fala sobre o Reino (Jesus contou Suas parábolas muitas vezes, com pequenas variações para públicos diferentes e em situações distintas durante todo Seu ministério).
Assim como a Parábola dos Servos Fieis e Infiéis, essa parábola envolve um mestre que confia porções de seus bens a seus escravos para que eles as gerenciem em seu nome enquanto ele estiver viajando.
O comentário sobre esta parábola vai incluir as seguintes seções:
A História da Parábola
Os Símbolos da Parábola
O Significado da Parábola
A História da Parábola
Pois assim é que [o Reino do Céu] é como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens. Esse homem era uma pessoa de posses. Quando Jesus compartilhou uma outra versão desta parábola em uma ocasião anterior, registrada por Lucas, Ele descreveu o homem como um nobre (Lucas 19:12). Além de suas posses, esse homem aparentemente tinha negócios com vários escravos.
O termo em grego traduzido como escravos é “doulos”. Pode significar servos por obrigação, escravos ou trabalhadores contratados. É o termo que Paulo usa para descrever sua relação com Jesus (Romanos 1:1; Gálatas 1:10; Filipenses 1:1). Também é um termo usado para descrever a posição que Jesus assumiu quando veio à terra como ser humano para fazer a vontade de Seu Pai (Filipenses 2:7). Paulo também se chamou de servo daqueles aos quais ele ministrava (2 Coríntios 2:7). De acordo com Apocalipse 1:1, todo crente é um “doulos”, ou servo de Jesus.
Jesus diz que esse homem saiu de viagem. Ele não especifica onde esse homem foi, mas em Sua variação da parábola registrada por Lucas, Ele diz que ele “foi para um país distante para receber um reino para si” (Lucas 19:12).
O homem não queria que seu(s) negócio(s) ficassem parados enquanto estivesse viajando, então, antes de sair, ele confia suas posses a seus servos para que administrassem tudo em seu nome. Ele esperava que seus escravos investissem o que tinha dado a eles e o usassem para aumentar sua riqueza. Seus servos tinham níveis diferentes de capacidade e habilidade de negócios. O homem confiou a cada escravo de acordo com sua própria habilidade.
Jesus fala sobre três servos aos quais o homem confia seus negócios. A um ele deu cinco talentos, a outro deu dois, e ao último deu um.
Um talento era uma grande unidade de medida de peso na Judéia ancestral - mais ou menos equivalente a 35 quilos. Os talentos eram normalmente usados para medir grandes quantidades de metais preciosos, como ouro e prata.
Um talento era uma grande quantia de dinheiro. As estimativas variam quanto ao valor de um talento na modernidade. Porém, uma forma que temos para medi-lo é considerar o fato de que um único talento valia vinte anos de salários de um trabalhador comum. Numa aproximação atual (em 2022), trabalhemos com a média que um típico trabalhador americano ganha anualmente, $40.000 dólares de salário, mais benefícios. Pensando assim, um talento valeria mais de $800,000 dólares. Cinco talentos valeria aproximadamente U$4 milhões de dólares.
O ponto principal é que cada um dos escravos do homem recebeu a responsabilidade sobre uma quantidade substancial de confiança e recursos de seu senhor.
Na outra versão da parábola de Jesus registrada por Lucas, ao invés de talentos, o nobre deu a dez de seus servos dez minas (Lucas 19:13). Uma mina era uma unidade de medida que equivalia a um sexto de um talento. Se um talento valia $800,000 dólares nos dias de hoje, uma única mina valeria $13,333 dólares. Dez minas seriam equivalentes a $133,333 dólares. A quantidade que o nobre, no Evangelho de Lucas, confiou a seus servos era menos que o mestre registrado em Mateus, mas ainda assim era uma quantia substancial.
Depois de encarregá-los com essas responsabilidades, o homem sai em viagem.
Logo que ele se vai, o servo que tinha recebido cinco talentos começa a investir imediatamente. Esse servo não perdeu tempo nenhum para começar a trabalhar. Ele vai e negocia os cinco talentos. Durante o tempo em que seu mestre está viajando, ele lucra cinco talentos a mais. Este servo tinha dobrado a grande riqueza que seu mestre havia confiado a ele. Se assumirmos que o servo foi capaz de alcançar um retorno anual de dez porcento do dinheiro de seu mestre, concluímos que seu senhor tenha ficado fora por sete anos, antes que o servo conseguisse dobrar o investimento. Se calcularmos um percentual anual de cinco porcento, o mestre teria ficado fora quatorze anos.
Da mesma maneira, o que tinha recebido dois talentos ganhou mais dois. O segundo escravo também começou imediatamente a gerenciar a riqueza de seu mestre. E, apesar de ter começado com menos que o primeiro escravo que tinha recebido cinco talentos, o segundo servo também dobrou a quantidade que seu mestre lhe havia confiado. Ambos os escravos geraram um lucro significativo ao investimento de seu mestre.
Mas o terceiro escravo - aquele que havia recebido apenas um talento - vai para longe de seu mestre, ao invés de começar imediatamente a tentar obter algum lucro. Ao invés disso, ele cava um buraco no chão e esconde o dinheiro de seu mestre. Ele não gasta o talento, desperdiçando-o com as suas vontades próprias, assim como fez o filho pródigo (Lucas 15:13) ou como o escravo maligno e infiel das outras parábolas registradas por Jesus (Mateus 24:48-49).
Ele tampouco perde o talento em investimentos ruins. Ele mantém tudo escondido dos perigos e riscos de mercado, com suas potenciais perdas e ganhos. Ele não fez com o talento o que seu mestre queria que ele fizesse, ou seja, usá-lo para investir e aumentar a riqueza do mestre.
Jesus continua: Agora, depois de muito tempo, o mestre dos escravos voltou e acertou sua conta com eles.
O mestre havia viajado por longo espaço de tempo não especificado. Porém, ao retornar, ele vai até os escravos aos quais tinha confiado seus talentos. Ele vai até eles para acertar contas com eles. Isso quer dizer que ele queria saber o que haviam tinham feito com a grande quantidade de dinheiro dada a eles. Será que tinham lucrado? Caso afirmativo, quanto haviam ganho? Tinham perdido dinheiro? O que ele devia a eles por seus esforços? Aparentemente ele foi conversar com cada servo individualmente.
Naturalmente, o homem chama o servo a quem havia confiado a maior quantia primeiro - aquele que tinha recebido cinco talentos. Esse servo vem e traz cinco talentos a mais. Ele resume sua prestação de contas dizendo: “Mestre, você me confiou cinco talentos. Veja, eu lucrei mais cinco”.
Seu mestre ficou impressionado! O mestre disse a seu servo: “Muito bem, escravo bom e fiel”. E ele o recompenseou por sua fidelidade.
Ao servo de cinco talentos foi dito que receberia duas coisas específicas por sua fidelidade.
Primeiro, ele iria receber uma responsabilidade e autoridade ainda maiores: Você foi fiel no pouco, então vou te colocar no comando de muito. Quando nos lembramos do valor de cinco talentos e lemos que o mestre considera este valor como pouco, fica claro que o mestre da história tinha uma fortuna imensa, já que considerava essa grande quantidade de dinheiro como pouco. Se aquilo era pouco, podemos apenas imaginar o que ele reconhecia como muito (2 Coríntios 4:17). Segundo, o servo foi convidado a celebrar seu triunfo com seu mestre e, aparentemente, a se tornar sócio do mestre. Foi dito a ele: Entre no gozo do seu senhor.
A seguir, o mestre vai falar com o segundo servo - aquele que havia recebido dois talentos. Esse servo também reportou como havia dobrado o investimento de seu mestre. Ele resume sua prestação de contas dizendo: “Mestre, você me confiou dois talentos. Veja, eu lucrei mais dois”.
O Mestre ficou igualmente impressionado e fez elogios a seu servo, promovendo-o e dando-lhe recompensas similares: Muito bem, meu bom e fiel escravo. Você foi fiel no pouco, então vou te colocar no comando de muito; entre na alegria de seu mestre. Novamente, esse mordomo fiel é convidado para ser sócio do mestre e entrar em comunhão íntima com ele, compartilhando responsabilidades ainda maiores.
Na parábola similar registrada por Lucas, o escravo dobrou o investimento e devolveu vinte minas (Lucas 19:16). O segundo escravo teve um pouco menos de lucro e devolveu quinze minas (Lucas 19:18). Não sabemos o que aconteceu com os outros seis escravos. O nobre recompensou os bons escravos que tinham lucrado e os colocou em posições de comando de cidades. Dez cidades para o escravo que lucrou dez minas (Lucas 19:17); cinco cidades para o escravo que lucrou cinco minas (Lucas 19:19).
Finalmente, o mestre foi falar com seu terceiro servo - aquele que havia recebido um talento. Esse servo começa seu relato com uma desculpa: “Mestre, eu sabia que o senhor era um homem duro, colhendo onde não plantou e ajuntando onde não semeou”.
Existem dois termos gregos significantes nessa declaração do servo que recebeu um talento: o termo para a expressão Eu sabia e o termo para a expressão Duro.
A palavra grega traduzida como duro é “sklayros”. Ela descreve algo severo, áspero ou inflexível. A razão pela qual o servo pensava que seu mestre era duro era porque ele sabia que seu mestre colhia onde ele não havia plantado e ajuntava onde não havia semeado. Essas expressões agrícolas indicam que a visão que o servo tinha de seu mestre era a que ele pedia que outras pessoas fizessem coisas por ele, mas sem esperar receber nada em troca.
O servo que recebeu um talento esperava que seu mestre pegaria o talento e que iria recompensá-lo com o gerenciamento de mais negócios, ainda que sem multiplicá-los. Esse servo não estava interessado em se esforçar. Fica subentendido que ele gastou seu tempo e energia cuidando de suas próprias prioridades. Seu argumento era o que não valeria a pena fazer todo o trabalho para não receber nada em troca. Esse raciocínio era baseado na perspectiva que ele tinha de seu mestre. Mas, como já vimos nos exemplos dos dois servos que haviam sido fiéis, a perspectiva do servo de um talento estava errada.
A palavra traduzida como Sabia na declaração do servo de um talento vem da palavra grega “ginōskō”. Esse tipo de conhecimento descreve uma familiaridade com uma pessoa ou com uma situação, e é baseada em uma experiência pessoal. Esse servo estava dizendo que sabia coisas sobre seu mestre em primeira mão. Porém, novamente, como já vimos e vamos continuar a ver, a visão do servo que recebeu um talento de seu mestre não era correta.
O servo admitiu isso porque tinha essa percepção de seu mestre, ele tinha medo dele. Como resultado, o servo não gastou o dinheiro, talvez que ser jogado na cadeia. Depois dessa desculpa, o servo confessa o que havia feito com o dinheiro: “Eu fui e escondi seu talento no chão” e então devolveu tudo para ele: “Veja, aqui está o que é seu.”
O mestre ficou muito desapontado com as ações desse servo. Ele o repreendeu, dizendo: “Seu escravo ímpio e preguiçoso, você sabe que eu colho onde não plantei, e que que ajunto onde não semeei.”
Depois de o mestre repreender ao servo que havia recebido um talento por ser ímpio e preguiçoso, ele faz um comentário sobre a declaração do servo de que ele era um mestre duro e inescrupuloso. É interessante que Mateus usa uma palavra grega diferente para Conhecer no castigo do mestre, comparada ao termo que o escravo de um talento usou. Lembre-se de que o servo usou a palavra “ginōskō”. Ele disse que sabia que seu mestre era duro por experiência pessoal, mas a palavra usada pelo mestre é diferente, “eidō”. Esse termo literalmente descreve um certo entendimento baseado em uma perspectiva.
Mateus usou a palavra “eidō” ao registrar a descrição de Jesus sobre a percepção errada das multidões quanto ao significado de Suas parábolas: “Certamente, ouvireis e de nenhum modo entendereis; certamente, vereis e de nenhum modo percebereis” (Mateus 13:14).
Ao usar “eidō”, o mestre estava mostrando ao escravo que havia recebido apenas um talento que seu conhecimento era limitado por sua própria perspectiva do que era a verdade, não incluindo outros fatores significantes.
O entendimento do escravo ímpio era parcialmente correto em relação à sua expectativa de receber a recompensa por sua fidelidade. Ele concluiu que receberia uma posição de gerenciamento e responsabilidade substancialmente maiores, similar aos servos que haviam recebido dois e cinco talentos que haviam sido recompensados por sua fidelidade.
Porém, a percepção do escravo preguiçoso não conseguia assimilar e levar em consideração a alegria de seu mestre quanto à fidelidade dos servos. Sua percepção limitada não conseguiu imaginar que seu mestre poderia fazer dele um sócio de seus negócios (1 Coríntios 2:9; Romanos 8:17; 2 Timóteo 2:12; 2 Pedro 1:4).
Esta observação sobre a perspectiva errada do servo que recebeu um talento é uma uma importante lição para nós como crentes. Devemos ter fé nas palavras de Deus. Devemos confiar que Suas promessas são verdadeiras. Não devemos ser tolos ou preguiçosos espiritualmente, deixando que nossas ações sejam baseadas no que achamos ser verdade em cada circunstâncias. Ao invés disso, precisamos confiar em Cristo (Provérbios 3:5; Hebreus 11:6).
O mestre, então, fala com o servo que recebera um talento seguindo sua estrutura de suposições. Esse também é o caso na variação dessa parábola encontrada em Lucas, quando o nobre diz ao escravo: “Respondeu-lhe: Servo mau, pela tua boca eu te julgarei [acertar as contas]. (Lucas 19:22).
O mestre, então, repreende ao servo que havia recebido um talento: Você deveria ter colocado meu dinheiro no banco! E quando eu voltasse eu teria pelo menos recebido meu dinheiro com um pequeno lucro. Assim, o mestre não lucrou nada com seu escravo, apenas recebeu de volta o que já era seu.
Se levarmos em conta que o mestre tenha viajado por quatorze anos e o lucro que o servo poderia ter conseguido, caso tivesse depositado o dinheiro no banco, fosse de dois porcento, ele poderia ter devolvido um terço a mais do talento concedido por seu mestre. A preguiça do servo é bastante clara, mas ele admite abertamente que não queria se esforçar. O mestre, então, usa as palavras do próprio servo para provar que ele também era iníquo, já que ele nem sequer tentou fazer o mínimo esforço para depositar a quantia no banco. Podemos ver que o servo não era apenas egoísta e arrogante: ele também era rebelde contra seu mestre.
Assim, o mestre demite o escravo preguiçoso e o impede de ter qualquer responsabilidade administrativa. O mestre não só julga o servo usando seu próprio paradigma, mas também dá a ele o que ele desejava: ele retira dele toda e qualquer responsabilidade administrativa. Finalmente, ele ordena que o talento seja retirado do escravo inútil e dado ao que, agora, tinha dez talentos. O mestre queria que o servo altamente competente, bom e fiel para administrar os talentos lucrasse mais e possivelmente recuperasse a perda de lucros durante os anos em que aquele único talento permaneceu enterrado.
O mestre aponta para o que parece ser a grande lição desta parábola: Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado.
O ponto principal aqui parece ser a responsabilidade administrativa. Os servos que haviam exercido uma boa administração receberam oportunidades ainda maiores de governar. Aquele que se recusou a administrar o pouca que havia recebido teve todas as suas responsabilidades administrativas retiradas completamente. Fica entendido que se o servo de um talento tivesse depositado o dinheiro no banco, ele talvez tivesse mantido alguma responsabilidade de administração.
Podemos discutir outras coisas sobre o que a afirmação do mestre significa nessa parte da interpretação da parábola, mas o resultado do talento ser dado ao que já tinha dez, deixando o outro sem nada, é exatamente o que acontece na parábola dos escravos, destacando o que eles fizeram com os talentos que haviam recebido.
Os que têm - ou seja, os escravos que tinham algo para apresentar quanto a seus investimentos - receberam muito mais para administrar. Aquele que não teve lucros para apresentar sobre o investimento do mestre ficou até mesmo sem o que havia sido inicialmente dado a ele. Todas as suas responsabilidades administrativas foram retiradas dele. Da mesma forma, o que foi retirado dele foi dado ao escravo que havia inicialmente recebido dez talentos.
Depois de registrar esse princípio, ao invés de elogiar o escravo preguiçoso, assim como havia feito com os outros servos, o mestre o condena: Lancem fora esse escravo nas trevas exteriores; naquele lugar haverá choro e ranger de dentes.
Assim como foi usada em outros ensinamentos e parábolas de Jesus (Mateus 8:12; 13:42; 13:50; 22:13; 24:51), a expressão Trevas exteriores representa um lugar distante da celebração e do banquete de honra. Neste caso, provavelmente representa o distanciamento da alegria do mestre, que celebrava o que seus servos bons e fiéis haviam conquistado. Fica subentendido que o mestre, que acabara de retornar dse sua viagem, pretendia honrar seus administradores. Talvez o banquete fosse sua forma de horná-los. Os servos iriam entrar na alegria de seu mestre, e eles iriam descobrir sua grande promoção e responsabilidades adicionais no reino. Ambas a celebração e a grande promoção iriam colocar os servos na alegria de seu mestre.
O escravo infiel não foi somente repreendido e demitido: ele não foi convidado para a festa e, portanto, não recebeu nenhuma honra. No lugar de trevas exteriores, vai haver choro [sofrimento] e ranger de dentes [raiva e amargor]. O arrependimento amargo por não ter sido fiel e por não ter investido o talento que havia recebido vai ser muito intenso.
Os Símbolos da Parábola
Existem seis símbolos principais nessa parábola.
Jesus é um doador generoso. Ele derramou Sua graça sobre nós (Efésios 1:8) e nos equipou com tudo o que precisamos para as tarefas e chamados que Ele deu a cada um de nós (Hebreus 13:20-21). Mas Ele também é um juiz justo, que espera lucro total sobre Seu investimento.
“De todo aquele a quem muito é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais ainda lhe será exigido” (Lucas 12:48b).
“Pois Deus não se deixa levar de respeitos humanos” (Romanos 2:11).
Esses seguidores são os crentes em Jesus que pertencem a família eterna de Deus. Porém, mais que ser meros crentes em Jesus e membros da casa de Deus, a natureza das expectativas do mestre e o entendimento de seus próprios escravos sugere que esses são os crentes que, pelo menos, compreendem o Reino e seus princípios. Eles foram designados para trabalhar por Seu Reino. Como vemos na parábola, nem todos os seguidores de Jesus vão suportar e fazer o trabalho - alguns escravos provam ser bons e fiéis, mas pelo menos um escravo se prova como mau, preguiçoso e inútil. A atitude padrão dos servos infiéis parece ser: “Não vale a pena fazer todo o trabalho duro que Jesus designou para mim, então eu vou pegar minha recompensa do mundo e seguir meu próprio caminho”.
A mesma variação de bom e inútil foi mostrada na parábola do Semeador contada por Jesus (Mateus 13:3- 8; 19-23).
Assim como foi na situação daquela parábola, ser ímpio, preguiçoso e inútil pode fazer um crente em Jesus perder as recompensas do Reino e suas bençãos (Mateus 7:13-14; 7:21-23). Porém, não pode separá-lo para sempre de Deus ou acabar com sua vida eterna. Nada pode (João 10:29, Romanos 8:38- 39). Recebemos a vida eterna como um presente gratuito (João 3:14- 16). E recebemos esse presente gratuito pela fé em Jesus como Filho de Deus (João 3:14- 16; Efésios 2:8- 9). Entramos no Reino e recebemos elogios do Mestre pela fé ativa e contínua em seguir fielmente a Cristo e aceitar que o caminho de Deus é o melhor (2 Coríntios 2:9- 10; Apocalipse 1:3).
Esta é uma palavra sobre o Reino dos Céus. A frase de abertura da parábola - Pois assim como - se refere ao Reino do Céu, comparado com as dez virgens da parábola anterior (Mateus 25:1). O Reino de Cristo inclui toda a criação. Isso inclui a terra física (Salmos 24:1). Mas também envolve a Igreja - os membros da família de Deus. O Reino de Cristo vai ser completamente estabelecido e Seu reinado e domínio eternos sobre tudo serão inescapavelmente visíveis quando Ele voltar no fim dos tempos e trouxer o Novo Céu e a Nova Terra (Mateus 24:27).
Nossa medida de influência inclui as seguintes áreas, porém não limitada a essas:
Os talentos confiados pelo mestre incluem dons naturais, mas também incluem dons espirituais (Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 12:8-11).
Na versão contada por Jesus em Lucas, quando o nobre deu seu dinheiro para seus escravos, ele especificamente os instruiu assim: “Façam negócios com isso até eu voltar” (Lucas 19:13). Isso sugere que todos os nossos talentos nos são confiados por Deus para que os administremos e produzamos louvor, honra e glória ao Seu nome (Deuteronômio 6:5; Colossenses 3:17). Eles nos são dados para que servamos e abençoemos as pessoas (Ester 4:14; 1 Coríntios 12:7; Efésios 4:11-12, 1 Timóteo 6:17-19). Jesus afirmou isso abertamente em Sua Grande Comissão, quando nos ordenou a batizar e ensinar as pessoas a obedecer Seus mandamentos em todos os aspectos de suas vidas (Mateus 28:18- 20).
Jesus ensinou, em uma parábola diferente, sobre o administrador injusto mas astuto (Lucas 16:1 -8) como agir: “Eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” (Lucas 16:9). Com isso, Ele quis dizer que devemos usar os recursos desse mundo que estão temporariamente em nossa posse (os talentos por Ele confiados) para avançar o Reino e nossas recompensas nele. Na parábola do administrator injusto, há uma recompensa àqueles a quem ajudarmos na terra, além da recompensa de entrar na alegria do mestre (o significado de “vos recebam eles nos tabernáculos eternos” se refere às casas de nossos irmãos e irmãs na nova terra).
É para isso que fomos criados (Mateus 25:34). A Bíblia diz que somos criação de Deus e que fomos regenerados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus preparou antes da fundação do mundo para que andássemos nelas (Efésios 2:10). Algumas dessas tarefas foram planejadas por Deus para serem realizadas nesta vida. Essas obras incluem as oportunidades e talentos confiados por Deus a nós. Mas podem também incluir as boas obras que Ele planejou que realizássemos na vida porvir - no Novo Céu e na Nova Terra. Em muitos aspectos, as boas obras que realizamos por fé e confiança em Jesus nesta vida são um treinamento para o Reino porvir. Parece claro que esta será uma grande recompensa! Não devemos perdê-la.
7. O buraco no chão que escondeu o dinheiro do mestre representa a negação dos talentos a nós confiados. Não necessariamente representa o abuso dos talentos - por exemplo, usá-los para propósitos malignos, assim como o escravo ímpio fez quando bateu em seus companheiros e se embebedou com aqueles homens na Parábola do Servo Fiel e do Servo Infiel (Mateus 24:25- 51, especialmente v. 49). Cavar o buraco e esconder o talento provavelmente retratam a realidade do abuso passivo por conscientemente nos recusarmos a fazer o bem (Provérbios 3:27; Tiago 4:7).
A distinção entre pecados passivos e ativos às vezes são chamados de “pecados de comissão” (o mal da desobediência a Deus quando fazemos o que Ele nos diz para não fazer); e os “pecados de omissão” (o mal da desobediência a Deus quando nos recusamos a fazer o que Ele ordenou). O primeiro descreve as ações pecaminosas que fazemos. O segundo descreve a inatividade pecaminosa do que não fazemos. A negligência com o dinheiro do mestre representa melhor a segunda categoria, ou o tipo de pecado que a parábola descreve:
“Portanto, para quem sabe fazer o bem e não o faz, para este é pecado.” (Tiago 4:17).
Pelo fato de o escravo ímpio e preguiçoso não ter feito o que seu mestre mandou, ouo seja, “faça negócios com isso até que eu volte” (Lucas 19:13), ele incorreu em desobediência. Ele não colocou esforço algum em investir sabiamente o dinheiro do mestre confiado a ele, mas também não o desperdiçou. Ele desperdiçou a oportunidade de aumentar as posses de seu mestre, até mesmo negligenciando depositar o dinheiro num banco, onde pelo menos iria obter algum lucro.
Esse escravo preguiçoso e sua passividade representam os crente que, por sua passividade ou apatia, não aproveitam as oportunidades do Reino nesTa vida. Eles têm oportunidades de fazer o bem ao próximo, investir com seus talentos para amar e servir, mas escolhem não fazer nada. Eles não necessariamente se envolvem explicitamente em atos de iniquidade; eles podem até sentir que têm boas intenções (e podem realmente ter), mas no fim eles negligenciam fazer o que Deus os mandou fazer. Isso é ser sal e luz em um mundo sem gosto ou luz (Mateus 5:13-16).
Jesus espera que tenhamos coragem para agir, independentemente das dificuldades, assim como Ele fez (Romanos 8:17b; Colossenses 1:24).
9. A ira do mestre representa a decepção de Jesus e a vergonha que os crentes vão experimentar no trono de julgamento de Cristo por terem negligenciado investir ativamente como bons administradores no Reino de Jesus (Marcos 8:38). Representa a perda das recompensas no julgamento de Cristo (1 Coríntios 3:11- 15). Significa perder a recompensa da herança e do Reino (Mateus 7:13-14; Colossenses 3:23). Representa ser cuspido da boca de Jesus por ser morno e, assim, não ter nenhuma utilidade (Apocalipse 3:15- 16). Significa não receber o destino final para o qual fomos criados, ou seja, reinar com Cristo, pela falha em perseverar fielmente e em ser bons administradores (II Timoteo 2:12). Representa perder o destino divino, experimentando, ao invés disso, a destruição como resultado do desgosto do nosso Salvador (Hebreus 10:37-39).
Assim como o escravo inútil teve seu único talento tirado dele e dado ao escravo bom e fiel, os crentes que receberem a ira de Jesus no dia do julgamento terão sua recompensa eterna e sua herança de reinar com Cristo em Seu Reino vindouro tiradas deles e dadas àqueles que provaram serem bons e fiéis. Apenas aqueles que servirem por fé nesta vida receberão as recompensas de ter grandes responsabilidades para reinar na próxima. Ao perder esse grande privilégio, perdemos também a satisfação de viver o propósito pelo qual fomos criados, ou seja, o de administrar a terra em harmonia e comunhão com Deus (nosso Mestre) e outros (outros servos; veja o comentário de Salmos 8 para mais informações sobre esse tema).
“Portanto, vos declaro que o reino de Deus vos será tirado e oferecido a uma nação que dará os frutos dele.” (Mateus 21:44).
A Interpretação e as Aplicações da Parábola
A Parábola dos Talentos retrata a fidelidade e a infidelidade, bem como suas consequências respectivas no Reino. Nela, nós podemos encontrar um incentivo incrível e um alerta rigoroso.
O Julgamento dos Crentes e sua Herança Eterna
Devemos ter em mente que ambas as situações registradas pelos escritores do Evangelho em relação a esta parábola são apresentadas como resposta ao interesse dos discípulos sobre a volta do Messias. Uma foi logo antes de Jesus entrar triunfalmente em Jerusalém (Lucas 19:11- 27) e a outra foi em Sua resposta às perguntas sobre o fim dos tempos e os sinais de Sua volta (Mateus 24:2) no discurso das Oliveiras (Mateus 25:14-30).
A parábola é uma representação de como será o julgamento dos crentes. Assim como referenciado na parte dos símbolos neste comentário, tal julgamento é explicado em 1 Coríntios 3:11-15.
Os crentes, neste julgamento, não serão avaliados por terem ou não crido em Jesus, ou se pertencem ou não à família de Deus, da mesma forma que os escravos nessa parábola não são avaliados por serem ou não servos do mestre. Cada um deles pertence à morada do mestre. Eles são avaliados por sua fidelidade e produtividade em servir ao seu senhor. Os servos bons e fiéis que seguem às ordens de Jesus e O agradam recebem a recompensa de Sua alegria, juntamente com uma responsabilidade maior sobre Seu Reino. Os preguiçosos e ímpios são reprovados por Jesus e sofrem rebaixamento e vergonha nas trevas exteriores. Eles são salvos do julgamento eterno de Deus no lago de fogo, porém são “salvos como através do fogo” (1 Coríntios 3:15).
Tudo o que é necessário para recebermos a dádiva da vida eterna é crer em Jesus como o Filho de Deus (João 3:16; Romanos 3:24, 3:28; Efésios 2:8-9; Tito 3:5-7). No entanto, o recebimento da experiência completa da vida eterna requer andarmos por fé no poder de ressureição de Jesus (Mateus 10:28-30; Romanos 2:6-7).
Para recebermos a aprovação de Deus é necessário demonstrar uma fé ativa e uma confiança contínua na graça de Deus para superarmos as tentações que enfrentamos (Mateus 10; 32; Romanos 2:4-8; 2 Coríntios 5:7, 9:10; Filipenses 3:8-14; Tiago 1:12; 1 Pedro 1:6-9; Apocalipse 3:21).
O Destino do Homem
Deus criou o homem para governar e ter domínio (Genesis 1:28; Salmos 8:3-8). Todo crente alcançará a herança eterna e o destino divino que Deus preparou para eles antes mesmo da fundação do mundo (Mateus 25:34; Efésios 1:3-5). Precisamos evitar comprometer tudo isso em troca das coisas menores desta terra (Mateus 16:26; Hebreus 12:16). Paulo recomenda que meditemos no peso da glória eterna que Deus tem reservado para nós. Ele afirma que tal glória está além de qualquer comparação (2 Coríntios 4:17). Pedro descreve essa herança como imperecível e imaculada (1 Pedro 1:4).
O destino que Deus estabeleceu para nós antes mesmo da fundação do mundo inclui reinarmos no Novo Céu e na Nova Terra (Timóteo 2:12):
“O reino, e o domínio, e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo...” (Daniel 7:27a).
“Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo que vós que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, sentar-vos-eis também em doze tronos, para julgardes as doze tribos de Israel. Todo o que tem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras por causa do meu nome receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mateus 19:28- 29).
“Vinde, benditos de meu Pai, possuí como herança o reino que vos está destinado desde a fundação do mundo.” (Mateus 25:34b).
“Não sabeis que julgaremos os anjos?” (1 Corintios 6:3).
“Fazendo conhecido a nós o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que nele propôs, para uma dispensação do cumprimento dos tempos, para reunir todas as coisas em Cristo, as que estão nos céus e as que estão sobre a terra.” (Efésios 1:9-10).
“E lhes fizeste, para nosso Deus, reino e sacerdotes, e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5:10)
É para isso que fomos criados. A Bíblia diz que fomos criados por Deus em Cristo Jesus para as boas obras que Ele preparou antes da fundação do mundo (Efésios 2:10). Algumas dessas tarefas foram preparadas por Deus para serem realizadas ainda nesta vida. Isso inclui as oportunidades e talentos confiados a nós por Deus. Porém, as boas obras que Ele preparou para realizarmos nesta vida nos vão preparar para a vida porvir - no Novo Céu e na Nova Terra. Em muitos aspectos, as boas obras que realizamos por fé e confiança em Jesus nesta vida são um treinamento para as tarefas e responsabilidades eternas que iremos realizar no Reino porvir.
Entretanto, só conseguiremos experimentar tal destino incrível se provarmos ser servos bons e fiéis ao Rei nesta vida.
Recebendo ou Perdendo nossa Herança Eterna
Para herdar o Reino e entrar no destino da vida porvir, devemos resistir às dificuldades e andar em obediência a Cristo. Assim como essa parábola diz, devemos investir fielmente os talentos que Ele confiou a nós nesta vida. Se não formos fiéis no pouco (nesta terra) não seremos colocados sobre as grandes coisas (na Nova Terra) (Lucas 16:10). “Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?” (Lucas 16:11).
A não ser que sejamos diligentes em obedecer aos mandamentos de Deus, iremos negligenciar Sua salvação tão incrível (salvação da futilidade da Queda, que nos roubou do nosso destino) (Hebreus 2:1-3). Jesus deseja que sejamos restaurados de volta ao nosso lugar como administradores diligentes (Romanos 8:18-21). Ele deseja que confiemos Nele e sigamos Suas instruções para que realizemos grandes coisas em Seu nome, por exemplo, servir um “copo de água gelada” aos pequenos em Seu nome (Mateus 10:42). Algumas das coisas consideradas como triviais nos reinos dos homens são consideradas grandes por Jesus. Podemos estar seguros de que até mesmo os esforços mais modestos para sermos bons administradores serão recompensados. Até mesmo os talentos colocados no banco irão render lucros eternos.
Porém, se formos espiritualmente preguiçosos e tivermos uma fé passiva e inativa, meramente esperando o retorno do Senhor, seremos envergonhados. O apóstolo Paulo repreendeu alguns de seus seguidores que aparentemente estavam tendo esse tipo de atitude. Seu conselho a seus irmãos foi: “Se alguém não quer trabalhar, então não merece comer” (2 Tessalonicenses 3:10). Deus deseja que sejamos diligentes antes do Seu retorno.
Tiago descreve a fé passiva como uma “fé morta”: “Pois, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tiago 2:26). Não ter obras para mostrar a nossa fé é como um corpo sem um espírito; um corpo morto não realiza nada. Deus deseja que tenhamos obras ativas para, assim, mantermos viva a nossa fé (Romanos 1:16-17).
O escravo ímpio, preguiçoso e inútil tinha uma fé morta e enterrada com o talento confiado a ele por seu mestre.
Que nunca sejamos como esse servo ímpio e preguiçoso, negligenciando nossos talentos para o Reino de Deus. Que sejamos como os servos bons e fiéis, que ouvem a expressão “Muito bem, servo bom e fiel” no retorno do Senhor, para que alcanemos Sua aprovação e as recompensas que acompanham Seu favor. Que compartilhemos Sua alegria por nós e assumamos a grande e incomparável herança que Ele tem para nos dar desde antes da fundação do mundo.
O ponto principal desta parábola é usar todos os talentos que Deus confiou a nós para expandir Seu Reino.
O ponto principal é investir e não ser ocioso. Porém, Jesus registrou um princípio chave dessa parábola, que está conectado ao mestre. O princípio é: A quem tem, mais será dado e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem será tirado.
Isso é notavelmente similar ao que Jesus disse aos fariseus no templo pouco tempo antes:
“Portanto, vos declaro que o Reino de Deus vos será tirado e oferecido a uma nação que dará os frutos dele” (Mateus 21:44).
Este princípio também é remanescente do que Jesus havia ensinado a Seus discípulos no Sermão da Montanha:
“A candeia do corpo são os olhos. Se estes, pois, forem simples, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, todo o teu corpo ficará às escuras. Se, portanto, a luz que há em ti são trevas, quão densas são as trevas!” (Mateus 6:22-23).
Bondade gera mais bondade. Fidelidade gera fidelidade. A recompensa de Deus para a fidelidade será mais responsabilidade e mais oportunidades para servir.
Mas a preguiça gera mais preguiça. A preguiça ou a fidelidade em nossos corações fará uma grande diferença nesta vida e na eternidade. Devemos nos esforçar para garantir que nossos corações estejam cheios de luz, amor e tudo o que é bom, para que possamos agradar a nosso Mestre e valorizar Seu tesouro eterno. Jesus claramente ensina que este é o bom caminho pelo qual devemos andar.
As Trevas Exteriores
O que Jesus quer dizer com a instrução do mestre de lançar o escravo inútil nas trevas exteriores; no lugar onde vai haver choro e ranger de dentes?
Da mesma forma como aconteceu nos outros ensinamentos e parábolas de Jesus (Mateus 8:12; 13:42; 13:50; 22:13; 24:51), a expressão trevas exteriores representa um lugar longe da celebração ou do banquete. Provavelmente representa ser excluído das celebrações do Novo Céu e da Nova Terra, da alegria do Messias de celebrar o que Ele e Seus servos bons e fiéis realizaram. Os crentes sem fé não serão apenas repreendidos e demitidos de seus cargos, eles também não serão convidados para a festa e não serão honrados. Naquele lugar das trevas exteriores, vai haver choro [sofrimento] e ranger de dentes [raiva e amargura]. O arrependimento amargo pela infidelidade e por não investir os talentos dados por Deus para o avanço de Seu Reino será intenso.
Embora vá haver o momento em que Cristo secará todas as lágrimas (Apocalipse 21:4), a mensagem que Jesus nos deixa é clara: no fim, vai valer a pena viver como administradores fiéis. O servo que foi chamado de ímpio e preguiçoso tentou argumentar que seu mestre tinha dado muita responsabilidade a ele. Tal argumento era válido e foi mencionado explicitamente nas Escrituras:
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gálatas 6:2)
Este versículo de Gálatas afirma que ter responsabilidade por outros é o centro do plano de Cristo para nós. Três versículos antes, Paulo adiciona que Cristo também espera que tenhamos responsabilidades por nós mesmos, além dos outros:
“...e tu, olha a ti mesmo” (Gálatas 6:2).
Tais atitudes constantes podem realmente nos levar à exaustão, conforme mencionado pelo servo preguiçoso. Este é exatamente o motivo pelo qual Paulo continua essas duas advertências ao dizer:
“Não nos desanimemos de fazer o bem; pois a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” (Gálatas 6:9).
Para podermos receber todas as recompensas da “colheita” da vida eterna no Reino precisamos ter responsabilidade para administrar e investir nossos talentos e elevar o interesse das pessoas à nossa volta. Para fazer isso, devemos evitar cometer o mesmo erro que o servo ímpio e preguiçoso cometeu. Devemos crer que o trabalho duro de assumir responsabilidades pelos outros valerá a pena.
As Escrituras dizem abertamente que para agradarmos a Deus necessitamos crer que Sua recompensa será maior que qualquer coisa que possamos ganhar neste mundo:
“Sem fé é impossível agradar a Deus; pois é necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus e que se mostra recompensador dos que o buscam” (Hebreus 11:6).
Jesus disse que é a fé que nos leva às grandes recompensas. Ele chegou até mesmo a afirmar que os crentes judeus (“filhos do Reino”) experimentariam a desonra das “trevas exteriores”, enquanto os gentios fiéis (como o centurião romano) estariam sentados na mesa de honra com Abraão, Isaque e Jacó (veja o comentário sobre Mateus 8:5-13).
Precisamos crer que seguir os caminhos de Deus de amor e serviço ao próximo é, na verdade, o caminho para o nosso maior benefício. Esta é a jornada preparada por Deus aos seres humanos desde o princípio.
Não Julgar os Outros
Existe pelo menos uma aplicação adicional que devemos tirar dessa Parábola dos Talentos. É a seguinte: não devemos julgar se outros crentes são ou não fiéis no uso dos talentos dados a eles por Deus. Não conhecemos seus fardos e tribulações. Não sabemos a extensão e os limites de seus dons (Lucas 12:48). Não sabemos o que Deus os chamou para realizar. Raramente vemos além do verniz das circunstâncias das pessoas. Apenas Deus tem a autoridade de avaliar Seus servos, Seu povo.
“Um só é o Legislador e o Juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és que julgas ao teu próximo?” (Tiago 4:12).
“Por esse motivo, nada julgueis antes de tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à luz as coisas escondidas, que são das trevas, mas também manifestará os conselhos dos corações; e, então, de Deus receberá cada um o seu louvor” (1 Coríntios 4:5).
Precisamos olhar para o nosso próprio coração. Tudo que podemos fazer é nos esforçar para ser fiéis aos talentos que Deus nos confiou.